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Revista de Gestão dos Países de Língua Portuguesa

versão impressa ISSN 1645-4464

Rev. Portuguesa e Brasileira de Gestão vol.13 no.1 Lisboa mar. 2014

 

ARTIGOS

 

O estudo da justiça organizacional: Implicações na saúde individual e organizacional

 

The study of organizational justice: implications in individual and organizational health

 

El estudio de la justicia en la organización: implicaciones para la salud individual y organizaconal

 

 

Marcelo SchusterI; Valéria DiasII; Luciana BattistellaIII

IMestre em Gestão de Organizações Públicas, Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Administração, Departamento de Ciências Administrativas, Av. Roraima n.º 1000, Cidade Universitária, Bairro Camobi, 97105-900 Santa Maria-RS, Brasil. E-mail: marcelo.schuster@gmail.com
II
Doutoranda em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós‐Graduação em Agronegócios, Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios, 91540‐000 Porto Alegre-RS, Brasil. E-mail: valeria-adm@hotmail.com
III
Doutorada em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas. Prof.ª Adjunta nível IV da Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em Administração, Departamento de Ciências Administrativas, 97105-900 Santa Maria-RS, Brasil. E-mail: lutti@ufsm.br

 

 


RESUMO

Considerando o destaque que o tema justiça organizacional vem desenvolvendo desde a década de 1960, o presente artigo buscou explorar a relação desse tema com a saúde, através de uma pesquisa bibliométrica na base de dados Scopus. Foram encontrados 59 estudos, sendo 22 de possível acesso. Constatou-se a importância das percepções de justiça organizacional por parte dos trabalhadores e seus reflexos sobre as organizações, pois a sensação de injustiça acarreta em desequilíbrios organizacionais no desempenho das atividades de trabalho dos colaboradores. A correlação com a saúde apresentou consequências como insônia, estresse, desequilíbrios emocionais até mecanismos de compensação ou adaptação como o tabagismo e alcoolismo como tentativa de restabelecer o equilíbrio emocional. O tratamento inadequado das distribuições, políticas, processos, tratamento e conduta por parte da gestão organizacional podem resultar em reflexos na saúde dos colaboradores dessas organizações, influenciando diretamente os resultados organizacionais.

Palavras-chave: Justiça Organizacional, Saúde, Gestão


ABSTRACT

Considering the emphasis that the organizational justice has been developing since the 1960s, this article explores the relationship of this issue to health through a bibliometrics research in the Scopus database. 59 studies were found, with 22 possible accesses. It was verified the importance of perceptions of organizational justice for workers and their impact on organizations, because the sense of injustice leads to imbalances in the performance of organizational work activities of employees. The correlation with health consequences presented as insomnia, stress, emotional imbalances until clearing or adjustments as smoking and alcoholism as an attempt to restore emotional balance. Inadequate treatment of distributions, policies, processes, treatment, and management by the organizational management may result in impacts on health of employees of these organizations directly influencing organizational outcomes.

Key words: Organizational Justice, Health, Management


RESUMEN

Teniendo en cuenta la importancia del desarrollo del tema de justicia organizacional desde la década de 1960, el presente trabajo tiene como objetivo estudiar la relación de este tema con la salud a través de una investigación bibliométrica en la base de datos Scopus. Se encontraron 59 estudios, de los cuales, 22 de posible acceso. Se ha tomado nota de la importancia de la percepción de la justicia organizacional por parte de los trabajadores y su impacto en las organizaciones, ya que la sensación de injusticia conduce a desequilibrios en el desempeño de las actividades de trabajo en la organización por parte de los trabajadores. La correlación para la salud se presento com consecuencias como el insomnio, el estrés, los desequilibrios emocionales hasta los mecanismos de compensación o ajuste tales como el tabaquismo y el alcoholismo como un intento de restablecer el equilibrio emocional. El tratamiento inadecuado de las distribuciones, las políticas, procesos, tratamiento y conducta de parte de la dirección de la organización puede resultar en un impacto sobre la salud de los empleados de estas organizaciones que influyen directamente en los resultados organizacionales.

Palabras-clave: Justicia Organizacional, Salud, Gestión


 

 

À luz dos debates sobre as conceções estruturais de trabalho encontram-se as discussões referentes a justiça organizacional, versando sobre as estruturas, sistemas políticos e pessoas que interagem no ambiente organizacional. Neste cenário, os gestores desempenham papéis centrais no desenvolvimento e gerenciamento das políticas de gestão, concebidas para orientar as necessidades e resultados.

A percepção de tais políticas, também conhecidas como diretrizes organizacionais, está positivamente relacionada às percepções de justiça para distribuição de riqueza, uniformidade de informação e relacionamento e processos (Frenkel et al., 2012). Quando as políticas para gestão de pessoas estão estruturadas sobre uma visão de desenvolvimento holístico, com atribuição da devida importância das percepções dos trabalhadores, em geral são vistas como justas e consistentes diante de todos. Elovainio et al. (2004) corroboram com esta afirmativa, quando referenciam que a percepção de justiça é diretamente ligada a formas adequadas de responder a necessidades organizacionais dos colaboradores.

Elovainio et al. (2004) afirmam ainda que a percepção de justiça é individual e Fox et al. (2001) destacam que as injustiças atuam como estressores no ambiente de trabalho, o que pode levar a sentimentos negativos. Em concordância, Rousseau (1995 apud Frenkel et al., 2012) concebe que a percepção dos colaboradores sobre a justiça organizacional é desenvolvida a partir de suas experiências diárias dentro da organização, julgando o tratamento recebido, as recompensas, os processos organizacionais e a forma como as informações são compartilhadas.

Diante disto, quanto mais alto o nível de controle do trabalhador sobre a função desempenhada diariamente, maior tende a ser sua percepção de justiça, levando-o a níveis mais altos de satisfação no trabalho, de comprometimento organizacional, de envolvimento com seu trabalho e a menores níveis de problemas de saúde (Heponiemi et al., 2011).

Eventos estressantes da vida dos trabalhadores podem, em um contexto de baixa justiça organizacional, exacerbar dificuldades de relacionamento no trabalho, gerando comportamentos contraproducentes e ter impacto na saúde dos trabalhadores, resultando entre outras consequências em faltas ao trabalho (Elovainio et al., 2010). As faltas ao trabalho podem gerar reflexos também para os demais trabalhadores, uma vez que havendo impacto nas metas a cobrança pelos resultados pode se tornar maior para os colaboradores que permanecem no trabalho, o que pode ainda afetar a percepção de justiça destes colaboradores sobrecarregados. Fica evidente desta forma, a importância do tema para organizações de todos os setores, considerando que muitos impactos diretos e indiretos podem resultar, não isoladamente, mas também da percepção de justiça em certo ambiente.

Desta forma, o presente artigo busca explorar as relações existentes entre os temas justiça organizacional e saúde, em artigos publicados pela base de dados internacional Scopus, no período de 2001 a 2012. Para isso, estruturou-se este estudo na conceituação sobre o tema justiça Organizacional, a explanação sobre o método utilizado para realização do estudo, a análise dos resultados e as considerações finais.

 

Justiça organizacional e saúde

A justiça organizacional condiz a uma experiência compartilhada pelos trabalhadores da mesma unidade de trabalho e não apenas a uma avaliação subjetiva individual (Elovainio et al., 2004). Saunders (2006) corrobora afirmando que justiça organizacional é a percepção dos indivíduos sobre a forma de tratamento apreendida pelos trabalhadores e pelos gestores e o impacto e a repercussão que esta trará.

Elovainio et al. (2004) complementam que as respostas dos indivíduos dentro de unidades de trabalho não parecem ser sempre isoladas, pois as decisões tomadas nas organizações apresentam uma grande variedade de questões. Portanto, não é provável que as perceções das pessoas sobre a justiça na tomada de decisão organizacional sejam baseadas apenas em uma única decisão.

Além das questões individuais, Elovainio et al. (2004) associam a percepção de falta de justiça com problemas de gestão, falta de confiança e interação social cotidiana entre funcionários e gerentes.

Kivimäki et al. (2004) afirmam que uma das questões diretamente impactadas pelas noções de justiça organizacional é a saúde dos trabalhadores. Considerando a mesma ideia, Kouvonen et al. (2008) afirmam que quando a justiça organizacional é percebida como baixa, a tensão ocupacional e as reações emocionais negativas tendem a aumentar, ocasionando problemas de saúde.

Sob esta perspetiva, a saúde pode ser caracterizada como uma conciliação entre o funcionamento social, psicológico e fisiológico dos indivíduos (Marmot et al., 1995 apud Elovainio et al., 2004). Considerando as pistas na direção de uma influência entre justiça e saúde, Ndjaboué et al. (2012) realizaram uma revisão sistemática de 11 artigos e verificaram que a justiça organizacional pode ajudar a explicar efeitos prejudiciais à saúde dos trabalhadores. Os autores constataram que as dimensões processual e interacional são as mais associadas com pesquisas relacionadas à saúde, tendo como causas os fatores de demanda e controle sobre o trabalho e o desequilíbrio sobre o modelo de esforço e recompensas.

Quanto a caracterização das dimensões de justiça organizacional, ainda não existe uma regra quanto ao seu número, sendo muitas vezes seguida a descrição de Colquitt (2001) por realizar um detalhamento mais amplo, utilizando uma divisão em quatro dimensões – distributiva, processual, interpessoal e informacional.

A justiça distributiva é caracterizada como a busca dos objetivos de uma situação particular, como a maximização da produtividade ou a cooperação através de normas implícitas de repartição, como equidade ou igualdade.

A justiça processual é promovida por meio do cumprimento de critérios e processos justos (Leventhal, 1980; Leventhal et al., 1980 apud Colquitt, 2001).

A justiça interacional é definida por Folger e Bies (1989, p. 79, apud Colquitt, 2001) como abrangendo as «responsabilidades gerenciais associadas com a garantia de justiça na implementação de processos de decisão nas organizações». Esta última dimensão foi subdividida em justiça interpessoal, que corresponde a preocupação do gestor em respeitar os pontos de vista dos funcionários, sem preconceitos, aplicando critérios de tomada de decisão de forma consistente e tratando os empregados com cortesia e civilidade; e justiça informacional, a qual se refere ao feedback em tempo útil após a decisão, fornecendo uma justificativa para a decisão, sendo verdadeiro na comunicação com os subordinados (Colquitt, 2001).

Dada a importância da percepção de justiça organizacional sobre a saúde dos colaboradores, evidenciada pelos autores citados, e em virtude das necessidades de estudos na área, foi estruturado este artigo conforme método descrito no próximo item.

 

Método

Resultados organizacionais são alcançados por meio do trabalho desenvolvido pelos colaboradores das organizações, que, por sua vez, trazem consigo uma complexidade de sentimentos que influem do seu desempenho. Com o intuito de explorar o tema justiça organizacional e sua relação com a saúde dos colaboradores, este artigo investiga qual a perspectiva dada a esses assuntos ao longo do período de 2001 a 2012.

A metodologia utilizada para alcançar o objetivo estabelecido estruturou-se em um levantamento sobre o tema justiça organizacional. Para isso foi utilizada a proxy da Universidade Federal de Santa Maria visando acessar a base de dados Scopus e efetuar a busca sobre o assunto. Para a busca utilizaram-se as palavras-chave Organizational Justice em Article Titles, com a finalidade de focar a pesquisa para publicações em que a temática da justiça organizacional fosse central. Foram encontrados 316 estudos no total.

Posteriormente, foi realizado um refinamento usando a palavra health, com intenção de restringir a busca aos artigos do tema justiça organizacional de alguma forma relacionados com saúde, resultando em 59 estudos. Faz-se importante relatar que no refinamento pelas palavras-chave sempre foi realizado o auxílio de aspas como forma de buscar as palavras somente quando associadas e não de maneira dissociada e com significados diferentes. Das 59 publicações encontradas, foi possível acessar 22 que compõem as análises deste estudo, uma vez que nem todas as revistas são liberadas à proxy utilizada e algumas tentativas de acesso via contato com os autores não resultaram em nenhum retorno. A análise desses estudos segue na próxima seção dividida em etapa quantitativa, com indicadores de publicação, e qualitativa com descrição dos achados de pesquisa.

 

Resultados

A justiça organizacional é um dos temas centrais para os gestores modernos e envolve a preocupação com a manutenção dos talentos organizacionais, bem como a atratividade da organização para os colaboradores atuais e novos candidatos (Coetzee, 2005).

Inseridos neste panorama estão os impactos na saúde dos colaboradores a partir das decisões e da gestão da organização. Um estudo realizado por Ndjaboué et al. (2012) encontrou 11 artigos publicados entre 1990 e 2010. No entanto, considerando a importância do tema, verificou-se a necessidade de uma nova pesquisa para que conclusões mais consistentes pudessem ser retiradas. A partir desta lacuna de pesquisa, realizou-se então a investigação em uma base de dados que pudesse contemplar tal necessidade.

Optou-se por primeiramente analisar os 59 estudos encontrados, de forma quantitativa, especificando os indicadores por País, autores mais citados, evolução das publicações e áreas que mais publicaram. Posteriormente, realizou-se uma análise qualitativa dos 22 artigos acessíveis, detalhando principais achados de pesquisa.

· Indicadores de pesquisa

Dos 59 estudos encontrados, associando justiça organizacional e saúde, 22 estudos foram analisados. Nove destes 22 estudos utilizaram uma abordagem longitudinal, verificando implicações da justiça organizacional na saúde (Elovainio et al., 2004; Kouvonen et al., 2008; Kivimäki et al., 2004; Kivimäki et al., 2003; Elovainio et al., 2010; Elovainio et al., 2009; Elovainio et al., 2010; Kivimaki et al., 2008; Ybema et al., 2010).

Entre os autores que tiveram os trabalhos mais citados encontram-se Marko Elovainio, com 20 artigos e 557 citações; Mika Kivimaki, com 17 artigos e 600 citações; Jussi Vahtera, com 13 artigos e 515 citações; e Marianna Virtanen, com 7 artigos e 51 citações. Cabe ressaltar que os autores realizaram publicações em conjunto, sendo que dos 20 artigos de Marko Elovainio, Mika Kivimaki está entre os coautores em 15, Jussi Vahtera em 12 e Marianna Virtanen em 7.

Grande quantidade de estudos referentes ao tema foram realizados na Finlândia, que aparece em 1.º lugar com 21 publicações, seguida do Reino Unido com 17, dos EUA com 14 e da Holanda com 6. Também podemos referenciar um domínio da língua inglesa nas publicações da área.

Dos 59 estudos encontrados, 46 eram artigos e os demais eram capítulos de livro, estudos publicados em conferências e resenhas. Quanto a evolução das publicações, o ano de 2012 é o que contém mais estudos, com 13 registrados, seguido de 2010 com 11, de 2009 com 7 e de 2011 com seis. No período analisado apenas em 2006 não se encontram publicações, demonstrando a importância que a relação entre esses assuntos vem ganhando ao longo dos últimos anos.

Considerando os interesses das áreas diversas pela temática justiça organizacional e saúde, verificou-se uma concentração na área médica (Medicina) com 35 estudos, a Psicologia com 16 e a Administração e Negócios com 10 estudos. Na área da Medicina, destaca-se o Projeto Trabalho e Saúde em Pessoal Hospitalar Finlandês com as publicações de Marko Elovainio, Mika Kivimaki, Jussi Vahtera e Marianna Virtanen. Os principais temas de estudos foram as relações de justiça com saúde mental (Spell e Arnold, 2007), estresse (Fox et al., 2001), demanda e controle do trabalho (Kivimäki et al., 2004), comprometimento (Heponiemi et al., 2011) e satisfação no trabalho (Lawson et al., 2009).

Dos estudos analisados, ao todo foram coletados dados de 145 038 pessoas, sendo a maior amostra de 34 021 trabalhadores finlandeses no estudo de Kouvonen et al. (2007), o qual examinou a extensão em que a justiça processual e a justiça interpessoal são associadas com o tabagismo. A menor amostra obtida contou com 179 trabalhadores migrantes chineses de Frenkel et al. (2012), e explorou como as políticas e práticas de recursos humanos influenciam as percepções de justiça organizacional dos funcionários, e os impactos nas emoções e sentimentos de exaustão emocional dos empregados.

· Levantamento qualitativo

A primeira verificação realizada em termos qualitativos nos artigos foi a verificação da forma de mensuração e a presença de escalas ou instrumentos padrão para a pesquisa, da mesma forma que no estudo já citado de Ndjaboué et al. (2012) o instrumento de pesquisa mais utilizado para as relações entre saúde e justiça organizacional foi um questionário derivado de Moorman. No presente estudo este instrumento aparece em 12 estudos (Elovainio et al., 2004; Kouvonen et al., 2008; Elovainio et al., 2011; Kivimäki et al., 2003; Kouvonen et al., 2007; Elovainio et al., 2003; Goldman, 2003; Fox et al., 2001; Elovainio et al., 2010; Frenkel et al., 2012; Kim et al., 2012; Virtanen et al., 2012).

Quatro estudos estruturaram seus instrumentos com base na escala de Colquitt (Heponiemi et al., 2011; Cole et al., 2010; Lawson et al., 2009; Spell e Arnold, 2007); outros quatro criaram uma escala própria (Kivimäki et al., 2004; Elovainio et al., 2010; Elovainio et al., 2009; Kivimäki et al., 2008) e um estruturou-se a partir da escala de De Boer (Ybema e Van Den Bos, 2010).

Quanto a pesquisa das dimensões da justiça organizacional e suas relações pesquisadas por cada autor, foi estruturada uma análise por dimensões, sendo possível que o mesmo estudo seja relacionado em mais de uma análise, conforme as dimensões de justiça organizacional que abordou.

Referente a justiça distributiva identificou-se que 10 estudos utilizaram essa dimensão que se refere a forma de percepção da distribuição da riqueza. A partir desta escolha, cada estudo relacionou esta dimensão da justiça com um tema associado à saúde. Os estudos e suas relações estão dispostos no Quadro I.

A dimensão de justiça processual foi utilizada por 17 estudos. O Quadro II apresenta as relações e achados dos 6 principais estudos.

Quanto a justiça interacional, algumas vezes citada como relacional e em outras subdividida em interpessoal e informacional, sua utilização foi conferida em 16 estudos. Os sete principais estudos são descritos no Quadro III.

Com base nos dados pesquisados acima, foi estruturado o Quadro IV que mostra os principais efeitos da (in)justiça organizacional na saúde dos indivíduos.

Como pôde ser visto nos estudos analisados, a justiça organizacional, quando em baixos níveis, pode desencadear problemas na saúde dos trabalhadores, que, por sua vez, podem levar a reações negativas com o trabalho, tais como faltas, sentimento de raiva e retaliação contra a organização, influenciando assim nas metas e objetivos organizacionais, o que, por sua vez, aumenta a pressão sobre os trabalhadores que permanecem ao trabalho.

Se a gestão não trabalhar os fatores relacionados, a distribuição de recursos, os processos organizacionais, o tratamento dos supervisores com os subordinados e o feedback que é dado para estes, a percepção deles pode se tornar mais negativa intensificando os problemas tanto individuais quanto organizacionais.

 

Considerações finais

Os estudos sobre justiça organizacional apresentam um grande desenvolvimento, desde sua abordagem inicial por Holmans e Adams na década de 1960, até a presente data. A complexidade do assunto evoluiu não somente em número de publicações e investigações in foco sobre o tema, mas também em suas correlações causais com outros temas do comportamento organizacional e individual, como referenciado por Colquitt (2001) em um estudo sobre os 25 anos anteriores sobre a justiça organizacional.

O foco deste estudo foi a correlação entre a justiça organizacional e suas dimensões com a saúde dos colaboradores perante as publicações da base de dados Scopus, onde constatou-se 59 estudos com esta correlação, no período compreendido entre 2001 a 2012. Perante o uso da proxy da Universidade Federal de Santa Maria para acesso aos artigos, foi possível a análise de 22, que apresentaram a associação entre a saúde e a justiça organizacional em suas diversas dimensões.

Ficou constatada a importância das percepções de justiça organizacional por parte dos trabalhadores e seus reflexos sobre as organizações, pois a sensação de injustiça acarreta em desequilíbrios organizacionais no desempenho das atividades de trabalho dos colaboradores. Uma vez que estes não se sintam bem com a instituição, sua saúde pode apresentar as consequências, desde insônia, estresse, desequilíbrios emocionais até mecanismos de compensação ou adaptação como o tabagismo e alcoolismo como tentativa de restabelecer o equilíbrio emocional.

Os diretores e responsáveis pelas organizações devem direcionar sua atenção para estes fatores, de forma a trabalhar os antecedentes da percepção de injustiça organizacional, para que as consequências não se abatam sobre seu ambiente de trabalho. A alocação de forma adequada e equitativa dos recursos deve refletir as contribuições dos indivíduos, a implementação de políticas e procedimentos, deve apoiar e respeitar os trabalhadores e essa é uma prática que os gestores devem incorporar nas organizações através do uso de táticas de socialização que permitam a partilha de histórias e experiências relacionadas com a justiça organizacional. Folger (1993 apud Goldman, 2003) corrobora com esta afirmativa, pois previu que os trabalhadores reagem mais negativamente aos resultados desfavoráveis com base na gravidade da perda e da inadequação da conduta pelo gestor.

De acordo com diversos estudos encontrados, esse tratamento inadequado das distribuições, políticas, processos, tratamento e conduta por parte da gestão organizacional podem resultar em reflexos na saúde dos indivíduos que têm contato com a organização. Kivimäki et al. (2003) afirmam que a associação entre a baixa percepção de justiça organizacional e crescentes problemas de saúde pode ser constatada em todas as áreas, entre os homens e mulheres de todas as profissões.  

Como limitações deste estudo, apresentaram-se a possibilidade de análise de somente 22 dos 59 artigos encontrados na base de dados, não sendo os demais acessíveis perante uso da proxy da Universidade Federal de Santa Maria, bem como o fato de utilizar somente uma base de dados. Sugere-se para estudos futuros em relação ao tema, a análise da justiça organizacional com outros temas além da saúde, de forma a contribuir com os estudos do comportamento organizacional. Outra sugestão é a aplicação de pesquisas de campo para explorar novas relações.

 

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Recebido em fevereiro de 2013 e aceite em março de 2014.
Received in Februaryr 2013 and accepted in March 2013.

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