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Revista Lusófona de Educação

versión impresa ISSN 1645-7250

Rev. Lusófona de Educação  n.11 Lisboa  2008

 

Seminário História do Currículo

 

No dia 11 de Abril, decorreu no Auditório Vítor de Sá da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT) uma iniciativa dedicada à História do Currículo, promovida pelo Grupo de Investigação Memóriasda Educação no Espaço Lusófono da UI&D – Observatório de Políticas de Educação e de Contextos Educativos (ULHT).

As comunicações, com a sua especificidade temática e autoral, foram de uma grande qualidade científica e propiciaram aos intervenientes momentos de diálogo alargado, de debate científico e de reflexão crítica.

O Professor Doutor Joaquim Pintassilgo (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) centrou a sua intervenção na história das disciplinas compulsando diversos autores para explicitar e desenvolver o seu tema. Nesta comunicação, o professor fez um recenseamento de alguns dos principais contributos teóricos a que os investigadores podem recorrer para o estudo da história das disciplinas escolares. Foram realçadas, por um lado, as reflexões centradas no conceito de “cultura escolar” e na sua articulação com um olhar sobre as disciplinas escolares que enfatiza a sua autonomia relativa. Foi citado André Chervel como autor de referência para esta abordagem. Por outro lado, aludiu-se à importância do conceito de “transposição didáctica”, teorizado por Yves Chevallard, na tentativa de compreender o processo de transformação do saber académico em saber escolar. A principal tese defendida foi a de que estas duas abordagens não são antagónicas e que o recurso a elas (bem como aos restantes contributos teóricos) permite apreender a complexidade deste objecto específico de estudo.

O Professor Doutor José Brás(ULHT) fez uma intervenção à volta do que designou Medicalização do Currículo, ancorada em diversos autores (Barthes, Derrida, Foucault, Nóvoa, Popkewitz, Ricoeur, …) e em diferentes fontes. Estruturou a sua comunicação em dois eixos semânticos: um, enfocando a conceptualização acerca da alquimia curricular, do texto, do discurso e da sedimentação dos saberes no discurso; o outro, centrado na decadência da espécie, na necessidade de regenerar a raça e nos discursos higienista e disciplinar – ideias-chave do pensamento da intelligentsia de finais de Oitocentos e da primeira década de Novecentos. Por fim, explicitou como a medicalização, ao visar o primado da vida no centro da mudança, assentava na organização do currículo, do espaço e do tempo. Os diversos conteúdos temáticos foram ilustrados com imagens criativas e conotativas e de um grande impacto visual e expressivo.

A Professora Maria Manuel Calvet Ricardo (ULHT) abordou a integração das línguas estrangeiras no percurso curricular português, documentando-se em fontes e tratando-as de forma rigorosa e científica. Partiu de três questões: (i) Porque é que se ensinam línguas estrangeiras ?; (ii) Porque se ensinam umas e não outras? (iii) Porque é que o inglês se tornou língua franca? Constatou que, ao longo dos anos, as línguas estrangeiras sofreram diversas alterações ao nível: da inclusão em diferentes ciclos de estudos (Liceal; Técnico; CPES; EB; ES …); da duração de anos de estudo; do número de horas semanais, das actividades extra-curriculares e cursos livres. Por fim, foram identificados os objectivos que presidiram ao ensino das línguas estrangeiras de 1759 a 2008, bem como as metodologias utilizadas e analisou-se o papel do associativismo profissional criado após 25 de Abril de 1974.

O Professor Doutor Rogério Fernandes (Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa) fez uma intervenção de cátedra - uma lição sobre as políticas educativas  dos anos 30 aos anos 80. Recenseou a literatura mais relevante em Portugal sobre as políticas de educação nacionais e salientou os seus momentos decisivos durante o arco cronológico em análise, assim como os significados ideológicos das respectivas orientações sócio-pedagógicas. Neste sentido, apresentou as marcas estruturantes do pensamento educacional republicano e do Estado Novo e aludiu às linhas de forças educacionais que nortearam o ensino no nosso país no período que medeia entre o 25 de Abril e os anos 80.  

O balanço deste seminário afigurou-se-nos ser muito positivo pela qualidade científica das comunicações apresentadas, pela partilha de saberes que propiciou, pelo número de participantes (cerca de 85), pela diversidade do público (se bem que a maioria fosse efectivamente da ULHT, havia elementos do Centro de Investigação da Faculdade de Ciências, da Universidade Federal de Minas Gerais, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (U. Lisboa), de escolas secundárias e de vários agrupamentos de escolas, e pela avaliação que os intervenientes fizeram deste evento.

 

José Brás e Maria Neves Gonçalves