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Psicologia, Saúde & Doenças

versão impressa ISSN 1645-0086

Psic., Saúde & Doenças vol.22 no.1 Lisboa abr. 2021  Epub 30-Abr-2021

https://doi.org/10.15309/21psd220118 

Artigo

Qualidade de vida, crianças, adolescentes e o Kidscreen-52: uma revisão de literatura.

Children’s and teenagers’ quality of life and kidscreen-52: review of the literature.

Gustavo Sanfelice1 

Diego Schaab1 

Jacinta Renner1 

Denise Berlese1 

1 Universidade Feevale, Novo Hamburgo-RS, Brasil, sanfeliceg@feevale.br, diego_schaab.sss@hotmail.com, jacinta@feevale.br, deniseberlese@feevale.br


Resumo

A qualidade de vida reconhecida como área de conhecimento está inserida dentro de um campo de discussão interdisciplinar, é relacionada ao grau de satisfação achado na vida familiar, social, amorosa e ambiental. Nesse sentido, o presente estudo caracterizado como qualitativo, descritivo de revisão, objetivou analisar estudos oriundos de pesquisas que utilizaram o KIDSCREEN-52 como instrumento de coleta de dados que busca avaliar a saúde subjetiva e o bem-estar das crianças e adolescentes. A busca foi realizada em revistas científicas on-line disponíveis nas bases SCOPUS, LILACS e CAPES. Foi realizada a análise dos dados e a análise de conteúdo, para então criar as categorizações, onde os próprios artigos geram as categorias de discussão. Com isso, observou-se que houve um crescente número nas pesquisas de QVRS que utilizaram o KIDSCREEN-52 nos últimos 2 anos, bem como o KIDSCREEN-52 mostrou-se adaptado a vários países, pois encontramos estudos realizados no Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia, Portugal e Suécia. Por fim, pode-se inferir que os estudos relacionados as questões físicas e psicossociais têm ganhado espaço no âmbito da qualidade de vida e a aptidão física e o bullying explanam que há impacto na qualidade de vida relacionada a saúde em crianças e adolescentes.

Palavras-Chave: Qualidade de vida; KIDSCREEN-52; crianças; adolescentes; revisão

Abstract

The subject quality of life as an area of knowledge is inserted within an interdisciplinary discussion field, it is related to the degree of satisfaction found in family, social, loving, and environmental life. In this sense, the present study characterized as qualitative, descriptive of review, aimed to analyze studies from research that used the KIDSCREEN-52 as a data collection instrument that seeks to assess the subjective health and well-being of children and teenagers. The search was carried out in online scientific journals available in the SCOPUS, LILACS, and CAPES databases. Data analysis and content analysis were carried out, to then create the categorizations, where the articles themselves generate the discussion categories. With that, it was observed that there was an increasing number of HRQoL surveys that used KIDSCREEN-52 in the last 2 years, as well as KIDSCREEN-52 proved to be adapted to several countries, as we found studies carried out in Brazil, Mexico, Argentina, Chile, Colombia, Portugal, and Sweden. Finally, it can be inferred that studies related to physical and psychosocial issues have gained space in the scope of quality of life and physical fitness and bullying explain that there is an impact on health-related quality of life in children and teenagers.

Keywords: Quality of life; KIDSCREEN-52; children; teenagers; review

A qualidade de vida (QV) reconhecida como área de conhecimento está inserida dentro de um campo de discussão interdisciplinar, que possibilita atuar em diversas esferas da sociedade, suas abordagens baseiam-se nas premissas de que a mesma é multidimensional classificando seus estudos em econômicos, biomédicos, psicológicos e gerais (Almeida et al., 2012).

A QV está relacionada ao grau de satisfação achado na vida familiar, social, amorosa e ambiental, acredita-se na capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que uma determinada sociedade adota como seu padrão de bem-estar e conforto. Nesse sentido, podemos considerar que a mesma nos remete a uma construção social, marcada pela relatividade social, que está atrelada aos valores materiais e não materiais, desde as simples necessidades elementares do ser humano (alimentação, acesso a água potável, habitação, trabalho, educação e lazer) e as questões norteadoras não materiais (amor, liberdade, solidariedade, inserção social, realização pessoal e felicidade) (Minayo et al., 2000).

A QV pode ser considerada uma variável importante na prática clínica e na produção de conhecimento na área da saúde, sua maturidade perante os estudos vem evoluindo, a fim de clarificar o conceito cada vez mais, entende-se que a QV é um processo interdisciplinar, que conta com a contribuição de diferentes áreas do conhecimento o que a torna relevante para a âmbito científico e reforça a pesquisa aqui realizada (Seidl & Zannon, 2004).

Nesse prisma, buscamos observar a qualidade de vida relacionada a saúde (QVRS), a mesma, é uma vertente da QV e independentemente da compreensão abordada ou do instrumento indicador utilizado sobre a QV a área da saúde e a prática de atividades físicas estão fortemente relacionadas com a QV de modo geral, assim, caracterizada pela QVRS. Atualmente existem diversos instrumentos para aferir a QVRS, neste estudo, observamos os resultados de pesquisas que utilizaram o KIDSCREEN-52.

Nessa perspectiva, o instrumento KIDSCREEN-52 busca avaliar a saúde subjetiva e o bem-estar das crianças e adolescentes, representada pela QVRS, constitui-se como instrumento de auto relato aplicável a crianças e adolescentes saudáveis e com doenças crônicas entre os 8 e os 18 anos de idade. É composto por 52 perguntas divididas em dez dimensões, dentre elas, Saúde e Atividade Física; Sentimentos; Estado Emocional; Auto Percepção; Autonomia e Tempo livre; Família/Ambiente Familiar; Aspectos Financeiros; Amigos e Apoio Social; Ambiente Escolar e Provocação/Bullying (Gaspar & Matos, 2008; Ravens-Sieberer et al., 2014).

O artigo tem como objetivo analisar os estudos oriundos de pesquisas que utilizaram o KIDSCREEN-52 como instrumento de coleta de dados, onde buscamos identificar indicadores bibliométricos e realizar discussão sobre os resultados encontrados entre os anos de 2015 e 2019. A pergunta que deu norte a este estudo partiu da curiosidade em descobrir o que os estudos atuais estão encontrando como resultados ao utilizarem o instrumento do KIDSCREEN-52 e discuti-los.

Método

O estudo caracteriza-se como sendo de cunho qualitativo, descritivo de revisão. Nesse prisma, realizamos uma busca em revistas científicas on-line disponíveis nas bases SCOPUS, LILACS e CAPES com acesso realizado dia 05 de setembro de 2019 na Universidade Feevale. No descritor, utilizamos as expressões nos idiomas do português, inglês e espanhol, com o intuito de encontrar uma especificidade dos estudos oriundos do instrumento KIDSCREEN-52. Respectivamente, “qualidade de vida” AND “crianças” AND “adolescentes” AND “KIDSCREEN-52”; “quality of life” AND “children” AND “teenagers” AND “KIDSCREEN-52”; “calidad de vida” AND “niños” AND “adolescentes” AND “KIDSCREEN-52”.

Como critério de inclusão, consideramos artigos completos (excluindo revisões bibliográficas, estudos de caso, comunicações rápidas e cartas), artigos publicados nos últimos 5 anos, entre 2019 e 2015, estudos que utilizaram o protocolo do KIDSCREEN-52 e que estivessem redigidos nos idiomas português, inglês ou espanhol, disponíveis nas bases SCOPUS, LILACS e CAPES. Como critérios de exclusão, consideramos todos aqueles que não atenderam aos critérios de inclusão.

A pesquisa inicial resultou em 61 artigos, respectivamente, Scopus (33), Capes (16) e Lilacs (12), após aplicar os critérios de inclusão restaram 24 artigos. Foram retirados do estudo 37 artigos, que não atenderam os critérios de inclusão ou que utilizaram o protocolo do KIDSCREEN nas versões 10 ou 24. Nesse sentido, apreciamos cada manuscrito de maneira individual para realizar a discussão dos resultados encontrados nos últimos 5 anos.

Para realizar a análise dos dados, utilizamos o instrumento validado por Ursi (2006), disponível em “Revisão integrativa: o que é e como fazer” (Souza et al., 2010), o mesmo é sub categorizado pelos seguintes itens: Identificação; Instituição sede do estudo; Tipo de publicação; Características metodológicas do estudo e avaliação do rigor metodológico. O instrumento serve de norteador para extrair dados dos estudos sendo possível a formulação de tabelas levando em consideração alguns indicadores bibliométricos para verificar das publicações por periódico, quantidade, qualis das revistas, ano, idioma, base, autores, considerações e temáticas.

A análise de conteúdo dos artigos selecionados para este estudo foi realizada por categorizações (Minayo, 2004). Nesse sentido, buscamos classificá-los por enfoque, assim, as especificidades dos próprios artigos geraram as categorias para análise que respectivamente constituiu-se em 4, dentre elas, aspectos físicos, sociais, psicossociais e temáticas diversas.

Optou-se por retirar da revisão o estudo proposto por Vila-Nova, Oliveira e Cordovil (2019) “Cross-Cultural Validation of Children’s Assessment of Participation and Enjoyment Portuguese Version” que após a análise de dados nos mostrou que seu objetivo era avaliar a validade e confiabilidade da versão Avaliação da Participação das Crianças e Prazer (CAPE) e o KIDSCREEN-52 foi apenas citado no estudo.

Figura 1 Desenho metodológico. 

Este estudo foi construído na disciplina de saúde e qualidade de vida, do programa de pós-graduação em diversidade e inclusão social da universidade Feevale, os resultados foram discutidos em aula com os demais alunos, mestrando e doutorandos do programa.

Resultados

Os resultados foram divididos em 7 quadros, primeiramente explanamos os achados da análise bibliométrica, levando em consideração, produções por periódico, quantidade, qualis 2019, ano e idioma. Em um segundo momento, foram apresentados os resultados da categorização dos artigos oriundos desta revisão, conforme sua categoria.

Quadro 1 Produções por periódico, quantidade e qualis. 

Quadro 2 Produções por ano e quantidade. 

Quadro 3 Produções por idioma. 

A seguir apresentamos os quadros oriundos das categorizações propostas por Minayo (2004), onde os próprios artigos geraram suas categorias, dentre elas, aspectos físicos, sociais, psicossociais e temáticas diversas.

Quadro 4 Categorias de análise dos aspectos físicos. 

Quadro 5 Categorias de análise dos aspectos sociais. 

Quadro 6 Categoria de análise aspectos psicossociais. 

Quadro 7 Categoria de análise temáticas diversas. 

Discussão

Os indicadores bibliométricos nos mostram que em relação aos periódicos nos quais estão publicados os estudos podemos observar que 11 encontram-se em revistas de qualis A, sendo 9 em revistas de qualis B e 3 deles não são revistas avaliadas no Brasil. Nesse sentido, explana-se que em sua maioria as publicações sobre a QVRS que utilizaram o KIDSCREEN-52 nos últimos anos tem sido bem avaliadas.

Ao observarmos os mesmos estudos referentes à data de publicação, percebe-se que ouve uma crescente nas pesquisas de QVRS que utilizaram o KIDSCREEN-52 nos últimos 2 anos, onde foram publicados 11 artigos e respectivamente de 2015 a 2017 somam 12 estudos, além de em sua grande maioria estarem publicados em revistas bem qualificadas pode-se concluir que as publicações nos últimos anos têm aumentado, principalmente no ano de 2018, que soma 8 estudos.

Com relação aos idiomas que os estudos se encontram publicados, chama a atenção o espanhol, que aparece com 12 artigos, seguido do inglês com 7 e o português com apenas 4, nesse prisma ressalta-se e questiona-se por que a grande maioria dos estudos está publicado no idioma Espanhol? Uma das possíveis causas está relacionado ao escopo das respectivas revistas, outra está diretamente ligada com o país de origem dos estudos e até mesmo o idioma de domínio dos autores.

O quadro 4 nos traz os estudos relacionados à aptidão física dos escolares, em total foram 7 os artigos publicados nesse enfoque, os estudos propostos por Pacífico et al. (2019), Calzada et al. (2016) e Moeijes et al. (2019) estão voltados a prática de esportes em horários de contra turno escolar, ambos os estudos corroboram em seus resultados, apontando melhores níveis de percepção de QV em crianças e adolescentes praticantes de esportes ou alguma atividade física no turno contrário escolar, além de também explanar uma maior incidência do sexo masculino praticando de esportes.

Guedes et al. (2017) que ao identificar os componentes da QVRS e comparar os níveis de aptidão cardiorrespiratória em escolares, obteve resultados que podem ser relacionados aos referidos acima, onde os sujeitos que apresentaram níveis de aptidão cardiorrespiratória elevados tiveram uma melhor percepção da QV.

Cordero e Cesani (2018) ao pesquisarem crianças e adolescentes em contextos de pobreza de Tucunán apontam a alta prevalência de sobrepeso e obesidade, impactando no seu bem-estar, principalmente em relação aos aspectos psicossociais, reproduzindo sua condição de pobreza e vulnerabilidade. Nesse prisma, Pires-Júnior et al. (2018) mostram que a adiposidade contribui para o bem-estar psicológico, o apoio social e as relações entre pares, indo ao encontro dos referidos anteriormente, os autores também mostram que a aptidão cardiorrespiratória como a adiposidade contribuem para a dimensão da QVRS.

Garcia, Teles, Barrigas e Fragoso (2018) trazem em discussão a relação entre a MB e a QVRS, onde identificaram a CA e o APV, assim, concluem que a MB e a CA têm impacto relevante na dimensão do bem-estar físico em ambos os sexos. Em especial, para as meninas nas dimensões de humores, emoções, auto percepção, relação com os pais e vida familiar, já para os meninos o principal impacto foi no ambiente escolar, os resultados nos fazem pensar que em todos os estudos desta categoria a MB e AC podem ter impacto nos resultados.

O quadro 5, que está ligado as questões sociais nos apresenta 3 estudos, Romero-Oliva et al. (2017) trazem para a discussão adolescentes nativos e imigrantes de Espanha e Portugal, propondo um estudo comparativo, em questão, apresenta que os jovens imigrantes têm menores índices de CdV em 5 dimensões, os autores relatam que é necessário uma vez confirmada a importância da CdV em um correto desenvolvimento e adaptação do adolescente, nesse sentido, propondo ações no contexto multicultural para favorecer a melhoria de suas aprendizagem e sua integração educacional e social.

Sobral et al. (2015) trabalham com adolescentes em vulnerabilidade social, assim, apresentam 86 sujeitos de ambos os sexos, os resultados apontam que a amostra possuí boa percepção de QV, os dados coletados relatam que o sexo masculino apresentou uma melhor percepção em todos os domínios gerando grande impacto nos resultados da QV. Aspectos relacionados a sentimentos e bullying são percebidos de forma mais positiva, já os domínios relacionados a aspectos financeiros e autoperceção foram pontuados com médias menores.

Cordero et al. (2017) discutem a saúde e a relação com os fatores macrossociais através da QV, onde investigam 1647 escolares entre 8 e 12 anos nas cidades de Yerba Buena e Simoca. Ao analisarem se a QVRS variou em relação aos fatores macrossociais (qualidade de vida departamental, residência urbano-rural, nível socioeconômico) e individual (idade e sexo) explanam que meninos também tiveram melhores índices de QV corroborando com Sobral et al. (2015). Também apresentam que jovens da cidade Yerba Buena tiveram uma percepção dos recursos econômicos pior em relação à Simoca.

A categoria 3 de análise dos dados, apresentada no quadro 6 está constituída com estudos que tem relação com os aspectos psicossociais, em maior número de estudos podemos sinalizar a discussão do bullying.Cardoso et al. (2015), Haraldstad et al. (2019), Hidalgo-Rasmussen et al. (2018) e Hidalgo-Rasmussen et al. (2015) trazem essa discussão à tona, onde em todos os estudos é notório o impacto direto na QV dos sujeitos que sofreram ou sofrem desse mal. Haraldstad et al. (2019) destacam a importância de atingir as crenças de autoeficácia como estratégia de intervenção para melhorar a QVRS, já Hidalgo-Rasmussen et al. (2015; 2018) relatam pela primeira vez a associação entre vítimas de bullying e QVRS em um país mexicano, investigando crianças e adolescentes, onde foi apontado que ser vítima de bullying significava o dobro de risco de ter uma QVRS mais baixa e quando estudados os escolares chilenos os resultados não foram diferentes, concluindo que o bullying está associado a uma menor percepção QV.

Cardoso et al. (2015) investigam adolescentes em Portugal, apontando que a prevalência de agressores foi de 56,7% e de vítimas 61,7%, os mesmos com idades entre os 13 e 15 anos idade, ao verificarem a associação entre vítimas e agressores, explanam que as vítimas apresentaram menor sentido de coerência, menor percepção de QV e são portadores de doença crónica, nesse sentido, os autores afirmam que o desenvolvimento de competências pessoais e sociais é uma área de investimento prioritário com vista a melhorar a Saúde Mental e QV.

López-Villalobos et al. (2019) discutem a QVRS de crianças e adolescentes com TDAH-T (tratado), TDAH-N (não tratado). Nesse sentido, observaram que nos pacientes tratados as dimensões clínicas e escolares melhoraram consideravelmente, entretanto nas demais dimensões não houve diferença. Os autores apontam que seria importante aos profissionais que tratam o TDAH a implementação de avaliações e intervenções na QV, o que de certa forma vai ao encontro Seidl e Zannon (2004) onde consideram a QV uma variável importante na prática clínica explanado a importância da mesma ser considerada.

Pérez-Campdepadrós et al. (2018) tratam de analisar as dimensões psicossociais da QVRS em adolescentes sobreviventes pediátricos de tumores no sistema nervoso central. Foram avaliados pelas estratégias de enfrentamento e o QI do adolescente e pelas estratégias de enfrentamento, estresse geral e desconforto emocional dos pais. Nesse sentido, avaliam tanto jovens como seus respectivos pais, confirmando a importância das estratégias de enfrentamento dos adolescentes e dos pais para obter uma melhor QV psicossocial, os autores também afirmam que o estilo de solução de problemas, no caso de adolescentes é buscar ajuda e no caso de pais, é ter em mãos pessoas realmente capacitadas e que sejam encarregadas de cuidar desses sobreviventes. O estudo não afirma que as limitações cognitivas de um QI baixo afetam a QVRS, surge-se que sejam feitas novas pesquisas nessa temática.

Pinto et al. (2018) e Fuentes Chacón et al. (2018) discutem questões que se correlacionam, entre elas a depressão e os sintomas psicossomáticos, ambos corroboram em partes dos seus achados, entre eles, as meninas apresentam maiores níveis de depressão atreladas a QVRS e também apresentam maiores sintomas psicossomáticos implicando em uma menor percepção de QV. Pinto et al. (2018) frisam a importância de prevenir a incidência a depressão através de intervenções na QV dessas meninas, uma vez que os resultados apontaram maiores índices de depressão quando comparadas aos meninos. Fuentes Chacón et al. (2018) após apontar que meninas e adolescentes de 17 a 18 anos tem maiores sintomas psicossomáticos e piores pontuações na QVRS conclui que expressões de sofrimento emocional devem ser avaliadas e tratadas de forma integral, pois aumentam a vulnerabilidade na adolescência.

Por fim, o quadro 7, explana os dados da categoria de análise de temáticas diversas. Nesse sentido, Strinnholm et al. (2017) investigam a QVRS em crianças com e sem hipersensibilidade alimentar (HA) no norte da Suécia, em seu estudo, identificam e classificam as mesmas em diferentes fenótipos, dentre eles, alergia alimentar atual, superada e intolerância à lactose, após avaliados a média final em todos os domínios que o KIDSCREEN-52 propõe avaliação estavam acima da média, assim, apontando que independentemente de terem ou não HA a QV é boa. Os autores destacam também que para crianças com fenótipo atual relatarem menor QV em comparação aos outros.

Coimbra et al. (2018) ao estudarem a percepção de QV em crianças e adolescentes que sofreram queimaduras e de seus pais/responsáveis, explanam que pelo olhar dos jovens o “estado emocional”, “amigos e apoio social” foram as dimensões que sofrerem piores avaliações, “sentimentos”, “autonomia”, “aspectos financeiros” e “ambiente escolar” encontraram-se acima da média de corte e a “autopercepção”, “família e ambiente familiar” e “provocação e bullying” foram as melhor avaliadas. Pelos olhares dos seus respectivos responsáveis, as dimensões “saúde e atividade física”, “aspecto financeiro” e “estado emocional” aparecem como as mais comprometidas, enquanto “autonomia”, “amigos e apoio social”, “ambiente escolar”, “sentimentos”, “autoperceção” e “família e ambiente” foram mais bem avaliadas.

González et al. (2016) discutem as questões de gênero e a relação com a QVRS em adolescentes escolares chilenos, como resultados encontram pontuações mais baixas voltada a percepção da QV no sexo feminino em comparação ao sexo masculino, mesmo após estratificar a amostra por idade, tipo de escola e região do país, nesse sentido, concluem que políticas educacionais e de saúde devem ser criadas para uma melhoria da QV desses jovens, principalmente no sexo feminino.

Hidalgo-Rasmussen et al. (2014) adaptam culturalmente o KIDSCREEN-52 para adolescentes mexicanos de 8 a 18 anos, analisando sua confiabilidade e validade, os resultados mostram que a versão após passar por 3 etapas, sendo elas, equivalência linguística e conceitual, construto validade e confiabilidade a versão manteve o conceito original devidamente adaptado à cultura mexicana e idioma. Nesse prisma o KIDSCREEN-52 é adequado para aplicação na população mexicana de 8 a 18 anos.

Fajardo-Nates et al. (2016) seguem uma linha semelhante aos referidos acima, uma vez que, os autores buscam validar linguisticamente o instrumento KIDSCREEN-52 versão colombiana passando também por 3 etapas, concordância do grupo de pesquisa com os autores originais do teste, tradução direta com a participação de duas pessoas licenciadas em idiomas e entrevistas em grupo com 72 pais. Os resultados apontam que a dimensão com o maior grau de dificuldade correspondeu aos itens de recursos econômicos, nesse sentido, o estudo permite propor uma versão dos pais adequadas ao contexto colombiano para serem usados ​​em um estudo de validação métrica.

Na presente revisão de literatura foram apontados e discutidos artigos de uma maneira integrativa, em partes, os estudos relacionados as questões físicas e psicossociais têm ganhado espaço no âmbito da QV, questões relacionadas principalmente a aptidão física e bullying explanam que há impacto na QVRS dessas crianças e adolescentes, sugerindo uma atenção especial à população de 8 a 18 anos. Percebe-se as poucas pesquisas referentes às questões de gênero e alimentação encontradas, nesse prisma sugere-se que estes campos possam ser melhor explorados.

O KIDSCREEN-52 mostrou-se adaptado a vários países, encontramos estudos realizados desde o Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia e Portugal. Nesse sentido é importante a utilização do mesmo em pesquisas que buscam avaliar a saúde subjetiva e o bem-estar das crianças e adolescentes, principalmente por ser um instrumento de fácil compreensão e de acesso universal.

Referências

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Recebido: 16 de Janeiro de 2020; Aceito: 13 de Março de 2021

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