SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número50Pode um gesto imensoPoetry Slam: o poder da palavra falada índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher

versión impresa ISSN 0874-6885

Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher  no.50 Lisboa dic. 2023  Epub 21-Feb-2024

https://doi.org/10.34619/f5su-edmk 

Poema

Sou mulher (Poetry Slam)

Maria Caetano Vilalobosi 

i Autora independente. Portugal.


Sou mulher

De vulva para fora

Por dentro é vagina

Fui criada até agora

Para ser boa menina

Não andes só com rapazes

Que ainda pareces puta

Não sabes do que as pessoas são capazes

E não vale a pena essa luta

Acata

Sê casta

Já basta o resto

Aceita a receita

Um homem não é honesto

Não mente

E trai

Mas ama assim

Respira

Contrai

Vem ser em mim

Que dom

Ter nascido mulher

Tão bom

Ser capaz de sofrer

Sem som

E ter que correr

Na sombra de quem me quiser

Não vás sozinha

Pede que te levem

Liga quando chegares

Não é paranoia minha

As coisas acontecem

Mais vale aceitares

Tem cuidado filha

Esta vida é perigosa

Especialmente para as mulheres

Parece uma armadilha

Para me fazer medrosa

Mas só é se o quiseres

Que dom

Ter nascido mulher

Tão bom

Ser capaz de sofrer

Sem som

E ter que correr

Na sombra de quem me quiser

Só te dás com rapazes

Estavas à espera do quê?

Com roupas curtas

Respostas audazes

Estavas à espera do quê?

Pareces as putas

Não tens cuidado com o que fazes

Estavas à espera do quê?

Falas de sexo

Assim abertamente

Dás-te sem nexo

Com toda a gente

Estavas à espera do quê?

À espera de poder sair à noite

Sem vir para a casa a correr

De poder ouvir o meu nome

Sem começar a tremer

À espera de poder sentar-me no comboio

Sem ter que olhar para o chão

Porque um cruzar de olhar com o boy

Já foi a pedir por tesão

À espera de poder falar de sexo e masturbação

De escolher sair e dançar sem sentir a tua mão

Sem te ter a roçar

Porque achares que se eu não quisesse

Diria não

Ah pois se eu quisesse diria sim

E não falo só por mim

É um piropo na noite

É um olhar no metro

É um convite para dançar

Já a puxar para dentro

É a tua mão no meu pulso

É um sussurro no ouvido

Um saltar a boca por impulso

Uma foto sem te ter pedido

É a simples ideia assumida

De que eu tinha querido

O corpo bloqueia

O pânico assume

O coração bombeia

Ele pergunta:

“Tens lume?”

A palavra suprime

E tudo acelera

Mas só é crime

Se ela te nega

Se ela resiste

Mas a força desiste

No momento em que lhe pegas

Porque a consciência insiste

Que a sociedade é cega

E de tudo o mais triste

É que a pena só existe

Quando ela te nega

Tu viste, sabes que isto existe,

Viveste-o, sentiste

O corpo bloqueia

O pânico assume

O coração bombeia

E ele pergunta

“Tens lume?”

Tu ouviste

Fingiste não ver

É piroco exagerado

A voz levantada

O corpo congelado

E o tudo virar nada

Era o namorado

Como é que pode ter sido violada?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Vilalobos, M. C. (Text and Interpretation), & Moreno, C. (Video) (2021, March 31). Sou mulher (Video-performance with poetry, in the context of Women’s Day). YouTube. https://mariacldgv.wixsite.com/mcaetanovilalobos/sou-mulherLinks ]

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons