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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.50 Lisboa jun. 2016

 

POPULISMO E MIGRAÇÕES

 

O MoVimento 5 Estrelas e a lei férrea da oligarquia

The Five Stars Movement and the iron law of oligarchy

 

Goffredo Adinolfi

Investigador em Ciência Política no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia no Instituto Universitário de Lisboa desde 2006. Obteve o grau de doutoramento em História Contemporânea na Universidade de Milão (2005). Os seus interesses de investigação estão focados principalmente no estudo da crise da democracia liberal e do fenómeno autoritário do pós-Primeira Guerra Mundial.

 

RESUMO

Nas últimas eleições legislativas italianas de 2013 o MoVimento 5 Estrelas (M5S), guiado pelo comediante Beppe Grillo, conseguiu 25 por cento dos votos. O M5S e a sua retórica antielitista fazem, indubitavelmente, parte da família dos partidos populistas. Os grillini, com um nível de instrução superior à média italiana, são motivados por um genuíno desejo de participação. Três são as características principais do MoVimento: por um lado, a retórica populista cidadão/elite e, por outro, o desejo de níveis acrescidos de democracia participativa e uma explícita preferência por formas de democracia direta.

Palavras-chave: Populismo, Itália, MoVimento 5 Estrelas, antipolítica.

 

ABSTRACT

In the last Italian general election (2013), the 5 Stars Movement (M5S) led by comedian Beppe Grillo gathered 25 per cent of the vote. The m5s and its antielitist rhetoric is undoubtedly part of the family of the populist parties. The profile of the grillini, with a higher level of education than the Italian average, is motivated by a genuine desire for participation. Three the main characteristic of the Movement: on one hand the populist rhetoric citizens/elite and on the other hand the whish for a more participatory democracy and finally an explicit preference for direct democracy.

Keywords: Populism, Italy, Five-Star Movement, antipolitics.

 

INTRODUÇÃO

Com uma forte afirmação nas eleições legislativas de fevereiro de 2013 o MoVimento 5 Estrelas (M5S) torna-se de forma estável, juntamente com o Partido Democrático (PD) e Força Itália, numa das três formações políticas mais importantes no sistema partidário italiano.

Num contexto em que as crises económica e política se entrelaçam, uma vez que no biénio 2011-2013, os partidos mainstream (Povo da Liberdade – PdL e PD) convergem no apoio ao Governo tecnocrata liderado por Mario Monti, o M5S aparece como a única verdadeira alternativa. Todavia, a questão é certamente mais complexa do que pode parecer à primeira vista. Beppe Grillo é um ponto de referência para um certo tipo de protestos a partir de 2005, quando cria o seu blogue de denúncia contra as oligarquias económicas e políticas. Face a uma classe política incapaz de conjugar responsivness e responsability o MoVimento de Grillo propõe o autogoverno dos cidadãos e, portanto, a democracia direta.

Não se trata apenas de voto de protesto, porque ao longo dos anos o M5S soube construir um consenso particularmente enraizado em torno dos seus próprios valores. Paradoxalmente, porém, o considerável grupo de representantes eleitos e a obrigação de jogar no interior das instituições coloca o m5s perante o dilema do poder e da necessidade de construir uma classe política que, inevitavelmente, irá minar os princípios da democracia que se pretende exercitada desde baixo e sem corpos intermédios.

A crise económica que rebenta em 2008 na sequência da falência do banco de investimento Lehman Brothers teve efeitos desestruturantes também em Itália. Em novembro de 2011, o spread que divide os bunds alemães dos italianos supera os seis por cento, o risco de ter de pedir uma intervenção externa do Fundo Monetário Internacional (fmi) e do Banco Central Europeu (bce), tal como aconteceu em Portugal e na Grécia, é elevado. O pico da crise, que ameaça seriamente a própria solvência do país, atinge o seu apogeu entre agosto e novembro de 2011. Isto apesar de no biénio precedente o pib ter dado tímidos sinais de retoma. A faixa etária mais afetada pela crise é a que vai dos 15 aos 39 anos, ou seja, aqueles que não podendo usufruir das garantias laborais dos seus pais, foram integrados com contratos precários.

A mistura entre instabilidade política e crise económica leva ao colapso do Governo liderado por Silvio Berlusconi e à nomeação do professor universitário Mario Monti. Para arrefecer a especulação sobre a dívida pública italiana, o novo Governo adota medidas restritivas das despesas públicas. Os mercados apreciam e, em poucos meses, o spread desce para cerca de 2,4 por cento em 2012 e quase dois por cento em 20131, o consumo desce 4,3 por cento, a pressão fiscal cresce mas, sobretudo, a curva da empregabilidade precipita-se, com particular virulência no tocante à camada juvenil que, em 2014, descerá de 11 para oito milhões, com uma perda, em poucos anos, de quase 30 por cento dos postos de trabalho2.

A crise económica determina o agravamento de um longo período de crise política, no interior do centro-direita, seguramente, mas, de forma mais geral, na relação entre cidadãos e política. Apesar de Silvio Berlusconi ter vencido as eleições legislativas de 2008 com uma grande maioria3, as contradições internas da sua coligação determinaram uma clivagem progressiva, pela qual, com o aumento das tensões sobre a dívida pública, por volta de agosto de 2011, o seu Governo é incapaz de adotar medidas adequadas. Assim, privado de uma resposta apropriada, em novembro, com o pico do spread entre obrigações italianas e bunds alemães, o primeiro-ministro é forçado a apresentar a demissão e o Presidente da República, Giorgio Napolitano, nomeia o professor universitário Mario Monti para aquele que será um Governo «tecnocrata», ou seja, inteiramente formado por figuras não políticas, apoiado porém por uma ampla maioria, tanto de centro-direita, como de centro-esquerda. A Itália evita assim recorrer a uma intervenção externa do FMI, BCE e União Europeia (UE), tal como aconteceu com a Grécia, primeiro, e com Portugal, depois. Todavia, as medidas adotadas pelo Governo Monti no biénio 2011-2013 não se afastam muito, embora com intensidades diferentes, das adotadas em Lisboa e em Atenas.

As eleições legislativas de 24-25 de fevereiro de 2013 põem fim a um ordenamento de quase vinte anos de bipolarismo esquerda-direita (1994-2013), isto é, de coligações pré-eleitorais e governamentais, entre partidos do mesmo quadrante político4. Com 25,56 por cento, o M5S introduz-se como um terceiro polo.

Os níveis de confiança dos cidadãos italianos, dos mais baixos da Europa antes da crise, descem ainda mais. Com a grande coligação PD/PdL, é todo o sistema político que é envolvido e, assim, as eleições políticas de fevereiro de 2013 transformam-se num verdadeiro terramoto político em que a única forma para exprimir o descontentamento era votar no M5S5.

Da análise dos fluxos emerge uma altíssima volatilidade nos comportamentos de voto: só 51 por cento do eleitorado confirma a sua escolha de 20086. O partido mais votado acaba por ser, ainda que por poucos milhares de votos, o M5S7, que recolhe 25 por cento dos votos. A ordem do sistema político que, com a reforma eleitoral introduzida em 1994, tinha assumido uma conformação tendencialmente bipolar, ganha agora uma dimensão tripolar que integra o centro-direita, o centro-esquerda e o M5S e em que nenhuma das três formações é capaz de constituir governo. Falhadas todas as tentativas de acordo entre o centro-esquerda de Pierluigi Bersani e o M5S, Enrico Letta (PD), forma o primeiro governo de coligação entre centro-direita e centro-esquerda a que sucede, com mais ou menos um ano de distância, um segundo governo na legislatura acabada de iniciar, desta vez dirigido por Matteo Renzi que, para além do pd, une uma secção que se distancia do centro-direita: o Novo Centro-Direita (NCD) de Angelino Alfano.

 

AS TRÊS FASES DO M5S

A evolução do M5S pode ser resumida essencialmente em três fases: a que precede o seu nascimento, durante a qual, através da notoriedade e da capacidade de entretenimento, o blogue de Beppe Grillo se impõe como uma referência política; o nascimento do MoVimento, visto como megafone e coletor de instâncias provenientes de baixo, sobretudo ligadas às temáticas do ambientalismo; e, por fim, a fase de verticalização do MoVimento que sucede à vitória das eleições legislativas de 2013 e que levará à constituição do grupo parlamentar europeuEuropa para a Liberdade e a Democracia Direta (EFD) com partidos antieuropeístas e nacionalistas e a formação de um diretório político decididamente mais profissionalizado.

 

DO BLOGUE AO MOVIMENTO (2005-2009)

Em janeiro de 2005, Beppe Grillo, juntamente com Gianroberto Casaleggio8, cria um blogue de informação e denúncia. No decurso de poucos meses os posts do cómico genovês tornam-se um dos pontos fundamentais de referência na rede. Em outubro seguinte, a revista Time inclui-o entre os «European Heroes»de 20059 e, em dezembro, vence o prémio do jornal económico italiano Il Sole 24 ore como melhor sítio web de informação. Três anos mais tarde, em 2009, a revista Forbes, que anualmente apresenta uma classificação das personalidades mais influentes da rede, coloca o blogue no sétimo lugar10. Ou seja, o período que antecede a criação do m5s caracteriza-se por uma transformação da figura de Grillo que de cómico se transfigura num empreendedor político, ocupando um espaço cada vez menos controlado: o das denúncias contra a casta, tanto política como económica. Mais, os primeiros passos são mesmo na direção das denúncias contra grandes grupos económicos italianos como, por exemplo, a batalha de denúncia contra a falência fraudulenta do grupo Parmalat no início dos anos 2000 (portanto ainda antes da abertura do blogue) e da consequente perda de valor das obrigações e ações detidas pelos pequenos investidores11.

Além disso, deve sublinhar-se como nas eleições legislativas de 2008 a Sinistra Arcobaleno, um conjunto de partidos que reúne a esquerda radical, não consegue superar os quatro por cento e perde representação parlamentar, mostrando dificuldade em apresentar-se como alternativa aos partidos mainstream. Este é um elemento importante, porque Grillo consegue afirmar-se no espaço mediático como praticamente a única alternativa do eleitorado insatisfeito. Com um jogo de palavras, cuja intenção é demonstrar como todos os partidos são iguais, Grillo define o sistema partidário italiano como sendo formado pelo PdL (centro-direita) e pelo PD (centro-esquerda), que mais não é do que o PD menos o L. Ou seja, com um jogo de palavras Grillo sugere que a única diferença entre o centro-direita e o centro-esquerda está na letra «L».

Praticamente em simultâneo com o blogue, nascem também grupos de encontro e de coordenação através da plataforma «MeetUp». A ideia é promover e dar expressão a batalhas locais e permitir a participação de baixo rigorosamente fora dos partidos. Milhares de novos ativistas, que jamais tinham participado12, aproximam-se, através dos MeetUp, da política ativa. Constrói-se, deste modo, uma rede de ativistas que vindos do mundo virtual se encontram no mundo real. Um dos mais importantes será o MeetUp 280, responsável pela criação da ideia das listas cívicas para a democracia direta13.

Outro aspeto de um movimento que de virtual passa a real será a grande mobilização do «V-Day» (8 de setembro de 2007) em Bolonha e noutras cidades italianas, cujo objetivo era fomentar uma recolha de assinaturas para a promoção de uma lei de iniciativa popular sobre os temas da representação – direta – contra a profissionalização da política e da corrupção14. A iniciativa é um sucesso, as assinaturas recolhidas são mais de 300 mil, só em Bolonha participaram 30 mil pessoas, mas houve manifestações em mais de 200 cidades e 200 mil pessoas que se registaram online para participar no evento15.

 

A ASCENSÃO DO M5S E A VITÓRIA NAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS DE 2013 (2009-2013)

Quando, a 4 de outubro de 2009, é lançado por Grillo e Casaleggio, o M5S pode contar com um consolidado grupo de convictos apoiantes. As 5 Estrelas – ambiente, água, energia, desenvolvimento e transportes – representam aqueles que são, pelo menos numa primeira fase, os valores fundamentais do MoVimento. Por estatuto, o «V» está em maiúscula e em caráter «fantasia» porque deve recordar o V-Day na sua aceção poliédrica: desembarque na Normandia, vaffanculo à casta e vendetta. O primeiro passo é o de promover, através da notoriedade de Grillo, listas cívicas independentes nas cidades; o modelo, no fundo, é o do franchising: os candidatos podem usar os símbolos do M5S desde que respeitem os seus princípios16. Os primeiros grandes sucessos registam-se nas eleições autárquicas de 2012 nas quais, por exemplo, Federico Pizzarotti é eleito síndico da cidade de Parma. Mas ainda mais significativo é o sucesso, no mesmo ano, nas eleições regionais sicilianas em que o m5s, com 14 por cento dos votos, aparece como o primeiro partido.

O encontro mais importante é, todavia, o das eleições para a renovação do parlamento de fevereiro de 2013. A batalha pelas eleições para a Câmara dos Deputados é lançada com um vídeo-discurso de outubro de 201217. Num contexto em que «PdL e il PD meno elle» detêm o Governo tecnocrata liderado por Mario Monti e nos media alastra o escândalo do banco Monte dei Paschi di Siena, é fácil para uma formação que teve sempre como lema a luta contra a corrupção e a formação de consensos. Os resultados, como veremos, são impressionantes: na Câmara os 5 Estrelas obtêm 109 deputados em 630, no Senado 54 em 315.

A ideia central a toda a construção do MoVimento, pelo menos a nível teórico, é a de restabelecer a relação entre cidadão e Estado de uma maneira direta e sem a participação de corpos intermédios. O instrumento que, na visão do MoVimento, torna obsoletos os partidos, sindicatos e um certo modo de fazer informação é a rede18. Substancialmente, o que Grillo apresentou foi uma autêntica subversão dos princípios basilares da democracia representativa liberal e a introdução de um modelo fluído/democrático. Por estatuto, aliás, para ser mais correto, segundo prescreve o não-estatuto, o M5S é «um não-partido político»19 cujo objetivo é o de realizar uma «eficiente e eficaz troca de opiniões e confronto democrático fora dos meandros associativos e partidários e sem a mediação de organismos diretivos ou representativos»20 e tem como única sede o sítio www.movimento5stelle.it21. Mesmo a inscrição no MoVimento é muito diferente em relação à dos partidos tradicionais porque «não prevê formalidades maiores em relação ao registo num normal sítio de internet»22, e é aberta a todos os cidadãos que não façam parte de outros partidos. O conceito de representação é recusado, os eleitos são simples porta-vozes dos inscritos e a rede é o lugar onde cada decisão deve ser tomada. Todos os candidatos devem passar através de eleições primárias às quais podem participar aqueles que estão inscritos no sítio do MoVimento, alojado nas páginas do blogue de Beppe Grillo. No caso das parlamentárias que precederam as eleições legislativas de 2013, era necessário ser-se membro pelo menos desde setembro precedente, isto para evitar fenómenos de intrusão externa23.

«Os partidos substituíram-se à vontade popular e ao seu poder de juízo»24 e, por isso, é necessário, por um lado, reduzir o poder dos partidos, por exemplo, com a ideia que estes podem e devem ser financiados com dinheiros públicos, e, por outro, é necessário, segundo o programa do MoVimento, reforçar os instrumentos de participação direta nas decisões políticas dos cidadãos.

Não é fácil reconstruir quais são as posições políticas do M5S e como é que elas evoluíram. Isto não tanto e não apenas porque a construção do M5S seja em si mesma incoerente. A suposta ausência de uma ideologia é, de facto, um ponto de apoio de uma formação que tem como ideia principal a de conectar a base dispersa de cidadãos com o poder, sem que nenhum corpo intermédio possa entrepor-se. Todavia, são três as ideias apresentadas: democracia direta, como forma de combater o poder de castas e de oligarquias, o ambientalismo e o salário mínimo de cidadania.

 

O M5S NO PÓS-ELEIÇÕES EUROPEIAS (2013-2016)

As eleições europeias de 2014 constituem provavelmente um marco muito importante no processo de estabilização e determinação do m5s. No texto programático «Vinciamo noi»25, Casaleggio e Grillo apresentam o programa para a campanha para o Parlamento Europeu. A posição do M5S é, aparentemente, não contrária à ue e a uma construção em sentido federal do continente, desde que cada nação26 adira voluntariamente27. Dito isto, deve-se porém também dizer que, apesar de uma adesão teórica aos ideais federal/ europeístas, o programa apresenta uma conotação fortemente antieuropeia. Se, por um lado, a proposta, aproximando-se uma vez mais de temas próprios da esquerda alternativa, é a de abolição do fiscal compact e dos limites do défice de balanço, por outro, o projeto do M5S alinha-se com um antieuropeísmo de tipo clássico, em que é a mesma moeda comum, e não as políticas que lhe estão subjacentes, a ser posta em causa. O alinhamento no campo dos antieuro na realidade não é de todo definido, isto provavelmente até por razões de consenso, apesar de se poder ler «Beppe Grillo é contra e Gianroberto Casaleggio tem dúvidas e, portanto, a questão deveria ser submetida a um referendo entre os militantes»28. Porém, uma vez mais, são as incoerências a emergir. Isto porque se, por um lado, a posição relativa à moeda única é apresentada como ainda não encerrada, por outro, propõe-se a introdução de uma dupla moeda: uma para a Alemanha, Holanda e outras nações do Norte, e outra para as nações do Sul29. Portanto, como é óbvio, isto significaria o fim do euro como tinha sido concebido até então.

Uma vez mais os resultados eleitorais, ainda que menos do que o previsto, premeiam o MoVimento. Com 21 por cento, elegem 17 deputados para o Parlamento Europeu.

Entrar nas instituições, porém, significa dever tomar posições concretas e, após um processo de negociação que suscitou alguma perplexidade, os 5 Estrelas decidiram integrar o grupo Europa para a Liberdade e a Democracia Direta juntamente com os partidos da direita populista, anti-imigração e eurocética como o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), os alemães da Alternativa para a Alemanha (AfD) ou os Democratas Suecos30.

A forte afirmação do M5S nas eleições legislativas e nas europeias teve um efeito desestruturante não só sobre o sistema político, mas também sobre a implantação fluída que Grillo procurou dar ao M5S. A ideia de que tudo devesse proceder «de baixo» através de uma rede privada e estruturada de ideologia, choca com a necessidade de coerência. Os deputados eleitos são muito diferentes entre si, por tradições políticas e proveniência. Esta massa de pessoas, totalmente destituída de experiência institucional, gerou inúmeros acidentes de percurso e mostrou toda a contradição de um recrutamento que partiu de baixo através de eleições primárias. Começa então uma fase de «uniformização» e, sobretudo no interior do grupo presente no Parlamento italiano, começam os processos de expulsão dos deputados acusados de desrespeitar o código de comportamento31.

Aos poucos, também a relação com os ativistas se torna mais ténue, os MeetUp perdem importância, tal como perde centralidade a relação entre cidadãos deputados e a base dos inscritos no sítio/movimento chamado cada vez mais simplesmente a ratificar as expulsões dos dissidentes propostas pela liderança.

Mesmo a desprofissionalização da política, outro dos pontos-chave, é, pelo menos momentaneamente, acantonada e do grupo de deputados emerge de forma cada vez mais clara uma nova liderança, reunida num diretório nascido em novembro de 2014, composta, entre outros, por Alessandro di Battista e Luigi di maio, este último cada vez mais indicado como o possível substituto de Beppe Grillo que, numa sondagem, recolhe mais consensos do que o próprio fundador32 que, por outro lado, ocupa uma posição cada vez mais desfilada.

Recentemente, para promover o asfixiado e substancialmente inexistente processo de decisão «desde baixo» foi lançado um novo instrumento «Rousseau»33 definido como o «sistema operativo da rede»34 e visto como um sistema de «inteligência coletiva»35. É ainda muito cedo para perceber o sentido e a tomada de iniciativa.

O M5S parece estar hoje perante uma encruzilhada, entre messianismo e normalização. Segundo as palavras dos fundadores, os 5 Estrelas deveriam representar a resposta àquela que não é simplesmente uma crise económica mas «uma crise cultural (…) véspera de uma potencial revolução e de (…) grandes mudanças epocais»36, filha também de uma «difusão ao nível da massa de uma nova consciência coletiva»37 determinada por «um novo modelo de comunicação coletivo, graças à rede e às suas aplicações, e de uma nova forma avançada de sociabilização, consentida pela invenção da rede e pela sua capacidade de interconectar cada indivíduo com o resto do mundo»38.

O modelo 5 Estrelas propõe uma superação do tradicional modelo representativo e liberal, para desembocar num modelo fluído em que o motor à volta do qual tudo deve girar seria a cidadania ativa, individual, como foi repetido muitas vezes, de qualquer corpo intermédio (sindicatos ou partidos). Todavia, as exigências contingentes e o trabalho institucional levam necessariamente os representantes eleitos, nova elite política, a assumir decisões autonomamente e a criar lógicas próprias nas quais a necessidade de uma autoperpetuação entra em colisão com o caráter inicial de desprofissionalização da política.

Nas eleições para o Parlamento italiano de 2013, a formação fundada por Grillo representa quase 30 por cento de um eleitorado que se identifica de um modo não apenas superficial com os ideais do partido, não sendo portanto correto catalogar o voto no m5s como ligado a um mero protesto. As sondagens mostram a estabilidade nas preferências da opinião pública que colocam os 5 Estrelas no segundo lugar, pouco atrás do Partido Democrático39.

 

QUEM VOTOU NO 5 ESTRELAS?

Como vimos, o MoVimento 5 Estrelas nasce no âmbito de um duplo fenómeno: o da crise económico-financeira e o das grandes ondas de protesto desencadeadas, primeiro, no Norte de África, as chamadas «primaveras árabes», e depois dilatando-se para a Península Ibérica, primeiro em Portugal (as manifestações de 12 de março da geração «à rasca») e depois em Espanha (por volta de 2011, com o Movimento dos Indignados). Todavia, embora sendo o quadro de fundo no qual, mesmo em Itália, se insere a rápida ascensão do M5S, este é um paradigma interpretativo que, de facto, provoca mais ambiguidades do que certezas.

Até porque o M5S não nasce, contrariamente ao Podemos, no seio da esquerda, mas de um líder que, como vimos, embora utilizando algumas temáticas características do mundo progressista, como o ambientalismo, adota outras que não são necessariamente conotáveis com aquele campo, sobretudo o tema da antipolítica e o da corrupção.

Segundo os dados recolhidos após as eleições políticas de 2013, da figura 1 emerge claramente como o M5S reúne um eleitorado extremamente variado que vai da esquerda, que com 55 por cento é claramente dominante, à direita, com 26 por cento, passando, no entanto, por uma consistente fatia da opinião pública que não se reconhece nesta dicotomia (19 por cento). Se, por um lado, a capacidade de reunir, debaixo de um único chapéu, pessoas cuja opinião é tão diversificada permite a afirmação do M5S, por outro, isso determina a dificuldade de desenvolver estratégias coerentes, sobretudo no que diz respeito aos temas e às fraturas divisivas entre os dois campos, como, por exemplo, os ligados à imigração e aos direitos cívicos.

 

 

Uma análise do perfil (figura 2) dos eleitores do m5s oferece-nos algumas informações sobre os efeitos particularmente profundos da crise económica e social que marcou o período final da Segunda República. São seis os perfis característicos, comparativamente com os outros partidos, de onde o M5S consegue, atrair os votos: em primeiro lugar, os trabalhadores com contrato atípico ou precário que, em 50 por cento dos casos, fez confluir no M5S a sua preferência; depois os jovens da geração post-1986, 40 por cento; os desempregados e licenciados, 30 por cento; de cidades com mais de 250 mil habitantes; do Centro e do Sul da península, também 30 por cento.

 

 

Um terceiro elemento (figura 3) que distingue o eleitor do 5 Estrelas é, comparativamente, um nível inferior de confiança: partidos, Parlamento e pessoas do bairro. Inferior aos outros, com a exceção da direita, em: Chefe de Estado, UE e, no que diz respeito aos imigrantes, inferior à esquerda e ao centro-esquerda.

 

 

Uma última dimensão, que parece ter uma importância particular, é a relativa à participação (figura 4). Para um partido que se apresenta como um instrumento para a participação de baixo para cima, deveríamos poder encontrar, pelo menos ao nível teórico, valores mais elevados a este respeito. Do gráfico evidencia-se como, comparativamente com eleitores de outros quadrantes políticos, os do M5S se colocam num nível muito abaixo em relação aos da esquerda, mas superior aos outros (centro-esquerda, centro-direita, direita). Destaca-se, porém, a relativamente baixa participação em eleições primárias dos eleitores do M5S, que, com 29 por cento, coloca-se a um nível sensivelmente inferior ao dos eleitores de esquerda, 60 por cento, e de centro-esquerda, 43 por cento. Se tivermos em conta o facto de que um dos pontos centrais do MoVimento é a seleção dos candidatos por parte dos militantes, o resultado é apenas pouco superior ao obtido pelo centro-direita (respetivamente, 29 por cento e 21 por cento).

 

 

CONCLUSÕES

Ao longo dos anos, Beppe Grillo e Gianroberto Casaleggio conseguiram construir um partido político com raízes consistentes, que soube apresentar-se como alternativa aos partidos que tinham caracterizado, ainda que de um modo muito instável, a chamada Segunda República (1994-2013).

A crise económica e política que se desencadeia a partir de 2008 serve de detonador. Toda a estrutura do sistema político, incapaz de dar resposta perante as obrigações de balanço e face às exigências da opinião pública, foi posta em causa por uma opinião pública que, graças também à aliança dos partidos mainstream no biénio do consolado tecnocrata de Mario Monti, já não os distingue e procura uma resposta com um caráter mais marcadamente antissistema.

As respostas às perguntas pendentes são fornecidas pelo cómico Beppe Grillo que, quotidianamente, desde 2005, denuncia as deformações do sistema, não só político, mas também económico. Paulatinamente, cria-se uma hegemonia cultural capaz de atrair os cada vez mais numerosos desiludidos com as promessas dos partidos tradicionais. Substancialmente, a opinião pública deixa de acreditar que as próprias questões possam ser respondidas no interior do jogo democrático clássico e possam ser, deste modo, aproveitadas por um líder capaz de as inserir numa série de equivalências que, porém, entram na lógica da razão populista amigo/inimigo40 na qual will e opinion tendem a sobrepor-se41 desfigurando na base o próprio funcionamento da democracia representativa e liberal.

Através da análise do perfil dos eleitores do M5S emerge uma certa fluidez, mas também pontos comuns. A votar nos 5 Estrelas estão os jovens, mais afetados pela constante destruição dos postos de trabalho, os desempregados e os trabalhadores com contratos «atípicos». Quem escolhe o M5S mostra também ter menos confiança, em relação aos que preferem outras formações, não só no que se refere às instituições – Parlamento, partidos, UE e Chefe de Estado – mas também em relação aos vizinhos e aos migrantes. No fundo, a lógica subjacente ao M5S parece ser a que descreveu Pierre Rosanvallon, segundo a qual o cidadão eleitor se transformaria em cidadão controlador e onde os cânones da representação deviam ser substituídos por uma abordagem de vigilância, denúncia e avaliação42. Uma fatia considerável deles, cerca de 20 por cento, não se reconhecem nem sequer na dicotomia direita/esquerda. A única lógica que subjaz a este mundo parece ser então o desafeto e a insatisfação em relação ao que o circunda.

A resposta dada a quem tem falta de confiança é o governar-se por si mesmo, esta é a grande proposta feita por Casaleggio e Grillo. A democracia direta 2.0, baseada na participação através das redes sociais, aparece então como a solução capaz de suplantar a crise do sistema liberal e representativo. A ideia, explica Casaleggio, é a de introduzir um novo tipo de cidadania e para fazer isso é hoje possível aproveitar a interconexão oferecida pela rede. Os outros corpos, como sindicatos e partidos, não são mais necessários, pelo contrário, desvirtuam. Assim como, segundo a lógica da mentalidade populista, seria uma traição dialogar com os outros partidos43.

Na prática, porém, depois da entrada maciça nas instituições de representantes do 5 Estrelas, surgiu o dilema de o que fazer e como fazer. Perante a necessidade de gerir o trabalho em comissões e subcomissões, colocou-se a questão da profissionalização do trabalho político e assim a relação bottom up preconizada nos primeiros momentos é, em parte, abandonada.

Paradoxalmente, portanto, o MoVimento, no seu percurso no interior das instituições, podia perder o seu alento populista como sucedeu nos anos 1990 com a Liga Norte, arriscando ficar vítima daquela lei férrea das oligarquias formulada por Robert Michels no início do século XX, segundo a qual cada partido tende a evoluir de uma estrutura aberta à base, para uma estrutura dominada por uma oligarquia, ou seja, por um número restrito de dirigentes44.

 

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Data de receção: 15 de abril de 2016 | Data de aprovação: 16 de junho de 2016

 

NOTAS

1 Cf. http://www.corriere.it/economia/13_marzo_01/debito-pubblico-istat-pil_580e5a68-8261-11e2-b4b6-da1dd6a709fc.shtml.

2 Veja-se dados Eurostat em http://ec.europa.eu/eurostat.

3 O Povo da Liberdade obtém 344 assentos em 630, na Câmara dos Deputados, e 174 em 315, no Senado.

4 Neste sentido, o Governo presidido por Mario Monti, que contou com o apoio de partidos tanto de centro-esquerda como de direita, representa uma exceção e como tal era visto por todos os protagonistas da sua variada maioria parlamentar: ou seja, um período temporário, fruto da gravidade do contexto.

5 Cf. DIAMANTI, Ilvo – «The 5 Star Movement: a political laboratory». In Contemporary Italian Politics. Vol. 6, N.º 1, 2014, pp. 4-15.

6 DE SIO, Lorenzo, e SCHADEE, Hans M. – «I flussi di voto e lo spazio politico». In ITANES – Voto Amaro Disincanto e crisi economica nelle elezioni del 2013. Bolonha: Il Mulino 2013, pp. 45-46.

7 Neste sentido concordamos com a análise de Ilvo Diamanti segundo a qual o M5S deveria, para todos os efeitos, ser considerado como um partido político. Cf. DIAMANTI, Ilvo – «The 5 Star Movement: a political laboratory».

8 Como explicam Roberto Biorcio e Paolo Natale, o encontro entre Beppe Grillo e Gianroberto Casaleggio é fundamental. Casaleggio foi um dos maiores especialistas italianos de estratégias de marketing na rede. «L’impegno diretto in politica del comico genovese ha assunto un profilo sempre più stabile e definito dopo l’apertura del suo blog personale, progettato e gestito da Gianroberto Casaleggio e dalla sua società» (BIORCIO, Roberto, e NATALE, Paolo – Politica a 5 Stelle, Idee, storia e strategie del Movimento di Grillo. Milão: Feltrinelli, 2013.

9 «2005 European Heroes». In Time. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1112803,00.html.

10 A revista refere que «his highly political material struck a chord with audiences, and Grillo became a force in Italian politics. In 2005, he started sharing his thoughts on a blog–it’s now available in Italian, English and Japanese, and is one of the most widely read in the world, making him a truly global Web Celeb”, «The Web Celeb 25». Cf.Forbes. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.forbes.com/2009/01/29/web-celebrities-internet-technology-webceleb09_0129_land.html.

11 «Grillo sentito sul crac Parmalat “Ho portato pure Fiat e Telecom”». In la Repubblica. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.repubblica.it/2004/a/sezioni/economia/parmalat6/grillo1/grillo1.html.

12 BIORCIO, Roberto – «Introduzione: partecipazione, attivismo e democrazia». In Biorcio, Roberto – Gli attivisti del Movimento 5 Stelle, dal web al territorio. Milão: FrancoAngeli, 2015.

13 Bacheca Gruppo 280. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.meetup.com/it-IT/gruppo280/messages/boards/thread/2773161/0#7368782.

14 A proposta de lei prevê a impossibilidade de candidatura ao Parlamento para os condenados por crimes com penas superiores a 10 meses, o limite de duas legislaturas para os parlamentares e a introdução do voto de preferência na lei eleitoral. Cf. Sondaggio parlamentare sull’iniziativa di legge popolare “Parlamento Pulito”. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://151.1.253.2/immagini/Sondaggio_parlamentare.pdf.

15 «Grillo: “I partiti non hanno capito niente”». In Corriere della Sera. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.corriere.it/Primo_Piano/Politica/2007/09_Settembre/08/grillo_v_day.shtml?refresh_ce-cp.

16 «Se guardiamo alla fase iniziale del M5s, ci troviamo davanti a una forza politica che affonda le proprie origini nell’humus dei movimenti e dei partiti della sinistra libertaria e radicale. Si tratta di quella silent revolution, caratterizzata dalla lotta per l’affermazione di valori trasversali, post-ideologici e post-materialisti come i diritti civili e di pari opportunità, la pace, lo sviluppo solidale e l’ecologia» (CORBETTA, Piergiorgio, e GUALMINI, Elisabetta – Il partito di Grillo. Bolonha: Il Mulino, 2013, p. 34.

17 Ibidem, p. 56.

18 CASALEGGIO, Gianroberto, e Grillo, Beppe – Siamo in guerra. Milão: Chiarelettere, 2011.

19 Non statuto. Art. 4. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: https://s3-eu-west1.amazonaws.com/materiali-bg/Regolamento-Movimento5-Stelle.pdf.

20 Ibidem.

21 «La “Sede” del “MoVimento 5 Stelle” coincide con l’indirizzo web www.movimento5stelle.it. I contatti con il MoVimento sono assicurati esclusivamente all’indirizzo http://www.movimento5stelle.it/contattaci.php». In Non statuto. Art. 1.

22 Non statuto. Art. 5.

23 Paradoxalmente, para um partido que faz da base o seu ponto de referência, a escassa participação nas parlamentárias, cerca de 95 mil votantes, mostra as contradições de uma ideologia que quer fazer da mobilização a partir de baixo a sua regra («Beppe Grillo e parlamentarie 5 stelle: 95mila votanti, 31 liste e 17 guidate da donne». In la Repubblica. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.huffingtonpost.it/2012/12/07/beppe-grillo-eletti-m5s_n_2255268.html).

24 Programma. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.beppegrillo.it/iniziative/movimentocinquestelle/Programma-Movimento5-Stelle.pdf.

25 MODIGLIANI, Sergio Di Cori – Vinciamo Noi, chi siamo e quale Europa vogliamo. E-book: Adagio, 2014, position 1300.

26 O termo «nação» é várias vezes repetido neste contexto, e faz pensar numa certa concomitância de visões com o mundo cultural da direita com quem, na Europa, os 5 Estrelas estabeleceram um grupo parlamentar único o que deixa entender algumas dúvidas sobre o real e convicto alento europeísta. Cf. MODIGLIANI, Sergio Di Cori – Vinciamo Noi, chi siamo e quale Europa vogliamo.

27 Atrás do conceito de nação proposto por Casaleggio e Grillo parece-nos que se pode encontrar, ainda que com tonalidades não exacerbadas, uma reação à anomia filha da globalização. Ou seja, aquele nacionalismo identitário baseado na comunhão de valores de defesa do «povo» contra a «elite» de que falava Taguieff. Cf. TAGUIEFF, Pierre-André – Le nouveau national-populisme. Paris: Cnrs, 2012.

28 MODIGLIANI, Sergio Di Cori – Vinciamo Noi, chi siamo e quale Europa vogliamo, posição 891.

29 Ibidem, posição 901.

30 «Committed to the principles of democracy, freedom and cooperation among Nation States, the Group favours an open, transparent, democratic and accountable cooperation among sovereign European States and rejects the bureaucratisation of Europe and the creation of a single centralised European superstate». (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.efddgroup.eu/.

31 Na Câmara dos Deputados o grupo 5 Estrelas contava com 109 membros, agora desce para 91; no Senado eram 54, estão agora inscritas 34 pessoas. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.camera.it/leg17/46; e (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.senato.it/leg/17/BGT/Schede/Gruppi/Grp.html.

32 (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.termometropolitico.it/1191573_sondaggio-swg-di-maio-piu-amato-di-grillo-nel-m5s-ma-non-tra-i-poveri0910.html.

33 «I suoi obiettivi sono la gestione del M5S nelle sue varie componenti elettive (Parlamenti italiano e europeo, consigli regionali e comunali) e la partecipazione degli iscritti alla vita del M5S attraverso, ad esempio, la scrittura di leggi e il voto per la scelta delle liste elettorali o per dirimere posizioni all’interno del M5S». (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: https://rousseau.movimento5stelle.it/.

34 Através do «Rousseau», os militantes poderão fazer propostas de lei, ou votar propostas do MoVimento, votar nas primárias para parlamentares e outros representantes nas instituições a todos os níveis, do local ao europeu. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: https://rousseau.movimento5stelle.it/.

35 Deste modo, Nicola Morra, presidente do grupo dos senadores 5 Estrelas, define a nova plataforma: «Rousseau è una sfida, è una sfida che possiamo e vogliamo vincere. Rousseau è l’intelligenza collettiva che diventa poco alla volta realtà». (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.beppegrillo.it/2016/05/iosostengorousseau_e_il_movimento_5_stelle.html.

36 CASALEGGIO, Gianroberto, e GRILLO, Beppe – «Prefazione». In Vinciamo Noi, posição 121.

37 Ibidem, posição 132.

38 Ibidem, posição 143.

39 (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em: http://www.termometropolitico.it/sondaggi-politici-elettorali.

40 LACLAU, Ernesto – On Populist Reason. Londres: Verso, 2005, pp. 87-88.

41 Nadia Urbinato explica como no funcionamento da democracia representativa opiniões e decisões devem necessariamente manter-se separadas; quando, ao invés, estas se sobrepõem entra-se numa lógica de desfiguramento da própria democracia que pode assumir uma forma de populismo, donde a ausência de separações, a não ser a que encontramos na dicotomia amigo/inimigo. (URBINATI, Nadia – Democracy Disfigured, Opinion, Truth, and the People. Cambridge: Harvard University Press, 2014, pp. 45-46).

42 ROSANVALLON, Pierre – Counter-Democracy, Politics in an Age of Distrust. Cambridge: Cambridge University Press, 2008, pp. 45-46.

43 Neste sentido, encontramo-nos perante uma diferença muito profunda com o Podemos que, pelo contrário, se mostrou mais propenso ao diálogo, tanto ao nível local, como por exemplo em Madrid, como a nível nacional, com vista à formação de um governo. Cf. PUCCIARELLI, Matteo, RUSSO SPENA, Giacomo – «Noi e i grillini, somiglianze e differenze». In l’Espresso. (Consultado em: 18 de maio de 2016). Disponível em http://espresso.repubblica.it/attualita/2014/12/05/news/noi-e-i-grillini-somiglianze-e-differenze1.191013.

44 Cf. MICHELS, Robert – Para Uma Sociologia dos Partidos Políticos na Democracia Moderna: Investigação sobre as Tendências Oligárquicas da Vida dos Agrupamentos Políticos. Lisboa: Antígona, 2001.

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