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versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. vol.14 no.1 Ribeira de Pena maio 2018

 

ARTIGO ORIGINAL   |   ORIGINAL ARTICLE

 

Variações na composição corporal em adolescentes com excesso de peso após a prática esportiva do voleibol

 

Variations in body composition in overweight adolescents after volleyball practice

Jefferson de Sousa Lima1, Luís Diego Barbosa Alves1, Eduardo Jorge Lima1, Paulo Nicácio Falconeri Felipe1*, DionÍsio Leonel de Alencar1, Maria Aldeísa Gadelha1

1 Centro Universitário Estácio do Ceará

Correspondência para

 

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar as variações na composição corporal em adolescentes com excesso de peso após a prática esportiva do voleibol. A amostra foi de 16 adolescentes (8 meninas e 8 meninos) com excesso de peso, entre 10 a 14 anos de idade. Foram realizadas duas avaliações físicas, uma antes e outra após a intervenção que teve a duração de três meses. Na intervenção foram realizadas vivências na modalidade esportiva do voleibol. As sessões, com duração de 60 minutos e a frequência de três vezes na semana. As medidas antropométricas que foram utilizadas para a determinação da composição corporal dos adolescentes foi a estatura (m), peso corporal (kg), dobras cutâneas (tríceps e subescapular) e perímetros (cintura e quadril). A partir dessas medidas foi calculado o IMC (Índice de Massa Corporal), a relação cintura/quadril e a porcentagem de gordura dos adolescentes participantes do estudo. Os resultados da estatística descritiva estão expressos como média ± desvio padrão da média e para comparação das médias foi utilizado o teste-T de amostras dependentes. A análise das modificações na composição corporal antes e após a intervenção não tiveram diferenças significativas (p> 0,05) relação cintura/quadril do sexo feminino e porcentagem de gordura e IMC tanto para o sexo feminino quanto para o masculino, só houve diferença significativa (p≤ 0,05) para a relação cintura/quadril do sexo masculino. Conclui-se que para um programa de atividade física composto pelo voleibol possa exercer um efeito positivo na composição corporal de adolescentes com excesso de peso é necessário um período de prática maior que três meses e ter em conjunto um controle alimentar.

Palavras-chave: adolescentes, composição corporal, voleibol.


 

ABSTRACT

The aim of this study was to assess changes on body composition in overweighed adolescents after a period of volleyball training. The sample comprised 16 overweighed individuals (8 males and 8 females) with ages between 10 and 14 years. Body composition assessment wee performed prior and post a 3-month volleyball training program. The program consisted of 3 weekly sessions of 60 min. There were no significant differences on body composition between the two moments for most of measures in bot sexes. Only the hip to waist ratio improved significantly in males. It is concluded that a volleyball program does not induces significant changes in body composition and probably a nutritional intake control must be performed to turn the program more effective.

Keywords: adolescentes, body composition, voleyball.


 

INTRODUÇÃO

O excesso de peso e obesidade em crianças e adolescentes está crescendo a cada dia, sendo considerada uma epidemia, levando a um crescente número de casos de doenças crônicas não transmissíveis em crianças. A obesidade infantil tem significado importante pela sua associação com diversas alterações metabólicas, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemias e doenças cardiovasculares (Duarte, Christofoli, Pontin & Paludo, 2015).

De acordo com o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA 2015), 8,4% dos adolescentes brasileiros estão obesos, 25,5% dos adolescentes de 12 a 17 anos estão com excesso de peso, sendo que na América Latina, prevalência de excesso de peso de adolescentes de 12 a 19 anos varia de 16,6% para 35,8%. Esse estudo também revelou que o consumo de hortaliças não está entre os 20 alimentos mais consumidos pelos adolescentes do Nordeste e o maior consumo, de 40,6% é dos adolescentes que moram no Sul.

A obesidade é definida como uma doença em que há um excesso de gordura corporal, ou pode ser conceituada como o acúmulo de tecido gorduroso, localizado em todo o corpo. Na criança e adolescente seu manejo é mais difícil, pois ela ainda não conhece os danos que podem lhe causar, além da necessidade de mudança de hábitos e disponibilidade de acompanhamento dos pais (Bravin, Rosa, Parreira, & Prado, 2015).

Observa-se um aumento do número de obesos na infância e na adolescência, causando uma preocupação, pois é a época em que ainda está ocorrendo o seu desenvolvimento, podendo influenciar em sua composição corporal em sua  vida adulta. A obesidade não é só responsável pelo aumento de massa corporal, mas também pelo aparecimento de diversas patologias. Uma criança que carrega uma massa corpórea alta aumenta a chance de agravar e desenvolver diversas doenças. Este distúrbio de peso corpóreo pode ser causado por doenças endócrino-metabólicas, genéticas ou por alterações nutricionais. A maioria tem a obesidade do tipo exógena, por ingerirem mais calorias que a necessidade diária, esta causada pelo excesso de lipídios, consumo de gorduras saturadas e também pela falta de atividades físicas (Bravin, Rosa, Parreira, & Prado, 2015).

Sendo assim, Testa e colaboradores (2017) afirmam que a adoção precoce de um estilo de vida relacionados à manutenção da saúde, como a prática regular de atividade física e dieta equilibrada, deve ser considerada como princípio básico de prevenção e tratamento da obesidade. Porém, em se tratando de crianças e adolescentes, programas de exercícios físicos estruturados podem gerar menor aderência.

Assim, o esporte pode ser um bom aliado para um processo contínuo de prática regular de exercício físico. Dentre os diversos esportes disponíveis podemos citar o voleibol, que por tratar-se de um esporte que demanda esforço de alta intensidade, com ênfase em determinadas capacidades físicas (Santos, Melo, Oliveira, & Carvalho, 2014), faz-se necessário investigar as variações na composição corporal para auxiliar outros profissionais sobre a importância da prática do voleibol na composição corporal em adolescente com excesso de peso.

O objetivo deste estudo foi verificar as variações na composição corporal em adolescentes com excesso de peso após a prática esportiva do voleibol. Aferir alterações no IMC, na relação cintura/quadril e nas alterações das porcentagens de gordura a partir das dobras cutâneas dos adolescentes praticantes da atividade esportiva em estudo.

MÉTODO

Este estudo é de caráter transversal. Foi selecionada uma amostra de 16 adolescentes com excesso de peso, sendo 8 do sexo masculino e 8 do sexo feminino, com idades entre 10 e 14 anos. O grupo de adolescentes foi formado por adolescentes das quatro escolas estaduais próximo ao Centro Desportivo no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC). Para critério de inclusão foram exigidos adolescentes de 10 a 14 anos das quatro escolas estaduais próximo ao Centro Desportivo no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará (UFC) que estejam com excesso de peso ou obesidade de acordo com os Critérios Nacionais de Avaliação para o IMC (Conde & Monteiro, 2006). A frequência em 75 por cento ou mais nas aulas é determinante para a permanência na pesquisa. O estudo foi realizado no Ginásio Coberto do Centro Desportivo do Pici- UFC durante o período de Agosto de 2009 à Outubro de 2009.

Foram realizadas duas avaliações físicas, uma antes e outra após a intervenção que teve a duração de três meses.

Previamente à coleta de dados, foi efetuado um treinamento dos quatro avaliadores, garantindo assim, a precisão das medidas obtidas e fidedignidade do estudo. Os materiais utilizados foram: (i) trena flexível com precisão de 1 cm, da marca Easyread e modelo Cateb; (ii) balança digital da marca Plenna, modelo Wind, com graduação de 100 g e capacidade de 150 kg. e (iii) adipômetro científico marca CESCORF, com precisão de 0,1 mm.

Para determinação da estatura foi adotado o seguinte procedimento: A criança descalça, com os calcanhares unidos e encostados na parede onde estava colocada a trena, olhando para frente com a cabeça orientada com o plano de Frankfurt (paralelo ao solo) e em apnéia inspiratória, após uma inspiração máxima.

Para determinação do peso corporal foi adotado o seguinte procedimento: A criança de pé, olhando para frente, sem tocar nada e usando apenas roupas leves. Após a aquisição dos dados, foi aplicada a fórmula de IMC (Peso/Estatura²) e em seguida o resultado foi inserido nos Critérios Nacionais de Avaliação para o IMC (Conde & Monteiro, 2006) que forneceu o IMC pela idade. A seguir, o resultado foi inserido em uma das faixas definidas por esse critério: baixo peso, normal, excesso de peso ou obesidade.

A circunferência da cintura foi medida na cintura natural, ou seja, entre as costelas inferiores e as cristas ilíacas. A circunferência do quadril foi medida na porção de maior perímetro da região glútea. Para mensuração do comportamento da adiposidade foram aferidas as espessuras de dobras cutâneas determinadas nos pontos anatômicos tricipital e subescapular, utilizando- se a técnica descrita por Guedes & Guedes (1998).

Foram realizadas vivências na modalidade esportiva do Voleibol durante um período de três meses. As sessões foram compostas de alongamento, aquecimento, fundamentos da atividade esportiva e relaxamento.

Foram seguidas as recomendações do American College of Sciences Medicine (ACSM) para o tempo (60min) e frequência das aulas (três vezes por semana). Como forma de motivação e interação entre os alunos, houve um momento de lanche (cada aluno levou uma fruta) após as atividades.

A discussão dos dados coletados com o grupo da amostra da pesquisa foi realizada de forma comparativa, com sua exposição em quadros, gráficos e tabelas que apresentam os dados coletados no início e no término da pesquisa. Os resultados da estatística descritiva estão expressos como média ± desvio padrão da média. Para comparação das médias foi utilizado o teste-T de amostras dependentes. Foi utilizado o software SPSS 15.0.

Os dados padrões para essa pesquisa foram: Os valores para (excesso de peso e obesidade) de acordo com os Critérios Nacionais de Avaliação para o IMC (Conde & Monteiro, 2006); os valores para a relação cintura/quadril de acordo com Fernandes Filho (1999), os valores da estimativa da porcentagem de gordura corporal foram classificados de acordo com o British Journal of Nutrition (1990).

Todos os participantes da amostra da pesquisa, juntamente com os seus responsáveis, passaram pelo processo de esclarecimento em que foi explicado  que se tratava da  pesquisa e como aconteceria a coleta dos dados. Depois todos os responsáveis pelos adolescentes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Foi submetido ao grupo de estudo 16 adolescentes de ambos os sexos, com idades entre 10 e 14 anos. Dentro do total de participantes, 50% eram do sexo feminino e 50% do sexo masculino.

Faixa etária dos adolescentes

Pode-se verificar, de acordo com a tabela 1, que a maior parte do sexo feminino se encontrava com 13 anos de idade, enquanto a maioria do sexo masculino tinha 10 e 14 anos de idade. A idade média ± desvio padrão, em anos, do sexo feminino foi de 12±1,2, enquanto do sexo masculino foi de 12,3±1,9.

 

 

Nessa faixa etária existem variações biológicas como: aumento natural na massa corporal, estatura, massa corporal magra, potência aeróbia e força muscular. Essas variações devem ter influenciado nos resultados que serão expostos a seguir e como no presente estudo não foi possível à existência de um grupo controle, não se consegue dizer se as modificações, ou a não existência dessas, ocorreram devido ao treinamento utilizado ou a influência do crescimento natural, que ocorre nessa fase da vida.

A tabela 2 refere-se às variáveis de IMC, RQC (relação quadril/cintura) e percentual de gordura corporal para o público feminino. Já a tabela 3 refere-se ao público masculino para as mesmas variáveis.

 

 

 

Apresentação das variáveis dos adolescentes do sexo feminino do grupo em estudo, antes e após os três meses de prática de atividade esportiva do voleibol

Segundo os valores obtidos na avaliação do IMC (apresentados na tabela 2 para o sexo feminino e tabela 3 para o sexo masculino), verifica-se uma média de 27,54±4,85 para os valores antes da intervenção e uma média de 27,79±5,36 para os valores depois da prática esportiva para o sexo feminino e uma média para o sexo masculino de 24,12±3,31 para valores anteriores a intervenção e uma média de 24,06±3,43 para valores posteriores a intervenção. Apesar dos resultados revelarem um aumento no IMC no sexo feminino e uma diminuição no sexo masculino, após o tratamento estatístico, verificou-se que essa diferença não foi considerada significante (p>0,05).

De acordo com a tabela 2, pode-se verificar que todos os participantes do sexo feminino da pesquisa estavam com uma relação de risco significativo para a saúde tanto antes quanto após a intervenção, quando analisados a relação cintura/quadril de acordo com a classificação proposta por Fernandes Filho (1999), que associa uma relação de risco significativo para a saúde de acordo com a relação cintura/quadril dos homens: > 0,95cm e mulheres: > 0,80cm.

Os dados apresentados na tabela 3 mostram os valores encontrados quanto à relação de cintura/quadril dos adolescentes do sexo masculino antes e após a intervenção. A média da relação cintura/quadril para o sexo masculino antes da intervenção foi de 0,92±0,04 e após a intervenção passou a ser de 0,90±0,04. Para o sexo masculino foi encontrado uma diferença significativa (p ≤ 0,05) para a comparação das médias antes e após a intervenção.

Com relação à porcentagem de gordura, os resultados abaixo apresentam os valores obtidos, através da avaliação, pelo protocolo de Guedes (Guedes e Guedes, 1997), das dobras cutâneas triciptal e subescapular, para o sexo feminino (tabela 2) e apresentam os valores para o sexo masculino (tabela 3) antes e após os três meses de prática esportiva. Para o sexo feminino a média da porcentagem de gordura antes da avaliação foi de 32,1±2,7 e após a avaliação passou a ser de 30,9±3,8. Essa diferença não foi considerada estatisticamente significativa (p > 0,05). Já para o sexo masculino a média da porcentagem de gordura antes da avaliação foi de 30,1±6,3 e após a avaliação passou a ser de 29,9±7,0. A diferença para o sexo masculino também não foi considerada estatisticamente significativa (p > 0,05).

Apresentação das variáveis dos adolescentes do sexo masculino do grupo em estudo, antes e após os três meses de prática de atividade esportiva do voleibol.

Após obter os valores da porcentagem de gordura esses valores foram classificados de acordo com o British Journal of Nutrition (1990) onde pode-se classificá-las em excessivamente baixa, adequada, moderadamente alta, alta e excessivamente alta (tabela 4 para feminino e tabela 5 para masculino).

 

 

 

Classificação de acordo com o British Journal of Nutrition (1990) dos valores da Porcentagem de Gordura Corporal, dos adolescentes do sexo feminino do grupo em estudo, antes e após os três meses de prática de atividade esportiva do voleibol

Classificação de acordo com o British Journal of Nutrition (1990) dos valores da Porcentagem de Gordura Corporal, dos adolescentes do sexo masculino do grupo em estudo, antes e após os três meses de prática de atividade esportiva do voleibol

A partir dessa classificação encontramos para o sexo feminino antes da intervenção uma porcentagem de gordura moderadamente alta em 1 menina, alta em 6 meninas e excessivamente alta em 1 menina, já após a intervenção, 1 menina passou a ser considerada moderadamente alta e 1 permaneceu moderadamente alta, 5 permaneceram com a porcentagem alta e 1 permaneceu excessivamente alta.

Para o sexo masculino os valores encontrados inicialmente classificaram 1 menino com a porcentagem de gordura moderadamente alta, alta em 4 meninos e excessivamente alta em 3 meninos, após a intervenção 1 menino passou a ter a porcentagem de gordura considerada adequada, 1 passou a ser considerada moderadamente alta, 3 permaneceram alta e 3 excessivamente alta.

DISCUSSÃO e CONCLUSÕES

Em um estudo com público de idade semelhante realizada com adolescentes do ensino fundamental, com idade entre 11 a 15 anos, os dados foram coletados por meio da avaliação de IMC. A média de idade foi de 12,75 (±1,70). Em relação ao IMC dos adolescentes, apenas 12,5 % (n=3) apresentaram sobrepeso (Sumini et al., 2017).

Num outro estudo, os resultados corroboram com os achados nesta presente pesquisa, onde os resultados encontrados no estudo realizado por Schneider (2005)  não foram encontrados diferenças significativas no IMC de meninos adolescentes com sobrepeso ou obesidade após um treinamento físico misto, ratificaram também com os resultados de Cyrino et al. (2002) que teve o intuito de analisar os efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas, nesse estudo analisado as modificações no IMC após o treinamento também não foram significantes, supondo segundo os autores que possivelmente em um período maior de investigação as modificações poderiam ser traduzidas de forma significante, como um efeito positivo do treinamento e, por consequência, um efeito deletério da falta de atividade física sistematizada.

Já quando comparado com o estudo realizado por Fernandez et al. (2004), que verificou a influência do treinamento aeróbio e anaeróbio na massa de gordura corporal de adolescentes obesos, os resultados divergem, pois no estudo de Fernandez et al. (2004) houve diferenças significativas no IMC antes e após a intervenção tanto dos adolescentes que praticaram atividade anaeróbia como os que praticaram treinamento aeróbio, isso pode ter ocorrido devido a uma orientação nutricional para os participantes do estudo.

O exercício físico sozinho produz uma modesta perda de massa corporal, embora estudos comprovem que quando o exercício é realizado com grande intensidade pode promover grandes perdas de massa corporal; entretanto, indivíduos obesos geralmente não apresentam os requerimentos físicos e de aptidão necessários para realizar um exercício físico de alta intensidade (Grilo, 1994 cit. Fernandez et al., 2004; Sedlock, Fissinger, & Melby, 1989). E apesar do exercício não promover uma redução de massa corporal com intervenções curtas, ele é essencial na manutenção da massa corporal (Grilo, 1994 cit. Fernandez et al., 2004).

A falta de diferença significativa no IMC, encontradas tanto no sexo feminino quanto no masculino, deve ter-se dado pela falta de orientação nutricional e pelo curto período de intervenção. A perda da massa corporal que deve ter se conseguido com a prática do voleibol não pôde ser verificada devido à falta de controle da alimentação dos adolescentes. Eles praticavam a atividade física, mas seus hábitos alimentares não devem ter sido modificados, então a perda que deve ter se conseguido com a prática esportiva foi compensada com o excesso no consumo alimentar, que é o que comumente ocorre com pessoas obesas.

Um dos principais problemas associados à utilização do IMC para classificação dos indivíduos é que não tem como saber se a pessoa possui uma grande massa muscular ou se ela é simplesmente obesa (Powers & Howley, 2000). Por isso deve-se sempre associar a utilização do IMC com algumas das medidas preconizadas para avaliação da distribuição ou da quantidade de gordura, no presente estudo além do IMC avaliamos a relação cintura/quadril e a porcentagem de gordura para melhorar a qualidade da avaliação.

A relação de risco para a saúde está muito relacionada com o risco de um ataque cardíaco, a relação cintura-quadril é melhor que o IMC para prognóstico de risco de ataques cardíacos para vários grupos. Então como no presente estudo as adolescentes do sexo feminino se encontram em relação de risco tanto antes quanto após a intervenção significa que elas correm muito risco de virem a sofrer um ataque cardíaco se não houver uma diminuição nessa relação cintura/quadril. Para que essa relação de risco diminua é necessário uma redução na circunferência abdominal, aumento da musculatura do quadril ou a redistribuição de gorduras no organismo.

Os resultados do sexo masculino divergem dos resultados encontrados no estudo realizado com meninos adolescentes com sobrepeso ou obesidade (Schneider, 2005), onde após um treinamento físico misto não foram encontradas diferenças significativas na relação cintura/quadril, essa divergência pode ter-se dado pelo modo do treinamento utilizado que foi um treinamento misto em circuito.

O mesmo programa de atividade física foi praticado pelo sexo masculino e feminino, mas somente o sexo masculino conseguiu obter diferença significativa na relação cintura/quadril, isso deve ter se dado pelo modo como os meninos praticavam a atividade, eles praticavam todos os exercícios com mais vontade e não se cansavam tão rapidamente como as meninas. Mas essa diferença não pode ser atribuída somente à prática da atividade física, tem-se que levar em consideração os fatores externos, como a evolução biológica. Como o sexo feminino começa a sofrer mudanças no corpo antes do sexo masculino, as meninas participantes do estudo poderiam já estar sofrendo essas modificações, o que influenciaria na relação cintura/quadril, e os meninos poderiam ainda não ter entrado nessa fase de mudanças no corpo então responderam mais favoravelmente a pratica do voleibol.

Analisando os dados, pode-se concluir que não houve diferenças importantes nos valores da composição corporal: do IMC, da relação cintura/quadril e da porcentagem de gordura, antes e após um programa de atividade física entre os indivíduos participantes da pesquisa em estudo, sendo a única diferença significativa encontrada na relação cintura/quadril do sexo masculino.

Os resultados observados no presente estudo, antes e após o período experimental, revelaram pequenas modificações. Possivelmente, em um período maior de investigação essas modificações possam ser traduzidas, de forma estatisticamente significante, como um efeito positivo do treinamento e, por consequência, como um efeito deletério da falta de atividade física sistematizada. Sabe-se que não foi verificada a ingestão alimentar desses indivíduos, a sua não verificação pode ter sido fundamental na falta de maiores diferenças significativas da composição corporal dos adolescentes participantes do presente estudo, o exercício físico aliado a orientação nutricional promove maior redução ponderal quando comparado com a orientação nutricional somente. E outro fator importante a ser considerado é o pequeno número da amostra, com uma amostra maior as diferenças poderiam ser significativas e com essa amostra pequena os resultados ficam validos apenas para esse grupo.

Um aspecto relevante abordado por Schneider (2005) é a importância de quando se investigar adaptações fisiológicas em crianças deve-se ter a inclusão de um grupo controle, já que nessa fase da vida, existem aumentos naturais em massa corporal, estatura, massa corporal magra, potência aeróbia e força muscular. Sem a participação de um grupo controle é difícil dizer se as modificações ocorreram devido a aspectos sazonais, tais como mudança de clima e temperatura, ou devido ao crescimento natural nessa fase da vida, ou, ainda devido a fatores motivacionais, em virtude de estar-se participando de um programa de intervenção. E como no presente estudo não foi possível a presença de um grupo controle fica difícil dizer com certeza de onde vieram as modificações, já que não pode ser desprezado a possível interferência dos processos de evolução biológica.

Um programa de atividade física composto pela prática do voleibol durante um período de três meses, sem orientação nutricional, não parece ser suficiente para a melhoria da composição corporal dos adolescentes participantes da pesquisa. Essa prática pode exercer um efeito positivo sobre a obesidade, mas para isso precisa ser realizada em um período maior que três meses e em conjunto com um controle alimentar, pois quando se trata de reduções de composição corporal em indivíduos obesos a intervenção nutricional é muito importante, não importando se os pacientes são adultos, adolescentes ou crianças.

Acredita-se que com um maior número de participantes da pesquisa e/ou com maior tempo de intervenção e/ou um controle alimentar as diferenças entre antes e após a intervenção da composição corporal dos adolescentes participantes da pesquisa poderiam ser estatisticamente significativas.

Assim, considerando-se os dados obtidos nesta pesquisa e toda a revisão de literatura realizada, conclui-se que o exercício físico é de fundamental importância para o controle e tratamento da obesidade, e que a utilização de dieta bem orientada é fundamental para a aquisição de resultados positivos.

 

REFERÊNCIAS

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Agradecimentos:

Nada a declarar

Conflito de Interesses:

Nada a declarar.

Financiamento:

Nada a declarar.

Correspondência para:

Centro Universitário Estácio do Ceará. Rua Eliseu Uchôa Beco, 600, Água Fria. CEP: 60810-270, Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: pnf0717@gmail.com

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