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A obesidade faz-se presente na história desde uma época na qual o estoque de energia no corpo era sinônimo de sobrevivência (Neufeld et al., 2016). As formas redondas na cintura eram o protótipo de beleza, que fizeram mulheres como Cleópatra e Mona Lisa tornaram-se as musas do Egito e de Leonardo Da Vinci (Barbosa et al., 2011). Passados séculos de mudanças na sua representação social, a obesidade ganha uma nova configuração.
A obesidade é considerada hoje uma doença crônica, de etiologia multifatorial, caracterizada pelo excesso de gordura corporal acumulada em grande parte do corpo. É ocasionada por um desequilíbrio entre o consumo calórico e o gasto energético (Melo et al., 2020).
É a doença mais prevalente do mundo e cresce, principalmente na sociedade ocidental, apresentando-se como um problema de saúde pública em diferentes países (Martini et al., 2020). Expresso em números, a estimativa internacional é de que pelo menos 1,6 bilhões de pessoas no mundo estão com sobrepeso e 300 milhões com obesidade. Ou seja, 39% da população mundial adulta apresentava excesso de peso e 13% é obesa (World Health Organization [WHO], 2015). Com média superior, no Brasil, estima-se que 56,9%, ou seja, mais da metade, da população adulta encontra-se com excesso de peso (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2015).
Os seus determinantes também são amplos. A obesidade diz respeito à um fenômeno complexo e multicausal, com antecedentes biológicos, psicológicos e socioculturais, que devem ser levados em consideração. Por isso, apesar do aspecto biológico ser preditor na determinação da obesidade, é de suma importância, o entendimento do seu caráter psicológico, visto que este se constitui como fator decisivo na intervenção para perda e manutenção do peso. Isso porque a realidade para o indivíduo é aquela que por ele é percebida (Neufeld et al., 2016). Consequentemente, a obesidade afeta e é afetada tanto pelo corpo, como pela mente (Venzon & Alchieri, 2014).
Entre as diversas variáveis determinantes, pode-se citar o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) e o comer noturno. O TCAP é classificado no Manual Diagnóstico e Estatístico - DSM-5 (American Psychiatric Association [APA], 2013), por episódios recorrentes de compulsão alimentar que ocorrem, em média, ao menos uma vez por semana, durante três meses ou mais. Ocorre quando há ingestão de uma quantidade de alimentos definitivamente maior que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período sob circunstâncias semelhantes. Episódios de Binge recorrentes, porém sem o preenchimento de todos os critérios para o TCAP, são denominados de Compulsão Alimentar Periódica (CAP).
O Comer Noturno está incluso no DSM-V (APA, 2013) em “Outro Transtorno Alimentar Especificado”. Nele, o sujeito acorda corriqueiramente durante a madrugada para realizar a ingestão de alimentos, ou consome uma grande quantidade de alimentos após a última refeição do dia, durante a noite.
Tais transtornos alimentares são desconhecidos para a maioria da população, porém a literatura sinaliza alta incidência de TCAP, CAP e Comer Noturno, principalmente entre os obesos grave (Venzon & Alchieri, 2014). Ao considerar essas associações, abre-se espaço para a Psicologia da Saúde, interessada na forma como o sujeito vivencia e experimenta o seu processo de doença e de saúde, tanto na sua relação consigo quanto com os outros, acolhendo o papel das variáveis psicológicas sobre o desenvolvimento de doenças, a manutenção da saúde e de seus comportamentos associados (Almeida & Malagris, 2011). Nessa nova perspectiva, a Psicologia, que antes se ausentava de estudos e intervenções relacionadas à obesidade, para além da sua saúde mental, agora estuda e intervém sobre os seus determinantes. Sem perder o interesse sobre a saúde mental, interessa-se pela promoção da saúde e prevenção terciária dos pacientes com DRC, buscando compreender a integralidade biológica, social e psicológica do paciente a fim de subsidiar intervenções eficazes.
Diante do exposto, a presente pesquisa justifica-se pela necessidade de descortinar esse tema, auxiliando na identificação dos fatores que influenciam a obesidade e a eficácia de seus tratamentos. Em resposta a essa demanda, objetiva-se analisar a produção científica sobre as a relação entre o TCAP, o Comer Noturno, peso e saúde mental de pessoas obesas. Pretende-se, assim, contribuir com estudos que investigam o tema, subsidiando a tomada de decisão sobre o projeto terapêutico que considere a integralidade dos pacientes em tratamento para obesidade.
Método
Tipo de Estudo
Com o intuito de alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma revisão sistemática da literatura. Esse delineamento de pesquisa eleva o potencial de busca, uma vez que consegue encontrar, de maneira organizada, um maior número possível de resultados. Deve-se constituir como um trabalho crítico, reflexivo e compreensivo acerca do material analisado. Para isso, foca-se em uma questão bem definida, que busca identificar, selecionar, avaliar e por fim, sintetizar os achados significativos disponíveis (Costa & Zoltowski, 2014; Galvão & Pereira, 2014). Deste modo, foram adotados os procedimentos propostos por Mendes et al. (2008): (1) identificação do tema e da questão norteadora; (2) estabelecimento de critérios de inclusão/exclusão; (3) categorização dos estudos; (4) avaliação dos estudos; (5) interpretação dos resultados; e (6) síntese do conhecimento.
As estratégias de busca: banco de dados e critérios de inclusão e exclusão
Orientados por protocolos internacionais para os estudos de revisão sistemática questão norteadora foi definida a partir do método PICO (P = participantes; I = intervenção; C = comparação; O = resultado/desfecho), a partir de adaptações pertinentes à área na qual se situa esta pesquisa: Quais as influências do TCAP e do Comer Noturno (O) sobre o peso e a saúde mental (I) de pessoas obesas (P)? O processo de seleção e a categorização dos artigos foram realizados por dois juízes independentes, orientados pelas diretrizes do protocolo PRISMA (Galvão et al., 2015).
O levantamento bibliográfico foi realizado nos meses de outubro e novembro de 2019, por meio de seleção de artigos publicados em português e inglês em todas as bases de dados do Scientific Electronic Library Online (SciELO) e do Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A escolha das referidas bases se deu pela relação do tema com os conteúdos indexados e pelo fato delas contemplarem estudos nacionais e internacionais. Os unitermos de busca utilizados foram consultados previamente na Terminologia em Psicologia da BVS-Psi. De modo complementar, foram acrescidas palavras-chaves a partir de consultas realizadas a artigos publicados sobre o tema e que não tinham como unitermos aqueles presentes nesses índices. Ao final, optou-se por uso de diferentes combinações de descritores e marcadores booleanos: (1) “obesidade” AND “transtorno da compulsão alimentar”; (2) “obesidade” AND “comer noturno”; (3) “obesidade” AND “estratégias de enfrentamento”; (4) “obesity” AND “binge-disorders”; (5) “obesity” AND “eat night”; (6) “obesity” AND “coping strategies”
Inicialmente, foi realizada uma busca livre de filtros nas bases selecionadas, por meio dos descritores escolhidos, para sondagem inicial da produção existente. Foram encontrados inicialmente 1.422 registros, por meio da combinação dos descritores: “obesidade” AND “transtorno da compulsão alimentar” (f = 469); “obesidade” AND “comer noturno” (f = 10); “obesidade” AND “estratégias de enfrentamento” (f = 437); “obesity” AND “binge-disorders” (f = 495); “obesity” AND “eat night” (f = 2); “obesity” AND “coping strategies” (f = 9).
A partir deste levantamento inicial, e leitura dos títulos e resumos, foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, indexados, de acesso livre, empíricos, publicados nos idiomas inglês e português, entre 2015 e 2019, justificado pelo interesse de analisar artigos recentes (dos últimos 5 anos) e por ser um período de grande crescimento no número de cirurgias bariátricas realizadas (com crescimento de 72 mil cirurgias, em 2012, para 100 mil, em 2016). Em seguida, os resumos dos artigos selecionados foram analisados por dois juízes independentes, considerando-se os seguintes critérios de exclusão: documentos duplicados; trabalhos que tenham sidos publicados fora do período estabelecido (2015 - 2019); que não estejam diretamente relacionados à temática e ; que não possibilitaram responder à questão norteadora pré-definida; "literatura cinza" - capítulos de livro, notícias, documentos técnicos, comentários, editoriais, dissertações e tese; e de acesso restrito (não gratuito).
Extração dos dados
Foi elaborada uma tabela de organização interna para caracterizar os artigos inclusos na revisão, após levantamento e processo de exclusão. Os dados foram organizados em dois grupos de informações: identificação do artigo (título, ano, autores, idioma e área de publicação) e características do artigo (objetivo(s), abordagem metodológica, local de realização do estudo e síntese dos principais resultados).
Análise dos Dados
A fim de obter a interpretação e síntese dos resultados foram realizados dois tipos de análises. Na primeira, por meio de análises de estatística descritiva simples (cálculo de frequências) sobre os dados de identificação do artigo, buscou-se traçar o perfil quantitativo da produção científica, sobretudo no que se refere aos seguintes indicadores: ano de publicação e abordagem metodológica da pesquisa (quantitativa, qualitativa ou multimétodos), local de realização e idioma. Na segunda análise, para uma melhor visualização sobre a forma como a temática vem sendo abordada, os conteúdos foram organizados e sintetizados, por meio da Análise de Conteúdo de Bardin (Bardin, 1977), para caracterização qualitativa das produções científicas, e emergiram as seguintes categorias temáticas: 1) A compulsão e sua relação com os hábitos alimentares e sobrepeso; e 2) Compulsão alimentar e sua relação com fatores psicossociais.
Resultados
Processo de seleção dos artigos
Respaldados nos critérios de seleção previamente estabelecidos, foram localizados 1.422 registros a partir da busca por meio dos descritores e booleanos selecionados: “Obesidade” AND “Transtorno da Compulsão Alimentar” (f = 469), “Obesidade” AND “Comer Noturno” (f = 10), “Obesidade” AND “Estratégias de enfrentamento” (f = 437) e “Obesity” AND “Binge-Disorders” (f = 495). “Obesidade” AND “Eat night” (f = 2) e “Obesity” AND “Copying Strategies” (f = 9). Em seguida, foram aplicados os critérios de exclusão nos 1.422 registros previamente selecionados, sendo eliminados mais 1.412 artigos. Ao final deste rigoroso processo de análise, no qual foram aplicados os critérios de inclusão e exclusão, permaneceram 10 artigos para análise em sua versão completa (ver Quadro 1).
Perfil quantitativo da produção científica
Os títulos, autores e ano dos 10 artigos analisados são apresentados no Quadro 2. Os artigos foram publicados entre os anos de 2015 a 2017: 03 publicados no ano de 2015, 01 no ano de 2016, e 06 no ano de 2017. Observou-se ausência de publicações nos anos de 2018 e 2019, evidenciando um decréscimo de publicações sobre o tema.
Quadro 1 Artigos selecionados para análise após critérios de inclusão e exclusão
| SCIELO | PORTAL REGIONAL BVS | ||||||||||||
|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
| C1 | C2 | C3 | C4 | C5 | C6 | C1 | C2 | C3 | C4 | C5 | C6 | TOTAL | |
| Busca livre | 22 | 3 | 2 | 0 | 2 | 0 | 447 | 7 | 435 | 495 | 0 | 9 | 1.422 |
| Busca com critério de inclusão | 4 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 29 | 0 | 1 | 72 | 0 | 3 | 109 |
| Total após critério de exclusão | 4 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 0 | 1 | 0 | 0 | 3 | 10 |
Nota: C1 - “obesidade” AND “transtorno da compulsão alimentar”; C2 - “obesidade AND “comer noturno”; C3 - “obesidade” AND “estratégias de enfrentamento”, C4 - “obesity” AND “binge-disorders” C5 - “obesity” AND “eat night”, C6 - “obesity” AND “copying strategies”
Quadro 2 Artigos analisados na revisão sistemática sobre obesidade, compulsão alimentar e comer noturno
| N | Autor (ano) Título. (base) |
| 1 | Ledoux et al. (2015). The association of binge eating and neighrborhood fast-food restaurant availability on diet and weight status (SciELO). |
| 2 | Costa & Pinto (2015). Binge Eatig disorders and quality of life of candidates to bariatric sugery (SciELO). |
| 3 | Richardson et al. (2015). Rerceived stress, unhealthy eating behaviors and revere obesity in low income woman (BVS). |
| 4 | Chao et al. (2016). Binge eating disorder and the outcome of bariatric surgery in a prospective, observational study: two year results. (SciELO). |
| 5 | Arlt et al. (2017). Taste assessment in normal weight and overweitght individuals with co-occuring bige-disorders (BVS). |
| 6 | Pavan et al. (2017). Psychological and Psychiatric Traits in post-bariatric patients asking for body coutouring sugery (BVS). |
| 7 | Rodríguez-Hurtado et al. (2017). Influence of psychological variables in morbidly obese patients undergoing bariatric sugery after 24 months of evolution (BVS). |
| 8 | Mauro et al. (2017). O transtorno de compulsão alimentar tem impacto no reganho de peso após a cirurgia bariátrica? (BVS). |
| 9 | Klobukoski & Hofelman (2017). Compulsão Alimentar em indivíduos com excesso de peso na atenção básica a saúde (BVS.) |
| 10 | Thornton et al. (2017). Being-eating disorders in the Swedish national registers: somatic comorbity (BVS). |
No que diz respeito ao idioma, 8 foram publicados em inglês e 02 em português; reconhece-se que o maior número de artigos encontrados foi em inglês, acompanhando a tendência mundial de reconhecer esse idioma como a língua internacional da ciência (Nassi-Caló, 2017). Dos 10 estudos, 3 foram realizados no Brasil, retratando o contexto brasileiro. Os demais na Itália, Suécia e, principalmente, em regiões distintas dos Estados Unidos, evidenciando o predomínio de estudos sobre o tema neste país, ainda incipientes no Brasil.
Todos os artigos foram publicados em revistas na área da saúde, sendo predominante as revistas médicas, mostrando que essa área tem maior interesse nos estudos nesse tema. Sobre o método, observou-se que a maioria fez uso do método quantitativo, sendo 4 experimentais, 4 survey, 1 documental e apenas 1 qualitativo com casos clínicos, justificado por ser a principal abordagem metodológica utilizada em pesquisas na área de saúde (ver Quadro 3)
Quadro 3 Artigos analisados na revisão sistemática sobre a influência do transtorno de compulsão alimentar, do comer noturno e as estratégias de enfrentamento dos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica de acordo com idioma, ano de publicação, tipo de estudo, método, área de publicação da revista
Discussão
Os 10 artigos foram organizados em categorias temáticas (podendo o mesmo artigo contemplar conteúdos de mais de uma categoria), para que dessa forma pudessem ser melhor visualizados os assuntos abordados. No final dessa divisão, foram encontradas as seguintes categorias: 1) A compulsão e sua relação com os hábitos alimentares e sobrepeso (f = 6); e 2) Compulsão alimentar e saúde mental (f = 4).
Categoria 1 - A compulsão e sua relação com os hábitos alimentares e sobrepeso
Esta categoria engloba 6 artigos. Trata da relação entre compulsão alimentar e os hábitos alimentares (ingestão de gordura e energia total, tipo de restaurantes onde consomem) e sobrepeso. Também mostram como o Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) pode influenciar o resultado de tratamentos para emagrecimento
Ledeoux et al. (2015) realizaram uma pesquisa com 162 mulheres africanas e espanholas com idade entre 25 a 60 anos, que moram nos Estados Unidos, com o objetivo de analisar o peso destas mulheres e os efeitos da compulsão alimentar e da disponibilidade de restaurantes fast-food na vizinhança sobre suas dietas (ingestão de gordura e energia total) e IMC. Os resultados mostraram que há sobrepeso e obesidade maior nas mulheres que possuem compulsão alimentar e que elas consumem mais energia total e gordura que as que não consumiam por compulsão alimentar. Não houve interações significativas entre a existência de restaurantes fast-food da vizinhança e o consumo total de energia ou gordura.
Klobukoski e Hofelmann (2017) realizaram um estudo de levantamento transversal com 360 adultos com excesso de peso, de ambos os sexos, usuários de cinco unidades de saúde, na área de abrangência de um Núcleo de Atenção à Saúde da Família de Curitiba, no Paraná, Brasil. Objetivou-se verificar a prevalência de compulsão alimentar e os fatores associados em indivíduos com excesso de peso na Atenção Primária à Saúde. A compulsão alimentar foi identificada em 41,6% da amostra, com prevalência em mulheres, sem associação com as demais variáveis socioeconômicas, comportamentais relacionadas à saúde e antropométricas.
De forma complementar, Arlt et al. (2017) realizaram uma pesquisa de cunho experimental com o objetivo de analisar se percepção do paladar influencia a escolha dos alimentos, o status do peso e “desordens alimentares” com TCAP. Para tanto, contou com 60 pessoas divididas em quatro grupos de estudo: TCAP com peso normal (TC NO), controles saudáveis com peso normal (CT HC), TCAP com excesso de peso (TC CAM) e controles saudáveis com excesso de peso (TC HC). Os resultados mostraram que houve diferenças significativas na percepção do gosto de pessoas com TCAP com excesso de peso em relação aos outros três grupos. Esses achados podem fornecer uma explicação parcial para estudos que correlacionam o status do paladar e do peso.
Ao explorar os efeitos do TCAP sobre a saúde física de pacientes, Thornton et al. (2017) realizaram uma pesquisa com 850 registros de pessoas que foram diagnosticadas com TCAP, na Suécia. Objetivou-se avaliar as associações entre TCAP e doenças somáticas e determinar se as comorbidades médicas são mais comuns em indivíduos que apresentam TCAP e obesidade comórbida. O TCAP foi associado à maioria das doenças avaliadas, como diabetes, problemas no sistema circulatório e distúrbios somáticos.
Sobre os efeitos do TCAP sobre a eficácia de cirurgia bariátrica, Mauro et al. (2017) apresentaram estudo de casos com três pacientes que realizaram a cirurgia bariátrica no Brasil, com o objetivo de analisar o impacto dos episódios de compulsão alimentar em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Observaram o reganho de peso em pacientes que possuíam esse transtorno, assim como instabilidade emocional.
Chao et al. (2016) realizaram uma pesquisa com o objetivo de analisar a influência da compulsão alimentar na perda de peso. Para tanto, contaram com dois grupos distintos: indivíduos que realizaram a cirurgia bariátrica, com ou sem compulsão alimentar; e indivíduos que tiveram apenas tratamento comportamental para perda de peso, novamente com e sem compulsão alimentar. Os resultados mostraram que houve uma perda de peso maior em indivíduos que realizaram a cirurgia, mesmo com a presença da compulsão alimentar, apesar da necessidade de acompanhamento a longo prazo, destes pacientes.
De maneira geral, os estudos apresentados nesta categoria identificaram que pessoas com TCAP possuem percepção de gosto diferenciada, consomem mais energia total e gordura, possuem mais comorbidades médicas, como diabetes, problemas no sistema circulatório e distúrbios somáticos e podem ter resultado de cirurgia bariátrica prejudicados.
Categoria 2 - Compulsão alimentar e sua relação com fatores psicossociais
Esta categoria é composta por 4 artigos. Aborda a relação entre os fatores psicossociais e o TCAP. São relacionados qualidade de vida, desordens psicológicas, estresse e estratégias de enfrentamento
Costa e Pinto (2015) realizaram um estudo transversal com 96 pacientes candidatos à cirurgia bariátrica na Clínica Bariátrica AMBBAR, na Universidade Federal do Tocantins, no Brasil, com objetivo de avaliar a associação entre a presença e o nível de transtorno da compulsão alimentar periódica e a qualidade de vida dos obesos candidatos à cirurgia bariátrica. Os resultados mostraram que existe alta prevalência de pacientes com transtorno da compulsão alimentar periódica e que esses pacientes apresentaram os piores escores em todos os domínios da qualidade de vida.
Richardson et al. (2015) realizaram uma pesquisa de cunho experimental, com 101 mulheres, na Carolina do Norte, com o objetivo de analisar a relação entre estresse e comportamento alimentar. Os resultados mostraram que o estresse está associado à alimentação descontrolada, à alimentação emocional, e obesidade grave.
Com foco sobre saúde mental de pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, Pavan et al. (2017) realizaram uma pesquisa com 36 pacientes na Itália que realizaram a cirurgia bariátrica e que estavam insatisfeitos com a sua imagem corporal e optaram por realizar uma cirurgia plástica. Os autores investigaram características psicológicas e psiquiátricas em pacientes pós-bariátricos submetidos à cirurgia de contorno corporal para verificar a correlação entre psiquiatria e obesidade. Os resultados identificaram que paciente pós-operados da cirurgia bariátrica apresentam desordens psicológicas, como depressão, impulsividade, compulsão alimentar, inquietação, dentre outras. Portanto, o acompanhamento psicológico se faz necessário em todo o processo de cirurgia do paciente.
De forma complementar, Rodríguez-Hurtado et al. (2017) também encontraram dados importantes sobre saúde mental de pacientes bariátricos. Realizaram um estudo com objetivo de analisar a influência de variáveis psicológicas (autoestima, apoio social, estratégias de enfrentamento e personalidade) na manutenção da perda de peso após cirurgia bariátrica. Realizaram um estudo de coorte envolvendo 64 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica 24 meses após a alta. os pacientes foram divididos em dois grupos classificados como sucesso ou fracasso cirúrgico. Para ser considerado sucesso, os pacientes precisavam ter perdido 50% de seu peso. Os resultados sinalizaram que não havia diferença na autoestima e suporte social entre os dois grupos, porém os pacientes que obtiveram sucesso cirúrgico possuíram maior escores de reestruturação cognitiva e eram mais introvertidos. Eles falharam no escores de agressividade, assim como neuroticismo. Notou-se, portanto, que a autoestima e suporte social não garantem o sucesso cirúrgico, porém a forma que lidam com a obesidade, assim como a ausência de psicopatologias (como o TCAP) e distúrbios de personalidade podem afetar seus resultados.
De maneira geral, os estudos apresentados nesta categoria identificaram que pacientes com TCAP possuem menores índices de qualidade de vida, mais estresse percebido. De forma complementar a alguns achados da categoria 1, também mostraram que pacientes que realizam cirurgia bariátrica podem possuir desordens psicológicas diversas como compulsão alimentar, depressão, impulsividade, inquietação, dentre outras.
Considerações Finais
A partir do presente estudo, confirma-se que a obesidade é a doença mais prevalente do mundo e cresce, principalmente na sociedade ocidental, se configurando como um problema de saúde pública em diferentes países. Além dos índices alarmantes, seus determinantes também são amplos. Dentre eles, existem transtornos alimentares pouco conhecidos e estudos, a citar o TCAP e o comer noturno.
De maneira geral, os estudos identificaram que pessoas com TCAP possuem percepção de gosto diferenciada, consomem mais energia total e gordura, possuem mais comorbidades médicas, como diabetes, problemas no sistema circulatório e distúrbios somáticos. Também possuem menores índices de qualidade de vida, mais estresse percebido. Além disso, o TCAP pode comprometer a eficácia de cirurgias bariátricas.
Conhecer e entender os fatores relacionados ao TCAP é importante e necessário, para que possam subsidiar a tomada de decisão sobre planejamento terapêutico singular do paciente e possíveis estratégias de enfrentamento. Além disso, é importante entender que a cirurgia bariátrica não é isoladamente a solução da obesidade, pois muitos pacientes possuem outros determinantes psíquicos associados ao seu peso. Sendo assim, o acompanhamento psicológico se faz necessário em todo o processo de tratamento, para que essa entenda os hábitos, a rotina e os determinantes biopsicossociais de seu peso, permitindo, assim, o planejamento do tratamento, considerando sua integralidade.
Como limitações do presente estudo pode-se citar o uso de poucas bases de dados, alcançando um número tímido de publicações. Constatou-se ainda a ausência de pesquisas sobre o comer noturno na seleção. Sugere-se que estudos futuros possam utilizar outras bases de dados visando um maior número de estudos nos resultados da busca; assim como inclusão de estudos em outros idiomas, além de inglês e português.
A presente pesquisa propicia ao leitor uma reflexão sobre um tema distante da maioria da população. Conclui a importância de ampliação de pesquisas sobre o tema, ainda escassas na literatura internacional. Por isso, este trabalho não finaliza aqui, esse é apenas um convite para que a comunidade, profissionais de saúde, experts, acadêmicos e gestores discutam, pesquisem e revisem as intervenções com pacientes obesos.
