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Economia Global e Gestão

versão impressa ISSN 0873-7444

Economia Global e Gestão v.16 n.1 Lisboa abr. 2011

 

Pelo pluralismo e a abertura interdisciplinar na investigação sobre a Economia

 

Transcrevemos a seguir o texto do apelo recentemente enviado por um numeroso grupo de professores e investigadores ao Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. O documento manifesta uma concepção da «Ciência Económica» com a qual esta revista se identifica desde a sua criação, vai para 15 anos…

 

Pelo pluralismo e a abertura interdisciplinar na investigação sobre a Economia

Ex. Sr. Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia

Professor João Sentieiro

 

A percepção de que existe dentro da crise económica uma crise da Economia, como disciplina académica, tem-se vindo a acentuar nos últimos anos.

Essa percepção é acompanhada de apelos cada vez mais audíveis a favor de um reforço do pluralismo interno e da abertura interdisciplinar da Economia capaz de estimular a inovação e a renovação teórica.

A urgência que se faz sentir no presente reforça tendências anteriores. De facto, nas últimas décadas tem-se vindo a acentuar não só a consciência da necessidade de reforço do pluralismo teórico no interior da Economia, como o interesse pelo estudo interdisciplinar da economia por parte quer de economistas, quer de investigadores de diferentes áreas disciplinares das ciências sociais, tais como a Sociologia, a Psicologia, a Ciência Política ou a Antropologia, mas também de outras áreas de conhecimento como a Física, a Biologia, as Ciências da Computação, as Neurociências ou a Filosofia.

Na investigação orientada para a procura de soluções para problemas reais da economia e sociedade, a colaboração entre domínios do saber e perspectivas teóricas diversas tem vindo a aumentar com bons resultados, quer no plano internacional, quer em Portugal.

Confirmação de que estas tendências se estão a afirmar é a atribuição recente do «Prémio Nobel da Economia» a economistas tão inovadores como Amartya Sen e a investigadores com formação disciplinar diversa, em áreas distintas da Economia, como Daniel Kahneman e Elinor Ostrom.

Os abaixo assinados docentes e investigadores avaliam positivamente estes desenvolvimentos e procuram com o seu trabalho incentivá-los e reforçá-los, nomeadamente, no contexto nacional. A renovação de que o pensamento económico urgentemente carece passa, efectivamente, pela abertura dos estudos sobre a economia a diferentes correntes teóricas da Economia e a diversas perspectivas disciplinares.

Existindo na FCT uma área de «Economia e Gestão» seria de esperar que as tendências acima identificadas tivessem expressão num reforço do pluralismo teórico e da interdisciplinaridade nos projectos financiados nesta área. Acontece, no entanto, que, em Portugal, os painéis de avaliação de projectos da FCT nas áreas da «Economia e Gestão» não partilham do mesmo entusiasmo pelo reforço da interdisciplinaridade e do pluralismo teórico. Pelo contrário, têm sistematicamente isolado o campo da Economia e promovido uma unicidade empobrecedora dos estudos nesta área, hostilizando a diversidade e subordinando o único critério justo – o da qualidade – ao da lealdade ao cânone teórico da sua preferência.

Os investigadores (abaixo assinados) têm uma longa e frustrante experiência com estes painéis. Muitos deles viram projectos rejeitados com base em julgamentos sumários exclusivamente baseados na não conformidade com as normas da economia «neoclássica». Felizmente, alguns desses mesmos projectos vieram a ser re-submetidos com sucesso e excelentes avaliações ao Programa Quadro da UE ou a outros painéis da FCT.

A situação de predomínio de uma concepção particular da Economia nos painéis de avaliação de projectos na área da «Economia e Gestão» da FCT representa um problema para a investigação sobre Economia em Portugal. Dificulta a inserção dos investigadores portugueses nas redes internacionais que estão a renovar o pensamento económico, dificulta a acumulação de conhecimento plural sobre a economia portuguesa, os seus problemas e as soluções possíveis, constitui um obstáculo à inserção na actividade dos nossos Centros de jovens investigadores e de estudantes de doutoramento empenhados em explorar e desenvolver novas perspectivas.

A FCT, pela importância do papel que desempenha no financiamento da investigação fundamental realizada, a nível nacional, e na sua articulação com a formação avançada de nível doutoral, não pode deixar de responder a esta situação de bloqueio institucional numa das suas áreas de investigação.

Os investigadores e docentes (abaixo assinados) vêm assim propor à FCT que encare soluções tendentes a garantir o pluralismo na avaliação de projectos sobre Economia, nomeadamente a criação já no próximo concurso de projectos de investigação em todos os domínios científicos de uma área de «Estudos de Economia e Sociedade» capaz de acolher e compreender abordagens ao estudo da Economia não circunscritas aos cânones que vigoram no actual painel de avaliação de «Economia e Gestão».