SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número61Sociologia da saúde em Portugal: Contextos, temas e protagonistasGender and the military: women in the armed forces of western democracies índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Sociologia, Problemas e Práticas

versão impressa ISSN 0873-6529

Sociologia, Problemas e Práticas  n.61 Oeiras dez. 2009

 

La quête de reconnaissance: nouveau phénomène social total

[Alain Caillé (org.), 2007,  Paris, Éditions la Découverte]

Luísa Veloso*

 

Alain Caillé reúne neste livro um conjunto de textos que focam a problemática da ausência de reconhecimento tendo uma parte considerável dos textos como referência os trabalhos de Axel Honneth.1 Para além da ênfase colocada nos trabalhos científicos sobre a temática, Alain Caillé assume uma preocupação de cariz ético face à ausência de reconhecimento dos indivíduos pela sociedade. Propõe um conjunto de textos de autores com formações disciplinares diversas, o que torna a obra extremamente heterogénea e rica na diversidade de abordagens que contempla.

Mais do que uma problemática, este livro foca um problema social de uma actualidade e pertinência extremas, que os cientistas sociais, em geral, e os sociólogos, em particular, não podem ignorar: o sofrimento que causa a ausência de reconhecimento, como refere o organizador dos textos (p. 12), é a preocupação central das várias abordagens dos autores. Um problema social que, pelo seu carácter algo invisível, porque relativo às vivências subjectivas e às experiências de atribuição de sentido dos indivíduos às suas práticas, exige procedimentos analíticos eficazes e inovadores para a sua explicação. Para além da sua importância como fenómeno que está presente e caracteriza as sociedades contemporâneas, pressupõe também uma atenção sobre o feixe de fenómenos que a ele estão associados. A ausência de reconhecimento constitui uma problemática multidimensional e pode ser perspectivada sob vários pontos de vista e eixos analíticos. Abarca desde a luta pela distribuição equitativa dos rendimentos, até ao acesso à educação, passando pelo reconhecimento e igualdade de tratamento das minorias étnicas.

O livro encontra-se organizado em três partes.

A primeira — “Souffrance, sentiment d’injustice et quête de reconnaissance” — reúne um conjunto de textos sobre as vivências da ausência de reconhecimento. A título exempli ficativo, veja-se o texto de Michel Lallement, que foca a ausência de reconhecimento das qualidades de trabalho ou das competências como um eixo central de análise das identidades profissionais. Numa referência à passagem do modelo da qualificação para o da competência, o autor discute a ausência do reconhecimento nestes novos modelos que são, também, mecanismos ideológicos de justificação de determinadas práticas de gestão.2 Três questões centrais enformam a parte final do texto: quem reconhecer? O que reconhecer? Como reconhecer?

A segunda parte — “Tous reconnus? De quelques difficultés du droit à la reconnaissance” — condensa textos sobre mecanismos de reconhecimento. O texto de Nathalie Heinich, por exemplo, versa as estratégias de reconhecimento no domínio da arte e da ciência, articulando esta problemática com a da vocação, esta última particularmente proble matizada no âmbito das actividades artísticas e de investigação.

A terceira e última parte — “Sociologie générale et théorie de la recon naissance” — é constituída por um conjunto de reflexões sobre autores centrais na problematização do reconhecimento e sobre o lugar que uma teoria do reconhecimento pode e/ou deve ocupar no campo das teorias sociológicas. Um desses textos é o de Jean-Louis Laville, que propõe problematizar a teoria do reconhecimento no âmbito da sociologia econó mica. O autor chama a atenção, por exemplo, para a importância da articulação do reconhecimento de práticas socioeconómicas solidárias com a invenção de novas formas de regulação demo crática da economia (p. 296).

Os textos, sumariamente apresentados, permitem apreender a heterogeneidade das propostas reunidas neste livro. A relativamente curta dimensão de cada texto, ainda que, em alguns casos, não permita ao leitor uma compreensão mais abrangente das propostas de cada autor, possibilita um leque mais diversificado de contributos.

Uma referência final ainda para dois aspectos: as referências bibliográficas no final de cada texto, que constituem uma boa súmula dos trabalhos que se debruçam sobre esta temática; a diversidade de reflexões críticas à teoria do reconhecimento, em particular à proposta de Axel Honneth.

 

Notas

1 Ver, por exemplo, Honneth, Axel (1996), The Struggle for Recognition: The Moral Grammar of Social Conflicts, Londres, Polity Press.         [ Links ]

2 Ver, a este propósito, Boltanski, Luc, e Éve Chiapello (1999), Le Nouvel Esprit du Capitalism, Paris, Gallimard.

 

*Luísa Veloso. Investigadora CIES-ISCTE luisa.veloso@iscte.pt

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons