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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.43 Lisboa jun. 2020

https://doi.org/10.34619/eafb-md78 

ESTUDOS

Assimetrias de género na(s) engenharia(s) em Portugal: Dinâmicas e desafios

Gender imbalances in engineering in Portugal: Dynamics and challenges

Catarina Teixeira*
https://orcid.org/0000-0002-7637-9390

Sara Falcão Casaca**
https://orcid.org/0000-0002-7944-5007

* Mestre em Gestão de Recursos Humanos. Universidade de Lisboa, ISEG - School of Economics & Management 1200-781 Lisboa, Portugal. tscatarina912@gmail.com

** Professora Associada com Agregação Universidade de Lisboa, ISEG - School of Economics & Management, SOCIUS (Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações/CSG Departamento de Ciências Sociais 1200-781 Lisboa, Portugal. sarafc@iseg.ulisboa.pt


 

RESUMO

Este artigo centra-se na representação de homens e mulheres nas engenharias em Portugal, tanto ao nível da educação como do exercício da profissão de engenheiro/a. Evidencia-se que a engenharia permanece essencialmente representada por homens, sendo a designação no plural (engenharias) aquela que mais se adequa ao panorama nacional. Há áreas da engenharia onde a proporção do sexo feminino supera a do sexo masculino, e outras onde prevalece um padrão de hegemonia masculina. Os processos de socialização genderizados continuam a moldar as opções educativas de rapazes e raparigas, condicionando as suas aspirações e oportunidades profissionais e contribuindo para a reprodução da segregação sexual das profissões.

Palavras-chave: Engenharia(s), género, assimetria, segregação sexual, igualdade.


 

ABSTRACT

This article focuses on the representation of men and women in engineering in Portugal, both at the tertiary level of education and professional practice. A key conclusion is that despite the gender imbalances and the overrepresentation of men, the adoption of the plural form (engineering fields) is the most adequate one to describe the current national context. There are domains where women outnumber men, whereas other still prevail as male-dominated areas. Gendered socialisation processes are still shaping the educational options of boys and girls, therefore constraining their career aspirations and opportunities, as well as reproducing gender-based occupational segregation.

Keywords: Engineering, gender, imbalance, gender-based segregation, equality.


 

1. Introdução

Este artigo centra-se na representação de homens e mulheres nas engenharias em Portugal, tanto ao nível da educação/formação como do exercício da profissão de engenheiro/a. Prevalecem assimetrias de género nas opções educativas ao nível do Ensino Superior (ES), estando as mulheres ainda sub-representadas nos cursos de Engenharia. Essa assimetria acentua-se no plano profissional: os homens estão, em média, duas vezes mais representados na profissão de engenheiros do que as mulheres (OECD, 2017). A literatura, que sinteticamente revisitamos no segundo capítulo, tem-se debruçado sobre as razões subjacentes à sub-representação de mulheres nas áreas educativas/formativas e profissionais ligadas à engenharia.

Tal como apresentado no terceiro capítulo, o estudo seguiu uma metodologia mista, cruzando a recolha e análise de dados estatísticos provenientes de fontes de informação oficiais, respeitantes a diplomados/as do Ensino Superior (ES) e membros da Ordem dos Engenheiros (OE), com a recolha e análise de informação de natureza qualitativa. Neste âmbito, com o apoio da OE, foram realizadas entrevistas em profundidade a membros que integram os diversos colégios de especialidade, com o intuito de apreender as suas perceções acerca das dinâmicas no domínio da representação de homens e mulheres nas engenharias e as suas experiências individuais como engenheiros/as.

Concluímos que as dinâmicas de superação das assimetrias marcadas pelo género na formação superior em Engenharia têm sido relativamente tímidas. Evidenciamos neste artigo que esta é ainda uma área essencialmente representada por homens, sendo a designação no plural (engenharias) aquela que mais se adequa ao panorama atual. Uma das principais mudanças a registar decorre da crescente diversidade de áreas associadas à engenharia: há áreas onde a proporção do sexo feminino supera a do sexo masculino e outras onde prevalece um padrão de hegemonia masculina. As representações sociais cristalizadas em torno das características e atributos das mulheres e dos homens continuam, portanto, a sustentar estereotipias e uma socialização diferenciada em função do género. Esta socialização genderizada molda as opções educativas e formativas de rapazes e raparigas, condicionando as suas aspirações e futuras oportunidades profissionais e contribuindo para a reprodução da segregação sexual das profissões.

2. Assimetrias de género e engenharia: revisão da literatura

Que fatores explicam a sub-representação de mulheres?

Vários estudos têm sublinhado que, não obstante a crescente integração das mulheres em cursos superiores tradicionalmente tipificados como masculinos, ainda se constatam consideráveis assimetrias de género. As mulheres permanecem sub-representadas em várias áreas de formação e profissionais, como é o caso da engenharia (Diekman et al., 2017; Saavedra et al., 2011). Os fatores culturais são apontados como aqueles que mais contribuem para esta evidência, destacando-se as conceções estereotipadas em função do género. Tal pressupõe que as representações sociais profundamente cristalizadas sobre o que significa ser mulher ou ser homem, os papéis sociais que devem ocupar, as características que lhe estão associadas e os ideais dominantes de feminilidade e masculinidade têm sustentado padrões de socialização marcados pelo género (genderizados) (Casaca & Lortie, 2017). Estes padrões moldam os processos identitários - i.e., as representações subjetivas que homens e mulheres elaboram sobre si próprios/as (Amâncio, 1994).

Saavedra (2010) esclarece que, até aos 12-13 anos de idade, o número de raparigas e rapazes interessadas/os pelas Ciências, Engenharias e Tecnologias (CET) é similar. Após essa idade, regista-se um decréscimo no número de raparigas que elegem esses domínios de estudo. Este facto reflete a influência da socialização nas opções educativas/formativas e nas consequentes oportunidades profissionais de homens e mulheres (Dasgupta & Stout, 2014; Ferreira, 1993; Saavedra et al., 2011; Sarkar, Russell & Stuart, 2014; Schuster & Martiny, 2017). Ainda neste âmbito, importa sublinhar a associação simbólica entre masculinidade e competências técnicas, a que acresce o facto de as imagens e as representações culturais das tecnologias convergirem com as imagens da masculinidade (Faulkner, 2001).

As expectativas são distintas em função do género: os homens são perspetivados como mais competentes para determinadas áreas profissionais, como é o caso da engenharia, e as mulheres naturalmente mais vocacionadas para as humanidades e as ciências sociais (Saavedra et al., 2013). Subjacentes a tais expectativas estão as associações estereotipadas relativamente a homens e a mulheres - no caso deles, enfatizando características como a capacidade de raciocínio lógico e abstrato, a imparcialidade, a objetividade, a inclinação natural para o manuseamento de equipamentos técnicos, para inovar e criar engenhos; no caso delas, para educar, cuidar, gerir emoções e interagir com seres humanos (Amâncio, 1994; Casaca & Lortie, 2017). Relativamente às mulheres, emerge, assim, frequentemente, uma desconfiança sobre as suas aptidões e capacidades para se adaptarem às características dos contextos organizacionais e das profissões socialmente tipificadas como masculinas (Von Hippel, 2011; Santos & Amâncio, 2014). Um dos efeitos é o défice de confiança das mulheres quanto às áreas formativas e profissionais tecnológicas ligadas à engenharia (Sarkar, Russell & Stuart, 2014).

Os estudos têm também sublinhado o facto de as mulheres em Portugal terem melhores resultados que os homens nos exames de matemática, física e química, bem como de biologia e geologia - áreas fundamentais para o ingresso em cursos superiores de engenharia (OECD, 2017). Todavia, são ainda escassos os estudos sobre esta temática no país (veja-se, e.g., Rodrigues, 2004; Saavedra, 2010; Saavedra et al., 2011; Saavedra et al., 2013; Saavedra et al., 2014; Saavedra & Araújo, 2015).

A investigação já produzida tem salientado que a entrada das mulheres na engenharia foi favorecida pelas transformações registadas no sistema de ensino e de organização do trabalho nesta área. Se a atividade de engenharia havia nascido associada à atividade militar e ao serviço do Estado, acabaria por evoluir como atividade moderna, no domínio civil, e crescentemente diversificada. Por conseguinte, passou a constituir uma área de formação e profissionalização com crescentes oportunidades para as mulheres (Rodrigues, 2004). Além disso, como recordado por Coelho e Ferreira (2018), reconfirmando dados anteriores (Ferreira, 1993), Portugal apresenta a singularidade de reunir uma elevada feminização das profissões técnico-científicas em geral, refletindo o investimento das raparigas das classes sociais mais favorecidas em educação/formação superior, incluindo em áreas tipificadas como tradicionalmente masculinas (sobretudo nos casos em que as mães são detentoras de um diploma de nível superior).

Ainda no contexto nacional e em linha com as conclusões de outros estudos realizados noutros contextos, Saavedra e Araújo (2015) referem que as mulheres tendem a interrogar a sua autoeficácia em relação à engenharia, manifestando algumas inseguranças e dificuldades em ingressar em profissões socialmente tipificadas como masculinas, a que se associam processos discriminatórios, ou pelo menos pouco inclusivos, nos respetivos locais de trabalho. Este padrão tem contribuído para que muitas mulheres se afastem de domínios de atividade relacionados com a engenharia e revelem uma maior preferência por cursos superiores ligados às áreas sociais, mais alinhadas com o ideal dominante de feminilidade e com funções referentes ao “cuidar” e ao educar, onde as capacidades de relacionamento interpessoal estão particularmente presentes (Saavedra et al., 2011; Casaca, 2012).

A Engenharia como um domínio tipificado como masculino: razões explicativas. Importa notar que o ingresso num curso superior de engenharia nem sempre assegura que, mais tarde, as mulheres exerçam efetivamente a profissão de engenheiras. A literatura aponta como razões explicativas os enviesamentos em função do género nos processos de recrutamento e seleção, assim como a existência de práticas de discriminação nos contextos organizacionais onde essas profissões são particularmente requeridas (Saavedra et al., 2011; Diekman et al., 2017). Por conseguinte, mesmo quando detêm as credenciais académicas adequadas, muitas mulheres acabam por abandonar ou por atenuar as aspirações de uma carreira profissional como engenheiras. Trata-se de decisões que decorrem da perceção dos constrangimentos organizacionais, das pressões internas, dos mecanismos discriminatórios (diretos ou indiretos), tanto nos contextos de educação como nos locais de trabalho (Silva, 2010).

A metáfora leaky pipeline tem permitido ilustrar a sucessão de bloqueios à plena integração e realização profissional das mulheres no mundo das engenharias, fomentando a sua progressiva sub-representação ou mesmo desaparecimento (Blickenstaff, 2005). Tal sucede porque as organizações são contextos genderizados (Acker, 1990). Quanto menor a representação de mulheres numa determinada organização ou profissão, mais a marca da masculinidade está impregnada nas políticas, processos e práticas de gestão e de trabalho, criando um contexto que muitas mulheres experienciam como hostil (Kanter, 1977; Powell, Bagilhole & Dainty, 2009; Santos & Amâncio, 2014).

Dada a associação entre masculinidade e engenharia, muitas mulheres engenheiras encontram-se em “posições socialmente contraditórias” (Nogueira, 2009) - i.e., exercem uma profissão que desafia as normas e as expectativas sociais dominantes, ocupando portanto um lugar reservado a um homem. Nestas circunstâncias, são frequentemente confrontadas com a necessidade de negociação identitária; ou seja, ao serem primeiramente vistas como mulheres, sentem-se pressionadas a afirmar a sua credibilidade enquanto engenheiras (Hatmaker, 2013). Em contextos organizacionais marcadamente masculinos, muitas mulheres tendem a atenuar a sua visibilidade, ajustando-se à cultura organizacional e à norma masculina dominante (Powell, Bagilhole & Dainty, 2009), ou, em alternativa, optam por exercer uma outra profissão (Blickenstaff, 2005). As dinâmicas organizacionais prevalecentes condicionam por vezes as suas oportunidades de desenvolvimento e de progressão profissional, as recompensas e os salários auferidos (Saavedra et al., 2014; Saavedra & Araújo, 2015). O isolamento é outro ponto crítico nos contextos de hegemonia masculina, pois as mulheres relatam frequentemente a exclusão de eventos e de redes formais e informais que são, no fundo, determinantes para a aquisição de capital social (Hill et al., 2010). A literatura tem igualmente sublinhado as consequências negativas dos mecanismos de discriminação (direta ou indireta) para as respetivas organizações. Sempre que o oleoduto pinga[1] afasta as mulheres do exercício da profissão ou da progressão profissional, ocorre uma “fuga de cérebros silenciosa” que implica uma perda assinalável de saber e conhecimento (Hewlett & Luce, 2005). Segundo esta perspetiva a, perda de capital humano penaliza o próprio desenvolvimento e desempenho das organizações (Diekman et al., 2017).

3. Trabalho empírico: metodologia, apresentação e discussão dos resultados

3.1 Nota metodológica. O estudo combinou os métodos quantitativos e qualitativos, procurando evidenciar as dinâmicas mais recentes em termos de representação de homens e mulheres nos diversos ramos da Engenharia. Foram coligidos e analisados dados de âmbito nacional referentes ao Ensino Superior (ES), tendo como fonte de informação as estatísticas disponibilizadas pela Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC). Procedeu-se depois ao filtro de todos os cursos de Engenharia, de modo a efetuar a análise do número de diplomados/as nos diversos ramos e ciclos de estudo. Este filtro foi aplicado aos anos letivos de 2012-2013 e de 20162017. A opção pelo ano letivo de 2012-2013 como marco de início da pesquisa decorre do facto de as nomenclaturas relativas aos graus de ensino se encontrarem, a partir dessa data, harmonizadas, permitindo uma comparação mais fiável do número de detentores/as de diplomas de Licenciatura (1.º ciclo), de Licenciatura de Mestrado Integrado, de Mestrado (2.º Ciclo) e de Doutoramento (3.º Ciclo). À data de realização da pesquisa, os dados oficiais mais atualizados reportavam ao ano letivo de 2016-2017.

Complementarmente, foi realizado um diagnóstico do perfil de membros da Ordem dos Engenheiros (OE), tendo em conta os respetivos colégios de especialidade[2]. A informação foi disponibilizada pela Direção da OE em maio de 2018, após a assinatura de um acordo de cooperação relativamente à realização do estudo. Embora os dados estejam longe de permitir um retrato do exercício da profissão de engenharia por sexo, dado que apenas dizem respeito a membros inscritos, permitiram a obtenção do retrato desta associação profissional de referência no domínio da Engenharia.

A partir da colaboração da OE, foi ainda possível agendar entrevistas com homens e mulheres engenheiros/as. Procurou-se, assim, incorporar também uma abordagem mais qualitativa, através da técnica de entrevista individual semiestruturada e da respetiva análise de conteúdo. Foram realizadas oito entrevistas entre maio e setembro de 2018, abordando essencialmente as perceções acerca da representação de homens e mulheres nas engenharias e as experiências individuais como engenheiros/as. As pessoas entrevistadas (cinco homens e três mulheres) foram selecionadas tendo em conta a representação dos vários ramos de Engenharia. O convite à participação no estudo foi formalizado via e-mail, através da articulação com os serviços da OE. As entrevistas foram realizadas presencialmente na sede da OE com recurso a um guião de entrevista, após a assinatura da declaração de consentimento, e gravadas em formato áudio. Posteriormente, os contributos foram organizados por categorias temáticas, tendo-se procedido à respetiva análise de conteúdo.

3.2. Mulheres e homens no ensino superior: os ramos da engenharia em Portugal. De acordo com os dados disponibilizados pela DireçãoGeral de Estatísticas de Educação e Ciência (DGEEC), ilustrados na Figura 1, é evidente que há mais mulheres do que homens no total de diplomadas/os do ensino superior. A curva referente à taxa de feminização[3] demonstra um decréscimo desde 2000-2001, que se acentua após 2004-2005, verificando-se depois uma relativa estabilização dos valores a partir de 2007-2008.

 

 

 

É assim interessante notar que, à semelhança dos dados trabalhados por outras/os investigadoras/es, a percentagem de mulheres na engenharia não tem evoluído de forma assinalável. Em 1980-1981, elas totalizavam um quarto dos diplomados/as em engenharia (Martinho, 2006). A nossa investigação vem confirmar que as dinâmicas de superação das assimetrias marcadas pelo género na formação superior em Engenharia têm sido relativamente tímidas. A análise do número de diplomados/as nos diversos ramos das engenharias nos anos letivos de 2012-2013 e de 2016-2017 [4] permite constatar um decréscimo na representação de mulheres licenciadas (1.º Ciclo): a proporção passou de cerca de 27% para 24%. No entanto, nos demais ciclos de estudos há a notar um ligeiro aumento; assim, as mulheres diplomadas em cursos de licenciatura de mestrado integrado e em cursos de mestrado (2.º Ciclo) perfazem cerca de um terço do total de diplomados/as.

É, contudo, ao nível do 3.º ciclo (doutoramento) que a proporção de mulheres mais se faz notar: quatro em cada dez diplomados/as eram, em ambos os anos, do sexo feminino. Este indicador deve, porém, ser interpretado com prudência e moderar análises mais otimistas. Como nos é recordado por Coelho e Ferreira (2018), a fraca dinâmica do mercado de trabalho ao nível das qualificações mais elevadas fomenta, em muitos casos, o prolongamento do ciclo de estudos; logo, os dados relativos ao grau de doutoramento podem apenas indiciar a escassez de alternativas profissionais fora do ensino e da investigação (veja-se também Casaca & Chagas Lopes, 2009).

Uma análise mais fina dos dados disponíveis permite-nos verificar que, se as mulheres permanecem sub-representadas ao nível da engenharia em geral, há nuances a assinalar no panorama das engenharias. De facto, uma das principais mudanças a registar decorre da crescente diversidade de áreas e de opções educativas/formativas e profissionais neste domínio (Rodrigues, 2004). Há, assim, áreas da engenharia onde a proporção do sexo feminino supera a do sexo masculino (Quadro 1). Referenciando os cursos com maior número de diplomados/as em Licenciaturas (1.º Ciclo) e Licenciaturas de Mestrado Integrado, há a destacar alguns ramos “feminizados”, onde a representação de mulheres é superior a 60%. Assim sucede com as áreas de Engenharia Biológica (onde cerca de 75% do total de diplomados/as são do sexo feminino), Engenharia Alimentar (onde esse valor se aproxima igualmente de 75%) e Engenharia de Química e de Processos (ramo que inclui Engenharia Bioquímica, Engenharia Biomédica, Bioengenharia e Biotecnologia), onde as diplomadas perfazem 67% do total.

 

 

Por outro lado, a hegemonia masculina ainda prevalece em cursos associados a várias áreas, como sejam: Eletrónica e Automação (que inclui engenharia informática, de software e de telecomunicações), onde os homens representam cerca de 88% do total de diplomados/as; Metalurgia e Metalomecânica, onde esse valor ronda os 87%; e Engenharia Civil, onde o sexo masculino soma aproximadamente 70% do total de diplomados/as.

Outras áreas refletem uma composição mista (ou quase): são os casos de Engenharia e Gestão Industrial, Engenharia do Ambiente e Engenharia de Produção Agrícola e Animal (ramo que inclui as Engenharias Zootécnica e Agronómica), onde cerca de 55%, 45% e 42%, respetivamente, das pessoas diplomadas são mulheres.

Assim, refletindo as assimetrias simbólicas inscritas na ordem de género (Connell, 1987) nas opções educativas/formativas, as mulheres parecem preferir áreas de formação e de profissionalização associadas à provisão de bens e serviços relativos aos seres vivos e à vida em geral, enquanto os homens elegem áreas formativas que os capacitam para profissões relacionadas com infraestruturas físicas, artefactos tecnológicos, máquinas e ferramentas (Wang & Degol, 2013).

De modo a apreender qual a representação de mulheres e homens a exercer engenharia, analisámos o perfil de associados/as da Ordem dos Engenheiros (OE), tendo também em conta os respetivos colégios da especialidade. Importa destacar que são dados que estão longe de permitir um retrato do exercício da profissão de engenharia, por sexo, dado que apenas dizem respeito a membros inscritos. Ainda assim, é possível traçar a situação atual da OE, ajustando-se aos propósitos da investigação (v. nota metodológica). Neste caso cabe notar que a marca do género é ainda mais vincada entre os vários colégios de especialidade: a área de Ambiente é feminizada (65,8% de mulheres no total), a Química e Biológica é quase mista (46%), a que se seguem as áreas Geográfica (41,4%) e Florestal (39,9%). Outras áreas revelam-se ainda domínios esmagadoramente masculinos: assim sucede com Mecânica (93,8% de homens), Eletrotécnica (91,9%), Naval (91,2%), Informática (86,8%), Civil (78,1%) e Materiais (74,9%). Atualmente, como se pode constatar no Quadro 2, a OE reúne 47 382 membros, distribuídos por 37 516 homens (79%) e 9866 mulheres(21%).

 

 

3.3. Ser engenheiro/a, exercer engenharia: narrativas sobre as persistências e as dinâmicas no exercício da profissão. Procurou-se enriquecer o estudo com uma abordagem qualitativa. Sem qualquer pretensão de representatividade, os testemunhos recolhidos serviram para ilustrar, ainda que a título exploratório, as perceções acerca das (as)simetrias de género e das respetivas experiências profissionais. Foram realizadas oito entrevistas, especificamente a três mulheres (EM1, EM4 e EM5) e a cinco homens (EH2, EH3, EH6, EH7 e EH8), com idades compreendidas entre os 43 e os 67 anos, maioritariamente com filhos/as (75%). Integram oito dos doze colégios (especialidades) - Agronomia, Ambiente, Civil, Geográfica, Informática, Materiais, Mecânica e Química e Biológica - e são todos/as pertencentes à região Sul.

Em linha com o exposto pela literatura, os depoimentos das pessoas entrevistadas sugerem a exposição, desde a infância, a conceções estereotipadas acerca das aptidões e vocações profissionais mais adequadas a homens e mulheres. Matemática, por exemplo, tende a ser socialmente vista como um domínio para o qual os homens têm mais vocação que as mulheres, assim como a aptidão natural para lidar com objetos e manipular engenhos. Humanidades, por outro lado, permanece percecionada como uma área mais ajustada às vocações “naturais” das mulheres, tal como todos os ramos de formação que tenham a ver com o relacionamento e a interação com pessoas. A este respeito um entrevistado indica:

“Tive alguns professores no [ensino superior], da velha escola, que achavam e diziam, (…) ‘ai, raparigas é para tachos e panelas’ - coisas que sempre me fizeram um pouco de confusão.” (EH2)

Verifica-se uma clara perceção de que existem barreiras sociais e psicológicas que têm impacto na escolha da área de educação e formação. Em contrapartida, quase todos/as os/as entrevistados/as, independentemente do sexo, reconhecem a influência de familiares na opção pela engenharia. A título de exemplo:

A primeira vez que disse que queria ser Engenheira tinha sete anos e tinha de facto a influência de um primo que era engenheiro químico. Foi ele de facto que foi o meu orientador (…). Em relação à área alimentar - eu nasci, digamos, na área alimentar porque o meu pai tinha uma empresa alimentar; portanto era quase obrigatório assistir e dar assistência.” (EM5)

Tal como evidenciado em muitos outros estudos, quando as mulheres crescem num ambiente que promove o interesse pelas engenharias, são mais propensas a identificar-se com esse domínio formativo e profissional (Sarkar, Russell & Stuart, 2014).

Os/as entrevistados/as detêm, maioritariamente, experiência profissional tanto no setor público como no privado, estando conscientes da existência de segregação sexual nas profissões e nas hierarquias das empresas/organizações. A seu ver, a segregação reflete-se no acesso ao emprego, nas condições de trabalho (salários, por exemplo) e nas oportunidades de progressão na carreira.

Foram relatadas pelas engenheiras algumas vivências de discriminação, assim como de competição entre colegas. Estes testemunhos estão em linha com as conclusões de outros estudos que têm evidenciado as experiências negativas vividas pelas mulheres em contextos organizacionais de hegemonia masculina (Santos & Amâncio, 2014; Silva, 2010). Alguns dos aspetos estruturais referidos estão relacionados com a dificuldade de acesso a eventos (in)formais e de integração. Os excertos seguintes clarificam este fenómeno:

“Fui a primeira engenheira a entrar para [o meu local de trabalho], (…) aquilo não foi absolutamente nada fácil. Em termos pessoais, era fácil darmo-nos bem; em termos de trabalho, (…) era complicado ser-se mulher naquele meio, [pois] havia tarefas que não me eram facultadas. Achavam que era para homens andarem no rio porque as mulheres não andavam lá pura e simplesmente. Depois também foi difícil chegar à chefia (…).” (EM4)

“Acho que há bastantes mulheres, mas, à medida que nós vamos caminhando para o topo das organizações, a proporção de mulheres vai diminuindo.” (EH7)

Segundo os/as entrevistados/as, há resistências ao recrutamento de mulheres, sobretudo devido à possibilidade de estas engravidarem e às questões inerentes à conciliação trabalho-família que elas tendem a assegurar. As entrevistadas têm, porém, uma trajetória que evidencia a centralidade da atividade profissional na construção das suas identidades e da sua realização profissional. Aquelas que tinham crianças a cargo admitiram que o suporte da família foi fundamental para atingirem o nível de produtividade e de desempenho exigido pelas organizações. Sobre esta realidade, uma entrevistada manifesta:

“Em termos técnicos e profissionais, não [existem diferenças de género]; em termos de tempo, sim, porque é muito mais fácil a um homem ter tempo do que a uma mulher. Uma mulher tem que ir ao mercado, tem que fazer os pequenos-almoços para os garotos e pôr os almoços nas lancheiras, tem que levantar-se às seis da manhã para fazer isso tudo (…). (EM5)

Apesar de os/as entrevistados/as relatarem que os homens assumem mais as responsabilidades familiares, as mulheres continuam ainda a assegurar a maior parte das mesmas. Estes testemunhos não suscitam surpresa, se atendermos aos resultados do último estudo sobre os usos do tempo de mulheres e homens em Portugal e à evidência de que as mulheres, em geral, continuam a dedicar mais tempo às atividades domésticas e relativas ao cuidar que os homens (Perista et al., 2016). Este desequilíbrio acentua as dificuldades de progressão na carreira profissional (Silva, 2010), conforme expõe esta entrevistada:

“Muitas vezes a própria gestão familiar o que diz é: há um que vai para a frente e outro que vai para trás [em termos profissionais]. O meu caso foi [fiquei atrás] (…).” (EM5)

Ainda assim, as mulheres entrevistadas procuraram, nos respetivos contextos profissionais, ter um desempenho que em nada ficasse aquém do dos seus pares do sexo masculino, integrando um discurso assente na igualdade. Este depoimento assim o ilustra:

“Cheguei a coordenar cerca de 44 pessoas, fundamentalmente mulheres, nunca tive problemas, digamos, de género. Lá está, se calhar por vir de um curso de mulheres sempre achei que trabalhavam bem. (…) Parte dos trabalhos [em que tinha experiência] eram trabalhos duros de inspeção industrial. Costumo dizer, e é verdade, que passei três anos da minha vida a subir chaminés; e, pronto, as minhas equipas que faziam esse trabalho tinham inclusivamente mulheres (…) nenhuma tinha problemas: calçavam as botas, vestiam o fato-macaco e subiam como os outros. Nunca achei que houvesse tarefas para homens e para mulheres. As pessoas estão um bocado formatadas [porque acham que] determinadas funções são para homens e outras para mulheres. Quanto a mim, não me faz muito sentido, à partida qualquer um pode fazer.” (EH2).

4. Conclusões finais

Evidenciámos neste artigo que a engenharia em Portugal permanece essencialmente representada por homens, embora a designação no plural (engenharias) seja a que hoje mais se adequa ao panorama nacional. Uma das principais mudanças a registar decorre da crescente diversidade de áreas e de opções educativas/formativas e profissionais no domínio da Engenharia (Rodrigues, 2004). Há, assim, ramos onde a proporção do sexo feminino supera a do sexo masculino. São os casos, por exemplo, da Engenharia Biológica e do ramo da Química e de Processos (onde se incluem a Engenharia Bioquímica, a Engenharia Biomédica, a Biotecnologia e a Bioengenharia). A hegemonia masculina ainda prevalece em vários domínios, destacando-se a Eletrónica e Automação, a Metalúrgica e Metalomecânica, e a Engenharia Civil. À semelhança de outros estudos já realizados, é assim evidente a persistência de uma linha de género nas opções educativas/formativas; as mulheres tendem a optar por áreas de formação e de profissionalização em engenharia mais associadas à provisão de bens e serviços relativos aos seres vivos e à vida em geral, enquanto os homens continuam a eleger áreas formativas que capacitam para profissões relacionadas com infraestruturas físicas, máquinas e artefactos tecnológicos (Wang & Degol, 2013).

As representações sociais cristalizadas em torno das características e atributos das mulheres e dos homens continuam, portanto, a sustentar estereotipias e uma socialização diferenciada em função do género. Esta socialização genderizada molda as opções educativas e formativas de rapazes e raparigas, condicionando as suas aspirações e oportunidades profissionais e contribuindo para a reprodução da segregação sexual das profissões. As entrevistas realizadas dão conta de que a socialização é determinante, sendo que tanto as mulheres como os homens engenheiras/os entrevistadas/os foram precocemente estimuladas/os, no respetivo contexto familiar, para a engenharia ou disciplinas que lhe são nucleares. Segundo os seus depoimentos, a segregação reflete-se no acesso ao emprego, nas condições de trabalho (salários, por exemplo) e nas oportunidades de progressão na carreira. Foram relatadas pelas engenheiras algumas vivências de discriminação e dificuldades de integração nas empresas/ organizações. Assim, as mulheres entrevistadas procuraram, nos respetivos contextos profissionais, ter um desempenho que em nada ficasse aquém dos seus pares do sexo masculino, integrando um discurso assente na igualdade. As resistências ao recrutamento de mulheres são fundamentalmente atribuídas à possibilidade de estas engravidarem e às questões inerentes à conciliação trabalho-família que tendem a assegurar. As entrevistadas têm, porém, uma trajetória que evidencia a centralidade da atividade profissional na construção das suas identidades e da sua realização profissional.

O estudo por nós desenvolvido não teve a pretensão da exaustividade, mas tão-só o objetivo de contribuir para o debate científico, em particular no plano nacional, considerando que são ainda escassos os estudos sobre este tema. Assume-se, assim, como uma investigação que merece uma maior extensão e aprofundamento.

 

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Receção: 08/04/2020. Aceite para publicação: 27/05/2020

 

[1] Tradução de leaky pipeline, fenómeno anteriormente referido.

[2] Colégios: Agronomia, Ambiente, Civil, Eletrotécnica, Florestal, Geográfica, Geológica e Minas, Informática, Materiais, Mecânica, Naval, Química e Biológica.

[3] A taxa de feminização é calculada a partir do rácio entre o número de mulheres que obtiveram um diploma de ensino superior e o total de alunos/as nas mesmas circunstâncias, em cada ano em análise.

[4] Como referido na nota metodológica, a opção por iniciar a pesquisa com o ano letivo de 2012-2013 decorre do facto de as nomenclaturas relativas aos graus de ensino se encontrarem, a partir dessa data, harmonizadas, permitindo uma comparação mais fiável do número de alunos/as inscritos/ as em cursos de Licenciatura (1.º Ciclo), Licenciatura de Mestrado Integrado, Mestrado (2.º Ciclo) e Doutoramento (3.º Ciclo).

[5] A taxa de feminização é calculada a partir do rácio entre o número de mulheres que obtiveram um diploma em cada ciclo de estudos do ensino superior e o total de alunos/as nas mesmas circunstâncias, em cada ano em análise.