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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283versão On-line ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serV no.4 Coimbra out. 2020

https://doi.org/10.12707/RV20047 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

RESEARCH PAPER (ORIGINAL)

 

Carga de trabalho numa unidade de internamento hospitalar de acordo com o Nursing Activities Score

Workload in a hospital inpatient unit using the Nursing Activities Score

Carga de trabajo en una unidad de internamiento hospitalario según el Nursing Activities Score

 

Camila Pinno* 1
https://orcid.org/0000-0001-7758-1833

Carlie da Fontoura Taschetto 1
https://orcid.org/0000-0001-8925-7299

Etiane de Oliveira Freitas 1
https://orcid.org/0000-0002-8589-2524

Lenize Moura Nunes 1
https://orcid.org/0000-0002-4290-760X

Jennifer Aguilar Leocadio de Menezes 1
https://orcid.org/0000-0003-3454-3698

Karen Emanueli Petry 1
https://orcid.org/0000-0002-5622-2580

Silviamar Camponogara 1
https://orcid.org/0000-0001-9342-3683

 

1 Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

 

RESUMO

Enquadramento: A elevada carga de trabalho pode estar associada à complexidade clínica dos doentes e à longa permanência na unidade, constituindo um tratamento de enfermagem frequentemente baseado em cuidados semi-intensivos.

Objetivo: Avaliar a carga de trabalho de uma equipa de enfermagem de uma unidade de internamento através do Nursing Activities Score (NAS).

Metodologia: Estudo exploratório, transversal, quantitativo, realizado com doentes internados numa unidade de internamento hospitalar. A forma de caracterização composta por dados sociodemográficos, clínicos e o NAS foi usada para recolher dados de registos documentados de cuidados de enfermagem.

Resultados: O NAS médio foi de 43,2, variando de 59,0 e 54,1 ao primeiro dia e no último dia de internamento, respetivamente, e este é o tempo médio que um doente necessita de um enfermeiro. Além disso, os pacientes que acabaram por morrer e aqueles que mostraram cultura positiva para germes multirresistentes tiveram médias de NAS mais altas no último dia.

Conclusão: A carga de trabalho da equipa de enfermagem é elevada, evidenciada pela elevada procura de cuidados.

Palavras-chave: carga de trabalho; cuidados de enfermagem; enfermagem; unidades hospitalares

 

ABSTRACT

Background: High workload can be associated with patient acuity and long hospital stay, often calling for semi-intensive nursing care.

Objective: To assess the workload of a nursing team of a hospital inpatient unit using the Nursing Activities Score (NAS).

Methodology: An exploratory, cross-sectional, quantitative study was conducted with patients admitted to a hospital inpatient unit. The sample was characterized using sociodemographic and clinical data, and the NAS was used to collect data from documented nursing records.

Results: The mean NAS score was 43.2, ranging from 59.0 to 54.1 for the first day and the last day of hospitalization, respectively, which is the average nursing care time. Patients who died and those who showed a positive culture for multidrug-resistant bacteria had higher mean NAS scores on the last day.

Conclusion: The nursing workload is high, evidenced by the high demand for care.

Keywords: workload; nursing care; nursing; hospital units

 

RESUMEN

Marco contextual: La elevada carga de trabajo puede estar asociada a la complejidad clínica de los pacientes y a la larga estancia en la unidad, lo que supone un tratamiento de enfermería a menudo basado en cuidados semiintensivos.

Objetivo: Evaluar la carga de trabajo de un equipo de enfermería en una unidad de internamiento hospitalario a través del Nursing Activities Score (NAS).

Metodología: Estudio exploratorio, transversal y cuantitativo, realizado con pacientes ingresados en una unidad de internamiento hospitalario. La forma de caracterización compuesta por datos sociodemográficos, clínicos y el NAS se utilizó para recoger datos de registros documentados de cuidados de enfermería.

Resultados: El promedio del NAS fue de 43,2, variando entre 59,0 y 54,1 el primer día y el último día de hospitalización respectivamente, y este es el tiempo promedio en que un paciente necesita a un enfermero. Además, los pacientes que terminaron muriendo y aquellos que mostraron un cultivo positivo de gérmenes multirresistentes tuvieron en el NAS medias más altas el último día.

Palabras clave: carga de trabajo; atención de enfermería; enfermería; unidades hospitalarias

 

Introdução

O trabalho de enfermagem constitui-se na articulação entre os requisitos de cuidados e de gestão, envolvendo a prestação de cuidados diretos e indiretos aos doentes. Neste contexto, é essencial associar a condição clínica do doente e a sua dependência da equipa de enfermagem, bem como o tempo que os profissionais passam a realizar as suas atividades para promover uma gestão adequada dos recursos humanos, evitando assim a sobrecarga de trabalho e garantindo a qualidade dos serviços prestados (Reich, Vieira, Lima, & Rabelo-Silva, 2015).

Nas unidades de cuidados, o grau de dependência dos doentes em relação à equipa de enfermagem e o tempo gasto na prestação de cuidados é medido através do Sistema de Classificação de Doentes (SCD), padronizado pelo Conselho Federal de Enfermagem, através da Resolução nº 543/2017 (Conselho Federal de Enfermagem [COFEN], 2017). No entanto, na prática, observa-se que as medidas indiretas de avaliação dos horários de enfermagem exigidos pelos doentes nem sempre demonstram a necessidade real ou a complexidade dos seus cuidados (Reich et al., 2015).

Neste contexto, destaca-se a importância da quantificação da carga de trabalho, que dará apoio à adequação da equipa de enfermagem em relação às necessidades dos doentes. Ao identificar as características do serviço, contribuirá para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados, preservando a saúde e segurança dos doentes, bem como dos trabalhadores (Goulart, Carrara, Zanei, & Whitaker, 2017).

Nesta perspetiva, a carga de trabalho consiste no produto da média diária dos doentes assistidos, de acordo com o grau de dependência e o tipo de cuidados, pelo tempo médio de cuidados de enfermagem utilizados pelo doente de acordo com o grau de dependência e cuidados prestados (Fugulin, Gaidzinski, & Castilho, 2010). Por isso, a avaliação dos requisitos de trabalho de enfermagem, juntamente com os fatores que os influenciam, torna-se indispensável para promover a adequação da equipa de enfermagem (Queijo, 2008).

O Nursing Activities Score (NAS) reflete a carga de trabalho (em percentagem) dedicada ao cuidado direto a um doente nas 24 horas. Para o efeito, o instrumento avalia sete categorias: Atividades básicas, Apoio ventilatório, Apoio cardiovascular, Apoio renal, Apoio neurológico, Suporte metabólico e Intervenções específicas (Queijo & Padilha, 2009).

O NAS foi originalmente desenvolvido para medir o tempo de cuidados de enfermagem numa unidade de cuidados intensivos (UCI), embora possa ser usado em outros contextos de cuidados (Queijo & Padilha, 2009). Isto inclui unidades de internamento, tendo em conta que, por vezes, os doentes internados apresentam condições clínicas graves e uma elevada procura de cuidados, compatíveis com os cuidados intensivos (Silva et al., 2017). No entanto, observou-se que existe uma escassez de estudos utilizando o instrumento em unidades de internamento, especialmente em unidades clínicas médicas, o que é uma lacuna de conhecimento. Assim, considera-se que a aplicação do NAS neste cenário contribuirá para a identificação do perfil dos doentes internados, bem como as suas especificidades, o que não é possível utilizando apenas o SCD. Além disso, ao medir o tempo gasto na prestação de cuidados de enfermagem, o NAS também possibilita subsídios para a realização da dimensão do pessoal de forma adequada, beneficiando a equipa e os doentes. Assim, o estudo visou avaliar a carga de trabalho de uma equipa de enfermagem de uma unidade de internamento através do NAS.

 

Enquadramento

Para Queijo e Padilha (2009), é necessária e indispensável a utilização de indicadores de cuidados, de forma a garantir a qualidade do serviço de enfermagem prestado e também a prestação de subsídios para o dimensionamento de pessoal nas unidades hospitalares. Os mesmos autores entendem que a avaliação da carga de trabalho de enfermagem é importante para a instituição de saúde, considerando que uma dimensão inadequada do pessoal implica um aumento dos custos para a instituição e, da mesma forma, uma equipa reduzida gera deficiência na qualidade dos cuidados prestados.

Um estudo recente conduzido por Reich et al. (2015), avaliou a carga de trabalho numa unidade coronária para preencher uma lacuna de conhecimento nesta população específica, tendo sido utilizado o NAS. O estudo determinou relações importantes da carga de trabalho com a razão do internamento. Além disso, observou-se que o instrumento pode ajudar no dimensionamento da equipa de enfermagem e no planeamento de atividades, atendendo às exigências dos doentes em todos os turnos de trabalho.

Na prática, observa-se que turnos específicos requerem uma maior presença do profissional de enfermagem em frente ao doente, questões diferentes podem estar relacionadas com este facto, como as rotinas da unidade e o número de pessoal. Com a utilização do instrumento, pretende-se ter objetivamente a carga de trabalho do profissional de enfermagem de forma a realizar as possíveis intervenções.

Associar a condição clínica do doente e a dependência dos cuidados de enfermagem com a carga de trabalho é necessário para planear adequadamente as atividades da unidade em questão, de forma a evitar sobrecargas de trabalho (Reich et al., 2015).

 

Questão de investigação

Qual é a carga de trabalho de uma equipa de enfermagem de uma unidade de internamento?

 

Metodologia

Estudo exploratório e transversal, com abordagem quantitativa, realizado numa unidade de internamento de um hospital universitário público (HU) no sul do Brasil.

O HU caracteriza-se como um hospital pedagógico, com a sua atenção focada no desenvolvimento do ensino, investigação e cuidados de saúde, servindo 100% dos doentes através do Sistema Único de Saúde (SUS). É o maior hospital público com o único serviço de urgência a servir exclusivamente pelo SUS no interior do Estado e abrange uma população de 1,2 milhões de habitantes, sendo uma referência em complexidade média e alta, e em cuidados de urgência para a população de 45 municípios da região Centro-Oeste do Rio Grande do Sul.

O cenário específico justifica-se por ser uma unidade de internamento que atende doentes adultos de diferentes especialidades, e entre elas, um número significativo de doentes após a alta da unidade de cuidados intensivos (UCI) do hospital. Para obter a medição da carga de trabalho dos enfermeiros, foram recolhidos dados dos doentes, de agosto de 2017 a janeiro de 2018, indiretamente, ou seja, os dados foram obtidos exclusivamente a partir dos seus registos médicos, não tendo sido realizada qualquer abordagem direta com os doentes. Para isso, as visitas diárias foram realizadas em horários pré-estabelecidos na unidade de cenário de estudo e a informação recolhida nos registos médicos das últimas 24 horas. Note-se também que os doentes não foram submetidos a qualquer tipo de tratamento ou exame adicional para fins de investigação. Os critérios de inclusão foram: doentes com idade igual ou superior a 18 anos, de qualquer sexo, de qualquer especialidade médica, e que foram admitidos na unidade durante o período estipulado para recolha. E, como critérios de exclusão: doentes cujo tempo de hospitalização foi inferior a 24 horas. Sendo assim, a amostra de estudo incluiu 133 registos de doentes.

Foram utilizados dois instrumentos para recolha de dados. O primeiro instrumento, elaborado pelos autores, composto pelos dados sociodemográficos e clínicos dos doentes, com base nos registos referentes às primeiras 24 horas na unidade de internamento, e atualizadas durante o internamento e as variáveis investigadas: género, estado civil, origem (cidade), unidade de origem, tipo de internamento, diagnóstico médico, comorbidades associadas, como diabetes mellitus e/ou hipertensão, cultura para germes multirresistentes e destinos de alta.

O segundo instrumento foi o NAS, desenvolvido por Miranda e seus colaboradores, traduzido para o português (Brasil), e transculturalmente adaptado e validado para a realidade brasileira por Queijo e Padilha (2009). Este instrumento marca o tempo despendido pela enfermagem na realização de 23 procedimentos, cujos pesos variam entre 1,2 e 32,0 pontos. A pontuação final resulta da soma das notas dos itens, que variam entre 0 e 176,8%, e indica a percentagem de tempo despendido pelo enfermeiro nos cuidados dos doentes. Este instrumento foi completado diariamente pelos investigadores, com base no registo das atividades de enfermagem realizadas nas últimas 24 horas de internamento hospitalar, em tempo pré-determinado e fornecendo informações retrospetivas sobre a carga de trabalho de enfermagem. Os dados foram tabulados no Microsoft Excel ® 2010 e analisados através do IBM SPSS Statistics, versão 21.0. Para descrever o perfil dos doentes e a carga de trabalho da equipa de enfermagem, foram utilizadas estatísticas descritivas com a elaboração de frequência absoluta (n) e tabelas percentuais (%) para variáveis categóricas, e cálculo de medidas de posição e dispersão (média, desvio-padrão, valores mínimos e máximos) para variáveis contínuas.

O teste t de Student foi usado para comparar os meios entre as diferentes variáveis clínicas. O coeficiente de correlação de Pearson foi usado para avaliar as correlações entre variáveis quantitativas. Em todas as análises, os resultados foram considerados estatisticamente significativos se p < 0,05, com um intervalo de confiança de 95%.

Esta investigação cumpriu as determinações da Resolução n.º 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que prevê o cuidado da investigação com os seres humanos (Ministério da Saúde, 2012). Foi aprovado pela Comissão de Ética de Investigação da universidade participante, com o número CAAE 70575017.8.0000.5346 e com o número de parecer 2.169.349. Os dados que constituem a amostra foram obtidos exclusivamente a partir da consulta dos registos médicos dos pacientes, não tendo sido necessária a utilização do Formulário de Consentimento Gratuito e Informado.

 

Resultados

O estudo incluiu 133 doentes, dos quais 62,4% eram homens, 47,4% casados e 58,9% de origem de Santa Maria. Relativamente ao perfil clínico, 60,2% foram internados nas urgências da instituição, 70,7% com hospitalização do tipo clínico; 18% com diagnóstico médico relacionado com disfunções do sistema neurológico e 18% com disfunções do sistema cardiovascular; e 62,4% dos pacientes tinham diabetes mellitus (DM) e/ou hipertensão arterial sistémica (HAS) como comorbilidades associadas à razão da hospitalização. Além disso, 21,1% tiveram uma cultura positiva para germes multirresistentes (GMR) e 8,3% dos pacientes morreram. Os dados acima descritos são apresentados na Tabela 1.

A Tabela 2 apresenta as variáveis quantitativas relacionadas com os dados sociodemográficos e clínicos dos doentes internados na unidade de internamento, bem como a carga de trabalho evidenciada pelo NAS.

A idade média dos doentes hospitalizados foi de 55,1 (±18,7 anos). Permaneceram hospitalizados durante uma média de 15,9 (±16,1) dias. No que diz respeito à carga horária, a pontuação média do NAS durante o período total de internamento dos doentes foi de 43,2% (±15,6) e, no primeiro e último dia de internamento, a pontuação foi de 59,0% (±19,2) e 54,1% (±23,7), respetivamente. Note-se que a percentagem acima descrita indica o tempo médio que um paciente requer de um enfermeiro.

A análise descritiva do NAS, de acordo com as variáveis clínicas, é apresentada na Tabela 3. Assim, verificou-se que os doentes que evoluíram até à morte tinham, significativamente, uma carga média de trabalho mais elevada no último dia de internamento (NAS no último dia). E, os doentes com cultura positiva para GMR tinham NAS mais elevados de trabalho de enfermagem durante a estadia na unidade (NAS médias, primeiro dia e último dia).

A existência de correlações entre as variáveis também foi avaliada: média NAS, NAS do 1º dia, NAS do último dia, idade e duração do internamento. De acordo com os dados da Tabela 4, existem correlações positivas entre o NAS médio com o NAS do primeiro e o NAS do último dia de internamento e entre o NAS do último dia de internamento com o NAS do primeiro dia de internamento. Além disso, houve uma correlação positiva entre a idade e o NAS do último dia, bem como a duração da hospitalização com o NAS médio e o NAS do primeiro dia. A partir destes resultados, verifica-se que a maior carga de trabalho exigida pelo doente é no primeiro e último dia de internamento. Percebe-se também que os doentes mais velhos necessitam de uma maior carga de trabalho no último dia de internamento e que, quanto mais tempo os doentes estiverem internados, maior é a carga de trabalho média.

 

Discussão

Neste estudo, verificou-se uma predominância de doentes homens (62,4%), na sua maioria clínicos (70,7%), com origem nas urgências (60,2%). Estes dados convergem com estudos recentes com doentes severamente obesos (Santos, Marques, Monteiro, Carvalhal, & Santos, 2019; Siqueira, Ribeiro, Souza, Machado, & Diccini, 2015). Um estudo americano realizado com 1.254 homens mostrou que a população masculina está mais hesitante em procurar serviços de saúde numa base preventiva, o que no futuro resultará em problemas de saúde nestes indivíduos. O estudo revelou ainda que a maioria dos indivíduos eram hipertensos, diabéticos, obesos e tinham problemas cardíacos (Sherman, Patterson, Tomar, & Wigfall, 2020).

Outro dado importante apontado na presente investigação está relacionado com a elevada taxa de pacientes com DM e/ou HAS como comorbilidade antes do internamento. Este resultado corrobora um outro estudo encontrado na literatura, que mostrou que os doentes com acidente vascular cerebral tinham estas comorbilidades (Costa et al., 2018).

Além disso, cabe ao enfermeiro realizar a monitorização hemodinâmica e neurológica, identificando precocemente possíveis alterações, como o aumento da pressão intracraniana e os edemas cerebrais, intervindo o mais rapidamente possível de forma a reduzir os riscos de sequelas frequentemente observadas na maioria dos casos deste tipo de doentes (Oliveira et al., 2019). Estas ações são essenciais para o sucesso do tratamento do doente e, portanto, geram uma procura considerável de atividades para o enfermeiro.

Quanto ao resultado do internamento, a alta prevaleceu, corroborando estudos realizados noutras unidades (Camuci, Martins, Cardeli, & Robazzi, 2014; Siqueira et al., 2015). É importante considerar que a alta hospitalar é um processo iniciado e construído ao longo de todo o internamento, e que requer que a equipa de saúde conduza este processo com cooperação e corresponsabilidade (Silva, Ribeiro, & Azevedo, 2018). Além disso, o processo de alta hospitalar envolve maiores exigências de trabalho de enfermagem principalmente relacionadas com a educação para a saúde, dirigida ao doente e à família.

A carga média de trabalho da equipa de enfermagem da unidade investigada, segundo o NAS, correspondeu a 43,2%, o que significa que os doentes ocupam uma média de 43,2% do tempo de um enfermeiro. No contexto atual, um técnico de enfermagem é responsável por seis a 13 doentes por turno, pelo que se nota que existe uma elevada carga de trabalho dos profissionais na unidade investigada.

Assim, acredita-se que a elevada carga de trabalho dos profissionais de enfermagem pode estar associada à complexidade clínica e de cuidados dos doentes, bem como à elevada dependência de doentes neurológicos, constituindo um tratamento de enfermagem frequentemente baseado em cuidados semi-intensivos. Note-se que a instituição não dispõe de uma unidade de cuidados semi-intensivos, tornando esta unidade de hospitalização, o cenário de investigação deste estudo, uma referência para a atribuição de doentes dispensados da UCI (Taschetto et al., 2018).

Consequentemente, neste estudo, o NAS médio é inferior aos valores encontrados nas UCIs brasileiras, onde a média variou de 62,14% para 71,43% (Oliveira et al., 2019; Silva & Gaedke, 2019). Além disso, em relação à pontuação do NAS no primeiro e último dia de internamento, verificou-se uma maior carga de trabalho, sendo, respetivamente, de 59,0% e 54,1%. Este resultado pode estar relacionado com as condições em que o doente se encontra no primeiro dia de internamento, o que, devido à situação clínica instável, requer mais cuidados (Trettene et al., 2015). Quanto à média NAS do último dia de internamento, ficou evidente que os doentes que evoluíram até à morte tinham uma carga de trabalho média significativamente mais elevada devido à gravidade do doente e à elevada procura de cuidados pós-morte (Oliveira et al., 2019).

Foram observadas correlações significativas entre a carga de trabalho de enfermagem com a idade e a duração da estadia na unidade, demonstrando uma elevada dependência dos pacientes em cuidados de enfermagem, um resultado que difere de um estudo que avaliou a carga de trabalho numa unidade coronária (Reich et al., 2015).

Além disso, outro dado relevante deste estudo refere-se à presença de GMR, uma vez que 21,1% dos doentes apresentaram cultura positiva. Foi também identificada uma associação significativa entre os doentes colonizados com GMR e o NAS médio, o NAS no primeiro dia e o NAS do último dia de internamento, respectivamente (56,8 p < 0,000; 73,1 p < 0,000; e 66,2 p < 0,02). Num estudo retrospetivo realizado em nove unidades de cardiologia intensivas, a partir de um hospital público, de elevada complexidade, com uma amostra de 835 doentes (Sherman et al., 2020), observou-se que a carga de trabalho medida pelo NAS não influenciou a ocorrência de infeções relacionadas com cuidados de saúde nas unidades de cardiologia intensivas investigadas.

 

Conclusão

Do estudo, conclui-se que a elevada carga de trabalho dos profissionais de enfermagem pode estar associada à complexidade clínica e de cuidados dos doentes, constituindo um tratamento de enfermagem frequentemente baseado em cuidados semi-intensivos.

Também neste estudo, o NAS médio é inferior aos valores encontrados nas UCIs brasileiras. Quanto à pontuação do NAS no primeiro e último dia de internamento, houve uma maior carga de trabalho. Quanto ao NAS do último dia de internamento, era evidente que os pacientes que evoluíram até à morte tinham uma carga de trabalho média significativamente mais elevada devido à gravidade do paciente e à elevada procura de cuidados pós-morte.

Acredita-se, portanto, que este estudo pode contribuir para fomentar discussões sobre a importância de um dimensionamento adequado de pessoal para dar resposta à procura de cuidados proveniente de pacientes de forma a valorizar a qualidade e a segurança dos cuidados prestados.

 

Referências bibliográficas

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Contribuição de autores

Conceptualização: Camponogara S., Freitas, E. O., Petry, K. E.

Tratamento de dados: Camponogara S., Freitas, E. O., Petry, K. E., Pinno, C.,

Metodologia: Camponogara, S., Freitas, E. O., Petry, K. E.

Redação - rascunho original: Camponogara, S., Freitas, E. O., Petry, K. E., Pinno, C., Taschetto, C. F., Nunes, L. M., Menezes, J. A.

Redação - análise e edição: Camponogara, S., Freitas, E. O., Petry, K. E., Pinno, C., Taschetto, C. F., Nunes, L. M., Menezes, J.A.

 

Autor de correspondência:

* Camila Pinno

E-mail: pinnocamila@gmail.com

 

Como citar este artigo: Pinno, P., Taschetto, C. F., Freitas, E. O., Nunes, L. M., Menezes, J. A., Petry, K. E., & Camponogara, S. (2020). Carga de trabalho numa unidade de internamento hospitalar de acordo com o Nursing Activities Score. Revista de Enfermagem Referência, 5(4), e20047. doi:10.12707/RV20047

 

Recebido: 17.04.20

Aceite: 02.10.20

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