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Motricidade

versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. vol.15 no.4 Ribeira de Pena dez. 2019

https://doi.org/10.6063/motricidade.20150 

ARTIGO ORIGINAL

Atitude dos jovens face à contraceção oral de emergência: tradução e validação de uma escala

Young people's attitude towards emergency oral contraception: translation and validation of a scale

João Castro1[*], Vítor Rodrigues1, Carlos Almeida1

1 Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Quinta de Prados, 5001- 801 Vila Real

Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence


 

RESUMO

Teve-se como objetivo principal validar a "Emergency Contraceptive Pills (ECPs)-Attitude Scale", para a população universitária portuguesa, permitindo avaliar a atitude dos jovens face à contraceção oral de emergência (COE). Procedeu-se à tradução, adaptação e validação da mesma para a população portuguesa. Implementou-se para o efeito um estudo, utilizando uma amostra de 457 jovens universitários, e avaliou-se as suas características psicométricas desenvolvendo estudos de fiabilidade e validade. A amostra era constituída na sua maioria por jovens do sexo feminino (61.71%), com uma idade média de 21.14 anos. Após a realização dos estudos psicométricos foi possível obter valores de coeficiente de alpha de Cronbach, de 0.820, para a Escala de Atitudes face ao uso da Contraceção Oral de Emergência (EACOE), e para o fator 1 (Medo de uso indevido) - 0.83; fator 2 (Fácil acesso) - 0.826 e fator 3 (Preocupações de saúde) - 0.691. A escala revelou-se adequada e de fácil utilização para avaliar as atitudes dos jovens acerca da COE, fundamental, desde logo, na percepção da predisposição dos jovens para a sua utilização, o que se pode revelar pernicioso para a adoção de comportamentos protetores no âmbito da vivência da sua sexualidade.

Palavras-chave: Anticoncepção Pós-Coito, Atitude, Escalas, Estudos de Validação, Promoção da Saúde, Sexualidade


 

ABSTRACT

The objective was to validate the "Emergency Contraceptive Pills (ECPs) - Attitude Scale" for the Portuguese university population, allowing the evaluation of the attitude of young people to oral emergency contraception (OEC). Translation, adaptation, and validation of the same for the Portuguese population. A study was carried out using a sample of 457 university students, and their psychometric characteristics were evaluated by developing studies of reliability and validity. The sample consisted mostly of female youth (61.71%), with a mean age of 21.14 years. After performing the psychometric studies, it was possible to obtain values of Cronbach's alpha coefficient of 0.820, for the Scale of Attitudes towards the use of Emergency Oral Contraception (EACOE) and for factor 1 (Fear of misuse) - 0.83; Factor 2 (Easy Access) - 0.826 and Factor 3 (Health Concerns) - 0.691. The scale was adequate and easy to use to assess young people's attitudes about EOC, which is fundamental to the perception of young people's predisposition to their use, which may prove to be harmful to the adoption of protective behaviors within the scope of the experience of their sexuality.

Keywords: Contraception Postcoital, Attitude, Scales, Validation Studies, Health Promotion, Sexuality


 

Introdução

As atitudes refletem as posições do indivíduo face a determinadas experiências, influenciando o comportamento, e resultam da integração de normas sociais onde o mesmo está inserido. Pelo que o estudo das atitudes face à sexualidade é importante porque as mesmas são uma predisposição para opinar, sentir e atuar face a objetos sexuais, situações, pessoas diferentes, normas ou costumes sociais e condutas sexuais (Ribeiro, Pontes, & Santos, 2012). Por outro lado, a avaliação da atitude assume uma importância particular na medida em que diversos estudos nos mostram que os comportamentos, muitas vezes, não se relacionam diretamente com o conhecimento adquirido e a facilidade de obter informação atualmente não garante as escolhas mais adequadas por parte dos jovens (Matos, Reis, Ramiro, Ribeiro, & Leal, 2014). Como nesta investigação está preconizada a tradução e validação de instrumentos de medida para a população portuguesa, seguiram-se as práticas recomendadas em investigação, realizando um estudo para traduzir e testar a tradução do questionário (Domingues, Marques, & Simões, 2017). Tiveram-se como objetivos: traduzir, adaptar e validar um instrumento de mensuração para avaliação das atitudes dos jovens acerca do uso da COE; e avaliar as características psicométricas da escala na população portuguesa.

Método

De acordo com os objetivos do estudo, a metodologia de investigação adotado segue o paradigma quantitativo. Trata-se de um estudo descritivo-correlacional e transversal.

Participantes

Partindo da população constituída por estudantes do ensino superior, constitui-se uma amostra não probabilística seguindo-se um método de amostragem por conveniência. Teve-se como único critério de inclusão, selecionar apenas estudantes do primeiro ciclo de estudos, para o efeito foram escolhidos anos e cursos de uma universidade da zona Norte de Portugal.

Instrumentos

Como o estudo contempla a caracterização da vivência da sexualidade pelos estudantes do ensino superior, e a validação da ECPs-Attitude Scale, na recolha de dados utilizou-se um questionário constituído por 41 perguntas abertas, fechadas e mistas e pela referida escala já traduzida e adaptada para o português. Esta escala foi validada para jovens universitários sul-coreanos, resolveu-se validá-la para a população portuguesa, após autorização prévia pelos autores da escala. Esta contempla 12 itens, numa escala de Likert de 5 pontos que varia entre “1fortemente em desacordo” e “5fortemente em acordo”. A escala integra três subescalas: “Medo de uso indevido” - formada por 5 itens (1, 2, 3, 4 e 5); “Fácil acesso” - formada por 4 itens (6, 7, 8 e 9) e “Preocupações de saúde” - formada por 3 itens (10, 11 e 12). A pontuação da escala pode variar entre 12 e 60 pontos, sendo que, valores mais elevados indicam uma atitude mais favorável. Todos os itens se encontram invertidos à exceção dos itens relativos à subescala "Fácil acesso" (Kang & Moneyham, 2008).

Procedimentos

Salvaguardando os aspetos éticos, os questionários foram aplicados em sala de aula. Aos alunos foram explicitados os objetivos do estudo, garantindo a confidencialidade dos resultados, o anonimato dos respondentes bem como o carácter voluntário de participação no estudo. Os dados foram recolhidos de maio a junho de 2014, após parecer positivo da Comissão de Ética (Parecer nº 07/2014).)

Para os procedimentos na tradução e validação da escala, seguimos os critérios recomendados por especialistas e seguidos por vários autores (Almeida, Rodrigues, & Escola, 2013; Carvalho & Cassiani, 2012) (11-12).Um dos métodos mais utilizado para o efeito, é o método «traduz - retraduz», que compreende vários passos. Assim numa primeira fase pedimos a dois tradutores bilingues independentes para efetuarem a tradução do inglês para o português, em que se reforçou a ideia que mais que a tradução textual o que se pretendia era a manutenção do sentido/significado do item, não desvirtuando o campo semântico original. Depois foi pedida a elaboração de uma única versão, resolvendo eventuais divergências entre as duas traduções. Numa terceira etapa recorremos a dois tradutores bilingues independentes para efetuar a “retrotradução”, traduzindo novamente a escala para o inglês, dos tradutores um tinha o inglês como língua nativa e o outro era fluente na língua inglesa (Carvalho & Cassiani, 2012). Todas as versões geradas, tradução e retrotradução juntamente com a escala original, foram avaliadas por um painel de nove juízes com o objetivo de produzir uma versão final fidedigna e culturalmente adaptada para a população em que vai ser usada. Na avaliação dos nove juízes (com diversas especialidades - professores, médicos e enfermeiros), os itens eram dados como equivalentes quando pelo menos 80% dos juízes estavam de acordo. Não houve a necessidade de resolver divergências pois foi sempre alcançada esta percentagem. No sentido de avaliar eventuais dificuldades de compreensão ou preenchimento foi efetuado um pré-teste, com recurso a 10 alunos da universidade. Os resultados obtidos, pela não verificação de dificuldades no seu preenchimento, permitiram manter a estrutura da escala original, tendo sido dada como pronta para a sua aplicação (Carvalho & Cassiani, 2012).

Análise estatística

Após tradução da Escala, procedemos a estudos de validade e fiabilidade. Para estas duas avaliações, cruzaram-se os dados obtidos a partir da análise fatorial (AF) exploratória com os valores de alpha de Cronbach e das correlações entre item e item total. Para o efeito foram fixados os seguintes critérios (Almeida et al., 2013):

- Para a análise fatorial utilizou-se o método de extração das componentes principais (principal component), seguindo-se a rotação de fatores, para que estes sejam mais facilmente interpretáveis, maximizando os pesos fatoriais dos itens, pelo que optámos para o efeito pelo método de rotação ortogonal (Varimax rotation).

- Para a determinação das dimensões e retenção de itens seguimos as sugestões de diversos autores (Almeida et al., 2013; Domingues et al., 2017; Runa & Miranda, 2015), nomeadamente: a) critério de Kaiser, fatores com valor próprio (eigenvalue) igual ou superior a 1 (EV≥1); b) peso fatorial (fator loadings) dos itens iguais ou superiores a 0.4 (FL≥0,40); c) inexistência de itens com pesos fatoriais relevantes (acima de 0.30) em mais que um fator. Se isso acontecer e se a diferença entre eles não for igual ou superior a 0.15, deve-se considerar a eliminação do item; d) a variância explicada pelos fatores deve ser no mínimo de 40%; d) cada fator não pode ter menos de três itens.

- Para complementar com a análise de fiabilidade, estabeleceu-se que a consistência interna do fator (alpha de Cronbach) deve ser no mínimo de 0.60, valor mínimo considerado razoável; a correlação item/item total não deve ser inferior a 0.3 e a consistência interna do fator não deve aumentar se o item for eliminado. Os dados obtidos foram tratados utilizando a versão 20 do programa Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS).

Resultados

A amostra com uma média de idades de 21.14 era constituída em 61.7% por jovens do sexo feminino. Para a apresentação dos resultados da EACOE, procedemos à inversão dos itens que o autor indicou como estando em sentido contrário e prosseguimos com a realização de estudos de validade e fiabilidade. Para avaliar a validade da AF exploratória, utilizámos o critério Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de esfericidade de Barllet. O resultado obtido para o KMO foi de 0.811 o que nos indica que a AF é recomendável, e o facto do teste de esfericidade de ser significativo (p< 0.05) indica que as variáveis são correlacionáveis (Almeida et al., 2013; Domingues et al., 2017).

Na Tabela 1 , podemos observar os resultados da AF exploratória pelo método de extração das componentes principais, forçando-se a três fatores de modo a respeitar a organização da estrutura da escala original, seguido da rotação dos fatores, pelo método de rotação ortogonal (varimax rotation). Pelos resultados obtidos a EACOE, manteve os 12 itens da escala original e a mesma organização pelos três fatores, justifica 64,175% da variância total (fator 1 - 25.723; fator 2 - 22.067; fator 3 - 16.385). Os fatores 1, 2 e 3, permanecem constituídos pelos itens originais, apresentando valores de saturação elevados (> 0,600).

 


(clique para ampliar ! click to enlarge)

 

Na análise da fiabilidade e consistência interna, determinou-se o valor do coeficiente de alpha de Cronbach e o coeficiente de correlação de Pearson entre cada item e a escala (item-total), tanto na escala total como nos fatores que a constituem. Para todos os fatores manteve-se a designação da escala original, no fator 1 “Medo de uso indevido", obteve-se um valor alpha de 0.839, quanto aos valores de correlação item-total corrigido, todos foram superiores a 0,3. Em relação ao fator 2 "Fácil acesso", o valor alpha foi 0.826, e os valores de correlação obtidos foram todos superiores a 0.3. Quanto ao fator 3 "Preocupações de saúde", obteve-se um alpha de 0.691, que é um valor mais baixo mas próximo ao do estudo original (0.71). Embora se verifique que a remoção do item 12 aumenta o valor de alfa para 0.789, optou-se por mantê-lo pois o seu conteúdo semântico adequa-se perfeitamente a esta dimensão e permite obedecer aos critérios mínimos estabelecidos para cada fator (3 itens), a sua manutenção assegura também a estrutura da escala original. Para a escala no seu global, obteve-se um valor alpha de 0.820, os valores das correlações cumprem os critérios previamente definidos, com exceção do item 12 que apresenta um valor um pouco inferior, no entanto como a sua eliminação se traduz numa variação do valor alpha residual (0.823), optámos por mante-lo pois permite manter a estrutura da escala original, sendo essencial para a estrutura do fator 3.

Discussão

O presente estudo permitiu examinar as propriedades psicométricas de uma escala de atitudes dos jovens universitários face ao uso da COE, aplicada pela primeira vez numa amostra de estudantes portugueses. As observações obtidas demonstraram a validade do constructo para a nossa população e em termos da sua consistência interna obtivemos valores de alpha sempre superiores em relação ao estudo original com exceção do fator 3. Os resultados obtidos revelaram que se trata de um instrumento de medida bastante consistente e fiável podendo, por isso, ser replicado numa população universitária portuguesa. Após os estudos de validade e fidelidade realizados tendo em vista a adaptação e validação da Escala de Atitudes face ao uso da Contraceção Oral de Emergência, podemos afirmar que esta possui qualidades psicométricas iniciais bastante razoáveis, mantendo a constituição e estrutura da escala original. Assim, a escala no seu global mantém não só os seus doze itens, mas também a distribuição dos mesmos itens pelas subescalas que a compõem.

Conclusões

Foi alcançado o objetivo fundamental deste estudo, a adaptação e validação da “Emergency Contraceptive Pills-Attitude Scale" para a população portuguesa. Pelos resultados apresentados para a escala, pensa-se ter conseguido um instrumento satisfatório para uma avaliação científica não só da atitude tomada no seu global acerca da COE, mas também das componentes que mais pesam ou influenciam essa mesma atitude. A sua utilização na prática revelou-se como uma mais-valia para uma avaliação rigorosa e pragmática da atitude dos jovens acerca da COE.

 

REFERÊNCIAS

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Domingues, A. F. V., Marques, M. V. P., & Simões, S. C. C. (2017). Preliminary study of adaptation and validation of the Tolerance to Infidelity Scale. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social, 3(1), 27-40. DOI: 10.7342/ismt.rpics.2017.3.1.46        [ Links ]

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Matos, M. G., Reis, M., Ramiro, L., Ribeiro, J. P., & Leal, I. (2014). Sexual education in portugal: review of legislation and implementation in schools. Psicologia, Saúde & Doenças, 15(2), 335-355. DOI: http://dx.doi.org/10.15309/14psd150203        [ Links ]

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Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence

[*] Autor correspondente: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Escola Superior de Saúde, Quinta de Prados, Complexo Desportivo da UTAD, 5000-801, Vila Real, Portugal E-mail: jcastro@utad.pt

 

Agradecimentos:

Nada a declarar

Conflito de Interesses:

Nada a declarar.

Financiamento:

Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projeto UID/DTP/04045/2019.

 

Artigo recebido a 29.11.2018; Aceite a 2.03.2019

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