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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283versão On-line ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serVI no.2 Coimbra dez. 2023  Epub 06-Mar-2024

https://doi.org/10.12707/rvi23.39.30330 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

Conhecimento da equipa multidisciplinar acerca dos cuidados pós-reanimação neonatal

Knowledge of the multidisciplinary team about neonatal post-resuscitation care

Conocimientos del equipo multidisciplinar sobre cuidados posreanimación neonatal

Juliana de Souza Montenegro Lima1 
http://orcid.org/0000-0002-7833-1075

Ana Célia dos Santos2 
http://orcid.org/0000-0003-1592-1630

Fernanda Jorge Magalhães3  1 
http://orcid.org/0000-0003-0104-1528

Mayara Mesquita Mororó Pinto4 
http://orcid.org/0000-0003-1650-5188

Rejane Maria Carvalho de Oliveira4 
http://orcid.org/0000-0001-6443-6493

Karla Maria Carneiro Rolim1 
http://orcid.org/0000-0002-7914-6939

Henriqueta Ilda Verganista Martins Fernandes5 
http://orcid.org/0000-0002-8440-3936

1 Universidade de Fortaleza (UNIFOR), Fortaleza, Ceará, Brasil

2 Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), Unidade Neonatal, Fortaleza,Ceará, Brasil

3 Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, Ceará, Brasil

4 Hospital Infantil Albert Sabin, Centro de Terapia Intensiva Neonatal, Fortaleza, Ceará, Brasil

5 Escola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal


Resumo

Enquadramento:

Torna-se imperativo que a equipa multidisciplinar de assistência ao recém-nascido de risco, identifique precocemente riscos para asfixia. Esta deve estar preparada para reanimação cardiopulmonar e cuidados pós-reanimação; com conhecimento teórico, habilidades práticas e ações éticas para minimizar eventos adversos, proporcionando uma assistência segura.

Objetivo:

Avaliar o conhecimento da equipa multidisciplinar acerca dos cuidados ao recém-nascido pós-reanimação.

Metodologia:

Pesquisa transversal, numa unidade neonatal de Fortaleza-CE-Brasil. Aplicou-se um questionário à equipa multiprofissional, selecionada por conveniência, com análise pelo índice de positividade.

Resultados:

Evidenciou-se uma equipa feminina, 30 a 40 anos, com pós-graduação, que presenciou paragem cardiorrespiratória neonatal e fez curso de aperfeiçoamento. Apresentou adequado índice de positividade do conhecimento (99,1%) quanto aos sinais vitais e saturação de oxigénio; conhecimento limítrofe para dosagem de gasometria (71,8%) e sofrível (20,9% a 60,0%) na verificação da pressão venosa central, débito urinário, glicemia e enzimas cardíacas. Sugerem uso de tecnologias duras, apenas um profissional recomenda tecnologias leves/relacionais.

Conclusão:

Necessidade de ações efetivas de qualificação profissional, educação contínua e sensibilização para um olhar holístico ao recém-nascido.

Palavras-chave: equipe de assistência ao paciente; asfixia neonatal; reanimação cardiopulmonar

Abstract

Background:

The multidisciplinary team caring for at-risk newborns should identify the risk factors for asphyxia early on. The team should be prepared for cardiopulmonary resuscitation and post-resuscitation care and have theoretical knowledge, practical skills, and ethical behaviors to minimize adverse events and provide safe care.

Objective:

To assess the knowledge of the multidisciplinary team about neonatal post-resuscitation care.

Methodology:

Cross-sectional study in a neonatal unit in Fortaleza-CE-Brazil. A questionnaire was administered to the multidisciplinary team, selected by convenience, and analyzed using the positivity index.

Results:

The team consisted mostly of women, aged 30 to 40 years, with a postgraduate degree, who had witnessed neonatal cardiorespiratory arrest and had attended a training course. They had an adequate knowledge positivity index (99.1%) regarding vital signs and oxygen saturation; borderline knowledge of blood gas dosage (71.8%), and poor knowledge (20.9% to 60.0%) about monitoring central venous pressure, urine output, blood glucose, and cardiac enzymes. Participants suggested using hard technologies, with only one professional recommending soft/relational technologies.

Conclusion:

There is a need for effective professional training, continuing education, and awareness-raising interventions to promote a holistic approach to newborn care.

Keywords: patient care team; asphyxia neonatorum; cardiopulmonary resuscitation

Resumen

Marco contextual:

Es imprescindible que el equipo multidisciplinar que atiende a los recién nacidos de riesgo identifique los riesgos de asfixia de forma precoz. Deben estar preparados para la reanimación cardiopulmonar y los cuidados posteriores a la reanimación; con conocimientos teóricos, habilidades prácticas y acciones éticas para minimizar los eventos adversos y proporcionar cuidados seguros.

Objetivo:

Evaluar los conocimientos del equipo multidisciplinar sobre los cuidados del recién nacido tras la reanimación.

Metodología:

Estudio transversal realizado en una unidad neonatal de Fortaleza-CE-Brasil. Se administró un cuestionario al equipo multiprofesional, seleccionado por conveniencia, y se analizó mediante el índice de positividad.

Resultados:

Se observó un equipo formado por mujeres de entre 30 y 40 años, con titulación de posgrado, que habían presenciado paradas cardiorespiratorias neonatales y habían realizado un curso de formación. Presentaban un índice de positividad de conocimiento adecuado (99,1%) sobre las constantes vitales y la saturación de oxígeno; conocimiento limitado sobre la medición de la gasometría (71,8%) y conocimiento escaso (del 20,9% al 60,0%) sobre la comprobación de la presión venosa central, la diuresis, la glucemia y las enzimas cardiacas. Se sugiere utilizar tecnologías duras, solo un profesional recomienda tecnologías blandas/relacionales.

Conclusión:

Se necesita una formación profesional eficaz, educación continua y sensibilización sobre un enfoque holístico de los recién nacidos.

Palabras clave: equipo de atención al paciente; asfixia neonatal; reanimación cardiopulmonar

Introdução

As condições de sobrevida neonatal encontram-se no centro da agenda global de saúde e nos objetivos do desenvolvimento sustentável. No Brasil, a asfixia perinatal representa um importante problema de saúde pública (Almeida et al., 2017).

Dos três milhões de nascimentos no país, observam-se, diariamente, 12 óbitos neonatais precoces relacionados com asfixia, sem anomalias congénitas, cinco delas em recém-nascido (RN) de termo. A insuficiência respiratória e o choque são exemplos de alterações hemodinâmicas, que geram, inadequada, libertação de oxigénio para atender às necessidades metabólicas da célula (asfixia), o que pode levar a uma paragem cardiorrespiratória (PCR) ou até à morte (National Association of Emergecy Medical Technicians [NAEMT], 2017).

Para tanto, torna-se imprescindível identificar o nível de conhecimento da equipa multidisciplinar, que atua junto do RN de risco, acerca da PCR e dos cuidados pós-reanimação, de modo a utilizar-se conhecimento técnico-científico, habilidade prática e comportamento ético e respeitoso.

A presente investigação justifica-se e é relevante pela necessidade de identificar os desafios, limitações de conhecimento e possibilidades de capacitação da equipa multiprofissional que atua na Unidade neonatal. Além de sistematizar os cuidados pós-reanimação com impactos face ao prognóstico, utilizando-se tecnologias seguras e cuidados humanizados para um olhar integral ao RN e à sua família.

Nesta perspetiva, o objetivo do estudo foi avaliar o conhecimento da equipa multidisciplinar acerca dos cuidados ao RN pós-reanimação.

Enquadramento

A partir das orientações do Comité de Ligação Internacional sobre Reanimação (ILCOR) e do Consenso Internacional sobre Reanimação Cardiopulmonar e Cuidados Cardiovasculares de Emergência, Ciência com Recomendações de Tratamento (CoSTR) entende-se reanimação como um conjunto de procedimentos com o intuito de manter a estabilidade hemodinâmica e o apoio à vida do RN, de modo a preconizar: a manutenção da temperatura; monitorização das frequências, cardíaca e respiratória, em níveis compatíveis com a vida; deteção de gás carbono isolado exalado para ventilação mecânica não invasiva; necessidade de oxigénio suplementar; e técnicas de compressão torácica, entre outros (Berg et al., 2023).

Um estudo de Neto et al. (2022), realizado na região norte brasileira, constatou que a prematuridade, a identificação de muito baixo ou extremo baixo peso ao nascer, o Apgar menor que sete no 5º minuto, o RN pequeno para a idade gestacional (PIG), a presença de mecónio, o uso de tabaco, ausência de companheiro e abortos espontâneos, número de consultas pré-natais, sexo masculino, entre outros, foram considerados fatores de riscos com maiores oportunidades de manobras avançadas para tal reanimação (Migoto et al., 2018).

É imprescindível que a estrutura da sala de partos e os profissionais responsáveis pelo cuidado ao RN que estejam preparados para qualquer intercorrência e condição crítica ao nascimento. Esta equipa multidisciplinar de saúde deve ter competência para realizar anamnese materna com identificação das condições de risco fetal, o material deve estar adequadamente preparado para uso imediato, deve ter agilidade, eficiência, domínio científico e aptidão técnica. Deve, também, ser treinada para diagnosticar rapidamente as alterações de sinais vitais, a disfunção do aporte de oxigénio nos tecidos, a fim de agir prontamente, diminuir a possibilidade de reanimação cardiorrespiratória (RCP) e maximizar a sobrevivência e recuperação neurológica (Melo et al., 2021). O propósito é evitar as causas de morbimortalidade, tanto precoces quanto tardias, que podem levar a falência de múltiplos órgãos, lesão cerebral ou ambas (Fundação Oswaldo Cruz, 2019; NAEMT, 2017).

O sucesso da reanimação fortalece-se com estes cuidados pós-reanimação, que pressupõem a presença de uma equipa qualificada, munida de tecnologias e estratégias sistemáticas que favoreçam a intervenção adequada, em tempo oportuno, com o objetivo de dar suporte cardiorrespiratório e neurológico, contribuindo, assim, para melhor prognóstico e redução da morbimortalidade (Wyckoff et al., 2020).

Questão de investigação

Qual o nível de conhecimento da equipa multidisciplinar acerca dos cuidados ao RN pós-reanimação?

Metodologia

Pesquisa transversal, descritiva, com abordagem, predominantemente, quantitativa, realizada numa maternidade-escola na cidade de Fortaleza-CE-Brasil, no período de junho a julho de 2021.

A população foi composta por todos os profissionais da equipa multidisciplinar (enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, fisioterapeutas) da unidade neonatal, selecionados por conveniência, convidados por carta convite impresso, anexado em flanerógrafo e enviada por mensagem, após a autorização dos coordenadores. A amostra final foi composta por 110 profissionais dos setores: Centro Obstétrico, Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCINCo) e Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Dentre os critérios de inclusão, considerou-se: ter pelo menos 6 meses de atuação na unidade neonatal, sendo excluídos aqueles que por razões de doença ou por motivos pessoais não estavam presentes durante o período da colheita de dados.

A colheita de dados ocorreu somente após aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (Parecer n.º 4.741.197), atendendo aos parâmetros contidos na Resolução n.º 466/2012, de 12 de dezembro, e às determinações do Ofício Circular n.º 2/2021/CONEP/SECNS/MS, de 24 de fevereiro (Ministério da Saúde & Conselho Nacional de Saúde, 2012; Ministério da Saúde, 2021).

Após indicação de ter aceite o convite, o participante recebeu o link, referente ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e um questionário eletrónico estruturado no Google Forms®, utilizando uma escala do tipo Likert (1 correspondia a discordo, 2 a nem concordo nem discordo e 3 a concordo).

O instrumento apresentava caráter sociodemográfico e ocupacional para caracterização dos profissionais (sexo, idade, profissão, escolaridade, tempo de formação, tempo de experiência profissional, capacitação) e questões relativas ao nível de conhecimento acerca dos cuidados pós-reanimação neonatal (controlo de temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória, saturação de oxigénio, transporte) e o uso de tecnologias em saúde para suporte à prática clínica. Para elaboração desta segunda parte, utilizou-se o Guideline de Reanimação Cardio Pulmonar (RCP) como referência já validada, para avaliar o nível de conhecimento dos profissionais (American Heart Association [AHA], 2020).

Para a análise dos dados, utilizou-se estatística descritiva com frequência absoluta e relativa, organizados e armazenados em folhas de cálculo do software Excel, apresentados em tabelas, discutidas à luz de literatura pertinente. A investigação seguiu as diretrizes do STrengthening the Reporting of OBservational studies in Epidemiology da rede EQUATOR (Elm et al., 2007).

A fim de melhor se classificar o nível de conhecimento, foram estabelecidos conceitos positivo e negativo para qualificar as respostas dos profissionais. Para tanto, 110 respostas representam o percentual de 100% desta confirmação. Os critérios adotados para análise foram os índices de classificação sugeridos por Saupe e Horr (1982), sendo que quanto maior o índice de positividade melhor a qualidade da assistência, facto reconhecido por um melhor nível de conhecimento do profissional, são eles: assistência desejável com (100% de poaitividade); assistência adequada (90 a 99% de positividade); assistência segura (80 a 89% de positividade); assistência limítrofe com (71 a 79% de positividade); e assistência sofrível (70% a menos de positividade).

Resultados

Evidenciou-se uma predominância do sexo feminino (84,5%) e idade entre 30 a 40 anos (50,9%). Entre as classes profissionais, 28 (25,5%) eram médicos, 23 (20,8%) fisioterapeutas, 31 (28,2%) enfermeiros e 28 (25,5%) eram técnicos de enfermagem. Sobre o grau de escolaridade, verificou-se que 56 (50,9%) possuíam pós-graduação Latu Sensu, 11 (10%) Stricto Sensu na modalidade Mestrado, e apenas 2 (1,8%) na modalidade Doutorado. O tempo de formação de maior prevalência foi entre aqueles com mais de 10 anos (45,9%), convergindo com o maior tempo de experiência profissional (49,1%).

Na Tabela 1 evidencia-se que a maioria dos profissionais (n = 91; 82,7%) já vivenciou, pelo menos, um episódio de reanimação neonatal e os devidos cuidados pós-reanimação, havendo uma prevalência de fisioterapeutas (n = 22; 95,7%) e médicos (n = 26; 92,8%). Corroborando o número de profissionais que participaram em cursos de aperfeiçoamento em reanimação neonatal, com destaque para fisioterapeutas (n = 22; 95,7%) e médicos (n = 24; 85,7%), enfermeiros (n = 19; 61,3%) e técnicos de enfermagem (n = 20; 71,4%).

Tabela 1: Profissionais da equipa multidisciplinar que vivenciaram episódios e participaram de cursos de reanimação neonatal (n = 110) 

A Tabela 3 apresenta a classificação sobre o conhecimento dos profissionais quanto à monitorização dos parâmetros vitais após um episódio de reanimação e o impacto que os cuidados subsequentes podem causar no prognóstico da criança. Considerando os critérios adotados para classificação da assistência sugeridos por Saupe e Horr (1982), a monitorização da temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória e saturação de oxigénio foi considerada adequada (85,7% a 100% dos profissionais). Ou seja, 99,1% de adequação quanto ao nível de conhecimento e índice de positividade acerca do conhecimento e qualidade da assistência durante os cuidados ao RN após RCP.

Acerca da necessidade de dosagem de gasometria, esta apresentou-se como limítrofe com 71,8% de índice de positividade. No que se refere à verificação da pressão venosa central, débito urinário, glicemia e enzimas cardíacas, revelou-se como nível de conhecimento sofrível, sendo que se apresentou de 20,9%, no máximo, 60,0%, conforme Tabela 2.

Tabela 2: Classificação da qualidade da assistência e do conhecimento acerca dos parâmetros de avaliação do RN pós-reanimação (n = 110) 

Quando questionados acerca do uso de tecnologias como suporte para assistência segura e de qualidade, apenas 57,2% (n = 63) dos profissionais afirmaram usar alguma tecnologia, sendo prevalente o uso de tecnologias duras 88,9% (n = 56), padrão que foi reforçado quando questionados quanto a sugestões de tecnologias para a melhoria do cuidado, permanecendo o predomínio do uso de tecnologias duras 51,6% (n = 31), conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Classificação da qualidade da assistência e do conhecimento acerca dos parâmetros de avaliação e cuidados ao RN pós-reanimação neonatal (n = 110) 

Nota. = Ventilador mecânico, ventilador manual em T, oxímetro de pulso, monitor cardíaco, incubadora de transporte, berço aquecido, bomba de infusão contínua, CPAP, cateter umbilical, baby puff, respirador portátil, termómetro, hidratação venosa, drogas, exames laboratoriais, HOOD, eco funcional; 2 = Monitorização cerebral, monitor cardíaco, baby puff, eco funcional, controlo hemodinâmico, capnógrafo, ventilador manual em T, oxímetro de pulso, incubadora de transporte, CPAP.

Discussão

Com intervenções para reduzir a morbimortalidade neonatal, como: acesso das mulheres aos serviços de saúde, precocemente, na gestação; reconhecimento de situações de risco durante o período pré-natal, cuidados individualizados, escuta ativa e comunicação terapêutica, é possível promover ações e intervenções assertivas. A assistência ao parto e pós-parto, também, necessita ser realizada por profissionais capacitados e com conhecimentos atualizados, capazes de diagnosticar complicações, bem como aplicar tratamento efetivo e imediato de reanimação, a fim de contribuir para redução de óbitos maternos e neonatais (Pedroso et al., 2021).

A preparação da equipa multiprofissional para o cuidado direcionado e eficaz, bem como a participação destes em cursos de aperfeiçoamento é fundamental para o atendimento a RN reanimados, como demonstrado em cerca de 77% (n = 85) dos profissionais, os quais participaram em cursos de reanimação.

Ressalta-se, também, a importância do Processo de Enfermagem (PE) como método sistematizado que, muitas vezes, é percebido no cotidiano da UTIN com reduzida criticidade e desprovido de perspetivas políticas, sociais, culturais e económicas para a visibilidade da profissão. Por isso, corrobora-se que o PE deve ser pensado e incorporado por todos os membros da equipa de enfermagem (Servo et al., 2021).

O que permite uma clínica ampliada e sistematizada de boas práticas, dando ao enfermeiro maior autonomia e apoio, uma vez que permite o julgamento clínico para aplicabilidade das suas intervenções, com ações eficientes e eficazes para a tomada de decisão sobre o cuidado. Além da promoção do vínculo entre o utente/família e a equipa multidisciplinar, minimizando os erros, além da melhora de comunicação interdisciplinar do cuidado (Carvalho et al., 2017).

Quanto ao uso adequado de recursos materiais, evidencia-se priorizar os equipamentos destinados à manutenção da temperatura, permeabilidade das vias aéreas, ventilação, circulação e administração de medicamentos, tudo preparado, testado e de fácil acesso antes mesmo do nascimento (Melo et al., 2021).

Para a análise da qualidade da assistência, os resultados revelaram que os cuidados quanto ao controlo da temperatura são adequados e agente preditor de qualidade do atendimento (NAEMT, 2017). A AHA (2020) e Maurício et al. (2018) destacam esse controle contínuo para evitar e tratar a febre imediatamente após PCR, direcionando a temperatura para 32,0ºC a 34,0ºC ou apenas o controlo direcionado de temperatura, mantendo-a entre 36,0ºC e 37,5ºC para minimizar o dano neurológico (SBC, 2019).

A ventilação pulmonar adequada é o ponto crítico, através dela é possível inflar os pulmões, promover dilatação vascular, levando a hematose (AHA, 2020).

Quanto ao suporte de oxigenação e ventilação, evidências apresentam como meta a normoxemia entre 94% e 99% e destaca-se a observação da frequência respiratória e saturação de oxigénio como adequados pela equipa multiprofissional participante deste estudo (AHA, 2020; NAEMT, 2017; SBC, 2019).

Em relação à monitorização hemodinâmica é primordial a manutenção da perfusão dos órgãos vitais com controlo da frequência cardíaca, pressão arterial e débito urinário, entre outros parâmetros (AHA, 2020; SBC, 2019). O que não aconteceu com a vigilância do débito urinário, classificada como sofrível, revelando-se como um dos pontos vulneráveis da assistência.

A monitorização dos níveis glicémicos é considerado pela AHA (2020) como fundamental para identificar fatores de risco, os dados colhidos revelaram que o controlo glicémico está entre as intervenções mais negligenciadas pelos profissionais.

O qual fundamenta-se em oferecer os primeiros sinais de aviso de variações não-previstas e que exigem intervenções em tempo real (Haddad & Évora, 2008). Assim, a análise dos processos do cuidado revela-se como uma ferramenta de gestão importante no caminho de uma assistência segura, eficaz e alinhada com as evidências científicas.

Como limitação, destaca-se a realização da pesquisa num momento pandémico, trazendo dificuldades na análise dos resultados, especialmente, na amostragem por conveniência, o que impede uma compreensão ampla do nível de conhecimento.

Como contribuições refere-se que, ao classificar o nível de conhecimento dos profissionais, apontam-se lacunas quanto ao impacto do desempenho profissional sobre a recuperação do doente, com consequente qualidade da prática assistencial requer antecipação e preparação destes para fazer uso de tecnologias aliadas ao processo de sistematização do cuidado.

Espera-se atenção para o incentivo e direcionamento nas atividades de educação permanente, contribuindo efetivamente para a redução do risco de morte e lesões adicionais advindas da asfixia neonatal (Pescador Chamorro et al., 2022).

Para tanto, destacam-se o uso de técnicas como metodologias ativas e práticas de simulação realística para o aprendizado, além do debriefing imediado como proposta para melhorar a conduta e favorecer o nível de conhecimento acerca da RCP neonatal. Como foi evidenciado em um estudo que utilizou a simulação clínica e o debriefingde forma imediata, auxiliado por facilitador, fato que pode contribuir para o desenvolvimento de habilidades em reanimação neonatal, incluindo técnicas/cognitivas e comportamentais (Gamboa et al., 2018).

Conclusão

Conclui-se que a equipa multidisciplinar apresentou adequado índice de positividade do conhecimento (99,1%) quanto aos sinais vitais e saturação de oxigénio; conhecimento limítrofe para dosagem de gasometria (71,8%) e sofrível (20,9% a 60,0%) na verificação da pressão venosa central, débito urinário, glicemia e enzimas cardíacas, frente aos cuidados pós-reanimação do neonato.

Compreende-se a necessidade de ações efetivas de qualificação profissional, educação contínua e sensibilização para um olhar holístico ao RN. A avaliação do conhecimento dos profissionais presentes na assistência ao RN reanimado torna-se valiosa, uma vez que o cuidado se reflete no prognóstico de vida do doente, além das consequências futuras advindas de uma reanimação adequada, segura e efetiva. Confirma-se, portanto, a hipótese quanto ao insatisfatório e sofrido nível de conhecimento da equipa em determinados aspetos. Facto que proporciona a necessidade de capacitação contínua. Considera-se, ainda, a realização de mais estudos a respeito do assunto para melhoria do processo de reanimação e dos cuidados aos RN reanimados.

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14Como citar este artigo:Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J., Pinto, M. M., Oliveira, R. M., Rolim, K. M., & Fernandes, H. I. (2023). Conhecimento da equipa multidisciplinar acerca dos cuidados pós-reanimação neonatal. Revista de Enfermagem Referência, 6(2), e30330. https://doi.org/10.12707/RVI23.39.30330

Recebido: 22 de Março de 2023; Aceito: 21 de Novembro de 2023

Autor de correspondência Fernanda Jorge Magalhães E-mail: fernandaj.magalhaes@uece.br

Conceptualização: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J.,

Tratamento de dados: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J.,

Análise formal: Lima, J. C., Santos, A. C.,

Investigação: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J.,

Metodologia: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J.,

Administração do projeto: Lima, J. C., Magalhães, F. J.,

Recursos: Lima, J. C.,

Software: Lima, J. C.,

Supervisão: Lima, J. C., Magalhães, F. J.,

Validação: Pinto, M. M., Oliveira, R. M.,

Visualização: Lima, J. C., Pinto, M. M.,

Redação - rascunho original: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J.,

Redação - análise e edição: Lima, J. C., Santos, A. C., Magalhães, F. J., Pinto, M. M., Oliveira, R. M., Rolim, K. M., Fernandes, H. I.

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