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Psicologia, Saúde & Doenças

Print version ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.9 no.2 Lisboa  2008

 

O efeito do desemprego no stress e coping dos professores do 2º ciclo

Maria Neves Alves* & Eusébio Augusto Medeiros de Oliveira

CIOMP, Instituto Piaget, Macedo de Cavaleiros

 

RESUMO: O desemprego constitui um flagelo na nossa sociedade. Os professores são uma das categorias profissionais mais atingidas. Esta situação tem consequências sociais e psicológicas que se reflectem na saúde do indivíduo. O objectivo deste estudo é compreender o stress e a forma como os professores lidam com ele, ou seja a utilização de estratégias de adaptação (coping). A amostra contempla 100 professores do 2º ciclo, 50 desempregados e 50 exercendo a docência, em ambos os casos 25 homens e 25 mulheres a residir na zona norte de Portugal. Os professores do primeiro grupo encontravam-se desempregados ou aguardando a entrada na profissão. Os instrumentos utilizados para a avaliação do stress foram a Escala Toulosana de Stress (ETS) e a Escala Toulousana de Coping (STC) para perceber as estratégias face ao stress. Os resultados mostram que os professores desempregados ou com retardamento na entrada para a docência têm um stress elevado (p.< 0001), em comparação com os professores que exercem a profissão. A natureza do stress éuma Tensão sócio-emocional,uma Tensão física e depressiva, Perturbações físicas e agitação. Ambos os grupos manifestam um stress elevado relativamente ao futuro Lassidão e angústia temporal. Não existem diferenças entre homens e mulheres, já os mais jovens manifestam um stress significativamente mais elevado do que os mais idosos. A estratégia de coping mais utilizada pelos professores desempregados é a retracção, retraindo-se socialmente para reduzir o stress.

Palavras-chave: Coping, Desemprego, Stress.

 

The effect of unemployment on the stress levels of the secondary school teachers and strategies for coping with it

ABSTRACT: Unemployment is one of the scourges of modern society and teachers are among the professional categories most affected by it. This situation gives rise to social and psychological consequences with repercussions on an individual's health. The objective of this study is to understand the nature of the stress and how teachers cope with it. The sample consisted of 100 secondary school teachers in Northern Portugal, 50 of whom were unemployed and 50 who were actively teaching, each group being equally divided in gender (25 men and 25 women). The teachers in the first group had either been made unemployed or were still waiting to enter the profession. The instruments used for the purposes of evaluation were the Toulouse Stress Scale (TSS) to measure the level of stress and the Toulouse Coping Scale (TCS) to determine the strategies used to deal with it. The results showed that teachers who are unemployed or whose entry into the profession has been delayed, suffer increased stress in comparison with teachers practising their profession. The nature of the stress can be summarised as: socio-emotional tension, physical tension and depression, physical perturbations and agitation. Both groups demonstrated increased stress with regard to the future, tiredness and temporary anguish. There were no differences between men and women, though the youngest individuals demonstrated significantly higher levels of stress than the older teachers. The strategy of coping most employed by unemployed teachers is withdrawing from society to reduce stress.

Keywords: Coping, Unemployment, Stress.

 

No quotidiano somos frequentemente confrontados com dificuldades majores resultando de situações (familiar ou profissional...) desestabilizantes e stressantes. O desemprego ou seja, a cessação de actividade ou o retardamento na entrada do exercício da profissão assume-se como um período de transição que o indivíduo deve gerir. A dificuldade em atingir os objectivos programados pode desencadear clivagens internas, desequilíbrios nas suas condutas ou pelo contrário representar um desafio para novos projectos profissionais. Quando um indivíduo é submetido a pressões excessivas que não correspondem às suas capacidades actuais, às suas necessidades, recursos e aspirações, deve gerir múltiplas dissonâncias cognitivas, afectivas e relacionais. Se a pessoa não consegue adaptar-se às novas circunstâncias e se o stress se torna um elemento crónico na sua vida quotidiana, a saúde física e mental pode ser gravemente perturbada.

Na sociedade beneficiamos de uma identidade que depende da profissão exercida; ora, em situação de desempregado, o indivíduo sente-se inútil, incapaz, repercutindo-se esta situação numa baixa de auto-estima. A não inserção na actividade profissional dos recém-licenciados que não têm direito ao subsídio de desemprego implica uma total dependência de outrem para sobreviver. A falta de remuneração conduz socialmente à marginalização em termos de consumo tanto em bens básicos, como culturais ou de lazer. O professor desempregado é, assim, impedido de participar activamente nesse consumo, implicando um distanciamento com a cultura e os elementos que a constituem e que faziam parte da sua formação, encontrando-se social e culturalmente isolado. A situação de desemprego e as dependências económico-sociais inerentes repercutem-se numa elevada vulnerabilidade do professor ao stress nas suas diferentes dimensões físicas, emocionais e comportamentais.

O stress nos professores tem suscitado inúmeros trabalhos de investigação, Kyriacou e Sutcliffe (1979) estudaram uma amostra de professores ingleses; Travers e Cooper (1996) estudaram o stress dos professores em diferentes países; Pithers e Soden, (1998) nos países anglo-saxónicos; Lima (1999), estudou os professores portugueses da Grande Lisboa; Jesus Abreu, Esteve, e Len (1996) os factores de mal­estar na profissão docente e o IPSSO realizou um estudo sobre o stress, representativo, dos professores portugueses (Cardoso et al., 2002). A Organização Internacional do Trabalho -OIT (1981) designou a profissão docente como uma profissão de risco físico e mental. Neste estudo admitimos que se a actividade docente é indutora de stress,onível de stress será muito mais elevado nos professores que não exercem as suas actividades docentes. O interesse pelo stress profissional dos docentes tem ocultado o trabalho sobre os docentes inactivos, que por certo, entram na classe geral dos desempregados.

Vaz-Serra (2002) utiliza o termo stress como sendo uma resposta não específica do organismo a qualquer alteração do seu equilíbrio. Referimo-nos neste estudo ao modelo transaccional de stress desenvolvido por Lazarus e Folkman (1984). Segundo estes autores o stress resulta de uma interacção desajustada, real ou percebida, entre as exigências da situação, os recursos e as capacidades de resposta do indivíduo. No entanto, este desequilíbrio pode ocorrer porque objectivamente as exigências da situação excedem os recursos da pessoa, ou porque esta as percepciona com tal. O stress surge neste modelo intimamente ligado ao coping, isto é, a pessoa que sofre de stress não é passiva, reage de forma negativa ou positiva conforme a sua análise da situação, os seus estilos de vida, o facto de constituir uma situação constrangedora ou ao contrário constituir um desafio.

O termo coping (do verbo inglês to cope = lidar com) designa os esforços adaptativos dos indivíduos, ou seja, as estratégias para lidar com factores indutores de stress ou stressores. Essa análise depende do sentido que o sujeito dá à situação em que se encontra, a reacção ao stress vai depender essencialmente das vivências do sujeito, do contexto e particularmente da percepção da situação.

Neste estudo pensamos que a situação de desemprego provoca, no professor, uma vulnerabilidade elevada ao stress levando-o a adoptar estratégias de coping negativas como o Retraimento (social ou emocional) e a Recusa como forma de gerir as emoções negativas que a situação provoca. O indivíduo pode utilizar uma estratégia de retraimento comportamental afastando-se dos outros, tentando esquecer e não pensar no problema ou então ingerir medicamentos, alimentos, etc. Retraindo-se socialmente, isolando-se, o indivíduo procura não mostrar a sua vulnerabilidade ao stress, a sua depressão (Tap & Vasconcelos, 2004).

Através da estratégia de Recusa, o indivíduo age como se o problema não existisse, desenvolve actividades para se distrair (distracção), esquece o problema ou ainda é incapaz de exprimir as suas emoções (alexitimia). Recusando, isto é, não admitindo pessoal e socialmente que está em estado de stress, será uma forma de iludir os outros e ele próprio sobre a situação vivida.

As estratégias de coping que acabamos de descrever são ditas negativas porque não resolvem o problema de stress; contudo, podem de certa forma considerar-se positivas, pois, a curto prazo permitem reduzir o stress, gerem as emoções do sujeito, mas constituem uma fuga perante a realidade (Alves & Tap, 2004).

Todavia, existem estratégias de coping (Controlo e Suporte social) que o sujeito utiliza para lidar com o stress de forma positiva. Na estratégia de Controlo, o indivíduo pode desejar controlar a situação, procurar ter tempo para reflectir sobre ela e agir depois (regulação das actividades), ou elaborar cognitivamente a situação tentando “inventar” um plano (controlo cognitivo e planificação), ou ainda controlando as suas emoções (controlo emocional). O Controlo é socialmente valorizado, pois voltado para a acção, “enfrento o problema”, “penso nas estratégias para melhor resolver o problema”, etc., vai de encontro à desejabilidade social, sendo geralmente um factor com uma grande variância total. Pensamos que esta estratégia poderá ser mais utilizada pelos professores empregados, pois costuma funcionar na ausência de stress, ou junto dos indivíduos para quem uma situação indutora de stress constitui um desafio. Os professores tentam, neste caso, controlar a situação de forma activa, agindo, afirmando-se, controlando as suas emoções.

O Suporte social implica um pedido de ajuda em termos cognitivos (conselhos, informações) ou afectivos (necessidade de escuta e de reconhecimento) junto de familiares ou amigos, colegas, etc. Esse apoio é significativamente melhor em termos qualitativos (Stroebe & Stroebe, 1999) que quantitativos, ou seja, é preferível beneficiar do apoio de um amigo em quem se tem total confiança, do que o apoio de várias pessoas, que podem acentuar um pouco mais a ineficácia real ou percebida da pessoa.

Quando o indivíduo procura resolver a situação através de um trabalho de cooperação com outras pessoas, ele utiliza uma estratégia de Suporte social activa, pedindo conselhos (suporte social informativo) ou do ponto de vista afectivo ser ouvido e reconfortado (suporte social emocional).

Pensamos que os professores desempregados podem recorrer à estratégia de Suporte social ou não, conforme a interpretação que fazem da situação. Consideramos que recorrer ao Suporte social é de certa forma mostrar alguma fraqueza, solicitar ajuda é confessar a sua fragilidade emocional e social.

 

MÉTODO

Participantes

A amostra é constituída por 100 professores do 2º Ciclo do Ensino Básico dos concelhos de Vila Real e Bragança, dos quais 50 são professores desempregados/ recém-licenciados e 50 professores empregados. Cada grupo compreende 25 homens e 25 mulheres. As idades estão compreendidas entre os 22 e os 52 anos, (M = 29,1 anos e DP = 6,1) classificadas em dois grupos: 22-26 anos (sem experiência ou com pouca experiência profissional) e 27-52 anos (com alguma ou muita experiência profissional).

A amostra é de conveniência para os professores em actividade e para os professores desempregados foi seleccionada uma amostra através da técnica “Bola de neve” (Bernard, 1996), as pessoas inquiridas apresentavam-nos outras pessoas até a amostra ter atingido a dimensão desejada. Esta técnica mais utilizada na investigação qualitativa permitiu-nos neste estudo contactar com os professores desempregados. Certamente que a técnica poderia a priori conter algum enviesamento, pois as relações não se tecem por acaso, contudo, a pessoa A que conhece a pessoa B pode não conhecer a pessoa C.

Material

Os instrumentos de pesquisa utilizados foram constituídos por um breve questionário de dados sócio-demográficos (sexo, idade, concelho) e duas escalas de atitudes: a Escala Toulousiana de Stress (ETS) e a Escala Toulousiana de Coping (ETC). Ambas as escalas foram construídas numa investigação colectiva, no laboratório “Personnalisation et Changements Sociaux”, Universidade de Toulouse pelos autores Esparbès, Sordes-Ader & Tap (1994). Constituem questionários de auto-resposta, a resposta a cada item é dada numa escala ordinal tipo (tipo Likert) de cinco posições. A Escala Toulousiana de Stress foi validada em 2184 pessoas, obtiveram-se 4 factores numa ACP. A coerência global da escala (alpha de Cronbach = .92). A alpha de Cronbach permite-nos verificar a consistência interna da escala. A Escala Toulousiana de Coping foi adaptada e validada em Portugal (Tap, Costa, & Alves, 2005) a sua consistência interna (Alpha de Cronbach = .78).

A medida do stress: Escala Toulousiana de Stress (ETS). Esta Escala é composta por 30 itens em que os sujeitos devem responder (numa escala tipo Likert) de 1 (Nunca) a 5 (Sempre). Segundo os seus autores é dividida em 4 factores ou dimensões conjugando aspectos físicos e emocionais. A Escala Toulousiana de Stress (ETS), inicialmente em língua francesa, foi traduzida para a língua portuguesa e dadas instruções de preenchimento. Aos professores desempregados foi “imposta” a situação de desemprego como situação stressante; aos professores empregados solicitávamos que escolhessem uma situação que na sua profissão era causadora de stress e face a essa situação respondessem às 30 afirmações da escala.

A análise de consistência interna (alpha de Cronbach) revelou um resultado de .96, podemos, assim, concluir que a coerência da escala é excelente. Os dados empíricos foram submetidos a uma Análise Factorial em Componentes Principais (AFCP), seguidos de rotação varimax. O resultado desta análise permitiu-nos encontrar quatro factores ligados ao stress (ver Quadro 1).

 

Quadro 1

Factores obtidos na Escala Toulousiana de Stress (α= .96)

 

Nos quatro factores ligados ao stress, podemos verificar:

As pessoas sentem-se incompreendidas, sós, isoladas, incapazes de enfrentar situações difíceis, pressionadas pelo tempo, esquecem facilmente o que devem fazer e têm dificuldades em adormecer.

Os sujeitos sentem, também, uma tensão física como por exemplo: os maxilares contraídos, um aperto no estômago, a boca seca, sentem-se deprimidos, preocupados, remoendo sempre as mesmas ideias.

Para além das tensões físicas sentem perturbações físicas como baforadas de calor, dificuldades em respirar, o coração a bater rapidamente, perturbações intestinais e tremuras.

Finalmente, podem sentir-se cansados, fatigados, vazios, sem energia, inquietos ao antever o futuro e preocupados com a insegurança relativamente ao futuro.

A medida de coping: Escala Toulousiana de Coping (ETC). A Escala Toulousiana de Coping permitiu-nos analisar como os professores desempregados enfrentam as situações difíceis com as quais se confrontam. A escala é composta por 54 itens, aos quais cada indivíduo responde, tendo por base uma escala de tipo Likert de 1 (nunca) a 5 (sempre). Esta escala articula os aspectos ligados à “Acção” (comportamental), à “Informação” (cognitivo), e aos aspectos “Afectivos” (emotivo). Na validação citada, a articulação destes três campos, conduz a quatro estratégias diferentes, designadamente: Retraimento, Suporte social, Controlo e Recusa. Para testarmos a sua validade, a escala foi submetida à análise de coerência interna (alpha de Cronbach), cujo resultado foi: a = .82. Uma Análise Factorial em Componentes Principais (AFCP) seguida de rotação varimax, permitiu encontrar quatro factores ou estratégias também presentes na validação na população portuguesa (Tap & Vasconcelos, 2005). Apresentamos os factores obtidos (ver Quadro 2) e a respectiva consistência interna.

 

Quadro 2

Factores obtidos na Escala Toulousiana de Coping

 

Realizada a Análise Factorial, a Escala ficou com 53 itens. Foi retirado o item 8 “Aceito o problema se é inevitável” porque na AFCP atingiu um valor muito reduzido (0,049); os quatro factores explicam 61,18% da variância.

Dos quatro factores ligados ao coping podemos verificar que, no primeiro – Retraimento -os sujeitos retraem-se, evitam confrontar-se com outras pessoas, refugiam-se no imaginário, pedem a Deus para os ajudar e comem para se sentirem melhor.

No segundo factor – Suporte Social – procuram ajuda dos amigos, a simpatia e o encorajamento dos outros, discutem o problema coma família e com os amigos, pedem conselhos a profissionais e ajuda a pessoas que tiveram uma experiência parecida com a sua.

No terceiro factor – Controlo – os sujeitos enfrentam a situação, atacam o problema de frente, tentam não entrar em pânico, analisam a situação para a compreenderem melhor, modificam as acções e o comportamento em função do problema.

Utilizando a estratégia de Recusa -quarto factor -os indivíduos actuam como se o problema não existisse, tentam não pensar no problema, dizem para eles próprios que esse problema não tem qualquer importância, brincando até com a situação em que se encontram.

 

RESULTADOS

Os efeitos psicológicos do desemprego no stress global dos professores

Verificámos através da ANOVA univariada que os professores desempregados possuem um nível de stress global significativamente mais elevado que os professores em actividade.

 

Quadro 3

Resultados do stress global e suas dimensões entre professores desempregados e professores a exercer a profissão

 

Verificámos resultados estatisticamente muito significativos em termos de stress global (valores da escala completa) e em três das quatro dimensões. Não existem diferenças entre homens e mulheres, o que significa que vivem a situação da mesma forma. Contudo, os jovens (22-26 anos) manifestam significativamente mais stress do que o grupo dos mais velhos (27-52 anos). A não integração no mercado de trabalho ou a pouca experiência pode justificar este resultado.

Quanto à natureza do stress percebido, os resultados mostram diferenças significativas em três das quatro dimensões de stress entre professores desempregados e professores em actividade. Os professores desempregados obtêm médias mais elevadas do que os professores empregados, com um grau de significância elevado sobretudo em duas dimensões: Tensão sócio-emocional e Tensão física e depressiva. Os professores sentem-se sós, incompreendidos, isolados, incapazes de enfrentar situações difíceis, esquecem facilmente as tarefas e têm dificuldades em adormecer. A Tensão física e depressiva manifesta-se através de sensações como: maxilares contraídos, um aperto no estômago, a boca seca, sentem-se também deprimidos, preocupados, remoendo sempre as mesmas ideias.

Manifestam também Perturbações físicas e agitação (p<.01), tais como baforadas de calor, dificuldades em respirar, o coração a bater rapidamente, perturbações intestinais e tremores.

Na dimensão Lassidão e angústia temporal não existem diferenças significativas (p<.23), o resultado confirma que os professores desempregados e professores empregados partilham o mesmo cansaço e incerteza relativamente ao presente e ao futuro. O estatuto da carreira do professor que constantemente deve deslocar-se de escola em escola -“o toque de caixa” (Cardoso et al., 2002) cria no indivíduo uma certa angústia, o que pode explicar este resultado.

No que concerne a variável sexo, verificámos que como no stress global, as dimensões do stress não são significativas, isto é, não diferenciam os homens e as mulheres. Apenas se verifica uma tendência (p<.08) na dimensão Tensão sócio-emocional. As mulheres apresentam uma média superior à dos homens, (26.10 contra 23.72), o que significa que as mulheres têm tendência a sofrer uma Tensão sócio-emocional mais elevada.

A idade parece influenciar o nível de stress, o grupo de 22-26 anos apresenta uma Tensão sócio-emocional (p<.002) e tendência a ter uma Tensão física e depressiva (p<.007) significativamente mais elevada do que o grupo de 27-52 anos; problemas de integração social e profissional poderão explicar o nível de stress percebido.

Quanto ao stress dos professores em actividade, a indisciplina dos alunos constitui o primeiro factor de stress, a conciliação da profissão com a vida pessoal e a incerteza relativamente às colocações futuras em segundo, o mau relacionamento com os pais dos alunos vem em terceiro lugar e o descrédito da profissão (estatuto) e o insucesso aparecem em quarto lugar, turmas com muitos alunos aparece classificado em último lugar.

As estratégias de coping nos professores desempregados

Os dois grupos (desempregados/empregados) reagem de forma diferente face ao stress percebido (ver Quadro 4). O coping é um processo multidimensional que per-mite enfrentar uma situação ameaçadora para o bem-estar psicológico do indivíduo. Tem como função permitir uma adaptação durante um período indutor de dificuldade e de stress.

 

Quadro 4

Estratégias de Coping: diferenças entre professores desempregados/empregados

 

Verificámos que os professores desempregados utilizam essencialmente a Retraimento como resposta ao stress percebido, retraem-se social e afectivamente, mas não recusam ou negam a existência de dificuldades e de stress; são bastante realistas, pois que, na estratégia de coping menos positiva, a Recusa, não há diferenças significativas.

Os professores empregados utilizam mais a estratégia de Controlo, (p<.0001) controlam-se e controlam melhor a situação do que os professores desempregados, a sua situação permite-lhes enfrentar melhor o stress quotidiano. Não foram encontradas diferenças no que concerne o género, mas os professores mais jovens utilizam sobretudo o Retraimento (p<.001) como forma de enfrentar o stress, retraem-se socialmente, evitando o contacto com as pessoas e, não solicitam o Suporte social que poderia ajudá-los no combate ao stress.

As pessoas com mais idade utilizam o Controlo (p<.005), enfrentam a situação, controlam as sus emoções. Esta estratégia é socialmente valorizada e tende a funcionar na ausência de stress ou na ilusão da sua ausência. É provável que os factores de desejabilidade social possam explicar este resultado.

 

DISCUSSÃO

Os resultados desta investigação mostram, tal como se esperava, que os professores manifestam um stress elevado. O stress é significativamente mais elevado nos professores desempregados e manifesta-se essencialmente através de uma Tensão sócio-emocional com os familiares e a sociedade; de uma Tensão física de depressiva e ainda Perturbações físicas e agitação, poderíamos dizer que os professores desempregados somatizam o stress. Mas partilham com os professores a exercer a actividade a insegurança e incerteza relativamente ao futuro, resultado que é confirmado por outros estudos (Jesus et al., 1996).

Para enfrentar a situação de stress, real ou percebido, os professores desempregados não utilizam as estratégias mais positivas para a redução do stress. São os professores em actividade, os que mais utilizam estratégia de Controlo, ou seja controlam mais as suas emoções, agem e procuram mais informação. Provavelmente estará implícito no resultado alguma desejabilidade social como foi mostrado noutros estudos (Sordes-Ader, Fsian, Esparbés, & Tap, 1996). Contudo, esta seria uma estratégia muito positiva na diminuição do stress dos professores desempregados.

A estratégia que diferencia significativamente os professores desempregados dos empregados é o Retraimento, estratégia assumidamente negativa que está patente numa retracção comportamental, afectiva e cognitiva. Os professores desempregados retraem-se, evitam confrontar-se com outras pessoas, refugiam-se no imaginário, e na religião pedem ajuda a Deus e gerem as suas emoções comendo para se sentirem melhor. Os comportamentos manifestados conduzem a termo à depressão.

O Suporte social que veríamos como uma estratégia positiva para enfrentar o stress não é significativamente mais utilizada pelos professores desempregados em comparação com os que exercem actividades docentes.

A Recusa estratégia também negativa, (manifestada através da negação da situação, brincando ou fazendo humor com a situação) não diferencia os dois grupos de professores. Esta estratégia de grande importância em outros estudos (Alves, 2003) que evidencia o humor como forma de ultrapassar situações difíceis de transição, agindo como se o problema não existisse, mostra neste estudo que é mais utilizada pelos professores a exercer a profissão, não sendo o resultado significativo, obtêm uma média mais elevada.

Podemos afirmar que o stress é um factor que deverá ser considerado nos professores desempregados. O projecto profissional encontra-se bloqueado, aumentando o stress de homens e mulheres que esperam da sociedade a oportunidade de se tornarem agentes activos. O stress é manifestado através sobretudo de tensões sócio-emocionais, físicas acompanhado de tendências depressivas e de perturbações físicas. A reacção ao stress não é amais positiva porque os professores desempregados se isolam socialmente, o que revela uma vulnerabilidade psicossocial elevada e sérios riscos para a saúde se soluções não forem rapidamente postas em prática. Existem medidas e soluções apontadas para minimizar o problema, como a luta contra o insucesso e o abandono escolares assim como o incentivo a um aumento demográfico.

Quanto aos professores em actividade (do nordeste interior) constatámos como noutros estudo internacionais (Travers & Cooper, 1996; Manthei & Glimore, 1996) que o primeiro factor de stress é a indisciplina, também Lima (1999) nos estudos portugueses encontrou como fonte de stress em primeiro lugar a Interacção docente/discente, enquanto o estudo português (Cardoso et al., 2002) a primeira fonte de stress é o estatuto profissional e a indisciplina em sexto lugar no total de nove identificados.

As conclusões deste estudo sugerem que os professores desempregados são um grupo de risco em termos de saúde mental, pela desilusão de uma formação longa e dispendiosa não compensada pelas expectativas então presentes, o que requer medidas político-sociais que contribuam para o seu bem-estar biopsicossocial.

O estudo apresentado comporta alguns limites nomeadamente o facto de a amostra ser reduzida, comprometendo a sua representatividade, outros estudos seriam necessários para confirmar os resultados aqui apresentados.

 

REFERÊNCIAS

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Cardoso, R.M., Ramos, M., Araújo, A., Gonçalves, G., & Carreira Ramos, R. (2002). O Stress nos professores portugueses, Estudo IPSSO 2000, Colecção Mundo de Saberes 31. Porto: Porto Editora.

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Esparbès, S., Sordes-Ader, F., & Tap, P. (1994). Présentation de l´échelle de Coping. Saint Cricq:Laboratoire Personnalisation et Changements Sociaux.Université de Toulouse-Le-Mirail.

Jesus, S. N., Abreu, M. V., Esteve, J. M., & Lens, W. (1996). Uma abordagem sociopolítica do mal-estar docente. Revista Portuguesa de Pedagogia, XXX(1), 51-64.         [ Links ]

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Lima, V. M. N. C. (1999). Percepção de factores de stress em professores, Tese final do curso de Medicina do Trabalho, Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa.

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Sordes-Ader, F., Fsian, H., Esparbès, S., & Tap, P. (1996). Stratégies de coping et désirabilité social. Aprendizagem e Desenvolvimento, IV(15-16), 165-173.         [ Links ]

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Tap, P., & Vasconcelos, M. de L. (2004). Precariedade e vulnerabilidade psicológica. Comparações franco-portuguesas. Coimbra: Fundação Bissaya Barreto.

Travers, C.J. & Cooper, C.L. (1996). Teachers under pressure. Stress in the teaching profession, New York: Routledge.

Vaz-Serra, A. (2002). O Stress na vida de todos os dias, 2ª edição. Coimbra: Edição do autor.

 

Recebido em 28 de Julho de 2008/ aceite em 28 de Novembro de 2008

 

*Contactar para E-mail: mnalves@macedo.ipiaget.org