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Sociologia, Problemas e Práticas
versão impressa ISSN 0873-6529
Sociologia, Problemas e Práticas n.63 Oeiras maio 2010
Editorial
O nº 63 da revista Sociologia, Problemas e Práticas integra um conjunto de artigos de autores de diversas nacionalidades, abrangendo um largo espectro de temas no âmbito das ciências sociais.
O primeiro artigo, de Will Atkinson, defende a continuada importância do conceito de classe social na análise das sociedades contemporâneas. Criticando as abordagens do individualismo e da escolha reflexiva defendidas por autores conhecidos do pensamento sociológico das últimas décadas, operacionaliza o quadro teórico de Bourdieu e mostra, através de pesquisa empírica própria, que as condições sociais de existência e o habitus produzem trajectos e comportamentos, o que é testado pelo autor em quatro domínios: educação, trabalho, estilos de vida e discursos de classe.
Segue-se o texto de Luís Capucha, que discute o conceito de inclusão educativa e reflecte sobre o modo como tal inclusão decorre de políticas públicas promotoras de justiça e qualidade social. A sua abordagem é centrada nos processos educativos das pessoas com deficiências e incapacidades e nos modelos de intervenção na área da reabilitação.
César Madureira e David Ferraz examinam as relações entre política e administração pública, focando-se nos processos de selecção do pessoal dirigente. Os autores analisam os modelos híbridos de configuração político-administrativa, cada vez mais defendidos, constatam que tais modelos ainda não estão plenamente conseguidos em Portugal e apontam pistas para a sua concretização.
Paulo de Carvalho escreve sobre gangues de rua de jovens em Luanda. No seu artigo procura dar a conhecer a organização e as formas de actuação destes gangues juvenis, bem como as motivações que os movem. Concluindo serem constituídos predominantemente — mas não apenas — por elementos em situação de pobreza, identifica diferentes razões subjacentes à adesão a tais grupos, cujo modo de vida assenta no proveito resultante do pequeno furto, e para os quais preconiza condições de acesso à educação e ao emprego, como alternativa à repressão e ao aprisionamento.
O texto de Fernando Ampudia desenvolve uma reflexão em torno do conceito de descivilização, inspirado na teoria do processo civilizacional de Norbet Elias. Ampudia discute os processos de civilização e descivilização enquanto resultado da contraposição dinâmica e mutável entre “forças socialmente integradoras e desintegradoras”, analisando as possibilidades de descivilização a curto e a longo prazo.
Ricardo Campos avança uma reflexão sobre culturas juvenis em que propõe uma via renovada para analisar mais aprofundadamente a construção da juventude protagonizada pela imagem e a cultura visual contemporânea, elementos fundamentais na produção de sentido, numa sociedade onde a transmissão de informação assenta grandemente na visualidade e nas suas ramificações tecnológicas à escala global.
Luísa Tiago de Oliveira propõe-se, por sua vez, desvendar os contornos da história oral, em Portugal, quem a pratica, de que modo e que relações estabelece com as várias ciências sociais e humanas, a partir da análise de trabalhos académicos, em particular dissertações de mestrado e teses de doutoramento, que permitem evidenciar as potencialidades e os problemas deste método de investigação.
Este número termina com a recensão de David Cairns ao livro Beyond the Myths About the Natural and Social Sciences: A Sociological View, de Katarina Prpic.
Maria das Dores Guerreiro