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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.4 Coimbra fev. 2015

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Afaf I. Meleis*

*Professora de Enfermagem e Sociologia Escola de Enfermagem Universidade da Pensilvânia

 

O Poder do conhecimento – Capacitar os Enfermeiros

O conhecimento capacita os enfermeiros e, com esse poder, os enfermeiros capacitam os doentes, as famílias e as comunidades para prevenirem doenças e melhorarem o seu bem-estar. Nos últimos anos, tive o privilégio de me reunir com muitos colegas de diferentes partes do mundo e, em virtude desses encontros e diálogos, fiquei muito mais otimista em relação ao papel que os enfermeiros conseguem e estão efetivamente a desempenhar ao nível da influência das políticas de saúde. Este papel é reforçado pelo incrível poder do conhecimento que estão a desenvolver. Os enfermeiros estão cada vez mais empenhados em desenvolver conhecimento na área da enfermagem através de centros de investigação, programas de investigação, teorias da prática,  narrativas vivenciais, estudos de caso, análises históricas, entre outros. Existem muitas tendências positivas na formação de estudantes de enfermagem e no processo de desenvolvimento do conhecimento, o que indica progressos no apoio ao desenvolvimento de melhores práticas para a prestação de cuidados de qualidade baseados em evidência. De seguida, apresento algumas das tendências que tenho observado.

 

Um maior envolvimento de jovens estudantes de enfermagem durante as fases iniciais dos seus percursos académicos Os Centros de Investigação abriram as suas portas aos estudantes do 1º ciclo do ensino superior desde muito cedo, oferecendo-lhes oportunidades para desenvolver o seu interesse pela pesquisa e aprendizagem na área da investigação em enfermagem. Os jovens estudantes têm a possibilidade de trabalhar com investigadores conceituados, aperfeiçoando competências de raciocínio crítico e desenvolvendo o interesse em aprender mais sobre os processos de pesquisa e investigação. Eles podem, assim, observar os investigadores na prática, desde a identificação do problema à tradução dos resultados da investigação.

Aumento da globalização Também pude constatar os efeitos da globalização. Para além de observar alunos brasileiros a estudar em universidades portuguesas e alunos australianos a estudar em universidades malaias, também verifiquei intercâmbios regionais na Europa, Ásia e África, entre outros. Por outras palavras, estão a ocorrer intercâmbios dentro dos continentes, mas também entre continentes. Existem bastantes vantagens associadas aos intercâmbios regionais, tais como pedagogias de ensino e aprendizagem menos dispendiosas e culturalmente mais competentes. Existe um melhor entendimento dos problemas de saúde a nível regional e uma maior confiança na implementação de estratégias consistentes com as prioridades e as políticas de saúde da região. Para além disso, verifiquei também que tirar partido dos intercâmbios regionais contribui para uma maior compreensão das capacidades regionais e, nesse sentido, surgem líderes regionais capazes de influenciar políticas e colaborações culturalmente mais congruentes. Duas regiões com líderes que estão a influenciar mais do que os respetivos países são a União Europeia e África. Os líderes emergentes em Espanha são chamados a redesenhar políticas educativas para a Europa, enquanto os líderes emergentes no Botsuana e na África do Sul são escolhidos para falarem e agirem em nome de muitos dos países africanos. No passado, os intercâmbios centravam-se mais na realização de programas de estudos em universidades dos E.U.A., da Austrália ou do Reino Unido. Os estudantes formados nestas instituições passavam por um enorme processo de recalibração para utilizarem conhecimentos mais compatíveis com o respetivo contexto cultural.

Inovações emergentes Em terceiro lugar, observei o surgimento de inovações ao nível do ensino e da prática em enfermagem. Um exemplo claro é o recém-criado programa doutoral na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal, sob a liderança da neurocientista Dra. Catarina Resende Oliveira. Este programa pretende recrutar médicos, enfermeiros, dentistas, veterinários, entre outros profissionais de saúde, com o objetivo de elaborar um tronco comum e trabalhar com tutores interdisciplinares, bem como desenvolver um conhecimento mais integrado para os sistemas de saúde. Tal como em qualquer programa novo, também este é dinâmico e está em mudança, refletindo uma abordagem mais inovadora e futurista a cuidados de saúde mais integrados e baseados em equipas. À medida que este programa for amadurecendo, irá refletir e operacionalizar algumas das recomendações do relatório do The Lancet Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world (Profissionais de saúde para um novo século: transformar a educação para reforçar os sistemas de saúde num mundo interdependente).1 Este é um programa inovador que muito provavelmente impulsionará a criação de programas semelhantes noutras regiões do mundo.

Outro exemplo de inovação consiste na  revista de investigação desenvolvida por estudantes de doutoramento da Universidade de Alicante. Por um lado, as revistas de investigação, como esta, são um sinal do progresso científico  da disciplina, por outro lado, a organização de uma revista de investigação por parte de jovens estudantes investigadores é um exemplo notável do compromisso inicial com a formação académica e um indicador de progresso de uma disciplina. Existem muitos outros exemplos de boas práticas inovadoras desenvolvidas por enfermeiros com vista ao avanço do conhecimento e à melhoria da prestação de cuidados às comunidades. Convido os leitores a identificar algumas dessas inovações e a partilhá-las nesta revista.

No sentido de valorizar estas tendências positivas e estimulantes e responder a outras tendências mundiais partilhadas por todas as disciplinas, incluindo a complexidade de questões de saúde, as alterações demográficas, as alterações na colaboração nacional e regional, as revoluções do século XX em termos de conhecimento ao nível dos cuidados de saúde, a crescente atenção dada aos determinantes  de saúde e de doença através da epigenética e a crescente importância da identificação dos marcadores genéticos na individualização de cuidados e na prestação de cuidados rigorosos de saúde, recomendo a utilização dos 4 Cs: Colaboração,  enquadramento concetual Coerente, Conectividade  e baseado na Comunidade.

Colaboração Permitam-me que aprofunde a questão da colaboração. Os programas de investigação em enfermagem devem incluir investigadores multidisciplinares. Isso exigirá também planos de estudos recetivos à inclusão de conteúdos interdisciplinares. Os enfermeiros investigadores terão de compreender as metodologias de investigação fundamental, bem como as estratégias das ciências humanas. Por outro lado, os jovens académicos devem ser orientados por uma equipa interdisciplinar e interprofissional de mentores.

Enquadramento Concetual Coerente Embora os enfermeiros académicos devam ser bem versados nas ideias defendidas pela respetiva disciplina e uma voz em investigação que reflita as prioridades da enfermagem, sempre que trabalharem em equipas interdisciplinares, os membros devem esforçar-se por desenvolver enquadramentos concetuais integrados que reflitam a saúde e o bem-estar dos doentes, das famílias e das comunidades. Os princípios desses enquadramentos concetuais devem refletir a nossa missão social, o contrato que estabelecemos com as sociedades para prestarmos cuidados de qualidade que melhorem o autocuidado, tratem os sintomas, evitem doenças e promovam o bem-estar. Este contrato deve refletir a equidade na prestação dos cuidados, garantindo acesso às populações mais vulneráveis e desenvolvendo o conhecimento para eliminar disparidades na prestação de cuidados de saúde.

Conectividade Esse contrato com a sociedade deve também refletir uma formação académica e uma investigação que abordem as prioridades sociais nos cuidados de saúde. Cada investigador deve ser desafiado a demonstrar de que forma a sua investigação contribui direta ou indiretamente para responder às prioridades nacionais de saúde, às questões de saúde a nível regional e talvez até às questões de saúde a nível mundial.

Baseado na Comunidade Com a crescente urbanização, o envelhecimento da população, a diminuição de recursos para a área da saúde , o aumento de doenças não transmissíveis e de doenças crónicas e as mudanças nos estilos de vida, sendo que todos estes fatores requerem cuidados de saúde continuados, especialmente em populações sociocultural e educacionalmente diferentes, os académicos podem conceber a sua investigação de forma a integrar estratégias baseadas na comunidade. Isso exigirá a criação de parcerias com as comunidades e a investigação de questões relacionadas. Estas estratégias baseiam-se nas competências de enfermagem ao nível dos cuidados domiciliários e comunitários.

Com os progressos realizados ao nível do ensino da enfermagem a nível mundial, o compromisso com a academia em enfermagem e o espírito inovador que os enfermeiros têm demonstrado e que que está a surgir mais recentemente na abordagem às questões relacionadas com cuidados de saúde a nível mundial, os enfermeiros estão na melhor posição possível para influenciar mudanças nos cuidados de saúde. Os enfermeiros académicos produzem e utilizam o conhecimento na prática baseada em evidência e na concretização de mudanças ao nível das políticas. O conhecimento baseado em enquadramentos concetuais coerentes e colaborativos, relacionado com as prioridades de saúde a nível nacional e baseado na comunidade pode ser o recurso e o catalisador necessário para melhorar o acesso equitativo a cuidados de saúde de qualidade. O conhecimento capacita os enfermeiros e os doentes.

 

1 Bhutta ZA, Chen L, Cohen J, Crisp N, Evans T, Fineberg H, Frenk J, Garcia P, Horton R, Ke Y, Kelley P, Kistnasamy B, Meleis A., Naylor D, Pablos-Mendez A, Reddy S, Scrimshaw S, Sepulveda J, Serwadda D, Zurayk H. (2010, 51-60). Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world.  The Lancet.


The Power of knowledge – Empowering Nurses

Knowledge empowers nurses, and with that power, nurses empower patients, families and communities to prevent illness and to enhance wellbeing. In recent years, I had the privilege to meet with many colleagues in different parts of the world, and from these meetings and dialogues, I became much more hopeful about the role that nurses are, and can, play in influencing health care polices. This role is augmented by the incredible power of knowledge they are advancing. Nurses are becoming more and more engaged in advancing nursing knowledge through research centers, programs of research, practice theories, experiential narratives, case studies, historical analysis, among others. There are many positive trends in the education of nursing scholars and in the process of advancing knowledge, indicating that progress has been made toward supporting the development of best practices in providing quality evidence based care. Here are some trends I have observed.

 

Increased engagement of young nursing students during the early stages of their educational careers Research Centers have opened their doors to undergraduate students at an early age, affording them opportunities to develop interest in inquiry and learning about nursing research. Young students are getting to work with well-established researchers, honing their critical thinking skills as well as developing interest in learning more about the research and inquiry processes. They get to see researchers in action from problem identification to research translation.

Increased globalization I also noted the effects of globalization. Besides seeing Brazilian students studying in Portuguese Universities and Australian students studying in Malaysian Universities, I noted regional exchanges within Europe, Asia and Africa, among others. In other words, exchanges are happening within continents as well as between continents. Advantages of regional exchanges are numerous, among them, less cost and more culturally competent teaching and learning pedagogies. There is a better understanding of regional health issues and more confidence in the delivery of strategies that are congruent with health care priorities and policies of the region. I noted also that taking advantage of regional exchanges support more understanding of regional capabilities and hence, regional leaders emerge who can affect more culturally congruent policies as well as collaborations. Two such regions that are producing leaders who are influencing more than their specific countries are the European Union and African regions. Leaders emerging from Spain are called upon to redesign educational policies for Europe and those emerging from Botswana and South Africa are coopted to speak and act on behalf of many of the African countries. In the past, exchanges were focused more on studying in the U.S., Australia or the U.K. universities. Scholars prepared in these institutions went through a major recalibration in utilizing knowledge that is more congruent with their own cultural context.

Emerging innovations A third observation is the emerging innovations in the education and practice of nursing. A case in point is the new Ph.D. program that was recently initiated at the University of Coimbra, Portugal spearheaded by the School of Medicine under the leadership of neuroscientist Dr. Catarina Resende Oliveira. It is designed to recruit doctors, nurses, dentists, veterinarians, among other health professionals, to study a core curriculum and work with interdisciplinary mentors as well as advance more integrated knowledge for health care systems. As in any new program, it is evolving and dynamic and reflects a more innovative, futuristic approach to more integrated and team based health care. As this program matures it will reflect and operationalize some of the recommendations of the Lancet Report on “Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world.”1 It is a cutting edge program that will most probably become the impetus for similar programs in other regions of the world.

Another example of innovation is a research journal developed by Ph.D. students from the University of Alicante. While research journals, such as this one, are a mark of scientific progress in the discipline, having young investigators choose to develop a research journal while they are still students is a remarkable example of early commitment to scholarship and an indicator of progress in a discipline. There are many other examples of innovative best practices developed by nurses to advance knowledge and to improve care of communities. I urge the readers to identify some of these innovations and share them through this journal.

To compliment these positive and encouraging trends and to respond to other global trends that all disciplines are facing including the complexity of health issues, demographic changes, shifting national and regional collaboration, the 20th century revolutions in knowledge in health care, increasing attention to determinants of health care and illness through epigenetics, the increasing importance of determining genetic markers in individualizing care and in providing precision health care, I suggest 4 C’s which are collaboration, coherent conceptual framework, connectivity and community based.

Collaboration Let me elaborate on collaboration. It is imperative that programs of nursing research include multidisciplinary researchers. This will also require responsive curricula to include interdisciplinary content. Nurse researchers will need to understand bench research methodologies as well as human science strategies and young scholars must be mentored by a team of interprofessional and interdisciplinary mentors.

Coherent Conceptual Framework While nurse scholars must be well versed in their discipline’s perspectives and must be a voice for research that reflects nursing priorities, when working in interdisciplinary teams, all members should strive for the development of integrated conceptual frameworks that reflect health and wellbeing of patients, families and communities. Principles in such frameworks must reflect our social mission, the contract we make with societies to provide quality care that enhances self-care, manages symptoms, prevents ill health and promotes wellbeing. This contract should reflect equity in providing care, insuring access to vulnerable populations and advancing knowledge to eliminate disparities in the provision of health care.

Connectivity Such a contract with society must also reflect scholarship and research that addresses societal priorities for health care. Each researcher should be challenged to demonstrate how their research contributes directly or indirectly to national health priorities, regional health issues and perhaps even global health issues.

Community Based With increasing urbanization, aging populations, decreasing health care resources, increasing noncommunicable disease and chronic illness, changes in lifestyles, all of which require long term care, particularly among very socioculturally and educationally diverse populations, scholars may design their research to incorporate community based strategies. This will require partnering with communities and researching related issues. These strategies build on nursing expertise in home and community care.

With progress made in nursing education globally, the commitment to nursing scholarship, and with the innovative spirit that nurses have demonstrated that is emerging more recently in addressing health care issues globally, nurses are in the best possible position to affect changes in health care. Nurse scholars produce and translate knowledge for evidence based practice and for policy changes. Knowledge based on collaborative, coherent conceptual frameworks, which is connected to national health priorities and is community based, can be the resource and catalyst for enhancing equitable quality health care. Knowledge empowers nurses and patients.

 

1 Bhutta ZA, Chen L, Cohen J, Crisp N, Evans T, Fineberg H, Frenk J, Garcia P, Horton R, Ke Y, Kelley P, Kistnasamy B, Meleis A., Naylor D, Pablos-Mendez A, Reddy S, Scrimshaw S, Sepulveda J, Serwadda D, Zurayk H. (2010, 51-60). Health professionals for a new century: transforming education to strengthen health systems in an interdependent world. The Lancet.

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