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Cadernos de Estudos Africanos

Print version ISSN 1645-3794

Cadernos de Estudos Africanos  no.38 Lisboa Dec. 2019  Epub June 12, 2021

 

BOOK REVIEW

Takuo Iwata (Ed.). New Asian Approaches to Africa: Rivalries and Collaborations. Delaware: Vernon Press. 2020. 296 pp. ISBN 978-1-62273-809-0

Takuo Iwata (Ed.). New Asian Approaches to Africa: Rivalries and Collaborations. Delaware: Vernon Press. 2020. 296 pp. ISBN 978-1-62273-809-0

Clara Carvalho1 

1Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Centro de Estudos Internacionais (CEI-IUL), Portugal, clara.carvalho@iscte-iul.pt

Iwata, Takuo. (Ed.)., New Asian Approaches to Africa: Rivalries and Collaborations. ., Delaware: :, Vernon Press, ., 2020. ., 296p. pp. ISBN, ISBN: 978-1-62273-809-0.


New Asian Approaches to Africa é uma obra que se impunha para o conhecimento das relações preferenciais entre diferentes países asiáticos e o continente africano. Organizado por Takuo Iwata, professor de Relações Internacionais no College of International Relations, Ritsumeikan University no Japão, o livro reúne as comunicações ao seminário homónimo realizado na Universidade de Quioto, Japão, em novembro de 2018 e analisa as relações com África dos países asiáticos com programas de parceria e cooperação no continente (Japão, China, Coreia do Sul, Índia).

O livro é enriquecido pela introdução de Takuo Iwata, um cientista político que se dedica à questão das relações entre os países asiáticos e africanos. O organizador começa por delinear a história e a estratégia dos diferentes países asiáticos em África, contextualizando as relações de cooperação e os diferentes atores, as suas prioridades e múltiplas facetas. A cooperação dos países asiáticos em África adquire novos contornos que não estavam presentes na arquitetura da cooperação internacional liderada pela OCDE e dominada pelos países ocidentais. Desde logo, uma abertura à colaboração estreita entre cooperação e negócios e economia. São abandonadas as condicionantes exigidas pela cooperação ocidental, nomeadamente no que toca às questões de democracia e reforma neoliberal. Esta relação entre os países asiáticos e africanos tem por marco, no período contemporâneo, a Conferência de Bandung em 1955, dominada pelas questões das independências e do posicionamento face aos dois blocos dominantes (ocidental e socialista). Seis décadas depois, os interesses de uns e outros foi alterado. Do lado asiático as principais economias com investimento em África são, por ordem de entrada no mercado africano atual: o Japão, o primeiro Estado asiático a integrar a OCDE (1964); a China, o país com mais interesses e maiores investimentos em África, através de múltiplas parcerias; a Índia, que mantém relações históricas com os países da África Oriental; e a Coreia do Sul, que passou de recetor a membro da OCDE em 1996 e iniciou os trâmites para integrar o Comité de Assistência ao Desenvolvimento uma década depois. Estes quatro países mantêm cimeiras e fóruns reguladores da sua cooperação seja em termos bilaterais ou com a União Africana, começando com o Japão, que lançou o TICAD (Tokyo International Conference on African Development) em 1993, seguido pela China em 2000 (Forum on China-Africa Cooperation, FOCAC), pela Índia (India-Africa Forum Summit, IAFS) e Coreia do Sul (Korea-Africa Forum, KOAF) imediatamente depois. Neste novo processo de cooperação há ainda espaço para projetos comuns, como o Asia-Africa Growth Corridor (AAGC) liderado pelos governos do Japão e da Índia.

Esta obra, que recobre temas diversos como cooperação internacional, soft power, relações comerciais e o papel da sociedade civil, encontra-se dividida em três partes, a saber: Fóruns Asiáticos sobre Desenvolvimento em Africa, Soft Power Asiático em África, Novas Fases das Aproximações Asiáticas em África. A primeira parte relega o leitor para os fóruns de acordos de cooperação entre países asiáticos e africanos, além dos programas de relevo lançados, considerando o seu contexto histórico e desafios atuais. Integra artigos sobre as relações intergovernamentais de cooperação entre a China e a União Africana (“The Forum on China-Africa Cooperation (FOCAC) - A Co-constituted Relationship”) por Yu-Shan Wu, University of Witwatersrand, África do Sul; as cimeiras Índia-Africa (“Evolution of India-Africa Forum Summit (IAFS) Since Its Inception in 2008”) por Aparajita Biswas, Centre for African Studies, University of Mumbai, Índia; as relações com a Coreia do Sul, país que desde 2011 integra o Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE (“Korea-Africa Forum (KOAF) - South Korea’s Middle Power Diplomacy and Its Limitations”) por Hyo-Sook Kim, Kansai Gaidai University, Japão; e o TICAD (“TICADs under the Changing Global Landscape - Japan’s Role in African Development Reconsidered”) por Motoki Takahashi, Kyoto University, Japão.

A segunda parte do livro incide sobre o soft power de alguns destes países, focando diferentes exemplos e estudos de caso, nomeadamente a Coreia do Sul (“Asia-Africa Relations - The Way Korean and African Cultures Encounter”), por Yongkyu Chang (Hankuk University of Foreign Studies, República da Coreia), a China na perspetiva do turismo chinês (“A New Approach to Cooperation with Africa from the Rise of Chinese Tourism in the 21st Century”), por Huaqiong Pan (Peking University, China) e o Japão (“Turning Point in Japan’s Soft Power Strategy in Africa”), por Takuo Iwata (Ritsumeikan University, Kyoto, Japão).

Finalmente, a terceira parte analisa projetos e estudos de caso reveladores das novas políticas de cooperação, incluindo os artigos de Pedro Miguel Amakasu Raposo de Medeiros Carvalho, Kansai University, intitulado “Small Farmers - The Missing Link in the ProSavana Triangle”; o artigo “Japanese Firms and Their Internationalization in Africa”, por Scarlett Cornelissen, Stellenbosch University, África do Sul; e o artigo “Changing Aid Architecture in Africa Through the Encounter Between OECD Countries and Non-OECD Countries” assinado por Masumi Owa, Chukyo University, Japão.

Os exemplos concretos que aborda são reveladores das políticas de aproximação ao continente africano, não só no quadro das estratégias de cooperação entre países asiáticos e africanos como no contexto de outras cooperações. É exemplificativo o estudo de Pedro Amakasu Carvalho sobre a cooperação triangular Sul-Sul no quadro do programa ProSAVANA, um empreendimento situado no Corredor de Nacala que envolve os governos de Moçambique, do Japão e do Brasil. Inicialmente foi apresentado como um caso de sucesso e considerado exemplar da cooperação com países do Sul com experiência em agricultura tropical, como é o caso do Brasil. Contudo, tem vindo a ser contestado tanto ao nível nacional como internacional, por atentar contra os interesses dos pequenos agricultores e limitar o seu acesso à terra.

Saliento igualmente o artigo de Masumi Owa, uma antiga colaboradora da embaixada da China no Uganda. A autora começa por comparar a cooperação “tradicional” iniciada pelo CAD-OCDE e a sua política de ajuda condicional com novos atores como a China que investem apenas no desenvolvimento económico e de infraestruturas. O Uganda, país onde residiu durante um período prolongado, é o melhor exemplo do que o ECDPM (um think tank) descreve como uma imposição dos Direitos Humanos que é vista como uma interferência na soberania nacional por alguns países africanos. Neste contexto, a opção pela cooperação com a China é, não apenas interessante em termos económicos, como preferencial para um governo agastado pelas interpretações nos media ocidentais sobre a sua política interna.

Esta é uma obra que se impunha tanto pela sua abrangência como pelo foco transdisciplinar. As relações internacionais são analisadas com base em exemplos pertinentes e trazem um novo olhar para as múltiplas facetas de uma cooperação que tem provocado mudanças estruturais em diversos Estados africanos. O livro oferece uma visão ampla sobre as relações entre os principais países asiáticos e África, uma perspetiva rara na literatura recente que tem privilegiado o emergir da China como principal parceiro bilateral de muitos dos países africanos. O investimento da China em África aumentou de 10,5 mil milhões em 2000 para 220 mil milhões em 2014 (Anshan, 2016, p. 48), e foi acompanhado de uma longa lista de pesquisas focando questões de relações internacionais, diplomacia, relações económicas e mesmo migrações, tanto do lado da academia chinesa como ocidental (Anshan, 2016). As relações China-África têm sido alvo de um escrutínio detalhado desde os trabalhos pioneiros de Chris Alden, Fantu Cheru (comparando os investimentos da China e da Índia em África), Ian Taylor ou Li Anshan. Estes autores analisaram os interesses económicos e diplomáticos desta relação, não só pela necessidade de matérias-primas e fontes de energia para a indústria expansionista chinesa, como pela necessidade de apoio dos países africanos às suas posições nas Nações Unidades e à sua entrada como membro permanente do Conselho de Segurança. Mais recentemente, focam a colaboração nas políticas de paz e segurança do continente. Outro foco de interesse tem sido a inclusão dos países africanos na ambiciosa iniciativa Belt and Road (BRI): até setembro de 2019, um total de 40 países em Africa tinham assinado um acordo bilateral com a China relativo ao BRI.

Face à abundante literatura sobre as relações China-África, este livro oferece a vantagem de situar esta cooperação no contexto mais amplo dos interesses de outros países da mesma região. Será interessante seguir esta pesquisa com a análise de outros países asiáticos, tais como a Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietname, considerados a segunda geração das “economias emergentes”, cuja aproximação ao continente africano é expectável.

Referências

Alden, C. (2007). China in Africa. Zed Books. [ Links ]

Anshan, L. (2016). African studies in China in the twentieth century: A historical survey. Brazilian Journal of African Studies, 1(2), pp. 48-88. [ Links ]

Cheru, F., & C. Obi, C. (Eds.). (2010). The rise of China and India in Africa. Zed Books. [ Links ]

Development Reimagined. (2019). Countries along The Belt and Road- What does it all mean? Countries along The Belt and Road- What does it all mean? https://developmentreimagined.com/2019/09/26/countries-along-the-belt-and-road-what-does-it-all-mean/ (Acedido a 08 de dezembro de 2019). [ Links ]

ECDPM. (2014). Don’t ignore the elephants in the room - Will the Africa-EU Summit revitalise the partnership? Blog entry. https://ecdpm.org/talking-points/dont-ignore-elephants-room-will-africa-eu-summit-revitalise-partnership/ (Acedido a 08 de dezembro de 2019). [ Links ]

Taylor, I. (2009). China’s new role in Africa. Lynne Rienner. [ Links ]

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