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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

Print version ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.32 Lisboa  2014

 

TOPONÍMINA NO FEMININO

Braga, toponímia no feminino IV

Maria Ivone da Paz Soares1


Braga, a cidade considerada a mais antiga de Portugal, é afamada como Cidade Romana (Ausónio de Bordéus distinguiu Bracara Augusta como uma das mais importantes do Império Romano); como Roma Portuguesa, redesenhada pelo arcebispo D. Diogo de Sousa, no século XVI; ou como Cidade Barroca, pela mão do arquiteto setecentista André Soares (e outros); ou ainda como a Cidade dos Arcebispos pelo seu patenteado poder ao longo de séculos; ou também como a Cidade dos Três Sacro­‑Montes com os seus santuários situados na cadeia montanhosa envolvente: Bom Jesus, Sameiro e Falperra; também publicamente denominada como a Capital do Minho ou Coração do Minho devido à sua localização e idiossincrasia; por fim, a recentemente denominada Cidade da Juventude que chegou a ser diferenciada como a cidade mais jovem da Europa.

Porém, todas estas e outras Bragas são envolvidas por mantos maternos milenares, lactantes símbolos figurativos que atravessaram os tempos e se ajustaram na evolução das convicções: Ísis e Senhora do Leite – Bracara Augusta/Braga acalentando o “arquétipo da maternidade”. A divindade egípcia amamentava Hórus, nas margens do Nilo, dando vida à Natureza. Lucrécia Fida, sua brácara sacerdotisa, deixou­‑nos o seu rasto nesta cidade, no século II, patenteada na lápide incrustada na parede exterior da capela­‑mor da Sé de Braga. Aventa­‑se que a Senhora do Leite “descende, em linha direta, das representações da Ísis «lactans»”, amamentando Jesus Menino (Sousa, 2004, pp. 24­‑26; Bandeira, 2010, pp. 22­‑23; Freitas, 1890, pp. 18, 105­‑106; Frazão e Morais, 2009, p. 20). A lápide e a escultura renascentista localizam­‑se na Rua da Nossa Senhora do Leite ou antiga Rua das Oussias que em português antigo significava “santuários, ábsides”, ficando do outro lado da rua a Casa da Roda recheada de vivências femininas. A lua desenhada sobre a cabeça de Santa Maria no brasão de 1860 é um dos símbolos inerentes de Ísis.

Nas Memórias Paroquiais Urbanas de Braga (1758) refere-se que a deusa Ísis era tão estimada da “gentilidade que cuidavam que banhando­‑se nela [na fonte] depois de sair do Templo ficavam livres de todos os males do corpo, e na graça e felicidade” que o Apóstolo Santiago fez transmutar, criando junto à fonte uma ermida dedicada à Virgem. E o Arcebispo Fr. Agostinho de Castro sagrou a Catedral em 1592 “por se duvidar” que anteriormente fosse dedicada à Virgem Maria (Capela e Ferreira, 2002, pp. 293­‑294; Soares, 1998/1999, p. 161).

A figuração antropomórfica da cidade de Braga consubstancia­‑se na representação religiosa de Santa Maria de Braga, no altar­‑mor da Sé, na alegoria barroca que encima o Arco da Porta Nova e é ainda evidente na decoração do salão nobre dos Paços do Concelho. O paradigma feminino manteve­‑se e foi perenizado no brasão de armas e na bandeira da cidade com a Senhora vestida com uma túnica púrpura e manta azul, na mão direita um lírio e na esquerda Jesus Menino, estando ladeada de duas torres argênteas com três escudos de Portugal, como se cingisse e protegesse maternalmente a cidade.

 

Figura 1

 

Bracara Augusta é igualmente representada por outra senhora coroada, levando na mão direita a cruz arcebispal e na esquerda a coroa real, símbolos da Cidade e Senhorio bracarense (Capela e Ferreira, 2002, p. 92).

A outra figura feminina inerente a esta cidade é D. Teresa de Leão, mulher do conde D. Henrique de Borgonha, aquando da criação do Couto de Braga com a doação e confirmação ao Arcebispo D. Maurício (confirmada em 12­‑04­‑1112 e em 27­‑05­‑1128 por D. Henrique) e se manteve até aos finais do século XVIII (Costa, 1985, p. 20). Os seus túmulos encontram­‑se na Capela dos Reis, na Sé.

E na Catedral outras presenças femininas tutelares envolvem os crentes: Senhora da Piedade, Senhora da Glória, nos claustros o túmulo da taumaturga, religiosa e estigmatizada, Irmã Maria Estrela Divina (séc. XX), o pedaço de um Manto da Virgem Santa Maria, na Capela das Relíquias.

E apenas como breve referência, as nove irmãs gémeas, de Braga, santificadas e reverenciadas ao longo do ano, disputadas por Tuy: as Santas Germana, Eufémia, Quitéria, Marciana, Marinha, Liberata, Basilissa, Genoveva, Vitória (Freitas, 1890, pp. 181­‑182). Entre muitas mais.

A hagiografia no feminino é assaz presente na toponímia bracarense, proliferando em várias freguesias, mas não focalizaremos o nosso estudo neste âmbito, exceto pontualmente.

Da longa lista composta por 175 personalidades bracarenses destacadas por Fernando Mendes, apenas duas individualidades feminis: Soror Maria Bento do Céu e Susana Lagrifa Mendes, esta já abordada por Regina Cardoso (Mendes, 1993, pp. 57­‑61; Cardoso, 2008, pp. 229­‑230). E muitas mulheres, ao longo dos séculos, colaboraram na construção desta cidade, umas de forma indelével e discreta, outras sobressaindo da sua sombra, algumas ficando tutelares em ruas. O pendor masculino é bem presente igualmente na antropotoponímia. Porém perfis femininos já foram destacados e continuarão a ser, acompanhados de sensibilização na Câmara e nas Juntas de Freguesia visitadas.

Dr.ª Regina Cardoso já iniciou este percurso por ruas, travessas, vielas, esquinas desta urbe cada vez mais ampliada numa urbanização por vezes questionável, porém mantendo o denominador comum de uma toponímia no masculino, aparecendo algumas homenagens no feminino, como tão eximiamente evidenciou (Cardoso, n.º 17, 2007, pp. 167­‑174; n.º 18, 2007, pp. 173­‑176; n.º 21, 2008, pp. 223­‑230). São contributos que nos ajudam a percecionar a identidade da cidade/concelho, as razões do surgimento de determinadas artérias e os motivos que terão levado à escolha dos seus nomes e das figuras que marcaram a sua história.

Sempre presente com a sua disponibilidade, profissionalismo, saber e colaboração realçamos e agradecemos a Dr.ª Maria Salomé Sousa, da Divisão da Cultura da Câmara Municipal, assim como aos gentis funcionários do Arquivo da Câmara e das Juntas de Freguesia que contactámos.

 

Freguesia de Santa Maria de Ferreiros

Já na “Faces de Eva”, n.º 21, para esta dinâmica freguesia foram apresentados três topónimos. Acrescentaremos:

Rua Damiana Maria da Silva (Proposta pela Junta de Freguesia em 07­‑07­‑1999 e aprovada pela Comissão de Toponímia em 09­‑03­‑2000) – “Personalidade que se identificava como próxima da Igreja Católica, a qual denotou em determinada fase da sua vida, um elevado grau cultural para a época em que viveu”. Do seu testamento, de 1741, caiu um papel com um rol de esmolas dadas “e que por medo de que ele [o marido, Dr. Manuel de Almeida Passos] pelejasse o deixara assim”, solto e sem ser agregado às suas últimas disposições caritativas. Ambos ficaram sepultados na Capela de São Nicolau Tolentino que o tempo e a incúria fizeram ruir, estando as poucas peças sobreviventes no templo e museu da Irmandade de Santa Cruz (Costa, 2001, pp. 67­‑68, 74­‑75; Direnor, 2005, pp. 10­‑15). Perdurou apenas a memória preservada toponimicamente com os nomes da capela e destas duas individualidades marcantes da freguesia, ficando o casal reverenciado.

 

Freguesia de Gondizalves

A União das Freguesias de Ferreiros e Gondizalves foi constituída em 2013, agregando estas antigas freguesias, no âmbito de uma reforma administrativa, com sede em Ferreiros.

O nome de Gondizalves, proveniente de “Gundisalvici”, nome que “permite a adição de dados morfológicos sobre os patronímicos” (Lima, 2012, p. 154).

Esta freguesia possui dois outeiros com níveis de ocupação que remontarão à fase castreja da Idade do Ferro do Noroeste Peninsular, com subsequente romanização e posteriormente com uma ocupação medieval, no período da reconquista. Mais tarde, foram intervencionados com pequenas capelas cristãs (disponível em endereço eletrónico, 2014).

Apenas a hagiotoponímia no feminino está presente:

Largo Senhora da Esperança (Deliberação pelo executivo municipal em 22­‑09­‑1988) – A devoção a Nossa Senhora da Esperança é muito antiga na Igreja dos primeiros séculos do Cristianismo. Em Espanha e em outros países europeus, a mesma veneração é conhecida por “Nossa Senhora do Ó”. É uso ainda hoje dizer­‑se de uma senhora grávida que “está na esperança” ou “de esperanças”.

Este culto intensificou­‑se no período dos descobrimentos, talvez veiculado por Pedro Álvares Cabral vindo de Belmonte, onde se venerava Nossa Senhora da Esperança.

 

Freguesia de Gualtar

Há cerca de 5­‑6 mil anos, pela Idade do Ferro, povos deixaram vestígios da sua primeira ocupação no lugar de Caixas de Água e na zona do Hospital de Braga. Os romanos construíram duas vias que ligavam Bracara Augusta a Chaves e a Astorga, esta ainda refletida no lugar de Estrada Velha que está relacionada com a “Geira”.

Fez parte de um antigo mosteiro doado, entre 1032 e 1043, à condessa Ilduara por mestre Savarigo. No atual “campus universitário” da Universidade do Minho situava­‑se o antigo mosteiro de S. Miguel de Gualtar. A igreja de S. Miguel de Gualtar é mais um dos vários testemunhos de arquitetura românica, por vezes restando alguns vestígios, por outro com adulterações, como ocorre com este templo, devido às consecutivas reformas.

O Presidente da Junta de Freguesia, Dr. João Nogueira, amavelmente colaborou ao complementar os dados da recolha de informação toponímica.

Rua Amália da Costa Lima (Proposta pela Junta de Freguesia em 08­‑03­‑2002 e aprovado em reunião de Câmara de 21­‑03­‑2002) – A cidadã Amália Rosa Costa Lima Guimarães nasceu na freguesia de Bonfim, Porto, em 08­‑10­‑1903, tendo residido permanentemente em Gualtar desde 1949 até ao ano de 1980, onde faleceu a 23­‑07­‑1980. Bacharel pela Universidade do Porto, destacou­‑se como “benfeitora por vocação”, pois fundou a Conferência Vicentina de Gualtar, tendo participado e desempenhado cargos ao nível de diocese (conselho central). Criou e dinamizou, em Braga, a Obra das Mães solteiras, sendo a primeira sede em Monte de Baixo, Gualtar, numa casa que lhe pertencia. Dinamizou a criação da Escola Primária da Poça (hoje desativada), cujas obras de adaptação custeou. Dr. João Nogueira informou ainda que era “esposa de um próspero industrial da área dos cimentos nas décadas de 50 e 60 e foi benemérita da Paróquia de Gualtar tendo o seu nome ligado intimamente à construção da Igreja Nova de Gualtar”.

No final da sua existência de benfeitora deixou os seus bens patrimoniais à Paróquia.

Rua do Bairro da Henriqueta (Proposta pela Junta de Freguesia a 10­‑10­‑1995 e aprovada pelo executivo municipal em 07­‑12­‑1995) – “No final do século XIX e inícios do século XX, um abastado burguês construiu dois bairros a que vulgarmente se dava o nome de “ilhas”. Numa dessas “ilhas” ou bairros foi dado, pelas pessoas que para lá foram morar, o nome da esposa do investidor de nome Henriqueta.

A “ilha” do Bairro Henriqueta tinha uma particularidade. No mesmo conjunto habitacional foi construído um forno comunitário onde as famílias, por razões sociais ou como forma de investimento”, o usufruíam.

Rua Maria Delfina Gomes (Proposta pela Junta de Freguesia em 10­‑10­‑1995 e aprovada pelo executivo municipal em 07­‑12­‑1995) – É filha do musicólogo e virtuoso no cavaquinho, José Gomes, que reuniu um considerável espólio bibliográfico e museológico, na primeira metade do século passado. A Dona Maria Delfina Gomes doou um rico espólio ao Museu dos Biscainhos. “Benemérita da Paróquia de Gualtar, está ligada à doação de terrenos onde num deles foi construído o Centro Social e Paroquial de Gualtar. De ascendência monárquica, com título de viscondessa, era proprietária de uma área significativa de terrenos em Gualtar e nomeadamente de terrenos onde hoje está instalado o Campus de Gualtar da Universidade do Minho”, completou Dr. Nogueira.

Rua do Campo da Margarida (Proposta pela Junta de Freguesia em 10­‑10­‑1995 e aprovada pelo executivo municipal em 07­‑12­‑1995) – “Na tradição minhota do minifúndio era costume dar nomes aos campos de lavradio. Daqui nasceu o nome de um campo da filha de um lavrador de nome Margarida.

Há cerca de 25 anos o campo referido foi urbanizado e foi entendido manter a denominação.”

Rua da Crespa (Proposta pela Junta de Freguesia em 10­‑10­‑1995, e aprovada em 07­‑12­‑1995) – Não foi encontrada biografia ou alguma justificação.

Maria Júlia Queirós (Proposta pela Junta de Freguesia em 23­‑08­‑2005 e aprovada pelo executivo municipal 06­‑10­‑2005) – Maria Júlia Monteiro Rebelo Queirós nasceu em 28­‑02­‑1921, na Vera Cruz – Aveiro. Formada em Farmácia e radicada em Gualtar há longos anos, foi benemérita notável, vivendo de bem­‑fazer e ajuda aos pobres da freguesia. Foi responsável da Conferência Vicentina de Gualtar. “Benemérita da Freguesia e da Paroquia de Gualtar, pessoa extremamente caridosa e pia. Foi das primeiras mulheres licenciadas em Química em Portugal”, ampliou o Dr. João Nogueira. Faleceu a 09­‑02­‑2002.

Rua Ana Luísa Pinto (Proposta pela Junta de Freguesia em 08­‑05­‑2006 e aprovada pelo executivo municipal em 07­‑09­‑2006) – Ana Luísa Pinto, “cidadã de Gualtar, nascida a 12/03/1905 e falecida a 10/12/1986 era pessoa estimada e muito querida em Gualtar. Teve seis filhos de um único casamento. Era uma pequena comerciante que sendo pobre ajudava os pobres.”

Desempenhava na Freguesia de Gualtar “algumas funções sociais como parteira, «endireita» (tratava de pequenas luxações e pequenas fraturas ou distensões musculares)”.

Foi uma referência “por ser alma caridosa, dava abrigo e alimentação a jovens soldados entre 1960 e 1970, durante o período da Guerra Ultramarina. Estes soldados que viajavam para o interior do Minho e noroeste de Trás­‑Os­‑Montes” patenteavam “dificuldades de transporte e frequentemente ficavam sem boleia, o que lhes causava problemas que a Ana Luísa Pinto, vulgarmente conhecida pela «senhorinha resolvia.”

Rua Carolina Rosa Alves (Proposta pela Junta de Freguesia em 08­‑05­‑2006 e aprovada pelo Executivo Municipal em 07­‑09­‑2006) – Carolina Rosa Alves nasceu em 27/01/1898 e faleceu em 9/12/1984, em Gualtar. “Nos difíceis anos do início do século XX teve sete filhos, tendo enviuvado ainda nova e, para sobreviver, dedicou­‑se à venda de jornais na Arcada de Braga. Era uma figura típica da cidade, comunicativa e extremamente perspicaz. Era conhecida como a «Carolina dos Jornais»”.

 

Freguesia de Nogueira

Esta freguesia emblematicamente ligada ao trabalho, cultura e progresso, é anterior à fundação da própria nacionalidade, nomeada por “Villa de Nugaria” que deu origem ao topónimo Nogueira, devido à existência de várias árvores, entre as quais nogueiras. Em 900 é designada por Nugaria, no Doc. Nº 174 do Liber Fidei. Como investigou o ex­‑Presidente da Junta de Freguesia, José António Correia Soares, foi igualmente denominada de Nogaria e S. João Baptista de Nogueira e pela ata da Junta de 10 de janeiro de 1937 foi sugerido o nome de Falperra de Nogueira, o qual não vingou”.

Foi administrada pela Condessa D. Toda, entre 1008­‑1027, mulher do conde Hermenegildo ou Mendo Gonçalves e sogra de Afonso V, rei de Leão e Castela. Por morte de seu marido, em 1008, D. Toda ficou a governar o Condado Portucalense, o qual passou depois para a condessa D. Ilduara Mendes e respetivo marido, o conde Nuno Alvites, e, posteriormente, foi de sua filha, a condessa D. Gontrode (Marques, 1975, pp. 47­‑48; Mapa de Nogueira, s/d).

Algumas herdades de Nogueira contribuíram para sanar o problema económico inerente à construção da Sé e edifícios anexos (Costa, 1959, pp. 176, 299 e 368).

Todas as referências assinaladas para Nogueira foram amavelmente veiculadas, com a devida autorização, pelo Dr. José Manso, coligidas dos apontamentos da autoria e pesquisa do Sr. José António Correia Soares que se dedicou a investigar a freguesia.

Até ao ano de 1891, a freguesia de S. Paio D'Arcos esteve anexada à de Nogueira e, mais tarde, em 1896, a freguesia de S. Tiago de Fraião anexou­‑se também a Nogueira por não ter o número de eleitores suficiente para constituir junta paroquial.

A Lei 11­‑A/2013 uniu­‑a às ancestrais freguesias de Fraião e Lamaçães, formando uma nova entidade autárquica denominada por União das Freguesias de Nogueira, Fraião e Lamaçães, sendo a sua sede.

Já na “Faces de Eva”, n.º 21, para esta dinâmica freguesia foi apresentado um topónimo. Acrescentaremos, com a prestimosa colaboração do Dr. José Manso:

Rua Cruzeiro Grácia Pires (Proposta da Junta de Freguesia em 30­‑09­‑2002 e aprovada em 19­‑12­‑2002) – Não foi encontrada biografia, apenas que era o nome tradicional identificativo pelo qual era conhecido o local. Apenas surge um apontamento da sua existência a 03­‑06­‑1833, no Livro de Registos, num emprazamento de “um terreno no sítio do Cruzeiro de Gracia Pirez, freguesia de Nogueira…” Livro de Registo da Câmara Municipal de Braga, 1833/1834, fol. 5.

Em Alminhas, Nichos e Cruzeiros de Portugal, fascículo II, de 1957, relativo ao Minho, em texto de Luís Pinheiro, encontra­‑se a referência da “pedra secular consta como pé do Cruzeiro, daí que a Junta, em 1991, tenha transferido a base do Cruzeiro para o Largo (do Cruzeiro) e, em janeiro de 1996, tenha encimado uma Cruz em pedra, com os dizeres “G.P. 1996 J.F.N.”, ou seja, “Grácia Pires – 1996 – Junta de Freguesia de Nogueira”, para valorizar e dar o real significado ao Largo. Refere ainda que “essa cruz foi benzida no dia 7 de Abril de 1996 pelo então pároco da Freguesia, Manuel Brito da Silva”.

Calçada das Leiteiras – (Deliberação da Junta de Freguesia em 02­‑08­‑1995 e aprovada em Reunião de Câmara em 19­‑11­‑1995) – “Este topónimo surge no sentido pitoresco como uma homenagem às leiteiras que por aquele caminho passavam, abastecendo­‑se de leite no posto localizado onde hoje está instalado um prédio com a clinica dentária”, (fica junto do entroncamento da Rua dos Barreiros com a Rua Quinta da Bemposta), “transportando­‑o para os Lugares do então Bairro dos Pobres e outros locais”.

Rua da Bouça da Rainha (Deliberação da Junta de Freguesia em 30­‑09­‑2002 e aprovada em Reunião do Executivo Municipal em 19­‑12­‑2002) – Não há conhecimento “se o topónimo foi atribuído em homenagem a uma qualquer monarca portuguesa ou se, provavelmente, foi atribuída em homenagem à «Espiga Rainha», uma vez que no local era provável a ocorrência de desfolhadas, onde, sempre que aparecia uma espiga vermelha, o «anunciador» dizia em alta voz o seu aparecimento”.

Outros topónimos de Nogueira poderão sugerir uma inferência no feminino:

Rua Ala dos Namorados (Deliberação em Reunião de Câmara de 02­‑07­‑1987) – “Artéria localizada na urbanização da Quinta da Granja, cujo topónimo, pitoresco, foi englobado num conjunto dedicado ao roman­tismo, como são o caso da Rua dos Amores e Rua dos Abraços”.

Rua da Facha (Deliberação em Reunião de Câmara de 19­‑11­‑1995) – “Topónimo derivado do nome do Lugar histórico (Lugar da Facha)”.

(continua)

 

Referências Bibliográficas

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Notas

1Licenciada em História, pela Universidade de Coimbra, mestre em História das Instituições e Cultura Moderna e Contemporânea, na Universidade do Minho. Conjugou a lecionação com múltiplas ações de defesa, estudo e divulgação do Património Cultural, dedicando­‑se com mais incidência à difusão do livro e incremento do gosto pela leitura. Aposentada.