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O conceito de burnout surgiu nos artigos fundadores de Freudenberger (1975, 1974) e Maslach (1976). Rotenstein et al. (2018) situa o início da utilização do conceito, ainda que de uma forma coloquial, nos cuidados de saúde, um pouco antes, nos finais da década de 60 do século passado. O constructo era descrito como stress psicológico e emocional sentido pelas equipas de saúde. Samra (2018), na sua breve história do burnout, refere a existência de relatórios de outras áreas profissionais em que se usa o termo e que são anteriores às primeiras descrições deste fenómeno já referidas. Schaufeli (2017) identifica também o uso do termo como se referindo, em termos coloquiais, às consequências que a utilização prolongada de drogas ilícitas tem nos seus utilizadores.
Rotenstein et al. (2018), por sua vez, situa nos finais dos anos 60 do século passado como o período em que este conceito começou a ser utilizado de forma informal em contextos de saúde. Desde então, o conceito deu origem a diversas dimensões e diferentes perspetivas (Schonfeld & Bianchi, 2021). O conceito passou a ser utilizado como stress relacionado com o trabalho a partir dos anos 80 (Maslach et al., 2016). Em 2021, Canu et al. trabalharam no sentido de harmonizar as definições de burnout, entre as quais a clássica de Maslach & Jackson (1981), sendo uma das premissas fundamentais a construção de um conceito harmonizado e reconhecido amplamente:
People who work intensively with others […] are often unable to cope with this continual emotional stress and burnout occurs. They lose all concern, all emotional feeling, for the persons they work with and come to treat them in detached or even dehumanized ways. […] The worker’s feelings about people often show a shift toward the cynical or negative. […] Burnout often leads to a deterioration of physical well-being. The professional becomes exhausted, is frequently sick and may be beset by insomnia, ulcers and migraine headaches, as well as more serious illnesses.” (op cit. p. 100).
De qualquer forma, o conceito tem sido objeto de interesse por parte da comunidade científica e inclusive deu origem a um jornal Burnout Research, publicado entre 2014 e 2017. Schaufeli (2017) chama a atenção para que muitas intervenções na área do burnout não tenham sido suficientemente avaliadas. Apesar disso, no que diz respeito à operacionalização empírica do conceito, existe já uma longa lista de trabalhos e de instrumentos. Maslach (1976) desenvolveu Maslach Burnout Inventory (MBI), o instrumento central na avaliação deste constructo. Da mesma forma, o conceito de burnout foi objeto de operacionalização quantitativa através do surgimento de diversos instrumentos de avaliação, alguns dos quais já adaptados à língua portuguesa. Concretamente Figueiredo-Ferraz et al. (2014) já efetuaram a validação fatorial do Spanish Burnout Inventory para uma população de profissionais da polícia. Também Carlotto e Câmara (2007) estudaram as propriedades psicométricas do Maslach Burnout Inventory (MBI) para português brasileiro, assim como Marôco & Tecedeiro (2009) realizaram idêntico procedimento relativamente a estudantes portugueses. Tendo em conta a mesma realidade, Schuster e Dias (2018) validaram o Oldenburg Burnout Inventory (OLBI). Referimos ainda o Copenhagen Burnout Inventory (CBI) de Kristensen et al. (2005) adaptado para português europeu por Fonte (2011).
Estamos, deste modo, perante um extenso corpo de literatura científica desenvolvido inicialmente no contexto de equipas de saúde que importa conhecer e sistematizar. Particularmente, interessa-nos atualizar as tendências de investigação do burnout, sobretudo o eventual impacto que a situação pandémica poderá nelas ter assumido.
A análise bibliométrica surge num contexto em que o volume de informação científica está constantemente em crescimento. Assim, tornou-se cada vez mais premente a existência de grandes bases de dados que permitem a pesquisa de todo esse volume de informação. A necessidade de trabalhos científicos que organizem e criem perspetivas sobre a literatura torna-se cada vez mais premente, devido ao crescente número de publicações efetuadas. É a este propósito que se efetua a presente pesquisa bibliométrica sobre o burnout. Afigura-se-nos interessante conhecer as tendências da investigação sobre o burnout na área das profissões da saúde, a saber: psiquiatria, psicologia clínica, enfermagem, serviço social e serviços de saúde em geral.
Foram colocadas as seguintes questões de investigação: Como se configura a investigação do burnout em contexto de saúde - quais os autores, artigos, revistas, instituições e países mais influentes nesta área da investigação?; De que forma os artigos sobre o burnout se agrupam e se categorizam?; Quais as áreas de investigação que recebem mais atenção?; Quais as áreas de investigação com maior potencial em termos futuros?
Método
Pesquisa e Seleção de Artigos
Realizou-se uma pesquisa utilizando o termo “burnout” na Web Of Science Core Collection no dia 02 de março de 2022 com os seguintes critérios de limitação de resultados: artigos ou artigos de revisão; língua inglesa e publicados entre os anos 2017 e 2022. Limitámos ainda os resultados a: enfermagem, psiquiatria, psicologia clínica, trabalho social e serviços de saúde (health care sciences services).
Obteve-se um total de 4588 artigos científicos sendo que destes 395 foram de artigos de revisão. A opção analyse results disponibilizada na WoS, permite explorar várias representações gráficas de diversas dimensões, facilitadoras de uma compreensão mais ampla da produção científica relacionada com a pesquisa e identificar padrões, tendências e insights relevantes.
A pesquisa foi posteriormente gravada no formato plain text file e exportada com as opções full record e cited references. Constituímos assim a nossa amostra, por forma a realizar análises bibliométricas através do VOSviewer. Já no que concerne ao HistCite os resultados foram gravados em formato ANSI, por forma a poder realizar-se idêntica importação para o software.
Instrumentos de Análise de Dados
A WoS é uma base de dados científica que agrega inúmeros artigos das mais diversas áreas do saber. Existem vários trabalhos a atestar a sua importância e a utilizá-la como instrumento de base para estudos bibliométricos (Ranckutė, 2021).
O VOSviewer é um aplicativo criado por Van Eck & Waltman (2010) que permite a leitura bibliométrica de diversas dimensões das pesquisas efetuadas numa dessas bases de dados. Pesquisando na WoS pelo termo VOSviewer e tendo em linha de conta o mesmo intervalo temporal utilizado neste estudo, 01/01/2017- 02/03/2022, obteve-se um total de 1536 artigos - sendo que se deteta uma tendência crescente na utilização deste software.
O HistCite, criado por Eugene Garfield (2009), é outro instrumento importante para análise bibliométrica e visualização dessa análise, nomeadamente se a fonte de dados é o WoS. Idêntico procedimento se fez relativamente ao HistCite, obtendo-se um total de 128 artigos e a mesma tendência crescente. A maior utilização do primeiro software foi também identificada noutros estudos (Shah et al., 2019).
Ambos os programas, para além da sistematização dos resultados em termos quantitativos, permitem através da utilização de algoritmos, a representação visual dos mesmos, tendo em linha de conta uma série de parâmetros.
Análise de Dados
Os resultados da pesquisa efetuada no WoS foram carregados no VOSviewer e no HistCite. A importância da fase do pré-processamento em termos de formação de nuvens de palavras-chave revelou-se crucial. Nas primeiras nuvens efetuadas, pudemo-nos confrontar com as mesmas palavras escritas de modo diferente, ou ainda variantes da mesma palavra ou conceito (por exemplo: health-care escrito com e sem hífen ou mesmo como se fosse uma única palavra). Nesta etapa, foi fundamental decidir a grafia que melhor se adequava e a mais correta, para depois unir os resultados. Deste modo, foi possível obter nuvens de melhor qualidade, melhorando as possibilidades de análise.
No que diz respeito às análises baseadas em artigos ou em nome de artigos, quer sejam elas efetuadas através do VOSviewer, quer ainda através do HistCite, a fase de pré-processamento não foi necessária.
Resultados
Informação Bibliométrica da WoS
O WoS parametriza quantitativamente diversas dimensões da nossa amostra. Assim, relativamente às profissões das áreas de atividade consideradas, registamos uma preponderância da área da enfermagem e da psiquiatria, como se pode constatar na Figura 1.
Figura 1 Número de Publicações por Categorias. Nota. Um artigo pode estar identificado em mais do que uma categoria.
Da mesma forma, no que concerne aos publicadores, temos a Wiley e a Elsevier como as editoras mais relevantes nesta área, seguidos pela Springer Nature, Taylor & Francis, Sage, entre outros. São resultados previsíveis uma vez que estas editoras são líderes em termos mundiais, nestas e noutras áreas da publicação científica. Relativamente aos anos de publicação, temos uma tendência de aumento entre 2017 a 2021 (recorde-se que a data da pesquisa foi início de 2022). Este aumento evidencia a relevância e o interesse que este conceito desperta na comunidade científica internacional (Figura 2).
O Quadro 1 evidencia as dez revistas com mais artigos sobre burnout publicados - existe, como se observa, uma relevância de publicações na área de enfermagem e também na de medicina.
Figura 2 Número de Publicações por Ano. Nota. A pesquisa analisada incluiu resultados até 2 março de 2022.
Observamos, da mesma forma no Quadro 2, as dez agências que mais trabalhos financiaram no âmbito do burnout. Constata-se também que um pouco mais de metade dos trabalhos publicados foram realizados sem apoio de financiamento externo. Observa-se uma preponderância, também aqui, de instituições sediadas nos EUA.
Quadro 2 Número de Publicações por Instituições Financiadoras.
Nota. Exibindo 10 de 2361 entradas. 2602 registos (56,713%) não contêm a informação no campo que está a ser analisado.
No Quadro 3, apresentamos as instituições com maior número de publicações e a respetiva percentagem no âmbito da nossa pesquisa - da mesma forma, realça-se aqui uma preponderância de universidades americanas.
Quadro 3 Número de Publicações por Instituição
Nota. Exibindo 10 de 4942 entradas. 11 registos (0,240%) não contêm não contêm a informação no campo que está a ser analisado.
Temos de seguida os dez autores da nossa amostra com maior número de trabalhos publicados no período em apreço (Quadro 4). Na coluna à direita temos o percentual de cada autor, tendo em linha de conta o total de artigos obtidos na pesquisa que serve de base a este trabalho. Finalmente, numa última coluna, temos a área de conhecimento de cada um dos profissionais.
Scores de Citação utilizando HistCite
Utilizando o HistCite procedemos às análises que de seguida se podem observar. Uma primeira tem que ver com uma seriação dos artigos com mais impacto científico tendo como critério de seriação o Global Citation Score (GCS). Este score tem em linha de conta o número de citações de cada artigo em geral (enquanto o Local Citation Score - LCS - aplica a mesma métrica, mas tendo apenas em consideração os artigos pertencentes a esta pesquisa). Estes dois scores permitem leituras combinadas, por exemplo: o artigo posicionado em terceiro lugar tendo em conta o GCS é o que tem mais elevado LCS, o que o aponta como o trabalho mais relevante em termos de burnout no contexto da nossa pesquisa.
Podemos perceber que temas como a COVID-19, em diversos contextos de saúde, contam-se entre os artigos mais citados. Os temas relacionados com a qualidade e segurança nos cuidados, assim como os profissionais de saúde - quer sejam considerados no seu todo, quer levando em conta as profissões de medicina e de enfermagem - fazem parte dos conteúdos dos artigos considerados no Quadro 5.
Quadro 5 Artigos Ordenados por Global Citation Score
Nota. LCR: Local Cited References apresenta o número de citações numa dada lista de referências. CR: Cited References apresenta o número de referências citadas na bibliografia do artigo.
No Quadro 6 a podemos observar os países com os Total Global Citation Score (TGCS) mais elevados. Os países com mais impacto científico, tendo em conta esta métrica, são os EUA, Reino Unido e Austrália. Em termos de Total Local Citation Score (TLCS) os resultados seguem a mesma tendência - uma das exceções ao que se afirma é a Austrália que, relativamente ao TLCS, se encontra em segundo lugar. Este resultado aponta para que este país tenha maior impacto na amostra que norteia o presente trabalho - ou seja, os critérios de pesquisa mais direcionados com profissões da área de saúde.
Mapeamento de citações utilizando o HistCite
Para efetuar um mapeamento de citações (Citation Mapping), utilizámos a ferramenta do HistCite que possibilita a representação espacial tendo em linha de conta o impacto científico de cada artigo e as ligações que estabelece em termos de cocitação. Considerámos cinco áreas em que há uma rede de ligações, devidamente mapeadas na Figura 3. Posteriormente, identificámos os artigos correspondentes a cada número e procedemos à análise do seu título, resumo e palavras-chave procurando perceber essas relações.
Na categorização azul existem como temas principais a nurse resilience, envolvendo fatores pessoais e laborais. Na categorização vermelha: health care workers in mental health staff well being; emotional exhaustion e disengagement. No que se refere à categorização castanha, temos como temas transversais a compassion fatigue e a compassion satisfaction quer seja na sua compreensão quer ainda no que respeita a formas de intervenção sobre estes fatores. Na categorização verde regista-se: work environment in nurse profession com ênfase na utilização de escalas para monitorizar estas dimensões. Para terminar, na categorização roxa realça-se a workload in primary health care and the subsequence burnout among physicians.
Acoplamento Bibliográfico utilizando VOSViewer
A opção Bibliographic Coupling (unidade de análise documents) determina a relação dos trabalhos levando em linha de conta o número de referências partilhadas (Van Eck & Waltman, 2022). Optámos aqui por apenas representar na nossa nuvem os trabalhos que obtiveram um mínimo de 80 citações no período em análise. Tal opção justifica-se por garantir uma maior legibilidade dos resultados e é comum em termos de estudos bibliométricos (Shah et al., 2019). A nuvem situa espacialmente 37 artigos e os respetivos autores (Figura 4). Analisando os títulos dos artigos e os seus resumos acabámos por categorizar cada um dos clusters, tendo em linha de conta os seus conteúdos mais dominantes.
Na área vermelha da nuvem (cluster 1 incluindo também dois artigos do lilás no cluster 5) regista-se trabalhos que relacionam o burnout e diversos profissionais de saúde - quer considerados no seu todo, quer ainda debruçando-se apenas sobre os profissionais de enfermagem. Em termos de outros conteúdos, os artigos debruçam-se sobre variáveis relacionadas com o trabalho - como as competências, a autoeficácia, o ambiente de trabalho - e ainda o bem-estar, o stress e o grau de satisfação. Na área verde regista-se artigos dedicados a diversas variáveis psicológicas importantes no burnout (cluster 2) como, por exemplo, trabalhos preocupados com temas como o luto, a solidão, o isolamento, fatores de suporte social, resiliência e o mindfullness como fator protetor - também aqui se estudaram estes temas tendo em conta a pandemia e os profissionais de saúde. A área azul-escura (cluster 3) engloba dimensões como o impacto da pandemia na saúde física e mental dos profissionais. Debruça-se ainda em estratégias de coping com o stress relacionado com a pandemia, assim como sentimentos de desespero, sofrimento, sintomas somáticos e ansiedade em profissionais de saúde, tendo como principal denominador comum o COVID-19. Na área amarela (cluster 4), deparamo-nos com trabalhos relacionados com profissionais de medicina. Os trabalhos aqui considerados estudam o stress, estratégias de coping nestes profissionais. Deparamo-nos ainda com um artigo que apresenta um breve instrumento de avaliação do burnout e realização laboral nesta classe profissional. Na área roxa (cluster 5) considerámos dois trabalhos relacionados com as abordagens de qualidade nos cuidados de saúde, um deles enfatizando os pacientes e a família, e um outro os aspetos relacionados com a segurança laboral. O cluster 6, zona azul-clara, registaram-se artigos que procuraram identificar problemas de saúde mental, prevalência de stress psicológico, depressão e ansiedade em estudantes de medicina. O burnout foi também aqui estudado tendo em conta um programa residencial para este tipo de estudantes.
Figura 4 Acoplamento Bibliográfico utilizando VOSViewer. Nota. Exibindo artigos com um mínimo de 80 citações.
Mapeia-se assim diversas áreas temáticas, através do acoplamento, cada uma delas convocando uma série de outras variáveis, tendo em consideração as relações que os diversos artigos estabelecem entre si, considerando os trabalhos com maior número de citações na pesquisa que constituiu os dados do nosso trabalho. Temos, assim, uma noção precisa dos temas que nortearam a publicação científica, levando em linha de conta o seu impacto científico.
Mapeamento Cartográfico utilizando a Coocorrência de palavras-chave
Utilizámos de seguida a análise co-occurrence do VOSviewer tendo como unidade de análise all keywords e full counting. Para depois conseguirmos uma nuvem com o mínimo de legibilidade, optámos por representar apenas as palavras-chave que apresentaram um mínimo de 120 ocorrências na nossa pesquisa. Para a construção de nuvens de qualidade, optou-se aqui por uma fase de pré-processamento que permitiu eliminar ou unir, conforme os casos, as mesmas palavras-chave que estavam escritas de modo diferente (Figura 5).
Assim, no cluster azul registaram-se palavras-chave relacionadas com enfermagem, hospital, ambiente de trabalho. No cluster verde, observam-se palavras como covid-19, médicos, estudantes de medicina e palavras relacionadas com as propriedades psicométricas de instrumentos de avaliação ou tratamento como validade e validação. Já no cluster de cor amarela observou-se a ocorrência de palavras-chave mais relacionadas com dimensões sociais e laborais. Finalmente, o cluster de cor vermelha englobou palavras-chave relacionadas com fatores protetores, como a empatia, a compaixão, o mindfulness, a qualidade de vida, a satisfação, o cuidado, mas ainda palavras como o burnout nos médicos, a fadiga e mesmo o stress traumático secundário.
Em termos da importância per si de cada palavra-chave, domina o burnout, como seria expetável, mas também importa sublinhar a importância das palavras nurse, nursing e stress.
A Figura 6 representa a coocorrência de palavras-chave tendo em linha de conta o tempo médio de publicação em que surgem (overlay visualization). A parte mais clara da teia representa, deste modo, as palavras-chave com tempo médio de publicação mais recente. Podemos, assim, constatar que palavras como anxiety, healthcare workers, covid-19, resilience e impact são as que apresentam tempo de publicação mais recente nesta área da pesquisa. O tema do covid-19, previsivelmente, parece ter captado o interesse dos investigadores, juntamente com dimensões como os trabalhadores de saúde e temas relacionados com os cuidados de saúde no seu todo.
Da mesma forma, a parte da nuvem com nós mais pequenos e de cor roxa, situados sobretudo no segmento inferior direito, representam palavras-chave com tempo médio de publicação mais antigo. Assim, poderemos identificar uma tendência anterior centrada em palavras-chave como outcomes, work engagement, performance, experience e staff. Os estudos com tempo de publicação médio mais antigo parecem tentar relacionar/estudar o burnout tendo em conta preocupações na área do trabalho e fatores laborais relacionados com a sua eficácia.
Coautoria por instituições e países
Efetuou-se de seguida as nuvens formadas pelo VOSviewer relativamente às coautorias tendo por princípio organizador as instituições envolvidas nos trabalhos e os países dos investigadores envolvidos em cada uma dessas instituições (Figura 7).
Na nuvem de coautorias, tendo em linha de conta as instituições de afiliação dos autores, considerou-se a existência de um mínimo de 20 coautorias. Independentemente dos clusters considerados, seis, espacialmente confrontamo-nos com três grandes aglomerações.
Figura 6 Análise Cartográfica utilizando a “Overlay Visualization”. Nota. As cores referem-se ao tempo médio de publicação em que cada uma das palavras-chave se encontra inserida.
A nuvem seguinte, Figura 8, representa as coautorias nesta área, tendo em linha de conta o burnout e um número mínimo de 15 coautorias. Facilmente se constata a preponderância da Austrália, Inglaterra, EUA e China. Podemos realçar também alguns clusters como aquele que agrupa alguns países da américa latina, Portugal e Espanha; um outro cluster que agrupa alguns países asiáticos (Coreia do Sul, Singapura e Nova Zelândia); um cluster com países europeus e um outro que agrupa países de expressão alemã (apesar da pesquisa só considerar artigos em língua inglesa).
Discussão
Ao longo do trabalho, constatou-se que os EUA são o país mais influente nesta área de investigação, quer tendo em linha de conta o número em bruto dos artigos publicados, quer ainda considerando as coautorias implicadas e também o seu impacto científico propriamente dito. O burnout é também um tema de publicação importante em revistas relacionadas com as profissões ligadas à área da saúde e consideradas na pesquisa. Identificou-se também os autores com maior impacto pertencentes a estas mesmas profissões, o que aponta no sentido de que a autorregulação e o autocuidado começam a ser dimensões importantes no desenvolvimento da atividade profissional na área dos cuidados de saúde.
No que concerne aos grupos temáticos das publicações com maior impacto científico sobre o burnout, as variáveis relacionadas com as dimensões psicológicas e questões laborais foram proeminentes. Também foi possível constatar que as profissões de saúde, nomeadamente enfermeiros, médicos e estudantes de medicina obtiveram uma expressão significativa na amostra em análise o que aponta no sentido de uma autorregulação destas profissões. Nos últimos dois anos, o COVID-19 teve um grande impacto em termos de variável de pesquisa também nesta área - o que pode traduzir uma preocupação com o bem-estar e o impacto físico e psicológico dos profissionais que estiveram na linha da frente.
No que respeita a áreas de investigação mais transversais e mais emergentes na área da pesquisa sobre o burnout, tivemos como principal indicador a overlay visualization da VOSviewer. De facto, nesta visualização podemos identificar um conjunto de palavras-chave mais relacionadas com a performance laboral tendo um tempo médio de publicação mais antigo. Por outro lado, as palavras-chave com tempo médio de publicação mais recente parecem focar-se em aspetos mais associados à saúde mental e à resiliência. Esta mudança poderá estar relacionada com a situação pandémica COVID-19.
A pesquisa considerada neste trabalho tem relativamente pouca representatividade de palavras-chave relacionadas com as novas tecnologias (telehealth: 10 occurrences; 61 total link strength; telemedicine: 14 occurrences; 83 total link strength). O cruzamento destas com a pesquisa em burnout pode ser, de facto, um campo promissor em termos futuros. Também a existência de um campo de palavras-chave com um tempo médio de publicação mais recente, parece indicar um enfoque mais centrado na saúde mental, ansiedade e os trabalhadores em saúde no seu todo - o seu bem-estar físico e psicológico e na resiliência.
Identificou-se o modo como a literatura sobre o burnout se configura no contexto da saúde, nomeadamente quais são os autores, artigos, revistas, instituições e países mais influentes nesta área. Percebeu-se o modo como os artigos com maior impacto se organizam em termos temáticos e quais as subáreas de investigação obtiveram maior potencialidade e visibilidade científica. Esta pesquisa foi conduzida no VOSviewer através de diversas análises cartográficas. Também no HistCite se efetuou um mapeamento bibliográfico dos artigos em análise no presente trabalho. Tudo isto permitiu uma visão integrada sobre os diferentes aspetos da pesquisa sobre burnout no período analisado. Nestas etapas conseguiu-se traçar uma panorâmica da investigação científica nesta área, assim como das tendências que surgiram recentemente, coincidindo com o contexto pandémico.
A investigação sobre o burnout poderá configurar uma mudança em termos de uma melhor compreensão do fenómeno - nomeadamente nas dimensões relacionadas com a prevalência. Deste modo, uma das principais implicações práticas poderá ser uma maior preocupação com a humanização dos serviços, com enfoque em dimensões de bem-estar dos trabalhadores de saúde.
Limitações e Sugestões de Investigações futuras
A única fonte de dados utilizada neste trabalho foi o WoS. Trata-se de uma base de dados de referência mundial e que serve de base a inúmeros trabalhos de investigação bibliométrica. No entanto, será interessante realizar investigações semelhantes a esta tendo por fonte de informação outras bases de dados.
Os parâmetros de pesquisa considerados neste trabalho implicaram um número elevado de artigos e em todas as restantes dimensões analisadas (coautorias, keywords, organizations e countries). Por forma a garantir a legibilidade dos dados, definimos um número relativamente elevado de ocorrências mínimas. Deste modo, artigos mais recentes, que ainda não obtiveram um considerável número de citações, não surgiram, nem as suas respetivas palavras-chave, nas nuvens analisadas.
Em termos de tendências futuras de investigação, parece existir uma mudança nos temas investigados no âmbito do burnout, desde um prisma mais relacionado com as questões laborais e a sua eficácia para um enfoque mais ligado a variáveis psicológicas como a ansiedade, mas também o bem-estar e a resiliência. Esta mudança aparece associada ao tema do COVID-19 mas poderá também indicar uma tendência futura de investigação. Da mesma forma, a palavra-chave healthcare workers também é emergente e poderá manter esta mudança no enfoque nos próximos anos.
Contribuição dos autores
Rui Tinoco: Investigação, Metodologia, Análise formal, Redação rascunho original.
Olga Fortes: Investigação, Redação - revisão e edição.
Carla Lopes: Investigação, Redação - revisão e edição.
Rita Valinho: Curadoria dos dados, Investigação, Redação - revisão e edição.
Vanessa Moreira: Metodologia, Curadoria dos dados.
