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Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.76 Lisboa dez. 2022  Epub 31-Dez-2022

https://doi.org/10.23906/ri2022.76a06 

Artigos

Uma revolução silenciosa: França, 2017-2022

A silent revolution, France 2017-2022

Filipe Nunes1 

1 IPRI-NOVA. Rua de D. Estefânia, n.º 195, 5.º Dt.º 1000-155 Lisboa, Portugal. f.abreu.nunes@gmail.com


Resumo

Este artigo analisa a profunda mudança no comportamento elei- toral dos franceses, manifestada em 2017 e confirmada em 2022. Essa mudança não se explicará tanto por fatores conjunturais, mas antes por fatores estruturais que fizeram com que a tradicional clivagem esquerda/ direita fosse progressivamente substituída pela clivagem entre cosmopolitas e nacionalistas, fenómeno aliás comum a outras democracias liberais. A consolidação desta nova clivagem abre oportunidades a projetos centristas e europeístas, mas coloca em crise os partidos tradicionais do centro-esquerda e cria dificuldades de afirmação à esquerda junto das classes populares. Por outro lado, este é o terreno favorável ao crescimento da extrema-direita.

Palavras-chave: política francesa; clivagens; «esquerda brâmane»; extrema-direita

Abstract

This article shows a profound change in French electoral behaviour, revealed in 2017 and confirmed in 2022. This change can be better explained by structural drivers that replaced traditional left-right cleavages by new cultural and social cleavages, also experienced in other liberal democracies. The consolidation of these new cleavages brings new opportunities to liberal centrist movements but poses serious threats to the traditional social-democratic left in its relation to the working classes. Additionally, this is a favourable political battleground for the far-right electoral growth.

Keywords: French politics; cleavages; ‘brahman left’; far-right politics

O sistema político da V República francesa, tal como o conhecemos desde 1958 (sempre assente na clivagem direita/esquerda), não parece estar a resistir à emergência de uma nova clivagem que se estrutura entre «cosmopolitas» e «nacionalistas».

Pedindo emprestada a Ronald Inglehart uma expressão já com quase 50 anos1, dir-se-ia que estamos perante uma «revolução silenciosa» no comportamento eleitoral e no sistema partidário em França.

Se nas eleições de 2017 testemunhámos o princípio do fim do sistema partidário que marcou a V República fundada por De Gaulle, essa tendência foi plenamente confirmada no ciclo eleitoral de 2022.

Na primeira volta das últimas eleições presidenciais, os candidatos da direita gaullista e do Partido Socialista Francês (PSF), forças dominantes das últimas cinco décadas - que ainda vão resistindo, a custo, nas eleições locais -, não somaram mais de 6,53% dos votos.

Há pouco mais de dez anos, na primeira volta das presidenciais de 2012, os candidatos do PSF (Hollande) e do centro-direita (Sarkozy) somaram logo na primeira volta 55,81% dos votos. Ambos se qualificaram para a segunda volta, como acontecera com as suas famílias políticas desde 1958, com a exceção de 1969 (dois candidatos do centro-direita na segunda volta) e de 2002, eleição marcada pela passagem à segunda volta do candidato da extrema-direita, Jean Marie Le Pen2.

Em 2017, o candidato do PSF (Benoît Hamon) já não passara dos 6,36% na primeira volta das presidenciais, mas François Fillon, candidato da direita gaullista, ainda atingiu 20,01%, insuficientes para passar à segunda volta mas bem acima dos 4,78% que obteve a candidata desta família política em 2022 (Valérie Pécresse).

Na primeira volta das presidenciais de 2022, porventura influenciados pela divulgação sistemática de sondagens pré-eleitorais, muitos eleitores optaram por antecipar o voto útil (apenas necessário na segunda volta), optando desde logo mais por eliminar do que por escolher. Surgiram assim três blocos eleitorais: Macron (27,84%), Marine Le Pen (23,15%) e Mélenchon (21,95%).

É verdade que a candidatura de Éric Zemmour, ideólogo mediático da direita radical, chegou a atingir 16,5% nas intenções de voto a dois meses das eleições (chegando a ultrapassar Le Pen)3, mas terminou com 7,07% na primeira volta.

Em todo o caso, a candidatura de Zemmour pode ter tido uma dupla vantagem para a outra candidata da extrema-direita: trouxe-lhe na segunda volta votos da burguesia conservadora e católica (que habitualmente não votava Le Pen) e deu-lhe ainda uma imagem de moderação por comparação com o radicalismo das suas propostas4.

Os blocos eleitorais constituídos nas presidenciais de abril viriam a reproduzir-se nas eleições legislativas de junho de 2022. Nestas legislativas, os franceses acabaram por corrigir nas urnas um sistema eleitoral desenhado para promover governos estáveis liderados por forças moderadas organizadas em torno da clivagem esquerda/direita5. A maioria presidencial tornou-se, a partir de então, uma maioria relativa.

Ao mesmo tempo, a chamada «frente republicana», comportamento eleitoral que impedia a vitória dos candidatos da extrema-direita na segunda volta das presidenciais ou das legislativas, abanou nas eleições presidenciais e ruiu nas legislativas.

Num estudo já clássico, Richard Rose6 havia previsto que, neste tipo de sistemas eleitorais, o partido com mais inimigos teria a vida muito dificultada nas segundas voltas. Foi o que aconteceu em França com os partidos de Jean Marie e Marine Le Pen. Até 2022.

Contudo, nas legislativas de 2022, a extrema-direita de Marine Le Pen [Rassemblement national (RN)], até aí o «partido com mais inimigos», acabou por ficar com o maior grupo parlamentar entre os partidos da oposição (89 deputados), sendo que com o sistema maioritário a duas voltas nunca tinha conseguido mais do que oito deputados. Sessenta por cento dos franceses declaram-se satisfeitos com o resultado saído destas eleições legislativas7.

Coloca-se a questão de saber como chegámos aqui.

A nova clivagem

Há certamente boas hipóteses de tipo conjuntural para explicar o atual estado de coisas. Em 2017, o Presidente em funções, François Hollande, não teve sequer condições políticas para tentar a reeleição, tal era a sua taxa de rejeição, explicável quer pela desilusão com as promessas eleitorais de regulação do capitalismo financeiro, quer pela fronda da ala esquerda do PSF que, no interior do grupo parlamentar, lhe bloqueou o ímpeto reformista. O fenómeno Macron de 2017 terá certamente beneficiado muito destas divisões entre socialistas, já que ele próprio havia sido conselheiro e ministro de François Hollande.

Nas presidenciais do mesmo ano, o candidato da direita gaullista, François Fillon, apresentou uma plataforma política que combinava autoridade do Estado com libera- lismo económico e foi até bastante tarde o favorito à vitória, estatuto que só perdeu quando surgiu o escândalo dos pagamentos à sua mulher por um alegado emprego fictício no seu próprio gabinete parlamentar.

Agora, pensando no ciclo eleitoral de 2022, também podemos olhar para a perda da maioria absoluta como o resultado do estilo centralizador do candidato-presidente, Emmanuel Macron, que com o seu movimento político unipessoal havia diminuído o papel escrutinador do Parlamento.

Dir-se-á também que a votação e eleição de deputados da extrema-direita resultará de um erro de cálculo de Macron, que nas legislativas apostou numa estratégia de confrontação com a esquerda liderada por Mélenchon, optando por destrunfá-lo com a escolha de uma primeira-ministra e de um ministro da Educação vindos da esquerda, certo de que a habitual frente republicana trataria de derrotar os candidatos da extrema-direita na segunda volta.

Poderá até ser lembrada a natureza menos determinante das eleições legislativas em França, mais propensas ao voto de protesto, por comparação com as presidenciais, já que o sistema tem um pendor presidencialista e o Presidente, moderado, europeísta, estava eleito8.

Estudos pós-eleitorais mais aprofundados indicarão certamente que tipo de variáveis terão pesado mais no sentido de voto dos franceses.

Sem pretender desvalorizar à partida o peso da dinâmica das campanhas da imagem das lideranças ou das conjunturas económicas, parece difícil, perante a dimensão da mudança (e a coerência com as eleições de 2017), excluir aqui a relevância de fatores associados a transformações estruturais da sociedade francesa.

De certa forma, estas eleições de 2022, presidenciais seguidas de legislativas, surgem como a expressão política mais imediata do mal-estar social que já vinha de trás e que se havia manifestado logo no início do mandato de Emmanuel Macron, em torno do chamado movimento dos gilets jaunes (coletes amarelos) - um movimento inorgânico, mobilizado pelas redes sociais, que durante cerca de cinco meses reuniu nas rotundas de França o país periférico em protesto contra as políticas governamentais.

A dimensão deste movimento social, e a dificuldade em classificá-lo numa escala esquerda-direita, apanhou de surpresa a Europa e mesmo as elites políticas francesas. No entanto, há muito que a sociologia eleitoral vinha a chamar a nossa atenção para o peso crescente dos temas pós-materialistas (societais, culturais) no comportamento eleitoral e para a erosão da influência dos sindicatos, da estrutura de classes tradicional e da religião na determinação do voto nas democracias ocidentais.

Logo nos anos 1980, quando o Frente Nacional em França dava os primeiros sinais de crescimento, Inglehart notava que

«o Frente Nacional reflete um fenómeno mais vasto que já deu origem ao crescimento dos partidos ecologistas e da nova esquerda, por um lado, mas que pode igualmente favorecer a emergência de partidos nacionalistas e de extrema-direita, por outro»9.

Era previsível que, a prazo, estas tendências viessem a sedimentar-se e a criar sérias dificuldades de afirmação eleitoral às forças tradicionais da esquerda e da direita.

Neste momento, as clivagens de tipo cultural e pós-materialista emergem com mais força10, enquanto as clivagens económicas e sociais mudam de natureza e articulam-se de formas menos previsíveis com estas novas procuras eleitorais.

O voto de classe não desaparece, mas surge com novas e inesperadas vestes. Assistimos a isso no referendo que ditou o Brexit e nas eleições presidenciais americanas de 2016, fenómenos bem antecipados e interpretados, por exemplo, por Hochschilds11 ou Goodhart12. E voltámos a assistir ao mesmo fenómeno nas presidenciais francesas de 2017 e mais intensamente no ciclo eleitoral de 2022. Em todos estes casos vimos as classes populares menos instruídas, antiga base eleitoral da esquerda, a alinhar com as soluções propostas pelos setores mais radicais da direita.

Os trabalhos de Christophe Guilluy e Jérôme Fourquet têm oferecido contributos importantes para a antecipação e interpretação destas mudanças em França13.

Guilluy14 e Fourquet15 falavam-nos já antes do movimento dos gilets jaunes de duas Franças que não comunicam entre si: a França de Paris e das grandes metrópoles e a França rural ou pós-industrial, das cidades médias e pequenas que perderam dinamismo económico e não ganharam procura turística; a França que pode ir de metro para o trabalho, que tem acesso aos melhores serviços públicos e a França que precisa do carro para ir trabalhar e que não tem escolas que deem as melhores oportunidades aos filhos; a França dos diplomados bem remunerados e dos reformados protegidos por um sis- tema de pensões solidário e a França dos assalariados menos qualificados, que não frequentaram o ensino superior (ou pelo menos o melhor ensino superior) e que vivem em situações laborais mais precárias no setor terciário, sem reconhecimento social e remuneratório, empurrados para fora dos centros das grandes cidades, por já não se qualificarem para as políticas de habitação social ou para os apoios sociais de outro tipo.

É exatamente esta França, dividida entre «vencedores» e «perdedores» da globalização, patente nos referendos europeus de 1992 e 200516 e nas eleições de 2017, que vemos agora, com mais nitidez, nos mapas eleitorais e nos inquéritos de opinião de 2022. Na segunda volta das presidenciais, contra Le Pen, Macron ficou bastante à frente entre os pensionistas, mas entre a população ativa só venceu entre os quadros e os profissionais liberais, como aliás já havia acontecido em 201717. De acordo com dados de estudos de opinião partilhados por Guilluy, em 2017 56% dos operários e 55% dos que ganham menos de 1250 euros por mês votaram Marine Le Pen18.

Nas metrópoles, Macron ficou perto dos 70%19; nas zonas urbanas teve uns ainda confortáveis 55,8% (embora com mais dificuldades nas cidades médias e pequenas); e também ganhou nas zonas rurais dominadas por um forte polo urbano (53,8%). Mas quando chegamos a zonas rurais, parcial ou totalmente autónomas dos polos urbanos, a candidata da extrema-direita passa para a frente20.

Já a propósito dos resultados das presidenciais de 2017, Fourquet notava que o voto em Marine Le Pen na região Île-de-France diminuía à medida que nos aproximávamos de Paris: 46,3% a 70 quilómetros de Paris, contra 12,5% no centro da cidade21.

As diferenças regionais são significativas.

A candidata da extrema-direita tem os seus melhores resultados no Nordeste, o motor da economia francesa nos trinta gloriosos anos e antigo bastião do Partido Comunista Francês (PCF), bem como no Sudeste mediterrânico, mais permeável aos discursos identitários e securitários anti-imigração.

Se em 2017, Marine Le Pen tinha superado Macron em apenas dois departamentos, em 2022 ficou já à frente em 28 dos 101 departamentos, sendo que na primeira volta haveria superado o candidato a presidente em 41.

Nas eleições legislativas notam-se, de resto, incursões assinaláveis de candidatos RN em territórios tradicionais do centro-direita como o Loire, a Aquitânia e a Gironda. Dos antigos bastiões do catolicismo e da democracia-cristã francesa já só permanecem imunes à extrema-direita a Bretanha, o País Basco francês e a Alsácia.

Estes resultados regionalizados vão ao encontro da tese da decadência da França católica e da França comunista, bem documentada por Fourquet: a taxa de frequentadores de missa baixou de 35% em 1961 para 7% em 2012; as cidades governadas pelo PCF passaram de 147 em 1977 para apenas 37 em 201422.

Esta França antiga, enquadrada pelos sindicatos, pela Igreja e pela comunicação social tradicional23, estará a dar lugar a uma nova França que nas relações laborais e familiares, nos consumos culturais e estilos de vida, nos hábitos alimentares ou até nos nomes que dá aos filhos, é marcada por uma grande fragmentação e divisão, à semelhança aliás do que se passa noutras sociedades ocidentais, nomeadamente dos Estados Unidos.

Com as suas bases de sustentação em erosão (sindicatos, Igreja, televisão generalista e imprensa) é, portanto, expectável que os partidos tradicionais (gaullistas, socialistas), sem capacidade de realinhamento, deem lugar a um desalinhamento marcado por uma maior abstenção e por novas ofertas políticas, bem posicionadas para representar a clivagem agora dominante, e que poderíamos resumir em cosmopolitas vs. nacionalistas ou, para usar a terminologia de Goodhart24, anywheres e somewheres.

O realinhamento eleitoral pode acontecer quando os partidos tradicionais se dividem ou se tornam liderados por novas elites que conseguem mudar o seu programa e a sua base social25. Foi o que sucedeu com o Partido Republicano pós-Trump e com o partido conservador imediatamente após o Brexit.

Por outro lado, o desalinhamento pressupõe um declínio das funções tradicionais dos partidos institucionalizados que, em última análise, pode levar ao crescimento da abstenção e/ou à sua progressiva substituição por outro tipo de partidos ou instituições. É exatamente isso que parece estar a suceder em França, com o partido de Macron a representar grosso modo os «cosmopolitas» e o partido de Le Pen a representar os «nacionalistas».

De facto, tudo indica, que o resultado das presidenciais de 2017 não foi fruto do acaso, algo provocado por comportamentos conjunturais das elites políticas dos partidos clássicos e passível de ser revertido com facilidade, mas antes o prenúncio de uma tendência de mudança bem enraizada na sociedade francesa.

Uma esquerda brâmane

Há, no entanto, três grupos sociais que não encaixam completamente na clivagem vencedores vs. perdedores da globalização.

Em primeiro lugar, os mais jovens dos jovens (18-24 anos). É sabido que se abstêm mais e que tendencialmente não têm as preocupações materiais de quem já trabalha e formou família. Entram também aqui os jovens recém-diplomados, frequentemente com relações laborais precárias, mas (justamente por via do diploma) com atitudes sociais muito mais abertas e cosmopolitas que as registadas entre as classes populares (de onde são, muitos deles, originários).

Em segundo lugar, os funcionários públicos, nomeadamente profissionais, técnicos e dirigentes que, embora sem terem ganhos significativos de rendimento nas últimas décadas, têm uma perceção subjetiva de estatuto muito potenciada pelo capital cultural e (até ao momento) pela estabilidade do vínculo laboral. A estes podíamos juntar os pensionistas oriundos da função pública. São grupos que ainda conseguem residir nos centros das cidades e que beneficiaram objetivamente do acesso ao crédito fácil e a serviços prestados por imigrantes ou a produtos que circularam nas últimas décadas a preços mais acessíveis. Nesse sentido, têm funcionado como uma espécie de último reduto da democracia liberal contra a ascensão do populismo de direita, representando ainda uma fatia muito importante do eleitorado, que se divide entre Macron e a esquerda26.

Finalmente, os imigrantes que sujeitos a trabalhos mais duros e precários, vítimas de fenómenos de discriminação e racismo, encontram condições de vida, de saúde, de educação, de habitação e de consumo incomparavelmente superiores àquelas que tinham nos seus países de origem. Na escala mais baixa dos rendimentos, qualificam-se para receber prestações sociais não contributivas e habitação social.

Foi a olhar para esta possível coligação eleitoral - à qual juntava os profissionais liberais e os dirigentes do setor privado - que em 2011 o think tank Terra Nova convidou as forças políticas progressistas a esquecerem as classes populares e operárias nas suas estratégias eleitorais e a virarem-se para os grupos mais urbanos e cosmopolitas da sociedade francesa27.

A progressiva ancoragem da social-democracia ocidental a eleitorados mais jovens e qualificados (ainda que não necessariamente mais ricos) é um fenómeno bem estudado, constituindo aqui os socialistas ibéricos uma exceção28.

Thomas Piketty fala mesmo a este propósito da emergência de uma «esquerda brâmane»29, assente nas «castas» mais instruídas, por oposição à esquerda do passado que atraía as classes populares menos instruídas e com rendimentos mais baixos. A direita continua a atrair as classes com mais rendimento e mais património acumulado, mas é hoje menos competitiva entre os mais qualificados, um possível resultado da democratização do acesso ao ensino superior.

Foi também a pensar nestas oportunidades eleitorais que Jean-Luc Mélenchon [e o seu La France insoumise (LFI)] se posicionou para o ciclo eleitoral de 2022, excluindo obviamente à partida as classes mais afluentes do setor privado, já que estas não só rejeitam a sua retórica anticapitalista como, de acordo com Guilluy30, se autoexcluem elas próprias cada vez mais do espaço público comum e do recurso aos serviços públicos.

Entre os jovens dos 18 aos 24 anos, 42% votaram na coligação de esquerda, que juntou nas legislativas o partido de Mélenchon (liderante) a ecologistas, socialistas e comunistas31 - a Nouvelle Union populaire écologique et sociale (NUPES).

Ao mesmo tempo, em Seine-Saint Denis, subúrbio de Paris com forte presença de população imigrante, Mélenchon atingiu na primeira volta das presidenciais 49,09% dos votos, 12 pontos acima do obtido em 2017. Finalmente, nas legislativas, foi manifesta a boa performance da coligação de esquerda nas grandes cidades32, precisamente onde se concentram os grupos sociais mais instruídos, sendo que já em 2017 Mélenchon havia tido uma subida assinalável entre as classes médias do setor terciário, face ao resultado de 201233.

Contudo, a nível nacional esta coligação de esquerda teve apenas 25,66% na primeira volta, não criando, como esperava, uma dinâmica suficiente para ficar acima do somatório dos candidatos das esquerdas nas presidenciais imediatamente anteriores (30,61%) ou significativamente acima do registado nas legislativas anteriores, de 2017 (25,49%). Por irem coligados, os partidos da esquerda ganharam, isso sim, na transformação de votos em mandatos parlamentares.

O insucesso eleitoral destas experiências eleitorais (visível também nos casos do Labour de Corbyn no Reino Unido, Podemos em Espanha ou Bloco de Esquerda em Portugal), marcado por um baixo potencial de alargamento e crescimento, revela bem as limitações das estratégias populistas à esquerda, nomeadamente se pensarmos nas classes populares e nos territórios periféricos.

O eleitorado parece avaliar de forma diferente experiências de esquerda em que a força mais moderada é a dominante («Geringonça» em Portugal, coligação PSOE+Unidas Podemos em Espanha) e plataformas eleitorais com lideranças mais radicais (França e Reino Unido).

A normalização da extrema-direita

À direita, como vimos, a história parece ser diferente, com uma forte disponibilidade para a radicalização populista mesmo entre segmentos mais conservadores da burguesia que habitualmente votavam na direita clássica.

Um ano antes das eleições presidenciais, aliás, já um relatório da Fundação Jean Jaurés apontava para uma inegável convergência programática entre os eleitorados da direita (gaullista) e da extrema-direita (RN)34.

Seis meses antes dessas mesmas eleições, uma sondagem encomendada pelo jornal Figaro35 perguntava o seguinte aos franceses: «Certas pessoas falam de uma grande substituição, estando as populações brancas e cristãs ameaçadas de extinção perante a imigração muçulmana proveniente do Magrebe e da África negra. Pensa que tal vai acontecer em França?» - 61% dos inquiridos responderam afirmativamente.

À fragmentação gerada pelo colapso da clivagem esquerda/direita e à banalização do discurso anti-imigração da extrema-direita, bem patente nesta sondagem, juntou-se uma hostilidade do eleitorado moderado em relação às contradições programáticas da esquerda unida.

Os partidos que constituíram a NUPES não se conseguiram entender acerca da guerra na Ucrânia, da política nuclear, da segurança interna ou do laicismo. E consequentemente, após as eleições, não conseguiram formar um grupo parlamentar único, deixando a liderança da oposição para o RN de Marine Le Pen.

Na véspera das eleições, as declarações ambíguas da primeira-ministra recém-empossada, Élisabeth Borne, também não terão ajudado à mobilização da frente republicana:

«não aconselhamos o voto em candidatos que não respeitem os valores republicanos»36. É que dentro deste critério, além dos candidatos RN, também poderiam caber alguns candidatos da coligação de esquerda oriundos do LFI e dos ecologistas, cujas posições os afastavam da tradicional conceção universalista da laicidade do Estado, de acordo com outra porta-voz da maioria presidencial37.

O referido relatório da Fundação Jean Jaurés apontava para a erosão desta frente republicana, acompanhada por uma normalização da imagem da candidata Marine Le Pen junto da opinião pública: desde 2016, a líder da extrema-direita caiu nove pontos percentuais num índice de «diabolização».

Não surpreende assim que a frente republicana tenha ruído, em especial na segunda volta das eleições legislativas: 34 dos 65 círculos que opuseram candidatos da esquerda a candidatos da extrema-direita foram ganhos por estes.

Resolvida a questão presidencial, a hostilidade em relação a Macron e ao que ele representa (um possível «globalismo capitalista») contou mais do que o medo do partido de Le Pen.

Retomemos o referido relatório da Fundação Jean Jaurés38: questionados sobre os sentimentos que Macron lhes provocava quando o ouviam, 28% escolheram «cólera», 18% «vergonha», 21% «desgosto» e os mesmos 21% «desespero».

Deste modo, nos duelos da segunda volta entre candidatos Ensemble! (Macron) e RN (Le Pen), 32% dos eleitores da esquerda da primeira volta deram o seu voto ao candidato da maioria presidencial, mas 24% votaram mesmo em candidatos da extrema-direita, com 44% a refugiarem-se na abstenção39. (Simultaneamente, 44% dos eleitores RN da primeira volta votaram em candidatos da coligação de esquerda na segunda volta contra 19% que preferiram candidatos da maioria presidencial.)

Assim sendo, na segunda volta das legislativas de 2022, em 109 duelos entre candidatos Macron e candidatos Le Pen, quase metade (53) foram ganhos por candidatos do partido de Le Pen. Note-se que em 2017, em 102 duelos deste tipo, a extrema-direita só havia ganhado sete. Ou seja, com grande frequência, a hostilidade em relação a Macron falou mais alto.

2027: a contrarrevolução silenciosa?

Segundo as estimativas de Guilluy40, 60% dos franceses estão objetivamente entre os perdedores da globalização, podendo os pensionistas e a classe média ser os próximos da lista.

De acordo com outra sondagem publicada em dezembro de 2018, 73% declaravam apoio ao movimento dos gilets jaunes e às suas causas41.

Dificilmente voltará a existir satisfação com a democracia e com os partidos de governo sem uma esperança mais partilhada de justiça e mobilidade social.

Os efeitos eleitorais do aumento das desigualdades estão longe de constituir uma exceção francesa; são, como vimos, um fenómeno transversal a várias democracias liberais42. Como nota Piketty43, se as pessoas ouvem dizer que não há alternativas de política económica, é natural que se virem para as suas preocupações individuais e identitárias (étnicas, de género, orientação sexual), terreno mais favorável aos radicalismos do que aos programas do centro-esquerda ou mesmo do centro-direita.

A progressão das candidaturas de extrema-direita em França não deixa dúvidas: se em 2002 Jean Marie Le Pen ficou a 64,42 pontos de Jacques Chirac, em 2017 Marine Le Pen ficou a 32,20 pontos de Macron, distância que se encurtou para 17,08 em 2022.

Em 2027, Macron não se pode recandidatar (por limitação de mandatos) e a própria base social da maioria (relativa) presidencial parece demasiado assente nos baby boomers, o que lhe dá poucas perspetivas de futuro.

É provável que a nova centralidade do Parlamento, resultante da ausência de maioria absoluta do partido presidencial, permita enquadrar institucionalmente a conflitualidade social neste quinquénio. Mas também é possível que essa institucionalização parlamentar da extrema-direita venha a ser o passo que faltava para Marine Le Pen atingir a plena respeitabilidade presidencial junto de um eleitorado mais idoso e mais conservador. O sucesso da extrema-direita em 2027 vai depender, necessariamente, do desempenho económico da governação, da conjuntura internacional e, especialmente, da capacidade dos adversários em conseguirem, ao mesmo tempo, falar para o eleitorado que votou Le Pen e desmontar o seu programa.

Admitindo que acaba por chegar ao poder, não é claro que o caminho a trilhar por Le Pen venha a ser o da institucionalização, com custos relativos para a qualidade da democracia, ou antes o da deriva iliberal, seguida por Órban na Hungria, com custos sérios para a separação de poderes, os direitos cívicos e a liberdade de imprensa.

Seja como for, do ponto de vista da saúde da democracia francesa (e europeia), será certamente uma experiência a evitar, especialmente tendo em consideração que a transformação do cenário partidário não assentou em mudanças institucionais no sistema político, que mantém condições ótimas para uma governação maioritária e de pendor presidencialista, com espaço constitucional para processos de decisão política concretizados por decreto ou por referendo, conforme antecipou a própria Marine Le Pen na campanha de 202244.

Nesse cenário, poderemos vir a estar não tanto perante uma revolução silenciosa, mas mais propriamente perante uma contrarrevolução silenciosa.

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Notas

1 INGLEHART, Ronald - The Silent Revolution: Changing Values and Political Styles among Western Publics. Nova Jérsia: Princeton University Press, 1977.

2Ainda assim, Le Pen obteve então apenas mais 0,68 pontos percentuais do que o candidato que ficou em terceiro lugar, o socialista Leonel Jospin.

3«ZEMMOUR DÉPASSE Le Pen, Macron faiblit». In Paris-Match. 17 de fevereiro de 2022. Disponível em: https://www.parismatch.com/Actu/Politique/Sondage-de-la-presidentielle-Zemmour-depasse-Le-Pen-Macron-faiblit-1789015.

4Por exemplo, Zemmour foi o único candidato que se manifestou contra o acolhimento de refugiados ucranianos.

5É certo que já em 1988, na sequência da dissolução do Parlamento, Michel Rocard, do PSF, tivera de formar um governo minoritário, mas não só estava então mais perto da maioria absoluta de deputados do que o Governo Macron, como tinha pontes possíveis com os grupos parlamentares do PCF e das forças centristas.

6ROSE, Richard - «Elections and electoral systems». In BOGDANOR, Vernon; BUTLER, David, orgs. - Democracy and Elections: Electoral Systems and their Political Consequences. Cambridge: Cambridge University Press, 1983, p. 33.

7«60% DES FRANÇAIS trouvent que la majorité relative pour Emmanuel Macron est plutôt une bonne chose». In Franceinfo. 19 de junho de 2022. Disponível em: https://www.francetvinfo.fr/elections/legislatives/resultats-des-legislatives-60-des-francais-trouvent-que-la-majorite-relative-pour-emmanuel-macron-est-plutot-une-bonne-chose-selon-notre-sondage_5208544.html.

8Embora também se possa perguntar por que razão não se verificou essa espécie de transformação das legislativas francesas em eleições de segunda ordem em atos eleitorais anteriores.

9INGLEHART, Ronald - «The changing structure of political cleavages in western society». In DALTON, Russell; FLANAGAN, Scott, orgs. - Electoral Change in Advanced Industrial Democracies. Princeton: Princeton University Press, 1984, p. 468.

10NORRIS, Pipa; INGLEHART, Ronald - Cultural Backlash: Trump, Brexit and Authoritarian Populism. Cambridge: Cambridge University Press, 2019.

11HOCHSHILDS, Arlie Russell - Strangers in Their Own Land: Anger and Mourning on the American Right. Nova Iorque: The New Press, 2016.

12GOODHART, David - The Road to Somewhere: The Populist Revolt and the Future of Politics. Londres: Hurst Publishers, 2017.

13A própria ficção literária, de Michel Houellebecq a Virginie Despentes, com perspetivas muito diversas, tem dado conta de um profundo mal-estar associado a essas mudanças de fundo na sociedade francesa, parecendo às vezes antecipar a realidade política.

14GUILLUY, Christophe - La France périphérique: comment on a sacrifié les classes populaires. Paris: Flammarion, 2014.

15FOURQUET, Jérôme - Le nouveau clivage. Paris: Les éditions du cerf, 2018.

16No referendo ao tratado constitucional europeu, de 2005, o voto favorável só foi maioritário entre os quadros superiores e os profissionais liberais (vide FOURQUET, Jérôme - L’archipel français: naissance d’une nation multiple et divisée. Paris: Éditions du Seuil, 2020, p. 337).

17«MACRON LARGEMENT EN TÊTE chez les seniors et les cadres». In Les Echos. 8 de maio de 2017. Disponível em: https://www.lesechos.fr/2017/05/macron-largement-en-tete-chez-les-seniors-et-les-cadres-167650.

18GUILLUY, Christophe - No Society: la fin de la classe moyenne occidentale. Paris: Flammarion (Champs), 2019, p. 110.

19Sintomaticamente, foi em Paris que o Presidente-Candidato obteve o seu melhor resultado: 85,1%.

20«EN CARTES: UNE FRANCE fragilisée contre une France dynamique». In Le Temps. 25 de abril de 2022. Disponível em: https://www.letemps.ch/monde/cartes-une-france-fragilisee-contre-une-france-dynamique?check_logged_in=1.

21FOURQUET, Jérôme - L’archipel français…, p. 396.

22Ibidem, pp. 41 e 110.

23As audiências do canal generalista TF1, por exemplo, baixaram de 44,8% em 1988 para 20% em 2017; e a circulação do jornal Le Monde, que era de 405 983 exemplares em 2001, estava em 2017 nos 301 528 (vide FOURQUET, Jérôme - L’archipel français…, pp. 113-114.

24GOODHART, David - The Road to Somewhere….

25INGLEHART, Ronald - «The changing structure of political cleavages in Western society», p. 68.

26GUILLUY, Christophe - No society…, p. 66.

27«GAUCHE: QUEL MAJORITÉ electorale pour 2012?». Terra Nova. 10 de maio de 2012. Disponível em: https://tnova.fr/democratie/politique-institutions/gauche-quelle-majorite-electorale-pour-2012/.

28Vide PIKETTY, Thomas, et al. - Clivages politiques et inégalités sociales, une étude de 50 démocraties (1948-2020). Paris: Éditions Seuil, 2021.

29PIKETTY, Thomas - «Gauche brahman contre droite marchande». In PIKETTY, Thomas, et al. - Clivages politiques et inégalités sociales….

30GUILLUY, Christophe - No society…, p. 103.

32«LÉGISLATIVES: LA GÉOGRAPHIE du vote en quatre cartes». In Les Echos. 13 de junho de 2022. Disponível em: https://www.lesechos.fr/elections/legislatives/legislatives-la-geographie-du-vote-en-trois-cartes-1412792.

33FOURQUET, Jérôme - L’archipel français…, p. 423.

34«2022 - ÉVALUATION du risque Le Pen». Fondation Jean Jaurès. 21 de abril de 2021. Disponível em: https://www.jean-jaures.org/publication/2022-evaluation-du-risque-le-pen/.

35«67% DES FRANÇAIS inquiets par l’idée d’un grand remplacement, selon sondage». In Le Figaro. Disponível em: https://www.lefigaro.fr/actualite-france/67-de-francais-inquiets-par-l-idee-d-un-grand-remplace-ment-selon-un-sondage-20211021.

36«BORNE: UN CANDIDAT qui ne respecte pas les valeurs républicaines, nous n’appelons pas a voter pour lui». BFMTV. 13 de junho de 2022. Disponível em: https://www.bfmtv.com/politique/elisabeth-borne-un-candidat-qui-ne-respecte-pas-les-valeurs-republicaines-nous-n-appelons-pas-a-voter-pour-lui_VN-202206130287.html.

37«MARLÈNE SCHIAPPA: EELV et LFI ont démontré leur complaisance sur les questions de laïcité». 6 de junho de 2022. In Le Point. Disponível em: https://www.lepoint.fr/politique/marlene-schiappa-eelv-et-lfi-ont-demontre-leur-complaisance-sur-les-questions-de-laicite-06-06-2021-2429785_20.php.

38«2022 - ÉVALUATION du risque Le Pen».

39«LE RN A PROFITÉ de l’effondrement du front républicain». In Les Echos. Disponível em: https://www.lesechos.fr/politique-societe/politique/legislatives-le-rn-a-profite-de-leffondrement-du-front-republicain-1414601.

40GUILLUY, Christophe - La France périphérique….

42PIKETTY, Thomas, et al. - Clivages politiques et inégalités sociales….

43PIKETTY, Thomas - «Gauche brahman contre droite marchande».

44«MARINE LE PEN veut gouverner par referendum en contournant le Parlement et le Conseil constitutionnel». In Le Monde. 13 de abril de 2022. Disponível em: https://www.lemonde.fr/election-presidentielle-2022/article/2022/04/13/presidentielle-2022-marine-le-pen-veut-gouverner-par-referendum-en-contournant-le-parlement-et-le-conseil-constitutionnel_6121897_6059010.html

Recebido: 07 de Setembro de 2022; Aceito: 14 de Novembro de 2022

Filipe Nunes Investigador integrado do IPRI-NOVA, e investigador do Instituto da Defesa Nacional. Doutorado em Ciências Sociais (Sociologia Política) pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Colaborou em várias pós-graduações (ISCTE, UNL) e é autor de diversos artigos científicos sobre elites, partidos políticos e comportamento eleitoral. Exerceu também funções de assessoria política em gabinetes ministeriais.

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