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Motricidade

Print version ISSN 1646-107X

Motri. vol.3 no.2 Santa Maria da Feira Apr. 2007

 

O consumo de antioxidantes e o balanço energético na dieta de praticantes de hidroginástica em idade sénior

 

Filomena Calixto, Luis Silva.

 

Laboratório de Investigação em Desporto. Escola Superior de Desporto de Rio Maior.

Instituto Politécnico de Santarém. Rio Maior. Portugal.

E-mail: fcalixto@esdrm.pt

 

Introdução: existe uma evidência epidemiológica muito sustentada que associa o consumo de alimentos vegetais (cereais, frutas e legumes) à redução da incidência de numerosas doenças cardiovasculares, cancerígenas, neurodegenerativas e à preservação da saúde no geral. Também é aceite e está largamente demonstrado que a actividade física associada a uma dieta equilibrada contribui para a saúde e o bem estar do indivíduo (Coyle, 2000). Sabe-se ainda que o exercício físico funciona como um factor de stress fisiológico e metabólico (Quiles et al., 1999), devido ao aumento da actividade mitocondrial que leva a um incremento na produção de radicais livres. O exercício moderado praticado pelo menos cinco vezes por semana está relacionado com uma melhoria da saúde do indivíduo (ACSM, 2005). O exercício demasiado intenso e prolongado com períodos de recuperação deficientes tem sido relacionado com uma redução das capacidades e funções imunitárias (Gleeson et al., 2001, 2004, Nieman, 1995) e com alterações bioquímicas e hormonais (Gleeson and Bishop, 2000) características dos estados de stress. Em qualquer dos casos os mecanismos de defesa antioxidante associados ao consumo adequado de fontes alimentares ricas em antioxidantes é essencial para potenciar os efeitos benéficos do exercício ou para atenuar os efeitos do stress oxidativo. Embora a actividade física seja aconselhada em idade sénior, a capacidade para mobilizar os mecanismos antioxidantes reduzem tornando ainda mais pertinente o cuidado com uma alimentação equilibrada e rica em fontes alimentares antioxidantes. As doenças neurodegenerativas associadas ao aumento da idade revelam frequentemente um baixo conteúdo energético das células nervosas e benefícios de uma dieta rica em antioxidantes e co-factores implicados no metabolismo energético. Por isso, a prescrição do exercício em idade sénior deve ser acompanhado de um adequado aconselhamento nutricional muito raramente encontrado nos programas de sensibilização destas populações.

Objectivo: o objectivo deste estudo foi o de analisar o consumo de fontes alimentares antioxidantes e nutrientes energéticos num grupo de indivíduos seniores praticantes regulares de hidroginástica, e avaliar se os seus hábitos alimentares correspondem às exigências em nutrientes energéticos e antioxidantes relacionados com a sua idade associada à prática do exercício.

Metodologia: homens e mulheres com idade média de 61.7±6.4 anos, com hábitos de vida activo, vivendo em Lisboa ou arredores e praticantes de hidroginástica 2 ou 3 vezes semanais, foram recrutados para o estudo. Os sujeitos preencheram um inquérito durante três dias de prática de exercício, que forneceu informação detalhada sobre o consumo de alimentos sólidos, líquidos, suplementação farmacêutica e medicação. Os dados de nutrientes obtidos a partir dos alimentos ingeridos foram analisados utilizando o software PIABAD (Instituto de Alimentação Becel, versão portuguesa). Os dados foram comparados com as doses diárias recomendadas adequadas á idade média dos indivíduos. Os resultados serão apresentados como média±SD.

Resultados: o consumo de alimentos do grupo dos cereais, frutos, carne-pescado-ovos, óleos-gorduras, tubérculos-hortícolas, lacticínios, leguminosas e confeitaria pelos sujeitos estudados foi de, respectivamente 7.9, 12.7, 12.4, 0.8, 29.1, 28.4, 4.2 e 4.5%. O consumo energético médio da amostra foi de 1693.2±414.9 Kcal, e o balanço dos vários macronutrientes energéticos, glícidos, lípidos e prótidos foi de, respectivamente 55, 18 e 27%. A tabela 1 mostra o resultado do consumo médio diário dos nutrientes antioxidantes: vitaminas A, C e E, b-Caroteno, cobre, ferro, selénio e zinco.

 

Tabela 1: Quantidade média (mg/dia) de nutrientes antioxidantes, vitaminas, b-Caroteno e sais minerais, consumidos pelos indivíduos estudados.

 

Vitaminas

b-Caroteno

Sais Minerais

 

A

C

E

Cu

Fe

Se

Zn

Média

321.33

79.55

7.27

0.42

0.80

10.42

0.040

6.80

SD

165.24

40.76

5.70

0.064

0.079

3.33

0.024

2.54

RDA

800

M-90 F-75

15

9.6

0.9

8

0.055

M-8 F-11

 

SD – desvio padrão. *RDA – dose diária recomendada (mg/dia) para indivíduos saudáveis

 

O grupo de indivíduos estudado consome uma quantidade inferior de lípidos (18 versus 30% recomendados) e superior de prótidos (27 versus 10 a 15% recomendados). No entanto, 11% dos lípidos consumidos contêm ácidos gordos essenciais o que prefaz 2.15% do total energético, devido ao elevado consumo de pescado e marisco. Por outro lado, o consumo elevado de lacticínios, carne, pescado e ovos resulta numa quantidade elevada de consumo proteico que associado a uma dieta lipídica baixa poderá contribuir para o stress metabólico por aumentar o metabolismo proteico. O consumo de vitaminas A, C e E e de b-Caroteno foi inferior ao recomendado, excepto a vitamina C no caso das mulheres seniores. No entanto, contrariamente ao valor recomendado, a amostra refere-se a mulheres praticantes de hidroginástica. Os resultados referentes à vitamina A e b-Caroteno, combinados com um baixo consumo de lípidos pode reduzir a absorção, comprometendo ainda mais a disponibilidade daqueles nutrientes. Os sujeitos revelaram um consumo ligeiramente inferior de Cu, Se e Zn que o RDA, mas superior de Fe, concordante com o elevado consumo de carne. Tratando-se de indivíduos praticantes de exercício seria conveniente a ingestão de uma quantidade de nutrientes antioxidantes mais adequada.

Discussão: os resultados demonstram que os indivíduos estudados não ingerem a quantidade recomendada para indivíduos activos, praticantes de exercício físico, de fontes alimentares antioxidantes, quer de vitaminas, provitaminas ou sais minerais e consomem dietas com alto conteúdo proteico e baixo conteúdo lipídico, contribuindo para agravar os estados de stress oxidativo. Estas condições afectam o organismo favorecendo os efeitos associados ao envelhecimento celular prematuro. Concluímos que é necessária maior informação e aconselhamento associada à prática de exercício. Os indivíduos activos, nomeadamente em idade sénior, devem ser alertados para o facto de que os benefícios que procuram no exercício estão relacionados com um equilíbrio nutricional adequado, necessário à redução do stress associado à idade e à vida activa, e que só desta forma os resultados concorrem para uma perfeita saúde e bem-estar.

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