SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.serV número4Aceitação de um programa mHealth para prevenção da obesidade em adolescentes: estudo misto sequencial índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283versão On-line ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serV no.4 Coimbra out. 2020

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Ensino de Enfermagem Num Novo Tempo

 

O tempo que hoje vivemos veio desvelar o quanto é mutável a vida humana. O mundo, tido outrora como quase certo e que pouco trazia de novidade aos seres humanos que se vangloriavam pelos seus feitos e pelas suas descobertas, trouxe-nos a possibilidade de refletirmos sobre o que somos, o que fazemos e como fazemos enquanto Homens.

A Enfermagem, ciência humana orientada para a prática, sempre teve como pilar essencial a compreensão do Homem, em que o Homem (ser-aí, ser-no-mundo, ser-com-os-outros) é agente de transformação (Naves, 2009). O homem é um ser-no-mundo e um ser-com-o-outro, com consciência do eu, afirmação de si mesmo e da própria identidade, que interage com outros seres e se relaciona com estes, “o ser simplesmente dado é o modo de ser de um ente que não possui o carácter de presença” (Heidegger, 2006, p. 165). O ser-no-mundo é uma experiência pessoal e intransferível, implicando obrigatoriamente ser alguém com o outro e para o outro (Henriques, 2018).

Através de um relacionamento cuidativo para com o outro, a Enfermagem assenta numa articulação entre o conhecimento teórico e o domínio prático, tendo como pano de fundo cenários de grande complexidade, onde os estudantes de enfermagem, aprendizes de uma arte e de uma profissão, mobilizam conhecimentos diversos, sejam do ponto de vista ético, estético, pessoal, reflexivo e sociopolítico (Alarcão, 2001; Carper, 1992; Chinn, 2011). Desta forma, os estudantes de enfermagem são formados para cuidarem integralmente do outro, pelo que o ensino remoto ou à distância, tal como a prática simulada, são insuficientes do ponto de vista pedagógico.

Em tempos de pandemia, o ensino da ciência de enfermagem deve continuar a pautar-se pela exigência do saber, do saber fazer e do saber ser, em que a aprendizagem advém do conhecimento formal científico, que ganha sentido na relação com o outro, na interação social, na dialética, no confronto e na convivência. Às instituições de ensino superior de enfermagem, coloca-se o desafio, de juntamente com as instituições de prestação de cuidados, salvaguardarem as melhores condições para que os estudantes consigam continuar a aprender o que é Ser Enfermeiro, porque esta pandemia e outras que possam surgir, desafiam-nos a irmos mais além.

O tempo da pandemia, é o tempo que exige que todos nós sejamos capazes de continuar a estudar a resposta humana à doença e aos processos de vida e com isso facilitarmos os processos de transição, com vista à saúde e bem-estar através de cuidados de enfermagem significativos ao outro. Para isso, precisamos, pois, de estar junto das pessoas, quer do ponto de vista profissional como enfermeiros, quer do ponto de vista daqueles que aprendem o que é a Ciência de Enfermagem. A formação dos enfermeiros não pode ficar refém desta ou de uma outra pandemia, porque nós, os enfermeiros, estamos e estaremos sempre na linha da frente e da retaguarda.

As instituições de ensino superior de enfermagem têm, pois, um papel de alavanca, de análise e de crítica, de como ultrapassar os desafios que agora se colocam à formação dos enfermeiros e com isso garantirmos que o ensino de enfermagem em Portugal continue nos níveis de excelência a que estamos habituados. Devemos estar por um lado conscientes de que o ensino remoto é um ensino desigual, onde se veem com maior clareza as desigualdades, sejam elas do ponto de vista económico, sejam de constrangimentos familiares ou outros, e por outro, que a prática simulada não nos dá resposta ao relacionamento cuidativo que desenvolvemos com o outro, e que é pressuposto norteador da disciplina de enfermagem.

Desta forma, o grande desafio que hoje temos consiste na articulação das instituições de ensino superior com as instituições de prestação de cuidados, para que juntos possamos continuar a assegurar a formação dos nossos estudantes, já que precisamos não apenas de mais enfermeiros de cuidados gerais e de mais enfermeiros especialistas, mas precisamos também de mais enfermeiros capazes de desenvolver mais investigação com translação para a prática clínica que dê resposta aos desafios que o mundo, hoje e no futuro, nos irá colocar.

 

Referências bibliográficas

Alarcão, I. (2001). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre, Brasil: Artmed.         [ Links ]

Carper, B. (1992). Philosophical inquiry in nursing: An application. In J. F. Kikuchi & H. Simmons (Eds.), Philosophical inquiry in nursing. Newbury Park, CA: Sage.

Chinn, P. (2011). Critical theory and emancipatory knowing. In: Butts JB, Rich KL (Eds.). Philosophies and theories for advanced nursing practice. Sudbury: Jones & Bartlett Learning.         [ Links ]

Heidegger, M. (2006). Ser e tempo. Petrópolis, Brasil: Editora Vozes.         [ Links ]

Henriques, C. (2018). Transição para o papel maternal: A experiência vivida de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas. Recuperado de https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33134/1/ulsd731592_td_Carolina_Henriques.pdf        [ Links ]

Naves, G. (2009). Liberdade e autenticidade em Martin Heidegger: Uma Análise fenomenológica do homem. Poros, 1(1), 63-77.         [ Links ]

 

Carolina Miguel Graça Henriques

RN, MsC, PhD, Post-PhD, Professora Coordenadora, Escola Superior Saúde, Politécnico de Leiria. [carolina.henriques@ipleiria.pt].

https://orcid.org/0000-0002-0904-8057

 


Nursing Education in a New Time

 

The time we are living in now remind us of the mutability of human life. The world we once took for granted, and that offered us little novelty as we bragged about our deeds and discoveries, gave us now the opportunity to reflect on who we are as human beings, what we do, and how we do it.

Nursing is a practice-oriented human science whose essential pillar has always been the understanding of human beings (Dasein, being-in-the-world, being-with-the-others) as agents of transformation (Naves, 2009). Human beings are beings-in-the-world and beings-with-others; they are self-aware, self-affirming, have a sense of their own identity, and interact and engage with other daseins, “Yet presence-at-hand is the kind of Being which belongs to entities whose character is not that of Dasein” (Heidegger, 2006, p. 165). Being-in-the-world is a personal and non-transferable experience that implies being with and for others (Henriques, 2018).

Through a caring relationship with others, nursing results from a combination of theoretical knowledge and practical knowledge in contexts of great complexity where the apprentices of an art and a profession – the nursing students – apply their knowledge from ethical, aesthetic, personal, reflective, or sociopolitical perspectives (Alarcão, 2001; Carper, 1992; Chinn, 2011). Therefore, as nursing students are trained to deliver comprehensive care to others, remote learning, distance learning, or simulation training are insufficient from a pedagogical perspective.

During a pandemic, nursing education must continue to be guided by high standards of knowledge and knowledge of both doing and being. Learning should come from formal scientific knowledge and acquire meaning through the relationship with others, social interaction, dialectics, confrontation, and coexistence. Together with health care delivery institutions, nursing education institutions face the challenge to ensure the best conditions for students to continue to learn what it means to be a nurse, as this pandemic and others that may occur in the future drive us to go further.

Amidst this pandemic, we must be able to continue to study the human responses to the disease and the life processes. In doing this, we will facilitate the transition processes for promoting health and well-being through meaningful nursing care to others. Hence, nurses and those who are studying Nursing Science need to be close to people. Nursing education cannot be held hostage to this or any other pandemic because we, the nurses, are and will always be on the front and back lines.

Using their role as a lever for change, nursing education institutions should analyze and discuss how to overcome the current challenges to nurses’ training and ensure that nursing education in Portugal maintains the same levels of excellence to which we are all accustomed. On the one hand, we should bear in mind that remote learning exacerbates inequalities in education from an economic perspective or considering family constraints or others. On the other hand, simulation training does not respond to the caring relationship developed with others, and that is a guiding principle of the nursing discipline.

The most significant challenge facing nursing today is the need for higher education institutions and care delivery institutions to continue to work together to ensure our students’ education/training. We need more generalist and specialist nurses, but we also need more nurses who are capable of developing research with translation to clinical practice to meet current and future challenges.

 

References

Alarcão, I. (2001). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre, Brasil: Artmed.

Carper, B. (1992). Philosophical inquiry in nursing: An application. In J. F. Kikuchi & H. Simmons (Eds.), Philosophical inquiry in nursing. Newbury Park, CA: Sage.

Chinn, P. (2011). Critical theory and emancipatory knowing. In: Butts JB, Rich KL (Eds.). Philosophies and theories for advanced nursing practice. Sudbury: Jones & Bartlett Learning.

Heidegger, M. (2006). Ser e tempo. Petrópolis, Brasil: Editora Vozes.

Henriques, C. (2018). Transição para o papel maternal: a experiência vivida de mulheres com problemas de adição a substâncias psicoativas. University of Lisbon. Retrieved from https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/33134/1/ulsd731592_td_Carolina_Henriques.pdf

Naves, G. (2009). Liberdade e Autenticidade em Martin Heidegger: Uma Análise Fenomenológica do Homem. Poros, Uberlândia, 1(1), 63-77.

 

Carolina Miguel Graça Henriques

* RN, MSc, PhD, Post-PhD, School of Health Sciences, Polytechnic Institute of Leiria. [carolina.henriques@ipleiria.pt].

https://orcid.org/0000-0002-0904-8057

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons