SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.serVI issue1Reflexiones sobre la teleasistenciaTechnological innovation from the perspective of health promotion and primary health care author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Revista de Enfermagem Referência

Print version ISSN 0874-0283On-line version ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serVI no.1 Coimbra Dec. 2022  Epub Mar 16, 2023

https://doi.org/10.12707/rv22ed1 

EDITORIAL

Gestão editorial: Desafios no processo de edição científica das revistas científicas de enfermagem no Brasil

Editorial management: Challenges in the scientific editorial process of nursing journals in Brazil

Wiliam Wegner1  2 
http://orcid.org/0000-0002-0538-9655

Maria da Graça de Oliveira Crossetti1  2 
http://orcid.org/0000-0002-9748-4077

1 Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

2 Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, Brasil


Os processos de gestão editorial das revistas científicas têm vindo a constituir-se como um campo do saber específico e altamente especializado, além da complexidade inerente a cada etapa. Ao longo dos últimos 10 anos, o processo de edição científica tem vindo a ser profissionalizado nas suas etapas, fluxos e procedimentos relacionados com a publicação e divulgação dos artigos científicos. A preocupação com o tema gestão editorial tem vindo a ser abordada nos últimos anos com o foco na adoção de boas práticas e nas inovações tecnológicas e editoriais, debatidas em âmbito nacional e internacional (Marziale, 2017).

A liderança dos editores responsáveis pelas revistas é um elemento condutor neste contínuo processo de mudanças que conjuntamente com a profissionalização das equipes editoriais estão a constituir uma nova cultura do processo de divulgação e comunicação científica. A implantação dos fundamentos da ciência aberta e os seus pressupostos constitui-se como um dos grandes desafios dos editores das principais revistas científicas de enfermagem nos últimos anos (Sousa et al., 2022).

A procura por diretrizes e guidelines de boas práticas editoriais é uma exigência constantemente debatida e recordada pelas equipes editoriais. O Committee on Publication Ethics (COPE) é um órgão internacional que tem vindo a investir na produção destes manuais e, tendo desenvolvido recentemente uma checklist no sentido de direcionar os processos editorais que vão orientar a equipe editorial para adoção de boas práticas com transparência e ética (Committee on Publication Ethics, 2022).

As atribuições do editor-chefe, responsável pela coordenação e liderança da equipe editorial, incluem: coordenação da comissão editorial, supervisão de todas as etapas do processo editorial desde a submissão até a aceitação final do artigo científico, proposição de atividades de educação permanente, atualização e revisão das normas e diretrizes da revista, representação em diferentes instancias (eventos, fóruns, grupos de trabalho, entre outros) da Universidade e externamente, gestão financeira, entre outras demonstrando a importância do desenvolvimento de competências relacionadas com a gestão editorial para o profissional que ocupa este papel estratégico na liderança do periódico.

Uma pesquisa recente, realizada para verificar o conhecimento de enfermeiros-investigadores sobre as tendências em edição científica e as boas práticas em pesquisa, examinou 197 enfermeiros-investigadores brasileiros de diferentes regiões do país identificou um conhecimento limitado sobre a edição científica e as boas práticas em investigação, sinalizando uma preocupação que poderá ter impacto no desenvolvimento da enfermagem brasileira (Sousa et al., 2022).

Uma preocupação premente no mundo da edição científica é o processo de formação de novos editores. É consenso entre as principais revistas e lideranças na área da edição científica que a profissionalização do processo de gestão editorial é um caminho sem volta para o fortalecimento das revistas de enfermagem e para a consolidação da disciplina enquanto ciência com pressupostos epistemológicos e conhecimentos específicos que delimitam o seu saber. A renovação e ampliação da equipe editorial é um tema que ainda é pouco debatido nas instâncias competentes, porém é uma pauta que necessita ser planeada e incorporada nas prioridades do processo de gestão editorial.

Existem algumas escassas iniciativas nos programas de pós-graduação que propõem disciplinas e atividades focadas na formação de revisores e consultores ad hoc, entretanto, a edição científica exige do editor conhecimentos além da sua expertise académica em determinada área do conhecimento. O conhecimento em gestão editorial de todo processo de edição científica necessita ser disseminado na formação dos futuros editores das revistas de enfermagem do Brasil e do mundo.

A maioria dos editores e comissões editoriais das revistas brasileiras de enfermagem pertencem ao quadro permanente de docentes de universidades públicas, as quais têm atividades de ensino de graduação e pós-graduação, de pesquisa, de extensão e de gestão nas diferentes esferas das universidades. Neste contexto é importante destacar que ocorre uma sobreposição de atividades e que a carga horária destinada ao processo de edição científica junto as revistas fica comprometida, considerando que o editor é também um docente e que lhe é exigido o cumprimento pleno das suas atividades inerentes ao cargo. Neste sentido, propõe-se a valorização e o reconhecimento do trabalho do docente que é editor de uma revista pelas instituições a que pertence, com consequente reorganização dos processos de trabalho inerentes às revistas, ou seja, com um planeamento de carga horária compatível com as exigências de trabalho.

Neste cenário, a gestão editorial remete-nos para questões como: o que é necessário para a captação e formação de futuros editores de revistas científicas? Como iniciar um processo de renovação e continuidade na edição científica? Nós arriscamos a afirmar que a valorização/reconhecimento em conjunto com a profissionalização para o exercício da função de editor, são as bases para a sobrevivência da atividade com a qualidade e a excelência académica que é esperada pelos autores, leitores e comunidade científica. É necessário haver um planeamento de carga horária compatível com a exigência de trabalho dos editores, independente da etapa do processo.

Outro aspeto a ser integrado nesta discussão sobre a gestão editorial é a autonomia das revistas e das comissões editoriais para inovar e transformar as atividades de edição científica. O contexto académico tem regras e diretrizes bem definidas e consolidadas há vários anos sobre a qualidade, mérito, impacto, repercussão, e ética das produções científicas que são submetidas às revistas científicas. Estas costumam ser de domínio dos editores por fazerem parte do processo de formação de investigadores durante o curso de doutoramento. Entretanto, nos bastidores da gestão editorial existem regras para o financiamento das revistas, o ingresso e a manutenção nas bases de dados, os indicadores e métricas bibliométricas, o investimento na profissionalização e as iniciativas para internacionalização são elementos que perpassam diferentes instâncias sob as quais as comissões editoriais podem ter limitada interação e intervenção, mas que precisam compreender as suas particularidades. A viabilidade e visibilidade dos periódicos depende da qualidade com que a gestão editorial se processa.

Uma preocupação atual dos periódicos de enfermagem no Brasil é o decréscimo de financiamento que vêm sofrendo nos últimos anos, resultado de cortes de verbas e redução das oportunidades de captação de recursos por editais específicos. As recomendações para uma gestão editorial eficaz têm focado no tripé sustentabilidade, profissionalização e internacionalização de acordo com os critérios da Coleção SciELO Brasil (Packer et al., 2020). A questão que emerge traz principalmente a inquietação com o financiamento, considerando que todo o processo de edição agrega diferentes rubricas para viabilizar um processo de trabalho profissionalizado e com condições de circulação internacional. Os custos para se manter um sistema de gestão editorial reconhecido em diferentes idiomas são elevados, tais como a aquisição de softwares de avaliação de similaridade, captação e formação de banco de pareceristas fidelizados e divulgação do periódico e dos manuscritos publicados em diferentes plataformas, dentre outras necessidades dos periódicos. Condições estas que exigem programação e previsão de gastos para a manutenção regular e produção continuada de uma revista científica.

Portanto, é fundamental mantermos esforços para a formação de novos editores críticos e instrumentalizados com as competências específicas da atividade para haver continuidade nos avanços, progressos e conquistas que as lideranças, editores-chefes e comissões editoriais têm vindo a alcançar nos últimos anos. A gestão editorial das revistas tem como base uma equipe de profissionais altamente qualificada e comprometida no desenvolvimento da enfermagem brasileira, pautada na adoção de boas práticas editoriais com ética e integridade.

O conhecimento sobre gestão editorial precisa ser compartilhado e documentado para que uma nova geração que vem demonstrando interesse pela atividade possam dar seguimento sólido e coerente aos desafios que se lançam no momento atual, destacando a implementação das práticas da ciência aberta, o combate as revistas predatórias, a ampliação das iniciativas de internacionalização das revistas brasileiras, entre outras. Desafios que definem a qualidade da gestão editorial dos periódicos e consequente visibilidade no cenário da produção científica nacional e internacional.

Referências

Marziale, M. H. (2017). Desafios da gestão editorial de periódicos científicos. Revista Baiana de Enfermagem, 31(3), e24028. https://doi.org/ 10.18471/rbe.v31i3.24028 [ Links ]

Sousa, A. F., Marziale, M. H., Cárnio, E. C., Ventura, C. A., Santos, S. S., & Mendes, I. A. (2022). Trends in scientific editing and good research practices: What do researchers-nurses know? Revista da Escola de Enfermagem da USP, 56, e20210393. https://doi.org/10.1590/1980-220X-REEUSP-2021-0393 [ Links ]

Committee on Publication Ethics. (2022). Ethics toolkit for a successful editorial office: A COPE guide. https://publicationethics.org/files/cope-ethics-toolkit-journal-editors-publishers.pdfLinks ]

Packer, A. L., Peres, D., Santos, S., & Mendonça, A. (2020). SciELO atualiza os critérios de indexação: Nova versão vigora a partir de maio de 2020. SciELO em Perspectiva. https://blog.scielo.org/blog/2020/05/13/scielo-atualiza-os-criterios-de-indexacao-nova-versao-vigora-a-partir-de-maio-de-2020/Links ]

1Como citar este artigo: Wegner, W., & Crossetti, M. G. (2022 Gestão editorial: Desafios no processo de edição científica das revistas científicas de enfermagem no Brasil. Revista de Enfermagem Referência, 6(Supl. 1), e22ED1. https://doi.org/10.12707/RV22ED1

Autor de correspondência Wiliam Wegner E-mail: wiliam.wegner@ufrgs.br

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons