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Psicologia

Print version ISSN 0874-2049

Psicologia vol.31 no.2 Lisboa Dec. 2017

https://doi.org/10.17575/rpsicol.v31i2.1249 

Impacto das missões internacionais nos jovens filhos de pais militares e a importância do apoio da comunidade escolar

Impact of international missions on military youth and the importance of school comunnity’ support

 

Rita PintoI, c; Rita FranciscoII; Renato Pessoa dos SantosIII

I-IIIUniversidade de Lisboa, Faculdade de Psicologia

IIUniversidade Católica Portuguesa, Faculdade de Ciências Humanas

IIIExército Português

cAddress for correspondence


 

RESUMO

Pretende-se com este estudo conhecer o impacto das missões internacionais no bem-estar dos filhos de militares e a forma como a comunidade escolar pode promover um ajustamento positivo destes durante uma missão. Neste estudo exploratório e qualitativo participaram nove alunos, filhos de militares, e oito professores que lidam e/ou lidaram com este tipo de estudantes (N = 17). Realizaram-se três focus groups, cujas transcrições foram analisadas através de procedimentos de análise temática, com recurso ao software QSR Nvivo 10. Os resultados revelaram que as dificuldades associadas à adaptação dos jovens durante a missão estão relacionadas com alterações emocionais e com mudanças nas rotinas familiares, salientando-se os pares e a mãe como importantes fontes de suporte. Para um ajustamento positivo destes alunos a comunidade escolar pode contribuir significativamente através da articulação com os pais e com a instituição militar. São discutidas algumas linhas orientadoras para o desenvolvimento de programas de promoção do ajustamento destes jovens.

Palavras-chave: Famílias Militares; Missão Internacional; Adolescentes; Adaptação; Comunidade Escolar.


ABSTRACT

This study intends to acknowledge the impact of international missions on the well-being of military children, and how school community can promote a positive adjustment during missions. In this exploratory and qualitative study participated nine students, whose parents are military, and eight teachers dealing and/or dealt with such students (N = 17). There were three focus groups whose transcriptions were analyzed according to the thematic analysis procedures, using the software QSR Nvivo 10. The results showed that difficulties associated with adaptation of youngsters during the international mission are related to emotional changes and changes in family routines, emphasizing the role of peers and the mother as important sources of support. To a positive adjustment of these students the school community can contribute significantly, in articulation with their parents and the military organization. Guidelines to develop programs about these youngsters’ adjustment are discussed.

Keywords: Military Families; International Mission; Adolescents; Adaptation; Academic Community.

 


Ao longo das últimas décadas vários países, nomeadamente os Estados Unidos da América (EUA), têm identificado a necessidade de melhor conhecer os desafios e as dificuldades sentidas pelas famílias militares, com o intuito de minorar as consequências do impacto das missões nos vários elementos da família. Apesar das diferenças entre as entidades castrenses dos diferentes países, é de referir a semelhança no stress associado à profissão militar, bem como a ausência e afastamento da família (Baltazar & Salvador, 2012). Este stress faz com que a família esteja sujeita a uma grande pressão externa, o que fomenta mudança, adaptação e reorganização em todos os sub-sistemas familiares, ao longo do ciclo da missão. Com efeito, e de acordo com Martínez-Sánchez (2014), qualquer operação militar no exterior pode afectar o bem-estar psicológico e a integridade física dos militares destacados, o que certamente terá repercussões nas relações familiares. Além disso, estas relações possivelmente medeiam o impacto que o deslocamento tem no bem-estar das crianças (Paley, Lester, & Mogil, 2013), sendo que este se vai reflectir não só no domínio familiar como também no académico. Assim, é fundamental “olhar” para estas famílias com lentes sistémicas, permitindo intervir através da compreensão da complexidade do impacto dos deslocamentos militares em todos os elementos da família (Paley et al., 2013), contemplando não só os sub-sistemas familiares, como também os sistemas externos à família nuclear (e.g., sistema escolar). No entanto, poucas investigações têm examinado o papel de ambientes escolares apoiantes no desenvolvimento psicológico, emocional e social dos estudantes filhos de militares (Astor, De Pedro, Gilreath, Esqueda, & Benbenishty, 2013).

Missões internacionais das Forças Armadas Portuguesas

Actualmente, a função militar continua a obedecer a uma estrutura hierárquico-disciplinar e a uma série de fundamentos, nomeadamente a disponibilidade permanente para o serviço, as restrições de direitos, o dever de aceitar os riscos físicos e psicológicos resultantes das missões (mesmo as humanitárias) e a disponibilização da própria vida em defesa do seu país (Carreiras, 2015; Jorge, Nascimento, & Lopes, 2014). Desde a década de 50, precisamente no ano de 1952, que Portugal participa em missões intituladas “Operações de Paz” – missões de paz e humanitárias, podendo estas ser por parte da Organização das Nações Unidas (ONU), North Atlantic Treaty Organization (NATO) ou União Europeia (UE). Este tipo de missões tem como objectivo central manter a paz em território internacional, geralmente em países governados pela violência e pela guerra. Nos últimos 20 anos foram destacados militares Portugueses em missões internacionais para países como Lituânia, Iraque, Afeganistão, Líbano, Kosovo, Bósnia, Timor Leste, entre outros (Sousa, 2011).

Podendo ocorrer em diversos locais, ter diferentes objectivos e tempo de permanência (de vários meses a vários anos), em geral as missões internacionais dos militares Portugueses costumam decorrer durante seis meses. As fases que compõem uma missão são o pré-deslocamento, deslocamento e pós-deslocamento (Martínez-Sánchez, 2014). Numa perspectiva do impacto emocional da missão, alguns autores consideram uma divisão em cinco etapas (pré-deslocamento, deslocamento, manutenção, re-deslocamento e pós-deslocamento; Padden & Agazio, 2013; Pincus, House, Christenson & Alder, 2001) ou em sete estádios: antecipação da partida, desvinculação e retirada, desorganização emocional, recuperação e estabilização, antecipação do regresso, ajustamento do regresso e renegociação, e por fim, reintegração e estabilização (Morse, 2006; Van Breda, 1996).

Alterações familiares e saúde mental dos filhos de militares

Mudanças frequentes e deslocamentos, consequentes das missões internacionais, levam a várias separações que causam impacto no ajustamento dos militares e das suas famílias (Carreiras, 2015). Na fase do deslocamento, a separação física do casal após a partida do militar pode ser uma fonte de stress para o sub-sistema conjugal (e.g., Barbudo, Francisco, & Santos, 2014), e também para o sub-sistema co-parental, pois o progenitor que fica (geralmente a mãe) acarreta todas as responsabilidades da casa e dos filhos (Gewirtz, McMorris, Hanson, & Davis, 2014; Martins, Santos, & Francisco, 2014; Padden & Agazio, 2013). Tal mudança poderá alterar a hierarquia e as regras praticadas no seio familiar. Além disso, quando existe um filho adolescente ou pré-adolescente, este fica geralmente encarregue de ajudar nas tarefas que eram realizadas pelo progenitor militar (Paley et al., 2013), o que pode modificar as fronteiras intergeracionais, isto é, as fronteiras entre os pais e os filhos. Assim, o irmão mais velho pode sentir-se sobrecarregado por ter de ajudar não só a cuidar da casa como também do irmão mais novo (Paley et al., 2013).

Por outro lado, a ligação emocional ou a vinculação que se estabelece com os pais providencia às crianças um sentido de segurança e uma fonte externa da sua regulação emocional. Sendo as crianças e jovens os elementos mais vulneráveis, a sua regulação emocional pode ficar comprometida quando ocorre uma separação de uma das principais figuras de vinculação (Paley et al., 2013). De facto, e apesar de existirem na literatura resultados em direcções opostas, são numerosos os estudos que sugerem que crianças e adolescentes de famílias militares tendem a estar sujeitos a mais desafios e a experienciarem as suas vivências de forma mais negativa psicológica, social e emocionalmente (e.g., Cederbaum et al., 2013; Williams, 2013). Vários estudos têm sugerido que crianças de famílias militares podem estar em maior risco de apresentarem problemas emocionais (e.g., sintomas depressivos) ou de comportamento, na medida em que os cuidadores reportam níveis mais elevados de dificuldades emocionais nestas crianças, quando comparadas com famílias “civis” (e.g., Cederbaum et al., 2013; Chandra et al., 2010). Estes problemas podem ainda ser exacerbados por um evento stressor na família ou pela diminuição da saúde emocional do cuidador que fica em casa, geralmente a mãe (Chandra et al., 2010). Contudo, vários estudos apontam também para o apoio materno como um dos importantes factores protectores do desenvolvimento desta sintomatologia (Maholmes, 2012; Morris & Age, 2009). Concomitantemente, a qualidade do cuidado materno está ligada à segurança da criança, estando por sua vez ambos relacionados com as competências sociais desta para com os pares (Misra & Singh, 2014).

Mmari e colaboradores (2010) referem que a maioria das crianças reporta preocupação e medo de ter o pai deslocado. Estas dificuldades são ainda mais sentidas pelas crianças quando o progenitor com quem ficam não tem uma forte rede social de apoio. Além do mais, os filhos referem também os desafios que ocorrem com o regresso do pai militar, tais como perda de liberdade e imposição de novas regras (Misra & Singh, 2014), além do reajustamento necessário face ao retorno do mesmo. Contudo, sabe-se que um dos mais importantes eventos stressores de viver numa família militar – frequentes mudanças e fazer novos amigos – também torna as crianças mais maduras, adaptáveis e auto-suficientes, comparativamente às crianças de famílias não militares (Mmari et al., 2010).

Além dos factores supramencionados, que podem ter influência na adaptação dos filhos ao deslocamento do pai militar (e.g., apoio materno), a idade da criança e o seu nível de desenvolvimento são também considerados muito importantes. De acordo com Paley et al. (2013), estes trazem implicações para a forma como os filhos integram e percepcionam o deslocamento dos seus pais militares, significando também diferentes vulnerabilidades e capacidades que afectam o modo como lidam com estes eventos. Sendo a adolescência caracterizada como um período intenso de mudanças (nos níveis físico, psicológico e social, como da própria autonomia; Papalia, Olds, & Feldman, 2001), comparativamente com crianças mais pequenas os adolescentes têm uma maior consciência do risco das missões dos seus progenitores e desenvolvem diferentes estratégias para lidar melhor com eventos adversos. Além disso, podem ter uma maior rede social de suporte, nomeadamente materializada pelos pares, alguns com experiências semelhantes (Paley et al., 2013).

O estudo qualitativo de Mmari e colaboradores (2010) revelou que uma das maiores dificuldades para os adolescentes, filhos de pais militares, não está relacionada com o deslocamento em si, mas sim com o período de reajustamento que se segue ao regresso do pai militar. Os jovens tiveram várias experiências e adaptaram-se de tal modo que, quando o progenitor volta da missão é-lhes mais difícil relacionar-se novamente com este. Outros referiram ainda que lhes custa não ter o progenitor militar presente em eventos especiais (e.g., desporto, festas de anos, eventos da escola). Por outro lado, e tendo em conta a sua fase de desenvolvimento, os adolescentes podem vir a ter mais dificuldades com o deslocamento e com o regresso do seu progenitor do que as crianças, pois os primeiros assumem mais responsabilidades em casa e para com os irmãos durante a ausência do pai militar e, consequentemente tendem a experienciar uma maior mudança de papéis durante a missão (Chandra et al., 2010; Paley et al., 2013).

Assim, torna-se evidente que para os adolescentes a negociação da sua identidade na família, aquando das separações induzidas pelas missões do progenitor militar, nem sempre seja clara. Isto porque por um lado existe geralmente maior liberdade, o que agrada aos jovens, e por outro lado maior responsabilidade, que poderá ser considerada como avassaladora e que poderá originar a desistência de certas actividades extra-curriculares. Apesar destes desafios, o progenitor que fica em casa, o apoio dos pares, vizinhos e outros membros da família são factores protectores que ajudam a lidar com o deslocamento do pai militar (Misra & Singh, 2014).

Comunidade escolar e as famílias militares

Também as escolas têm um papel fundamental no ajustamento das crianças/adolescentes durante o deslocamento do pai militar, tendo em conta que durante este período estes têm maior probabilidade de revelarem problemas de comportamento, dificuldades emocionais (e.g., elevada ansiedade) e baixo rendimento escolar (Misra & Singh, 2014; Rossen & Carter, 2011). Por outro lado, e segundo Aronson, Caldwell e Perkins (2011), é importante ter em conta que as missões militares implicam frequentemente deslocações de residência, e estas por sua vez envolvem mudanças de escola. Estas mudanças são geralmente experienciadas como difíceis para os estudantes porque requerem alguns ajustamentos, tais como deparar-se com maiores ou menores exigências na nova escola, mudar-se para uma escola com melhores ou piores recursos, e ter de se integrar num novo ambiente cultural e escolar. Além disso, as escolas podem não ter informação adequada no que diz respeito aos estudantes realocados, pelo que podem não providenciar o apoio necessário a estes jovens alunos (Aronson et al., 2011).

Assim, e por forma a instruir o melhor possível os estudantes, filhos de pais militares, a comunidade escolar deve antecipar e compreender as necessidades dos mesmos e das suas famílias (Williams, 2013). Uma comunidade escolar apoiante e compreensiva pode tornar-se num factor protector para estes alunos, no sentido de prevenir o aparecimento de um conjunto de sintomas psicológicos, emocionais e sociais desadaptativos. Além disso, este tipo de ambiente escolar pode ainda ser um contexto de promoção do próprio desenvolvimento destes jovens e crianças, mesmo em períodos de stress (Astor, De Pedro, Gilreath, Esqueda, & Benbenishty, 2013).

Rossen e Carter (2011) mencionam algumas estratégias promotoras da adaptação académica de crianças em idade escolar com pais militares, nomeadamente: falar acerca das famílias militares e das missões; manter uma comunicação frequente com o cuidador que está em casa; e garantir a mesma rotina e estrutura (i.e., ser compreensivo e aceitar um determinado tempo de ajustamento mas ser consistente com as regras habituais). Por outro lado, Williams (2013) refere também algumas estratégias que podem contribuir para um melhor apoio a estudantes filhos de militares: providenciar ferramentas à comunidade escolar, de modo a actuarem o melhor possível face às necessidades destes alunos; garantir que a comunidade escolar está informada acerca dos alunos que são filhos de pais militares; e encorajar grupos de estudantes, por forma a promover a integração de novos alunos militares na escola. Vários estudos apoiam este tipo de intervenções nas escolas, pois estas tendem a promover desempenhos positivos nestes estudantes (Astor et al., 2013; Rossen & Carter, 2011).

Programas de apoio às famílias militares

Tendo em conta o que foi referido previamente, é necessário juntar esforços para apoiar estas crianças/jovens e as suas famílias, sensibilizando a comunidade escolar e os serviços primários de saúde para as necessidades desta população, providenciando as ferramentas necessárias ao trabalho com estas famílias (Marek & D’Aniello, 2014). Estas entidades podem ser importantes aquando das missões internacionais, pois as crianças estão possivelmente mais vulneráveis (Acion, Ramirez, Jorge, & Arndt, 2013). Este apoio pode ser garantido de diversas maneiras, nomeadamente através de partilha de informação acerca dos sinais de risco nas crianças e jovens filhos de militares, em escolas, serviços de saúde mental e na comunidade em geral, por forma a haver um encaminhamento adequado sempre que necessário (Cederbaum et al., 2013).

Além disso, existem variados programas de prevenção e intervenção destinados a estes jovens e a estas famílias, como é o caso do programa escolar LIAISON – criado com o intuito de reunir recursos comunitários, militares e escolares, por forma a ajudar as famílias e os alunos a adaptarem-se quando integram novas escolas e a alcançarem bons resultados académicos (Aronson et al., 2011; Aronson & Perkins, 2012) – e do programa FOCUS (Families OverComing Under Stress), que se propõe a apoiar os pais, providenciando psicoeducação acerca do deslocamento, do processo de reintegração, e sobre estratégias parentais (Mogil et al., 2015), ambos desenvolvidos nos EUA.

Com o presente estudo, pretende-se conhecer o impacto das missões internacionais no bem-estar dos filhos de militares Portugueses e a forma como a comunidade escolar pode promover um ajustamento positivo destes durante uma missão militar. Assim, os objectivos específicos são os seguintes: (a) compreender as dificuldades dos jovens, filhos de militares, durante o período de missão dos pais; (b) compreender as dificuldades sentidas pela comunidade escolar que contacta com estes jovens; e (c) conhecer os recursos já existentes e identificar novas formas de apoio.

MÉTODO

Participantes

A amostra foi constituída por 17 participantes Portugueses (Portugal Continental e Arquipélago dos Açores), especificamente nove alunos (seis do sexo masculino) e oito professores (sete do sexo feminino). Os alunos têm idades entre 10 e 18 anos (M = 14.67, DP = 2.39) e os professores entre 38 e 58 anos (M = 44.88, DP = 7.14). Na altura da realização deste estudo, cinco alunos residiam no arquipélago dos Açores e os restantes em Portugal Continental (Mafra, Sintra e Constância). Todos os alunos eram filhos de pais militares que tinham participado numa missão internacional há pelo menos 1 ano e meio, e alunos do 2.º ciclo (n = 1), 3.º ciclo (n = 2) ou ensino secundário (n = 6). Todos os professores participantes já tinham lidado com alunos com esta particularidade.

Procedimento

Inicialmente foram definidos os critérios de selecção dos alunos – (1) serem filhos de pais militares, (2) terem mais de 10 anos, (3) os pais militares já terem realizado, pelo menos, uma missão internacional e (4) a última missão em que os pais participaram ter ocorrido há pelo menos um ano e meio; e dos professores – terem tido contacto com alunos com os critérios supracitados, pelo menos uma vez.

Após contactos com as escolas e os encarregados de educação realizaram-se três focus group (dois com alunos e um com professores), com duração média de 40 minutos cada. Antes do início de cada focus group eram explicitados os objectivos gerais do estudo, bem como garantida a confidencialidade dos dados fornecidos pelos participantes. Após assinado o consentimento informado, os participantes preencheram o questionário sociodemográfico. As entrevistas foram gravadas em formato áudio, tendo esta gravação sido autorizada antes da realização das mesmas, e destruída após a sua transcrição, de forma a garantir a confidencialidade dos dados. Com o mesmo objectivo, durante o processo de codificação dos dados, os nomes dos participantes foram substituídos por nomes fictícios, sendo estes também usados nas citações que a seguir se apresentam.

As transcrições das entrevistas foram analisadas segundo os procedimentos da análise temática (Braun & Clarke, 2006), com recurso ao software QSR Nvivo 10. Esta consistiu de início na identificação de padrões/temas nas experiências dos participantes, levando ao processo de codificação em categorias criadas não só a partir das partilhas dos participantes, como também dos fenómenos descritos na literatura. Construiu-se, assim, uma árvore de categorias final, com categorias superiores e inferiores, que especificam as categorias superiores. Considerando que a triangulação pelos investigadores ajuda a garantir a fiabilidade e a validade do estudo (Miles & Huberman, 1994), as respostas dos participantes foram inicialmente identificadas e agrupadas pelo primeiro pesquisador, e posteriormente revistas e validadas por um segundo investigador.

Instrumentos

Questionário sociodemográfico

Desenvolvido especificamente para este estudo, teve como objetivo recolher dados sociodemográficos (e.g., no caso dos jovens: nome, idade, sexo, zona de residência, agregado familiar; no caso dos professores: nome, idade e profissão) e dados complementares dos participantes (e.g., no caso dos jovens: situação do pai militar, qual dos pais é militar e duração da última missão).

Guião de entrevista de focus group

O focus group foi o método de recolha de dados qualitativos seleccionado, tendo em conta o carácter exploratório do estudo e o objectivo de aceder às necessidades dos alunos e dos professores, permitindo criar um ambiente de partilha e comparação de ideias entre os participantes, o que potencia a variabilidade da informação recolhida. Assim, foram construídos dois guiões de focus group, especificamente um para os alunos e outro para a comunidade escolar (Tabela 1).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise temática realizada originou 71 categorias diferentes, organizadas de forma hierárquica, isto é, com categorias superiores e com sub-categorias que se relacionam entre si (Tabela 2). Foram definidas duas categorias principais: 1) impacto nos filhos da participação dos pais numa missão internacional, abrangendo consequências, factores que promovem a adaptação dos filhos e sugestões que possam ajudar os jovens durante as missões internacionais dos seus pais; e 2) necessidades da comunidade escolar, remetendo para as dificuldades sentidas por parte dos professores enquanto pedagogos destes alunos. Na primeira categoria principal encontram-se referências tanto de alunos como de professores, enquanto na segunda surgem apenas referências de professores.

De seguida, são explicitadas todas as sub-categorias que emergiram das duas categorias supramencionadas e interpretadas de acordo com a literatura, sendo acompanhadas de citações dos participantes, que ajudam a compreender o significado das mesmas.

Impacto nos filhos da participação dos pais numa missão internacional

Esta categoria principal diz respeito ao impacto que a missão internacional pode ter na vida dos filhos de militares. Tendo por base o estado da arte e as experiências relatadas pelos participantes, desta categoria surgiram cinco sub-categorias: emoções associadas, alterações, fontes de suporte, factores promotores de adaptação e eventuais formas de apoio.

Emoções associadas

Uma grande diversidade de emoções surgiu associada ao deslocamento e pós-deslocamento dos pais militares, duas das fases do ciclo emocional das missões internacionais (19.87% do total de referências codificadas nesta categoria).

Deslocamento. Durante esta fase a saudade foi a emoção mais relatada pelos participantes, seguida da preocupação (com o pai e depois com a mãe), da tristeza e da ansiedade. Das 16 referências existentes três foram feitas por professores, que identificaram a preocupação dos jovens relativamente à mãe (que no caso dos participantes deste estudo foi sempre o progenitor que ficou em casa), com tristeza e ansiedade. De facto, os professores referem o seu receio relativamente a estes alunos, no que concerne ao impacto emocional que a ausência do pai pode trazer, relatando alguns exemplos da sua experiência profissional com alunos que tiveram dificuldades aquando da missão dos pais (apesar de não atribuírem a este facto uma causalidade linear).

“No caso de um menino da minha direcção de turma, eu tenho conversado com a mãe, não sabemos se é decorrente da ausência do pai, de vez em quando, mas ele tem diversas crises de ansiedade, fortes...” (Professora, 43 anos)

Apesar de este caso demonstrar reacções comportamentais e fisiológicas intensas, e de no geral não servir de exemplo para os restantes casos mencionados pelos professores (que foram de melhor ou pior adaptação dos alunos, mas sem sintomas psicopatológicos associados), importa salientar a possibilidade de tais situações ocorrerem, já que este facto é referido em diversos estudos internacionais (e.g., Cederbaum et al., 2013; Chandra et al., 2010; Morris & Age, 2009).

Por outro lado, no que diz respeito à preocupação destes jovens para com os seus pais, é relevante referir a distinção existente entre a preocupação para com a mãe ou o pai, tendo em conta que são preocupações diferentes.

“O que eu sinto é que passo a ser o homem da casa (risos). A minha mãe pede mais ajuda, também reparo que ela se esforça mais, por exemplo para ir buscar à escola ou fazer certas tarefas diárias e nós tentamos ajudá-la ao máximo.” (Filipa, 18 anos, pai militar com 3 missões)

“Eu penso muito no que pode acontecer quando ele está lá, e como é que ele está.” (Inês, 15 anos, pai militar com 3 missões)

Quando os jovens relatam a preocupação que sentem com a figura parental destacada, é uma preocupação relacionada com a incerteza do seu bem-estar (Mmari, Roche, Sudhinaraset & Blum, 2009; Mmari et al., 2010) e segurança, enquanto com a mãe é uma preocupação em ajudá-la e apoiá-la.

Pós-Deslocamento. Quanto às emoções associadas à etapa do pós-deslocamento (que inclui referências apenas de alunos), a sub-categoria mais relevante foi a felicidade face ao regresso do pai, seguida da ansiedade e explosão de energia e, por fim, o sentimento de alívio. Muitas destas emoções estão também relacionadas, especificamente, com a etapa do re-deslocamento e com o estádio da antecipação da chegada, que sugerem efectivamente uma excitação e explosão de energia face à expectativa do regresso do militar a casa (Morse, 2006; Pincus et al., 2001; Van Breda, 1996).

“Muito energética e feliz.” (Catarina, 15 anos, pai militar com 3 missões)

Alterações

As alterações sentidas pelos jovens devido ao deslocamento dos pais militares (19.23% do total de referências), dizem respeito não só ao contexto familiar (18 referências), como também ao contexto escolar (2 referências). Além destas, tendo em conta a experiência relatada pelos participantes, surgiu a necessidade de criar ainda outra sub-categoria, que inclui referências relativas à inexistência de diferenças marcantes com o deslocamento (12 referências). Em geral, estas alterações podem estar relacionadas com modificações comportamentais (e.g., maior isolamento, desistência de actividades do seu interesse), emocionais (e.g., irritabilidade, ansiedade, tristeza) ou funcionais/instrumentais (e.g., nas rotinas familiares). Nas três sub-categorias relativas às alterações existem referências tanto por parte dos professores como dos alunos, excepto nas alterações escolares, unicamente mencionadas pelos professores.

Inexistentes. A maioria dos participantes, tanto alunos como professores, referiram-se à ausência de alterações com a participação dos militares em missões internacionais. Por um lado, os jovens mencionaram não terem sentido alterações significativas, principalmente a nível escolar, enquanto os professores indicaram não ter presenciado mudanças comportamentais na maioria dos seus alunos. De facto, vários estudos têm sugerido que não há diferenças pertinentes entre os jovens filhos de militares e os da população civil (e.g., Watanabe, 1985), apesar de serem cada vez mais numerosos os estudos que indicam que adolescentes de famílias militares tendem a ter mais desafios e a experienciarem as suas vivências de forma mais negativa (e.g., Paley et al., 2013; Williams, 2013). Como veremos de seguida, foram referidas alterações por parte dos jovens, relativamente ao contexto familiar, e pelos professores, em relação ao contexto escolar.

Alterações em casa. Os jovens mencionaram mudanças nas rotinas familiares, nomeadamente falta de ajuda para realizar os trabalhos de casa, mais tarefas para realizarem e concomitantemente uma maior liberdade associada à crescente responsabilidade.

Relativamente à alteração na rotina diária, estes jovens referiram-na de modo geral, como sendo a falta de ajuda na elaboração dos seus trabalhos escolares, ou ainda o facto de deixarem de ter o transporte até à escola assegurado, através de automóvel, pois era o pai que assegurava estas tarefas. Realmente, todos os membros da família precisam de estabelecer novas rotinas e apoiarem-se mutuamente, por forma a gerir as responsabilidades da casa e as actividades das crianças e jovens (Padden & Agazio, 2013; Rossen & Carter, 2011).

Outro efeito da ausência parental devido à participação na missão é o aumento da liberdade, descrito pelos jovens com bastante satisfação. Os jovens participantes referiram ser mais fácil terem aprovação e autorização para as suas actividades no grupo de pares durante o deslocamento dos seus pais. Simultaneamente, indicaram um aumento de responsabilidades, por terem de realizar mais tarefas (principalmente as que o pai fazia), quer sejam relativas à casa ou ao cuidar de irmãos mais novos.

“Ah sim, enquanto está fora eu tive mais liberdade do que com ele cá, porque é mais fácil pedir à minha mãe para sair do que ao meu pai.” (Joana, 18 anos, pai militar com 3 missões)

“Nós fazemos as tarefas que o meu pai faz, temos que passar a ser nós todos a fazê-las por exemplo cortar a relva e essas tarefas mais duras nós passamos a fazê-las, é mais difícil quando ele não está cá.” (Francisca, 13 anos, pai militar com 2 missões)

Tais factos estão de acordo com vários estudos, que indicam que durante a missão dos pais é frequente os filhos mais velhos (quando existe uma fratria) darem mais apoio ao progenitor que ficou em casa, adquirindo por um lado mais responsabilidade e por outro uma maior liberdade (e.g., Misra & Singh, 2014). Esta difusão de papéis pode tornar-se negativa para os jovens, na medida em que possivelmente abdicam de certas actividades com o grupo de pares (Paley et al., 2013).

Além disso, o apoio providenciado à mãe (ou ao progenitor que fica em casa) é bastante importante para os jovens, pois por um lado sentem-se úteis ao ajudarem e colaborarem nas tarefas e no que for necessário, e por outro lado sabem que estão a contribuir para o bem-estar e uma adaptação positiva da mãe relativamente ao deslocamento parental. Consequentemente, torna-se mais fácil a mãe conseguir apoiar os seus filhos, promovendo um desenvolvimento saudável e minorando a possibilidade destes jovens desenvolverem problemas emocionais ou de comportamento. Portanto, este apoio mútuo entre os jovens e o cuidador que fica ao seu encargo parece ser bastante importante.

Alterações na escola. Os professores salientaram o isolamento e a diminuição do rendimento escolar como duas consequências do deslocamento dos pais dos seus alunos em missão, sendo que estas alterações comportamentais também alarmavam os familiares. Efectivamente, estudos realizados com esta população mostram que, mesmo depois do primeiro mês do deslocamento, os adolescentes continuam a ter sentimentos de tristeza, ansiedade e tendência a isolar-se (Rossen & Carter, 2011; Williams, 2013).

Fontes de suporte

Esta sub-categoria (9.61% do total de referências codificadas) envolve a rede de suporte referida pelos participantes como fundamental. Estes mencionaram o apoio dos pares (8 referências), da mãe (5 referências), da família em geral (2 referências) e dos professores (1 referência) como fontes de tranquilização face à missão dos pais. Nestas categorias existem maioritariamente referências por parte dos alunos, sendo que apenas relativamente ao apoio materno se encontram também referências dos professores.

Mãe. Os jovens referiram o apoio materno como essencial e diferente de todos os outros, talvez pelo facto de a mãe representar uma base segura e manter a família unida, como é mencionado pelos professores. Estes ainda relacionam o suporte proveniente da mãe como fundamental para o bem-estar psicológico e sucesso académico destes jovens.

Apesar das dificuldades associadas ao impacto que as missões têm nos jovens filhos de militares, o apoio materno tem sido um dos factores descritos como preponderantes no processo de adaptação a esta realidade, podendo prevenir inclusive problemas emocionais ou de comportamento (Maholmes, 2012; Morris & Age, 2009). Da mesma forma, tal sintomatologia tem maior probabilidade de se desenvolver caso a saúde emocional da mãe esteja fragilizada (Chandra et al., 2010), estando a qualidade deste cuidado materno também relacionado com as competências sociais dos jovens (Misra & Singh, 2014).

Pares. Os adolescentes referiram também como importante o suporte proveniente dos seus pares, por sentirem que são os que melhor os compreendem, recorrendo frequentemente ao seu apoio. De facto, uma das caraterísticas desta faixa etária é o envolvimento com o grupo de pares, sendo este extremamente importante para o desenvolvimento normativo dos jovens (Sprinthall & Collins, 2003). O envolvimento com os pares traz um contributo positivo para os adolescentes, sendo uma fonte fundamental de apoio emocional (Papalia et al., 2001).

Professores. No que concerne o apoio por parte dos professores, os estudantes revelaram que é difícil poder contar com este, nas situações em geral que acontecem. Apesar de alguns professores provavelmente se mostrarem sensíveis às situações dos seus alunos, torna-se complicado estes recorrerem à sua ajuda quando ocorrem constantes mudanças do quadro docente das escolas. Esta circunstância vigente no panorama educacional português pode originar alterações frequentes dos directores de turma, além dos professores das disciplinas leccionadas. Assim, sem existir uma relação previamente estabelecida, os estudantes referiram ser pouco provável recorrer aos seus professores ou directores de turma como uma fonte de suporte.

Além disso, estes jovens revelaram que nem os professores nem os directores de turma tinham tido conhecimento das missões dos seus pais, e que isso também dificultaria a partilha dessa situação familiar. No entanto, mencionaram o apoio dos professores como importante, caso já conheçam o professor em questão e precisem do apoio de um adulto fora do núcleo familiar. Realmente, na literatura destaca-se bastante o papel que a comunidade escolar (e.g., professores) pode vir a ter na estabilidade emocional e académica destes estudantes filhos de pais militares (Astor et al., 2013).

Factores promotores de adaptação

Esta categoria envolve factores que, de acordo com as experiências e partilhas dos participantes, facilitam a adaptação dos jovens filhos de pais militares (34.62% do total de referências).

Habituação e Preparação. A habituação, referida tanto por alunos como por professores (11 referências), diz respeito ao facto dos alunos já terem experienciado várias participações dos pais em missões internacionais, tendo a habituação sido considerada como um factor promotor de uma adaptação positiva ao deslocamento dos pais.

“Falou-me bastante satisfeita do facto de o pai ir em missão porque era hábito mesmo, já não era a primeira, então já era rotineiro.” (Professor, 52 anos)

Contudo, de cada vez que o progenitor militar vai em missão, a flexibilidade familiar é testada, pois ocorrem alterações tanto na organização como na estrutura deste sistema (Riggs & Riggs, 2011).

A preparação está relacionada com o envolvimento parental desde a altura em que sabem que o pai militar irá participar numa missão internacional. Mais concretamente tem que ver com a forma como os pais lidam e partilham esta notícia com os filhos, isto é, se preparam os filhos atempadamente e logo que têm conhecimento da existência da missão, ou se por outro lado escondem esta informação, deixando-os assimilar a situação apenas aquando da partida dos pais ou até quando estes já partiram. No presente estudo apenas os professores mencionaram a importância que o tipo de preparação pode ter nos jovens (6 referências), relativamente ao impacto causado pelas missões.

“Há aqui um ponto muito importante que é o facto dos pais se preocuparem com a preparação da ida para a missão ou não. (…) a forma como as famílias lidam tem muita importância depois na forma como eles vão reagir ao facto dos pais estarem fora ou não…” (Professora, 43 anos)

Talvez o facto de já estarem habituados à situação faça com que se sintam mais preparados para lidar com a mesma. Apesar de serem sempre missões diferentes, em locais e com durações distintas, o impacto pode não ser tão grande pois os jovens já tiveram experiências passadas. Neste sentido, já conhecem os procedimentos militares e as etapas do ciclo emocional, o que pode ser promotor de uma adaptação positiva a novas missões.

Relação Parental e Temperamento/Personalidade. Estes dois factores estão relacionados, respectivamente, com o tipo de relação estabelecida entre os filhos e o progenitor deslocado, e com o temperamento do adolescente. O tipo de relação que existe com o progenitor deslocado pode influenciar a adaptação do jovem à sua ausência. Nesta sub-categoria existem referências tanto dos professores como dos alunos (num total de 5 referências).

“Acho que isso depois vai dependendo do tipo de pai e do tipo de filho e do tipo de relação entre eles.” (Carlota, 17 anos, pai militar com 1 missão)

A reacção dos jovens ao deslocamento dos seus pais pode depender, em parte, do tipo de vinculação estabelecida com ambos os progenitores (não só o militar mas também o que fica em casa), mas também das diferenças individuais dos adolescentes (Riggs & Riggs, 2011), já que o temperamento/personalidade do adolescente (i.e., as suas características pessoais) certamente influenciam a forma como lidam com a ausência dos pais deslocados.

Comunicação. Esta categoria alberga duas sub-categorias: comunicação no geral (assim designada pelo facto de os participantes não terem especificado a forma como esta ocorria) e aquela efectuada através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), tendo um total de 11 referências (apenas por parte dos alunos).

A comunicação aparece como um factor de adaptação na medida em que ajuda a “matar” as saudades dos pais. Os participantes referiram a comunicação como benéfica para tranquilizarem a sua preocupação e saberem novidades dos pais. Efectivamente, os estudos revelam que manter a comunicação e confirmar que todos estão bem durante o período do deslocamento revela ser importante não só para os membros da família mas também para o militar (Bóia, Marques, Francisco, Ribeiro, & Santos, 2017; Padden & Agazio, 2013). Para isso mencionaram várias vezes as TIC, afirmando recorrer à Internet e especificamente ao Skype para comunicarem com o progenitor deslocado. Pelo contrário, os jovens deste estudo mencionaram também que por vezes ajuda não falar com os seus pais, porque acabam por se distrair e por se lembrar menos da ausência destes.

Distracção, Actividades Curriculares e Actividades Extra-curriculares. Estas três categorias estão relacionadas com actividades que sirvam de distracção (9 referências) aos adolescentes, pois estes referiram-nas várias vezes como sendo importantes, tal como estar com o grupo de pares, ou o simples facto de estar na escola e nas aulas (onde estão focados nas actividades curriculares; 5 referências). Além disso, referiram também o desporto (e.g., karaté, natação, e-sports), a dança e actividades extra-curriculares no geral (8 referências) como importantes fontes de distracção. Estas categorias têm apenas referências por parte dos alunos, exceptuando as actividades extra-curriculares, igualmente referidas pelos professores.

Eventuais formas de apoio

Esta categoria está relacionada com pequenas actividades ou tipos de apoio que foram sugeridos pela entrevistadora como podendo ajudar os adolescentes e a comunidade escolar a lidarem com as missões (25% do total de referências codificadas). Estas sugestões (apenas apresentadas aos jovens, e não aos professores) tinham como objectivo explorar o tipo de ajuda/apoio que pudesse vir a ser mais importante e útil durante as várias etapas da participação dos pais nas missões internacionais. A maioria das vezes que os jovens argumentaram não concordar com determinado apoio ou sugestão da entrevistadora tal acontecia por não o considerarem necessário. No entanto, afirmaram que as mesmas actividades eventualmente poderiam ser úteis em alturas mais difíceis ou para colegas que não se adaptassem de forma positiva à ausência dos pais.

Actividades. Esta é uma sugestão considerada importante tendo em conta os vários estudos que existem acerca do desenvolvimento de intervenções preventivas com famílias militares, dado que frequentemente envolvem diversos tipos de actividades (e.g., Aronson et al., 2011; Kim, Kirchhoff, & Whitsett, 2011; Mmari et al., 2010). Nesta categoria (8 referências) os jovens referiram actividades em família – actividades realizadas em conjunto, por todos os membros da família nuclear –, e actividades no geral (e.g., desporto, saídas com o grupo de pares).

No geral, e como já foi mencionado, actividades que sejam prazerosas para os jovens podem servir como factores distractores, podendo minorar sintomas como ansiedade e tristeza, que possam sentir face às saudades e à ausência do progenitor deslocado. Além disso, podem promover a união dos membros familiares, o que pode ser bastante benéfico para a adaptação dos jovens ao deslocamento dos seus pais.

“De confiança e assim, acho que isso ia ser giro... Então porque... para saber que eles estão ali mas que não vão estar mas que ao mesmo tempo estão, qualquer coisa assim.” (Catarina, 15 anos, pai militar com 3 missões)

Apoio Psicológico. Quatro participantes concordaram que o facto de existir nas escolas apoio psicológico pode igualmente ser um contributo importante para estes jovens. De facto, o psicólogo educacional pode ser bastante útil para estes alunos, não só para aconselhamento e reencaminhamento caso seja necessário, como também para auxiliar no desenvolvimento de estratégias que permitam aos estudantes, filhos de pais miliares, manter o seu rendimento académico (Rossen & Carter, 2011).

Director de Turma ter conhecimento da missão. Nove participantes concordaram que manter o director de turma informado acerca das missões dos pais poderia ser útil, sendo que depois poderia partilhar com os restantes professores essa informação. O fundamental seria os professores estarem conscientes das necessidades dos seus alunos, sendo para tal necessário que saibam quais são filhos de pais militares e quais estão destacados para missões internacionais. Assim, seria essencial a família comunicar com o director de turma estas situações. Contudo, segundo os estudantes revelaram, esta partilha não existe, pelo que os seus professores nunca souberam das missões dos seus pais. Por isso, inicialmente os jovens não consideraram necessário o director de turma ter esta informação mas alguns mudaram a sua opinião, talvez por se terem apercebido da diferença que poderia significar na altura das missões.

“Então talvez a ideia do nosso director de turma saber, ter conhecimento e de alguma forma tentar ajudar.” (Carlota, 17 anos, pai militar com 1 missão)

Efectivamente, e apesar de alguns estudantes poderem sentir-se constrangidos (por serem diferentes dos outros e poderem ter mais atenção por parte dos professores), outros pensam que seria reconfortante saberem que os professores têm conhecimento do deslocamento dos seus pais (Mmari et al., 2009).

Fórum. Cinco participantes concordaram que a existência de um fórum de partilha pode dar a possibilidade aos jovens de conhecerem outros na mesma situação, e o facto de ser através da Internet pode fazer com que fiquem mais confortáveis para comunicar, sentindo que não são os únicos a passar pelo deslocamento dos pais. Efectivamente, os participantes deste estudo não sabiam que tinham colegas também filhos de pais militares na mesma escola, antes da realização do focus group. Em relação à partilha através de um fórum on-line, mostraram-se interessados e entusiasmados, por não terem de comunicar e de se expor pessoalmente.

Reuniões com pares na mesma situação. Sete participantes mencionaram alguma curiosidade face à possibilidade da existência de reuniões com colegas também filhos de pais militares, por considerarem interessante conhecer pares na mesma situação, com perspectivas diferentes. O facto de poderem ter o apoio de um grupo de pares na mesma situação pode efectivamente ser importante, na medida em que pode originar um sentimento de pertença e compreensão, que não existe com outros alunos ou professores (Williams, 2013).

Necessidades da comunidade escolar

Importa referir que as sub-categorias emergentes nesta categoria principal surgem apenas da experiência relatada pelos professores durante os focus groups, por forma a compreender as suas principais dificuldades e premências face a este tipo de alunos. Tanto a articulação com as famílias militares (44.4% de referências) como com o CPAE (55.6%) mostraram ter grande relevância para estes professores, tendo estes referido a importância do diálogo entre estas três grandes “instituições”: escola, exército e família.

Articulação com a família

Esta sub-categoria diz respeito à facilidade das famílias militares no geral comunicarem com a escola (e.g., acerca da profissão do pai militar e daquilo que esta implica, acerca da ocorrência de missões). Desta emergiram duas temáticas distintas, ainda que relacionadas: pais informarem das missões (3 referências) e abertura para falarem do assunto (1 referência). Neste âmbito, os professores revelaram uma grande dificuldade nesta partilha por parte da maioria dos pais, no que toca a assuntos relacionados com as missões internacionais. Alguns acrescentaram ainda que o facto de os pais informarem a escola (principalmente o director de turma) da ocorrência de missões poderá ter uma influência muito positiva, não só no tipo de intervenção que podem vir a ter junto destes alunos, como também no desempenho académico destes.

“ (…) Essa preocupação que os pais têm em dizer ou não acho que influencia muito a forma como vai correr a missão… Ser filho de pai militar não é fácil (…) porque é preciso um envolvimento muito grande e uma preparação muito grande dos miúdos que às vezes não há. Quando há, as coisas resultam bem, como foi o caso das duas alunas (…) que são irmãs, mas são pais que preparam não só na escola, mas também em casa, ou seja, os miúdos não estão alheados da situação nem são confrontados com a situação em cima da hora, por exemplo este meu aluno foi confrontado com a situação em cima da hora, eu soube antes dele. (Professora, 38 anos)

As lacunas por vezes existentes no apoio escolar, juntamente com possíveis dificuldades na adaptação à ausência parental, podem contribuir para a ocorrência de perturbações no desempenho académico (Chandra et al., 2010). Muitos jovens filhos de militares não só têm de lidar com o deslocamento dos seus pais, como também se vêem obrigados a deslocar-se para outras localidades do país e consequentemente outras escolas. Deste modo, estes adolescentes podem ter dificuldade no estabelecimento de relações com os seus pares, quando existe uma insensibilidade destes e dos professores para a vida e cultura das famílias militares, e consequentemente uma carência no apoio escolar (Astor et al., 2013). Contudo, não pode deixar de ser mencionado que os professores não são, na esmagadora maioria dos casos, informados acerca da afiliação dos seus alunos (Bradshaw, Sudhinaraset, Mmari, & Blum, 2010), o que complica bastante o processo de identificação das necessidades destes estudantes (Williams, 2013).

Em suma, os estudos supramencionados sugerem que a ausência de conhecimento (i.e., o facto de desconhecerem a existência de missões e das suas implicações na vida familiar e escolar), sensibilidade, e apoio pela comunidade escolar e pares possivelmente contribui para a vulnerabilidade psicológica de estudantes filhos de militares (Astor et al., 2013).

Articulação com o CPAE

Esta ligação surge como uma necessidade da comunidade escolar na medida em que os professores sentem falta de apoio relativamente a esta temática, por parte dos psicólogos da instituição militar. Os mesmos referiram estar atentos e sensibilizados com a especificidade dos alunos filhos de militares, e por isso gostariam de estar mais informados, não só em relação à existência de missões (1 referência) como também a pistas para os professores agirem (5 referências). Por outro lado, mencionam o eventual apoio psicológico nas escolas (2 referências), por parte do exército (em parceria com a escola), como fundamental, ao invés de recorrerem ao psicólogo educacional. Os professores revelam, ainda, sentir mais confiança nos profissionais do Exército, devido à experiência e conhecimento aprofundado que estes têm na área das famílias militares.

“Haver essa preocupação dos serviços de psicologia do exército (…) que nos ajudassem a nós a perceber o que é que se passa ao longo das fases (…) se calhar nós aqui e até a psicóloga da escola não está tão preparada na escola para lidar com elas do que os serviços de psicologia do exército.” (Professora, 43 anos)

Tendo em conta estudos efectuados com esta população, é evidente o suporte que as escolas podem dar a alunos filhos de militares (e.g., Acion et al., 2013; Astor et al., 2013; Rossen & Carter, 2011). No entanto, a comunidade escolar muitas vezes encontra dificuldades na forma como deve transmitir este apoio (Williams, 2013), podendo experienciar um sentimento de incerteza relativamente à postura a adquirir perante estudantes com estas características (Bradshaw et al., 2010). Por outro lado, é ainda importante referir o facto da comunidade escolar no geral e até a maioria dos pais percepcionar a formação dos psicólogos escolares como fulcral, para lidar com estes estudantes o melhor possível, principalmente durante a etapa do deslocamento (Mmari et al., 2009), o que é congruente com as referências dos professores que participaram neste estudo. Um outro facto que vai ao encontro da partilha dos professores é a necessidade de melhorar a comunicação entre a escola e a base militar, igualmente mencionada na literatura (Mmari et al., 2010).

Conclusão

Com o presente estudo pretendeu-se compreender a perspectiva de adolescentes, filhos de pais militares Portugueses, quanto ao impacto das missões internacionais no seu bem-estar, bem como a forma como a comunidade escolar pode promover um ajustamento positivo destes durante uma missão militar, com base na perspectiva dos professores que lidam com estes jovens. Aquando do deslocamento dos pais numa missão militar surgem algumas alterações na vida dos jovens, tais como a mudança nas rotinas familiares, o aumento da responsabilidade, da liberdade, e da realização de tarefas domésticas, sendo estas congruentes com a literatura (e.g., Misra & Singh, 2014). Por outro lado, a comunidade escolar aponta diversas dificuldades e realça a importância da articulação entre a escola, a instituição militar e os pais destes alunos, para que haja partilha de informação, não só em relação à existência de missões, mas também no que concerne a pistas para lidar com estes alunos. Em relação aos recursos já existentes, os participantes no presente estudo mostraram ser factores fundamentais o apoio dos pares e da mãe, a comunicação com o progenitor deslocado e o recurso a tarefas distractoras (e.g., actividades curriculares e extra-curriculares).

O estudo apresenta algumas limitações, nomeadamente a reduzida dimensão da amostra, a ausência de consideração do sexo dos jovens na altura da selecção da amostra, a existência de apenas dois tipos de informantes (professores e alunos), e o facto deste estudo apenas retratar um dos ramos das Forças Armadas Portuguesas (Exército). Além disso, a reduzida dimensão da amostra também não permitiu a análise dos resultados por etapa de desenvolvimento (e.g., pré-adolescência vs. adolescência). Assim, seria importante em estudos futuros, ampliar a amostra no sentido de analisar os resultados considerando o sexo e a idade dos jovens, permitindo explorar as diferenças e semelhanças que existem entre rapazes e raparigas de diferentes idades, a par da forma como estas podem influenciar uma intervenção eficaz. Por outro lado, o facto deste estudo ter como base a metodologia qualitativa, especificamente através de entrevistas focus group, traz outras limitações, como o impacto do próprio grupo e da sua interacção, que pode ter reduzido a partilha das experiências por parte dos participantes, especialmente dos mais jovens. Tendo em conta que o estudo se baseia numa metodologia qualitativa, não é possível a generalização dos resultados à população de jovens filhos de pais militares. Neste sentido, estudos futuros deverão adoptar também metodologias quantitativas em amostras maiores, que permitam uma caracterização mais abrangente desta população, especificamente no que diz respeito ao bem-estar dos adolescentes filhos de militares. Tendo em conta os resultados obtidos, parece ser pertinente continuar a investigação na área das famílias militares, mais concretamente acerca do papel que a comunidade escolar pode ter no ajustamento destes estudantes às missões internacionais dos seus pais militares.

É ainda fundamental desenvolver projectos ou programas no âmbito da promoção de uma adaptação positiva aos deslocamentos militares, cuja eficácia possa ser avaliada. Na construção destes projectos, é necessário ter em conta os desafios pelos quais os jovens passam ao longo de uma missão internacional, nomeadamente a reorganização do sub-sistema parental e fraternal, e a dificuldade que pode ser sentida com o pós-deslocamento. Nesta medida, pode ser útil reunir equipas de psicólogos em zonas geográficas de grande afluência de famílias militares, que acompanhem especificamente estes jovens, que elaborem programas de prevenção (e.g., workshops à comunidade escolar; actividades de aproximação dos militares aos filhos e família no regresso da missão) e intervenção (e.g., estabelecendo uma rede de reencaminhamentos, garantindo o acompanhamento psicológico sempre que este seja necessário).

 

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Historial do artigo

Recebido

04/12/2016

Aceite

14/08/2017

Publicado

11/2017

 

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