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Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versão impressa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.45 Lisboa jun. 2021  Epub 30-Nov-2021

https://doi.org/https://doi.org/10.34619/ecu7-s4mj 

Entrevista

Maria Soromenho (Callaz): Música, moda e feminismo nos três “l” de Callaz

Maria Luísa Moreirai 

1i Universidade NOVA de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, Portugal.


Diana de Sá 

Maria Soromenho nasceu e cresceu em Setúbal, uma cidade com a qual diz ter uma ligação e um carinho especial. Quando lhe pergunto a que locais da capital portuguesa se devem os primórdios da sua carreira, depressa me corrige para indicar que é até à Serra da Arrábida que temos de viajar para conhecer as raízes de Callaz. Acrescenta ainda que, apesar de não surgir na maioria das conversas sobre o seu percurso musical, esta referência aos espaços abertos e soalheiros da Arrábida tem um valor e significado insubstituível - é um sítio onde gosta sempre de voltar e que, por fazer parte de si, acaba por inconscientemente ter um papel no seu trabalho criativo.

Licenciada em Design pelo IADE, em Lisboa, e pela École Supérieure des Arts Appliqués Duperré, em Paris, Maria Soromenho especializou-se em Cenografia e estagiou na IGEP, em Bruxelas, integrando a equipa de design gráfico. Trabalhou depois na área de conservação de moda no Musée de la Mode et du Textile parisiense, colaborando na montagem da exposição Hussein Chalayan - Récits de mode. Esta paixão simbiótica levou-a a focar-se em design de moda e a mudar-se para Londres, cidade que lhe deu a conhecer (e a colaborar com) grandes nomes da indústria como Craig Lawrence, Peter Pilotto, Julia Pines, Richard Nicoll, Pam Hogg, Diane Von Furstenberg e Fannie Schiavoni. Aí conquista também uma colaboração na Paris Fashion Week e na Wonderland Magazine, acabando mais tarde em Nova Iorque com a marca Slow and Steady Wins the Race.

Em 2013, começa a sua marca Maria Soromenho, um momento decisivo naquilo que é hoje uma carreira dinâmica, multifacetada e interdisciplinar. Este seu novo projeto de criação de roupa e lenços de seda, muito ligado e inspirado pelo universo musical, permite-lhe levar as suas peças a estilistas e editoriais de revistas tais como a Dazed & Confused. Vendeu parte das suas coleções online e em Londres, na Bethnal Green Road; fez residência artística em Xangai na Pantocrátor Gallery, e expôs a solo com Beat Me Out of Me, em 2015. Um ano mais tarde, expôs também em Lisboa na Galeria Verso Branco, integrando a exposição coletiva Demoiselles.

Vive um ano em Los Angeles e é nessa altura que decide enveredar pela música, gravando a sua primeira canção na Lolipop Records. Volvida a Portugal, no início de 2017, decide começar Callaz, um projeto inteiramente autodidata. O seu percurso labiríntico e solista já permitiu marcar presença nos mais variados palcos, desde Lisboa, Madrid, Malmö, Reykjavík e Berlim, até Los Angeles e Nova Iorque, onde tocou nas prestigiadas salas The Bowery Electric e Rockwood Music Hall.

Em pleno confinamento, acaba de lançar o seu sexto título numa discografia em constante amadurecimento. Por enquanto encontra-se em Lisboa a planear os próximos passos do seu percurso profissional, altura em que nos sentamos virtualmente à conversa.

Maria Soromenho nasceu e cresceu em Portugal, mas cedo se aventurou pelos quatro cantos do mundo. De que forma é que os três “L” - Lisboa, Londres e Los Angeles - contribuíram para o desenvolvimento do mundo de Callaz?

Embora tenha morado e crescido primeiramente em Lisboa, é apenas em Londres que se desenham os esboços daquilo que mais tarde se transforma no projeto Callaz. É nesta cidade que começo a perceber a importância emocional que a música tem para mim, ainda que de uma maneira distante e completamente desinteressada. Sempre quis alimentar a minha vontade de trabalhar de maneira interdisciplinar, e o universo musical acabou por ser um ponto fulcral e presente no meu trabalho enquanto estudava, estagiava e trabalhava em design de moda e artes visuais. Nessa altura a música e os artistas musicais começaram a ser uma parte crucial do meu dia. Mais tarde, em Los Angeles, decido enveredar por esse caminho e é novamente em Lisboa que inicio o meu projeto a solo. No fundo, foi em Londres que senti uma profunda liberdade criativa e um balanço simbiótico e dinâmico entre disciplina de trabalho e imaginação sem limites. Assim, é neste ambiente altamente multicultural e enérgico que começa a surgir a ideia de Callaz.

Na verdade, senti sempre uma grande diferença entre Los Angeles e a Europa. Hoje reconheço que, se não tivesse abrandado durante o período de transição entre continentes, não sei se teria tido o tempo e o espaço mental para repensar o meu percurso e lançar-me de maneira quase ingénua noutra direção, para entrar num mundo que estava longe de dominar. De volta a Lisboa, encontrei as condições ideais para logo nas primeiras semanas começar o projeto. Foi o fechar de um ciclo e o início de outro.

Apesar de estar ainda em início de carreira, os nomes Maria Soromenho e Callaz têm vindo a ganhar cada vez mais reconhecimento. O que há por trás do seu sucesso solista, autodidata e bifaciado?

Penso que o sucesso de qualquer projeto está ligado à sua integridade, à fidelidade que tem com a identidade de quem o esboça. Tento manter a ideia da raiz e estrutura do projeto bem consolidada para que não me perca conforme os desafios que vou atravessando. Falo das aptidões para seguir a minha intuição, manter um espírito aberto e vontade de experimentar, mas também para deixar o trabalho fluir, começando com uma ideia pequena e deixá-la crescer e seguir o seu caminho. No meu caso, apenas quando as ideias que formam a identidade do projeto são respeitadas, pode existir algum sucesso tangível. O desenvolvimento de carisma também foi extremamente importante para não ter receio de cometer erros e fomentar uma fuga constante da minha zona de conforto.

Em relação a Callaz especificamente, o facto de não ter tido uma educação musical faz com que a minha maneira de estar no mundo da música seja única - e totalmente inventada por mim-, o que consegui através de um longo processo de tentativa e erro que acabou por ser muito benéfico. Trabalhar a solo traz vários benefícios ao processo artístico, tais como celeridade e pragmatismo, mas também considero o trabalho em grupo e a colaboração com outros artistas duas atividades essenciais para a minha aprendizagem e desenvolvimento profissional.

Na verdade, nunca desprezei o conhecimento e os percursos ditos formais; procurei sempre saber mais sobre teoria musical, pois não tenho intenção de criar e fomentar um projeto inconsciente, destruturado e ingénuo. Não obstante, acredito que a minha composição ganhou a sua própria identidade com o facto de nunca ter tido uma educação musical formal, que poderia ter-me condicionado de raiz a determinados cânones e limitações criativas.

No entanto, ultimamente tenho estudado música de forma livre e espontânea, e sem a compreender por completo. Inicialmente este percurso sem rumo era algo que me alarmava, mas em 2018, na exposição retrospetiva do trabalho de Hilma af Klint, memorizei do último andar do Guggenheim a frase “Obey intuition! Understand only in part” (“Obedece à intuição! Compreende apenas uma parte”, em tradução livre) -,uma filosofia aplicada pela artista ao seu trabalho e que acabei por adotar também.

Podemos dizer que Callaz foi concebida nos ritmos do pop eletrónico, mas o seu percurso começou pelo mundo do design e pelas capitais da moda, nomeadamente Paris, Londres e Nova Iorque. De que forma tem esta simbiose entre música, design e cenografia contribuído para o seu desenvolvimento artístico?

Ao longo do meu percurso gostei sempre de imaginar as várias disciplinas de alguma maneira interligadas, e acho que isso se reflete no rumo que Callaz tomou. No início da minha carreira, quando criava objetos no contexto do design de moda, ou quando trabalhei brevemente em artes visuais, procurava e encontrava inspiração para esses projetos nas vertentes sonoras e históricas do universo musical. De facto, a produção musical, o design e a cenografia estão presentes não só no modo como planeio os telediscos em estúdio, imagino os figurinos, decido o que acontece em palco durante o concerto, esboço as capas dos álbuns e outros materiais visuais, como também no processo criativo de produção da música em si.

Penso que a simbiose de informação variada é extremamente positiva e enriquecedora em qualquer campo profissional, e esta é uma maneira de pensar e trabalhar que me é intrínseca. Os conhecimentos que adquiri e a forma como desenvolvi trabalhos noutras áreas, assim como as várias línguas nas quais sou fluente e com as quais tenho uma ligação emocional devido ao meu percurso profissional, acabam por se refletir no meu trabalho musical, de modo consciente ou inconsciente. O conhecimento e a experiência em diferentes áreas acabam por se juntar no processo criativo, interligando-se e respondendo umas às outras para criar, possivelmente, algo interessante e único.

Enquanto artista, Callaz representa uma presença jovem, feminina e emancipada num espaço historicamente associado ao masculino. Podemos dizer que ainda existem portas a derrubar de maneira a que as mulheres assegurem a sua presença no universo da música?

Sim, sem dúvida. A indústria da música, na minha opinião, continua a ser um mundo muito masculino. Podemos afirmar que tem vindo a melhorar e que existe uma enorme diferença entre os dias de hoje e qualquer outra década do século XX, por exemplo, mas continuamos a presenciar diariamente comportamentos e atitudes subtis que revelam uma cultura machista e sexista, de cariz estrutural, e completamente institucionalizada. Falando apenas do mundo ocidental, porque é aquele em que me insiro, posso afirmar que, como tantas outras mulheres músicas, tenho experienciado aquilo que é denominado como mansplaining (junção de man (homem) e explaining (explicar)). O mansplaining designa uma atitude condescendente dos homens para com as mulheres (com quem estão em pé de igualdade) quando lhes explicam alguma coisa, e isto sucede tanto em estúdio como em salas de concerto.

A maior parte das mulheres músicas que, tal como eu, chegam sozinhas ao soundcheck (a preparação em palco, com técnicos de som, que acontece sempre antes do concerto) já teve de lidar com perguntas como: “Foi o teu namorado que te ensinou isso?” ou “onde está o resto da banda?”. Felizmente este tipo de discurso e estes comportamentos são cada vez mais desprezados e desconsiderados pela indústria. É importante salientar que existe também uma enorme cultura de união entre mulheres e identidades não-binárias no universo musical, que se entreajudam e protegem. Realço grupos como Female Frequency (comunidade dedicada a robustecer e capacitar artistas) ou Beats by Girlz (um coletivo educacional presente em vários sítios do mundo, Lisboa inclusive, desenhado para ensinar produção musical e engenharia de som).

Os projetos que tem vindo a desenvolver são únicos não só pelo estilo pop em que se inserem, mas também por aquilo que representam. Como caracteriza a posição de Callaz na cultura da música eletrónica, e que importância tem tido a sua aposta na glorificação de influências e referências femininas?

Respondendo à primeira pergunta, a categorização de Callaz como figura do pop eletrónico tem sido feita geralmente por jornalistas e críticos, como acontece com a maioria dos projetos musicais. O conceito de música pop agrada-me no sentido em que pode ser considerada música para toda a gente e para todos os gostos. Se esta ideia não for desenvolvida ao extremo, tanto pode ser acessível como tornar-se desafiante.

Apesar de estar ainda longe de ter conseguido criar um som próprio e único, que motive a adoção de novos nomes para o definir, quando penso no que estou a fazer, tento sempre abstrair-me de quaisquer etiquetas que possam limitar as minhas possibilidades de criação artística. Isto prende-se com o facto de acreditar veementemente que os projetos mais desafiantes e especiais nascem da interseção de diferentes correntes musicais. Por esta razão, o meu objetivo é manter sempre um espírito livre e alimentar as minhas tendências para a experimentação.

É este espírito e audácia que admiro na maior parte das mulheres que glorifico nas minhas canções. Na faixa de introdução (Intro-Anti-Hero) do meu último disco, começo por mencionar nomes de artistas e personalidades que, ao viverem segundo as suas próprias regras, tanto no seu trabalho artístico como nas suas vivências pessoais, contribuíram para uma mudança tangível à sua volta. Nesta música menciono, por exemplo, Isadora Duncan, Lou Andreas-Salomé, Paula Rego, Anaïs Nin, Vali Myers, Brigitte Fontaine, Vi Subversa, Lee Miller, Elspeth Beard e Penny Arcade. Em trabalhos prévios escrevi sobre Mary Landon Baker, Romy Schneider, Florbela Espanca e Camille Claudel (esta última canção ainda não editada). Estou, neste momento, a escrever uma música inspirada por Juliette Gréco e menciono também a importância de Virginia Woolf e Judy Chicago no meu trabalho. Há uns anos, tive a oportunidade de ver a instalação The Dinner Party, de Judy Chicago, no Brooklyn Museum, que acabou por ser um momento crucial para mim. A necessidade de glorificar constantemente as minhas influências femininas pode ter surgido aí, embora já o fizesse antes. Interessa-me agora explorar o percurso de mulheres em áreas distintas da minha, outras culturas e outros tempos históricos.

O processo artístico baseia-se fundamentalmente na predisposição para absorver e se adaptar aos contextos que lhe dão origem. Na perspetiva do feminismo e da igualdade de género, como podemos interpretar o impacto das campanhas internacionais, nomeadamente o movimento MeToo, no mundo da produção musical?

As campanhas internacionais têm ajudado a eliminar comportamentos que estavam, e ainda estão, completamente enraizados no mundo da produção musical, ainda que este ramo artístico não tenha para já experienciado o seu próprio momento revolucionário. Até há relativamente pouco tempo, dependendo do contexto social a que nos referíamos, não havia sequer noção generalizada de que o panorama musical estava estruturalmente poluído pela desigualdade de género e pelo abuso de poder. Temos exemplos de investigações de alto perfil sobre abusos sexuais perpetuados por um prestigiado produtor musical no filme On the Record (2020), mas ainda não se sentiu o impacto de um movimento global e coletivo que exija sanções e responsabilização por abusos no meio musical. Numa escala menor, no entanto, têm aparecido denúncias que atraíram os holofotes no meio norte-americano. Em 2020, a editora Burger Records em Los Angeles, altamente reconhecida no universo musical indie, fechou completamente devido a várias acusações de agressões sexuais. No entanto, estas campanhas têm vindo a tornar o universo musical num espaço mais seguro, não só no interior da indústria, para as mulheres e minorias profissionais que fazem música, como também junto do público que consome música ou gosta de ir aos concertos e apoiar a comunidade artística. As vozes das mulheres estão hoje menos silenciadas e marginalizadas, e isso é essencial no processo artístico de forma a fomentar diversidade, empoderamento e igualdade. O movimento feminista das últimas décadas tem lidado, sem dúvida alguma, com episódios extremamente traumáticos e desafiantes, e é por isso que devemos, em conjunto, impedir que se repitam através de mudanças sociais profundas.

Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e acelerado, caracterizado também pelos excessos de informação e de estímulos. Os efeitos benéficos e maléficos destas mudanças sociais são conhecidos, mas nem sempre discutidos face àquilo que abrange os artistas. Na sua opinião, estas alterações são um fator determinante no desenvolvimento do seu percurso profissional individual, bem como nos percursos de outros jovens músicos?

A ideia de que devagar se vai ao longe pode ser aqui importante. É verdade que há muita informação e que a capacidade de concentração do público é cada vez menor. Em contrapartida, penso que a perseverança dos músicos nunca teve de ser maior, exatamente por ser tão difícil alcançar algum destaque. Existem pelo mundo fora muitos projetos bons que nunca chegam a ser reconhecidos e muitos projetos medíocres que recebem atenção excessiva. Assim, a persistência demonstrada pelos jovens músicos é essencial, mas nem sempre possível. A atual situação global de crise sanitária e económica desfavorece ainda mais os artistas, pois é virtualmente impossível começar uma carreira em qualquer capital europeia sem apoio externo. Qualquer artista, pelo menos no início e em muitos casos durante grande parte da carreira, sem bolsas ou apoio familiar, tem de exercer outra atividade para se sustentar. A ideia do artista sofredor que ultrapassa as adversidades da vida pode ser benéfica, mas as pessoas precisam de espaço e tempo para pensar e experimentar, e a falta desses dois fatores fulcrais pode tornar-se sufocante.

Em termos práticos e de soluções a longo prazo, não sei qual a melhor maneira de filtrar tanto ruído e tanta música disponível. No entanto, penso que pode também partir do consumidor a iniciativa de ir procurando novos sons para além da esfera comercial e globalizada - que também tem, a meu ver, muitas coisas boas.

Lançou no início deste ano, em pleno confinamento, o sexto capítulo da sua carreira, o álbum Dead Flowers & Cat Piss. Que rumo poderá Callaz tomar no período pós-pandemia?

Preciso de tirar um tempo para pensar melhor no rumo do projeto. Sinto que há muito espaço para melhorar e desenvolver trabalho mais relevante e oportuno. Para tal existem algumas prioridades axiais. Quero muito retomar os concertos e repensá-los como um todo: trabalhar todos os elementos sónicos, visuais e performativos. Sinto que pela primeira vez penso na voz verdadeiramente como um instrumento que quero aperfeiçoar e usar em toda a sua capacidade. Gostaria também de explorar uma vertente performativa concebida para o concerto ao vivo, através do trabalho colaborativo que tenho vindo a desenvolver com a dançarina Inês Zinho Pinheiro, relacionado com noções de movimento contemporâneas. Quero também difundir e expandir a audiência do meu trabalho, assim como dar continuidade ao meu gosto pela pesquisa e foco no processo criativo.

Passei recentemente uma temporada em Berlim, e neste momento estou a aprender alemão com a intenção de lá regressar. A s diferentes línguas e culturas influenciam a escrita e a temática das minhas músicas, e estou por isso curiosa para descobrir a repercussão que esta nova ligação à Alemanha terá no meu trabalho.

Maria Luísa Moreira. Universidade NOVA de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA), Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher, Lisboa, Portugal. Email: machadomoreira.maria@gmail.com

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