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Motricidade

versión impresa ISSN 1646-107Xversión On-line ISSN 2182-2972

Motri. vol.17 no.2 Ribeira de Pena jun. 2021  Epub 25-Oct-2021

https://doi.org/10.6063/motricidade.20770 

ARTIGO ORIGINAL

Representações sociais de atletas com deficiência sobre o esporte paralímpico no Brasil

Social representations of athletes with disabilities about paralympic sport in Brazil

Beatriz Dittrich Schmitt1  * 
http://orcid.org/0000-0003-4997-3703

Janice Zarpellon Mazo2 
http://orcid.org/0000-0002-8215-0058

1Centro Universitário Estácio de Santa Catarina - São José (SC), Brasil.

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Porto Alegre (RS), Brasil.


RESUMO

O objetivo foi compreender as representações sociais de atletas com deficiência sobre o esporte paralímpico brasileiro. Foram consultados 12 documentos orais de atletas que representaram o Brasil em Jogos Paralímpicos. Após leituras sucessivas, identificaram-se dois eixos temáticos: Carreira profissional e financiamento esportivo; e, Reconhecimento social e esportivo. As informações foram analisadas por meio de codificação temática. Resultados mostraram representações sociais de atletas profissionais e “não profissionais”. O escasso investimento financeiro pode dificultar a permanência no esporte paralímpico. Embora o financiamento para o esporte paralímpico tem sido mais generoso nos últimos anos, notou-se modalidades com maiores investimentos, vinculados às possibilidades de conquistas e aos órgãos de gerenciamento. Outra representação social identificada relaciona-se com o reconhecimento que a sociedade, a mídia e os pares com deficiência passam a atribuir aos atletas paralímpicos. Os atletas, muitas vezes, se tornam referência no campo esportivo para os sucessores; por outro lado pode ocorrer a ausência de reconhecimento.

PALAVRAS-CHAVE: paratletas; pessoas com deficiência; esportes; psicologia social

ABSTRACT

The objective was to understand the social representations of athletes with disabilities about Brazilian Paralympic sport. Twelve oral documents from athletes representing Brazil in Paralympic Games were consulted. After successive readings, two thematic axes were identified: Sports financing and Social and sports recognition. The information was analyzed through thematic coding. Results showed social representations of professional and amateur athletes. The lack of financial investment can make it difficult to stay in Paralympic sport. Although Paralympic sports financing has been more generous in recent years, there may be modalities with greater investments linked to the possibilities of achievements and to the management bodies. Another social representation identified is related to the recognition that society, the media, and peers with disabilities start to attribute to Paralympic athletes. Athletes often become benchmarks in the sports field for successors or may suffer from a lack of recognition.

KEYWORDS: para-athletes; disabled persons; sports; psychology social

INTRODUÇÃO

Os esportes paralímpicos são modalidades esportivas que integram o programa dos Jogos Paralímpicos, principal evento esportivo destinado a atletas com deficiência1 (Borgmann & Almeida, 2015; Goodwin et al., 2009; Marques, Gutierrez, & Almeida, 2012). Consideram-se atletas paralímpicos aqueles indivíduos que competem em Jogos Paralímpicos. A primeira edição de Jogos Paralímpicos ocorreu no ano de 1960 e a primeira participação do Brasil ocorreu uma década depois, em 1972 (Winckler & Mello, 2012). Desde então, a participação brasileira foi sendo incrementada, de modo lento, nas edições subsequentes dos Jogos Paralímpicos.

Esse estudo se localiza no campo dos Estudos Socioculturais do Esporte Paralímpico e da Educação Física. Para tanto, atenta-se ao fato de que a área de conhecimento da Educação Física se relaciona com outras ciências (Telles, Lüdorf, & Giuseppe, 2017). É neste cenário, que a Teoria das Representações Sociais (Moscovici, 2015), oriunda da Psicologia Social, enquadra-se em um artifício teórico-metodológico plausível. Trata-se de ponderar sobre a construção de representações sociais no cenário do esporte paralímpico de alto rendimento.

As representações sociais se referem a formas de conhecimentos de senso comum que representam um conjunto de ideias originadas a partir da vida cotidiana, mediante relações sociais que são estabelecidas entre grupos sociais ou pessoas de um mesmo grupo (Jodelet, 2002). O conhecimento se organiza em conhecimento institucional e em senso comum, sendo que o senso comum é responsável por nortear as práticas sociais. Desta forma, as representações sociais influenciam a forma como percebemos o mundo social em que estamos inseridos, levando-nos a agir de certa maneira.

Essas representações sociais consistem em interpretações e simbolismos construídos e expressados sobre um determinado objeto, no caso o esporte paralímpico. Por se tratarem de representações sociais de um sujeito sobre um objeto, as representações não são realidades, mas, sim, representações dela (Bacelar, 2004; Spink, 1993). E, não obstante, é a partir das representações construídas sobre a realidade que os sujeitos dão sentido ao mundo em que vivem (Votre, Salles, & Melo, 1998).

Na literatura consultada, foram localizados estudos desenvolvidos sobre representações sociais com interfaces no esporte paralímpico. O estudo de Lins, Melo, Alves, e Silva (2019) identificou as representações sociais do esporte para atletas com deficiência brasileiros a fim de entender até que ponto os esportes podem contribuir para o seu empoderamento. Para tanto, no total, 153 atletas brasileiros com diferentes tipos de deficiência responderam a um questionário online. Os resultados revelam que as representações dos esportes estão relacionadas aos ganhos individuais e coletivos derivados da prática esportiva e que as representações são distintas de acordo com a modalidade praticada pelo atleta. O trabalho de Monteiro, Pereira, Silva, e Pereira (2008) almejou conhecer as representações sociais dos Jornais Diários Nacionais Especializados em Desporto acerca dos atletas portugueses nos Jogos Paralímpicos de Atlanta, Sidney, Atenas e Pequim, anos de 1996, 2000, 2004 e 2008, respectivamente. Os resultados indicaram que as notícias publicadas na mídia abarcam questões de terminologia e estereótipos sobre a deficiência. Nesta perspectiva, a terminologia utilizada para se referir ao atleta paralímpico é precisa, principalmente porque tende a retratar primeiro o atleta ao invés de sua deficiência; e o atleta paralímpico é representado com menos estereótipos.

Já o estudo de Schmitt et al. (2017) analisou as representações sociais de seis atletas paralímpicos sobre a saúde, por meio de entrevistas. As principais representações sociais identificadas versam sobre a qualidade de vida e sobre percepção de competência e identidade de atleta. No âmbito da qualidade de vida, figuraram como ponto de intersecção entre os depoimentos a interferência da prática esportiva no alcance do estado de saúde, a (in)satisfação no desempenho pessoal e esportivo, as relações familiares, a valorização, o reconhecimento e a inclusão social. Outros achados evidenciaram que, por meio do esporte de alto rendimento, os atletas sentiam-se autoconfiantes, autodeterminados, engajados socialmente e pessoalmente. Em outra pesquisa, também por meio de entrevistas, Schmitt et al. (2018) enfocaram as representações sociais de atletas paralímpicos acerca de suas identidades esportivas. As representações sociais manifestadas mostram que todos se consideram “atleta(s)”.

Como é possível observar, até o presente momento não foram localizados na literatura consultada estudos de representações sociais de atletas sobre o esporte paralímpico brasileiro que tenham utilizado documentos orais dentre os procedimentos metodológicos. Os documentos orais são entrevistas que foram produzidas e, posteriormente, foram transcritas. Logo, configuram-se em documentos que receberam um tratamento prévio. Todavia, os documentos orais são relevantes porque foram produzidos ou pensados de acordo com um determinado tempo, contexto e são forjados por crenças, valores e opiniões. Assim, os documentos orais são impregnados de sentimentos e emoções que, por vezes, podem ser despercebidos em outras fontes de consulta. Destaca-se que as representações sociais também devem ser entendidas a partir do seu contexto de produção (Spink, 1993; Votre et al., 1998).

Com base nessas considerações, o objetivo do estudo foi compreender as representações sociais de atletas com deficiência sobre o esporte paralímpico brasileiro a partir de documentos orais. Em adição, a pesquisa apresentará indícios de como vem se configurando o esporte paralímpico no Brasil. Logo, a pertinência da presente pesquisa dá-se por lançar bases para o desenvolvimento de políticas que visem a promoção e incentivo à prática esportiva para pessoas com deficiência. Uma vez que as representações sociais norteiam as práticas relativas a um dado objeto, sobretudo no interior de seus grupos de pertença, pondera-se que os dados ora apresentados influenciam à estrutura do esporte paralímpico no Brasil. Evidenciar as representações sociais de seus agentes principais - os atletas - contribui não apenas para a compreensão do cenário atual, em que o país está posicionado entre as dez potências paralímpicas mundiais, mas, também, à constituição de planejamentos estratégicos futuros. Afinal, as representações sociais constroem e modificam a realidade continuamente. No caso dos atletas, este estudo fornece elementos para ajudá-los a interpretar esta realidade e a encontrar o seu lugar nela, orientando e dando sentido as suas condutas. Neste sentido, este estudo avança no âmbito da literatura sobre o tema por fornecer subsídios ao desenvolvimento de políticas por instituições e pessoas, com amparo na análise de dados empíricos à luz de uma Teoria ainda pouco explorada por pesquisadores do esporte paralímpico.

MÉTODO

Desenho do estudo

Esse estudo se caracteriza como uma pesquisa documental de caráter qualitativa. E, no caso desta pesquisa, por meio de análise à documentos orais, foram identificadas as principais representações sociais de atletas com deficiência sobre o esporte paralímpico brasileiro. Os documentos orais surgiram a partir da transcrição de entrevistas realizadas com atletas paralímpicos brasileiros.

Documentos orais

Para a realização deste estudo, foram consultados documentos orais produzidos e disponibilizados pelo Núcleo de Estudos em História e Memória do Esporte (NEHME) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os documentos orais consistem em entrevistas (semi-estruturadas) que foram produzidas com atletas paralímpicos brasileiros para o programa de extensão e pesquisa universitária intitulado “Observatório do Esporte Paralímpico Brasileiro”2 da ESEFID/UFRGS. A entrevista foi composta por questões de identificação do atleta e de perguntas abertas sobre o esporte paralímpico brasileiro. Para a identificação apurada indagou-se o nome e data de nascimento, o tipo de deficiência e causa da deficiência, a classificação funcional no esporte, a(s) modalidade(s) paralímpica(s) praticada(s), o clube que o atleta representa, o recebimento de bolsa atleta (quando existente) e sobre a realização de atividade laboral. As perguntas abertas que compuseram o roteiro da entrevista foram:

  1. Como conheceu o esporte adaptado para pessoas com deficiência?;

  2. O ingresso nos esportes adaptados ocorreu em qual ano?

  3. Como você percebe a evolução do esporte paralímpico no Brasil?;

  4. Como foi sua participação em Jogos Paralímpicos?;

  5. Ao longo de sua trajetória nos esportes paralímpicos, há algum acontecimento que lhe chamou atenção?

  6. Há materiais que você dispõe que teria interesse em compartilhar?;

  7. Há algo mais que você gostaria de informar que não lhe tenha sido perguntado?.

A partir deste roteiro, outras perguntas podiam ser elaboradas durante a realização da entrevista que se relacionem com o objeto de estudo.

As entrevistas foram realizadas presencialmente com os atletas paralímpicos, em datas e locais previamente determinados pelos(as) entrevistados(as). Em seguida, essas entrevistas foram transcritas por estudantes de graduação e pós-graduação treinados previamente. É válido mencionar que todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Posteriormente, foram selecionados intencionalmente 12 documentos orais de atletas paralímpicos, sendo quatro mulheres e oito homens. Os atletas apresentavam deficiência física (sete) ou deficiência visual (cinco) e competiram nas edições dos Jogos Paralímpicos de 1988 a 2016, nas seguintes modalidades: futebol de cinco, goalball, para atletismo, para judô, para natação, para remo, para tênis de mesa e voleibol sentado. Os atletas não tiveram seus nomes revelados por razão ética, logo, foram identificados por algarismos arábicos. Ressalta-se que a partir de sugestão do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e do Comitê Paralímpico Internacional (CPI), as modalidades paralímpicas que possuem modalidade correspondente olímpica (tradicional) devem ser escritas com o prefixo “para” (CPI, 2017). Por isso, nomeou-se: para atletismo, para judô, para natação, para remo e para tênis de mesa.

Com o intuito de apresentar maiores detalhes sobre os atletas paralímpicos, apresenta-se no Quadro 1 a caracterização dos atletas paralímpicos brasileiros (1988-2016) que compõe os documentos orais analisados.

Quadro 1. Caracterização dos atletas paralímpicos brasileiros entrevistados (1986-2016). 

Atleta Sexo Deficiência Modalidade Jogos Paralímpicos
1 F Visual Para atletismo 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008
2 M Visual Goalball 2008, 2012, 2016
3 M Física Para atletismo 2008, 2012
4 M Física Para natação 2000, 2004, 2008, 2012, 2016
5 M Física Voleibol sentado 2008, 2012, 2016
6 M Visual Para judô 2004, 2008
7 F Física Para remo 2008, 2012, 2016
8 F Física Para tênis de mesa 1996, 2008, 2012
9 M Visual Futebol de cinco 2008, 2012, 2016
10 M Física Voleibol sentado 2008, 2012
11 F Visual Para atletismo 1996, 2004
12 M Física Para natação 2004, 2008

M: masculino; F: feminino.

Conforme observado no Quadro 1, no que se refere a participação em Jogos Paralímpicos, há atletas que participaram em seis, cinco, três e duas edições do evento, desde os Jogos Paralímpicos de Seul (Coreia do Sul) em 1988 até os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro (Brasil) em 2016. Contudo, dentro do recorte temporal desta pesquisa, compreendido entre 1996 a 2008, seis atletas participaram de uma edição do evento neste período, quatro atletas participaram de duas edições, um atleta de três edições e uma atleta das quatro edições do evento neste período. Essa informação pode ser melhor visualizada na Figura 1.

Figura 1. Participação dos atletas paralímpicos em Jogos Paralímpicos de 1988 a 2016. 

Para seleção dos documentos orais foi adotado o critério de conveniência de modo que reunisse, dentro do repositório do “Observatório do Esporte Paralímpico Brasileiro”, atletas paralímpicos com deficiência física ou visual de modalidades esportivas distintas e que tivessem participado de Jogos Paralímpicos. É importante esclarecer que o repositório, até o momento, não dispõe de documentos orais advindos de atletas com deficiência intelectual e, por isso, não foram incluídos para análise. Também se justifica o direcionamento desta pesquisa a modalidades distintas porque se nota um considerável número de pesquisas que focam nas modalidades de para atletismo e para natação. E, ainda, selecionar atletas que participaram de edições de Jogos Paralímpicos diferentes se justifica a partir do momento que as representações sociais consistem em fenômenos dinâmicos que se modificam constantemente ao longo do tempo (Moscovici, 2015).

Procedimentos para coleta das informações

Para a coleta das informações primeiramente atletas brasileiros residentes nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que representaram o Brasil em Jogos Paralímpicos, foram contatados por mídia digital ou ligação telefônica de modo a serem esclarecidos e convidados a participar desta pesquisa. Após este primeiro contato, foi agendada uma entrevista.

As entrevistas foram realizadas presencialmente com os atletas paralímpicos, em datas e locais previamente determinados pelos(as) entrevistados(as). As entrevistas foram realizadas no ano de 2015. Obteve-se o consentimento para a gravação das entrevistas em formato de áudio por meio de gravador de voz da marca Sony. Em seguida, essas entrevistas foram transcritas na íntegra. Com isso, originam-se documentos orais que se configuram na transcrição de entrevistas. Todos os arquivos de áudio (gravação da entrevista) e de texto (transcrições da entrevista) foram incorporados ao repositório do “Observatório do Esporte Paralímpico Brasileiro”.

Posteriormente, esse repositório foi acessado para obtenção dos documentos orais referentes aos 12 atletas paralímpicos brasileiros selecionados. Em seguida, procedeu-se a leitura sucessiva dos documentos orais de modo que fosse possível realizar uma pré-análise dos dados e, por conseguinte, identificar os eixos temáticos mais latentes. Nesta etapa inicial de análise, fez-se a sistematização dos dados e obteve-se dois temas gerais frequentes nos documentos orais, quais foram: a) Carreira Profissional e Financiamento Esportivo; e, b) Reconhecimento Social e Esportivo. Na segunda etapa, aprofundou-se na análise dos documentos com olhar mais atento para os eixos temáticos mais prevalentes. Neste momento, ocorreu a Codificação Temática de modo a considerar os recortes das transcrições. Para tanto, trechos dos documentos orais foram selecionados e associados aos temas (Carreira Profissional e Financiamento Esportivo; e, Reconhecimento Social e Esportivo). Foram identificados os temas centrais e os temas secundários que se relacionam diretamente aos temas centrais. Ato contínuo, as informações foram analisadas e interpretadas a luz da literatura. Foi utilizado o software Nvivo (versão 11) para auxiliar na organização dos documentos orais, bem como na criação dos temas (centrais e secundários). Apresenta-se, na Figura 2, as principais palavras que compuseram os eixos temáticos.

Figura 2. Nuvem com as palavras geradas a partir dos eixos temáticos mais latentes nos documentos orais analisados. 

Isto posto, os temas centrais vinculados às principais representações sociais identificadas versam sobre a carreira profissional e financiamento esportivo e sobre o reconhecimento social e esportivo. No que tange aos temas secundários, foram localizadas questões vinculadas ao profissionalismo ou amadorismo esportivo entre as modalidades paralímpicas, ao bom desempenho esportivo, à mídia na condição de contribuir na construção de representações sociais e na (in)satisfação pessoal e esportiva.

Procedimentos para análise das informações

As informações foram analisadas por meio da técnica de Codificação Temática (Flick, 2009). A análise documental é um procedimento adotado para analisar materiais textuais, inclusive documentos orais confeccionados a partir de entrevistas. A Codificação Temática é um método analítico qualitativo baseado nos dados da própria pesquisa que visa a identificação de temas ou padrões. Portanto, configura-se como uma abordagem acessível para análise de dados qualitativos (Braun & Clark, 2006). Recorreu-se ao critério de saturação teórica para interromper a captação de informações pertinentes à discussão das categorias que compõe essa investigação qualitativa, conforme Glaser e Strauss (1967).

Os resultados são apresentados e interpretados predominantemente de modo qualitativo e descritivo a luz da Teoria das Representações Sociais. Embora tenha sido possível apresentar resultados a partir da frequência absoluta e relativa acerca dos documentos orais que mencionam as representações sociais mais latentes.

RESULTADOS

Com a pretensão de evidenciar critérios de escolha dos atletas paralímpicos entrevistados, que originaram os documentos orais sobre cenários do esporte paralímpico brasileiro, esclarece-se que participaram, em duas, três, quatro, e até cinco edições de Jogos Paralímpicos, conforme indica a Figura 1. Cabe mencionar que o conjunto de atletas é composto por homens e mulheres. Além disso, representaram o Brasil em modalidades esportivas distintas (Figura 1).

Em continuidade, a partir da análise a despeito de documentos orais, foi possível constatar as principais representações sociais sobre o esporte paralímpico. Sendo assim, os resultados são apresentados conforme os dois temas centrais do estudo, sendo a carreira profissional e financiamento esportivo; e, o reconhecimento social e esportivo.

A Tabela 1 revela os principais resultados obtidos, os quais serão apresentados com maior profundidade em seguida.

Tabela 1. Principais representações sociais identificadas nos documentos orais. 

Carreira profissional e financiamento esportivo

  • Frequência absoluta

  • (n)

  • Frequência relativa

  • (%)

Temas centrais
Reconhece-se como atletas 12 100
Reconhece seus pares como atletas 12 100
Entende que o esporte paralímpico é profissional 11 91,7
Entende que o esporte foi não-profissional 09 75
Vivenciou o esporte paralímpico em uma transição de fase 03 25
Temas secundários
Relatam falta de investimentos 06 50
Bom desempenho esportivo influencia no investimento 04 33,3
Reconhecimento social e esportivo

  • Frequência absoluta

  • (n)

  • Frequência relativa

  • (%)

Temas centrais
Reconhecimento que a sociedade atribui aos atletas paralímpicos 04 33,3
A mídia dá mais visibilidade às pessoas com deficiência e aos atletas paralímpicos 05 41,7
Auto reconhecimento de serem atletas de alto rendimento 06 50
Sentimento de satisfação social 07 58,3
Temas secundários
Reconhecimento esportivo por serem considerados uma referência no campo esportivo 03 25
Aumento do reconhecimento esportivo acarreta maiores exigências e cobranças para o atleta 04 33,3
Sentimento de insatisfação esportiva 02 16,7

Carreira profissional e financiamento esportivo

Em conformidade com os documentos orais, pondera-se que todos os atletas reconheceram-se como “atleta(s)” (n= 12; 100%) e atribuíram a mesma representação social a seus pares (n= 12; 100%). É importante assinalar os trechos dos documentos orais dos atletas paralímpicos brasileiros:

Sou atleta paralímpico de goalball. É um orgulho. Graças a Deus. [...] Eu sou um atleta que tem consciência que eu estou quase em fim de carreira. Nós chegamos em um nível e acho que nós temos que mostra, não que é para se exibir, mas nós temos que nos mostrar mesmo. (Atleta 2 - NEHME, 2016).

Igualmente os Atletas 3 e 4 também se identificaram como atletas. O Atleta 3 ao reconhecer a grande oportunidade de participar do maior evento esportivo do mundo, que é o “sonho de todo atleta olímpico, paralímpico” ao se referir aos Jogos Olímpicos e aos Jogos Paralímpicos (Atleta 3 - NEHME, 2016). E o Atleta 4, ao mencionar que se tornou atleta por acaso, pois quando ingressou nas piscinas não sabia que seria um grande campeão paralímpico e que seria “um dos maiores medalhistas do Brasil e do mundo em paralimpíadas” (Atleta 4 - NEHME, 2016). O Atleta 5 também relatou se considerar um atleta, mais do que isso, apresentou-se como o “atleta fundador praticamente da equipe” de voleibol sentado, pois conheceu a modalidade após adquirir uma deficiência física e começou a treinar e formou um time (Atleta 5 - NEHME, 2016). Na sequência, apresenta-se as representações sociais dos Atletas 1 e 12 que corroboram com achados anteriores.

[...] quando eu estou correndo a minha visão cai mais, então constatou que para mim como atleta, para minha evolução, para o meu resultado era mais interessante eu correr com guia. (Atleta 1 - NEHME, 2016).

[...] eu sou um atleta de sucesso, fui bem sucessivo, estou sendo ainda, mas o que me movia muitas vezes era eu chegar na prova e, né, no início a oportunidade de prática, acho que isso o que me moveu no início, nossa que legal vou fazer, nunca nadei, aprender a nadar. (Atleta 12 - NEHME, 2016).

Essa mesma Atleta complementa que quando participou dos Jogos Paralímpicos de Atlanta, em 1996, competiu com uma “atleta espanhola que era a favorita” (Atleta 1 - NEHME, 2016). Nesta mesma lógica de representar os pares também como atletas, a Atleta 8 reconheceu como atleta um jogador de para tênis de mesa, paulista, campeão mundial, seu principal incentivador a praticar essa modalidade com raquete (Atleta 8 - NEHME, 2016).

Alguns desses atletas demonstraram terem atuado na perspectiva do esporte profissional (n= 11; 91,7%), enquanto outros atletas indicaram ter vivenciado o esporte em um período não-profissional (n= 9; 75%). Os documentos orais indicam que os Atletas 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9, 11 e 12 exerceram atividades profissionais remuneradas paralelas as atividades inerentes à de atleta, em algum momento de suas trajetórias. E alguns dos atletas representam o esporte não-profissional manifestado na forma de amadorismo.

E aí 2001, como eu tinha falado pra você, surgiu essa Lei Agnelo Piva, e aí eu consegui deixar o trabalho porque o que eu estava recebendo do Comitê [Comitê Paralímpico Brasileiro] eu conseguia estar investindo só na natação. E, 2002, veio o mundial que eu consegui meus três recordes mundiais. (Atleta 4 - NEHME, 2016).

Há atletas que foram contemplados com o programa bolsa atleta do governo federal e patrocínios, como os Atletas 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 (n= 11; 91,7%). Somente o Atleta 6 (para judô; deficiência visual), representou o Brasil nos Jogos Paralímpicos de 2004 e 2008, não mencionou o recebimento de bolsas e patrocínios. Então o que se percebe são mudanças sociais, sobretudo garantidas por meio da legislação, que visam contribuir com o desenvolvimento e profissionalização dos esportes paralímpicos no Brasil. E isso ocorre por meio de modificações em torno das representações sociais acerca do esporte paralímpico brasileiro. Sendo assim, os atletas vêm recebendo maior incentivo financeiro, conforme os Atletas 6 e 7 expõe:

Abriu muitas portas, né [...] tudo que eu fiz no judô, anos e anos treinando, lesões e lesões, deixei de estudar pra treinar porque não tinha muito recurso que tem hoje, então a gente lutava por amor. Não tinha nem plano de saúde a gente. Lembro que eu quebrava o joelho e ia pro hospital público e a gente tinha que enfrentar um leão por dia. (Atleta 6 - NEHME, 2016).

Igualmente:

[...] As coisas vêm melhorando desde que o Governo Federal sistematizou o maior apoio esportivo no mundo. O maior programa a atletas do mundo é do Brasil hoje, que é a Bolsa Atleta, que dá suporte para as instituições, mas, também, para o atleta poder se alimentar melhor, se deslocar e ter material. (Atleta 7 - NEHME, 2016).

Em contrapartida, os documentos orais também revelaram que a representação social construída pela Atleta 11 se refere a ausência de investimento financeiro como sendo um fator incapacitante para a permanência no esporte paralímpico e desenvolvimento da carreira esportiva (Atleta 11 - NEHME, 2016). Esta atleta representou o Brasil em Jogos Paralímpicos de 1996 a 2008 (quatro edições), na modalidade de para atletismo em provas para atletas com deficiência visual. O Atleta 10 foi taxativo ao manifestar o pensamento de que o Brasil está apenas começando a profissionalizar o esporte paralímpico. Este atleta representou o Brasil em Jogos Paralímpicos de 2008 a 2012 (duas edições), na modalidade de voleibol sentado, esporte específico para atletas com deficiência física.

Outro achado foi que os Atletas 1, 4 e 8 partilham a representação social de que vivenciaram o esporte paralímpico brasileiro em uma “transição de fase”. Esses atletas participaram em diferentes edições dos Jogos Paralímpicos. A Atleta 1 (para atletismo; deficiência visual) participou de seis edições de Jogos Paralímpicos de 1988 a 2008, o Atleta 4 (para natação; deficiência física) participou de cinco edições de Jogos Paralímpicos de 2000 a 2016 e Atleta 8 (para tênis de mesa; deficiência física) participou de três edições de Jogos Paralímpicos de 1996 a 2012. Isso quer dizer que os referidos atletas paralímpicos vivenciaram o esporte não-profissional e depois passaram a contemplar o esporte na esfera do profissionalismo. Em particular, os três atletas que reportaram essa “transição de fase” participaram em edições de Jogos Paralímpicos de 1988 até 2012, em modalidades paralímpicas diferentes (para atletismo, para natação e para tênis de mesa).

[...] Não tinha [incentivo financeiro]. Eu, assim, graças a Deus eu tive várias oportunidades de pegar as fases mais difíceis e pegar o começo da fase boa, de ainda conquistar muitas coisas com o esporte, mas, muitos, não tiveram esta oportunidade. Não conseguiram o que eu tive a oportunidade de conquistar.(Atleta 1 - NEHME, 2016).

Durante o momento não-profissional o investimento era inexistente, escasso ou não relacionado diretamente com dinheiro. Como exemplo, alguns espaços físicos para realização de treinamentos eram gentilmente cedidos por instituições (Atletas 1, 2 e 5 - NEHME, 2016), também há documentos que expressam que os atletas e as equipes geralmente não tinham treinadores (Atletas 2, 5 e 8 - NEHME, 2016). E, ainda, em algumas competições, os atletas recebiam transporte ou, às vezes, recebiam alojamento (Atletas 1, 2 e 4 - NEHME, 2016) e treinavam com materiais e estruturas precárias, e competiam em melhores condições (Atleta 1; para atletismo; deficiência visual), além disso, a premiação não era realizada com dinheiro (Atleta 1 e 8 - NEHME, 2016). Em complemento sobre a premiação, a Atleta 1, do para atletismo, mencionou que nos Jogos Paralímpicos de Atlanta (1996) a premiação passou a ser em dinheiro, mas o valor era baixo.

A partir dos resultados, percebe-se que os atletas que participaram de edições recentes de Jogos Paralímpicos tiveram mais suporte financeiro, isso ocorre em modalidades esportivas para atletas com deficiência física e visual. Sendo assim, com o passar dos anos vêm aumentando o incentivo financeiro para os atletas de algumas modalidades paralímpicas, conforme os relatos dos Atleta 6 (para judô; deficiência visual), Atleta 7 (para remo; deficiência física). Em conformidade, a Atleta 8 (para tênis de mesa; deficiência física) corrobora com essa representação social:

Eu tenho a bolsa atleta nacional, porque assim, quando você vai a uma Paralimpíada mesmo, tanto os olímpicos quanto como paralímpicos é possível receber bolsa atleta. [...] Então hoje eu estou mais tranquila. Entendeu? Que eu posso comprar meu material, eu posso viajar, eu posso, entendeu? Eu posso fazer tranquilamente. Mas no início foi difícil. Entendeu? Até porque não se tinha muito apoio e hoje não, hoje você tem. (Atleta 8 - NEHME, 2016).

Já o Atleta do voleibol sentado (deficiência física) conta que, às vezes, tem recurso e, outras vezes não, de forma flutuante e não contínua (Atleta 5 participou dos três Jogos Paralímpicos entre 2008 a 2016).

O bom desempenho esportivo está atrelado ao investimento esportivo. Parece que atingir elevado desempenho esportivo, obter títulos e medalhas acarretam em maiores investimentos para o atleta e para a modalidade paralímpica que praticam. Essa representação social é consensual entre os Atletas 2, 4, 5 e 10 (goalball, para natação e dois atletas do voleibol sentado). E com investimentos a carreira do atleta paralímpico se torna longeva.

Considerar a possibilidade de trazer a discussão sobre mais investimentos para as modalidades individuais, especialmente para natação e para atletismo, pela maior chance de obterem medalhas - maior quantidade de medalhas devido ao número de classes e de provas que ocorrem em uma mesma competição. Isto faz com que estas modalidades tenham um número expressivo de patrocinadores, bem como recebam mais visibilidade nas mídias. No Brasil, atualmente, estas duas modalidades são administradas pelo CPB, além do halterofilismo, o que confere a elas também maiores benefícios, talvez, um exemplo seja o treinamento no CT Paralímpico, atualmente.

Nas modalidades coletivas, as dificuldades começam pelos contextos locais: dificuldades para se compor equipes, reunindo atletas com as mesmas deficiências e classes específicas, estabelecimento de aderência e frequência aos treinos. Conquista de local, materiais e profissionais para o desenvolvimento das atividades, gestão da equipe e participação em competições.

Na questão de sexo, observa-se o potencial do esporte paralímpico para o empoderamento da mulher naquelas modalidades em que ela está representada. Isto porque, nem todas as modalidades paralímpicas contemplam as mulheres no que tange o alto rendimento. A modalidade do futebol de cinco, por exemplo, não possui representação feminina nas competições dos Jogos Paralímpicos. Ademais, em geral, as modalidades coletivas do esporte paralímpico enfrentam barreiras ainda maiores para a composição de equipes femininas. Nesta direção, vale referir o potencial de se implementar, em âmbito de regulamentações em competições, as disputas mistas. Por exemplo, no Parabadminton, tem-se as disputas de duplas mistas por classes, conforme regras específicas da Badminton Word Federation (BWF).

Reconhecimento social e esportivo

No âmbito do reconhecimento social, a representação social construída e partilhada por alguns atletas faz menção ao reconhecimento que a sociedade passa a atribuir aos atletas paralímpicos (Atletas 1, 4, 9 e 12) (n= 4; 33,3%). Essa representação social pode ser observada na passagem:

Hoje eu não estou competindo mais, mas, foi uma emoção muito grande estar lá e pensar: Poxa vida, eu estou aqui. Quantos queriam estar no meu e eu fui selecionada entre vários. E, tu estar ali, representando o teu País, nossa, é uma emoção muito grande. Antes, as Paralimpíadas não tinham esta divulgação que tem hoje, então, nós vivíamos tudo isso, mas ninguém sabia do que nós passávamos, da garra, da determinação, da emoção. Mas, era muito legal. [...] Porque, às vezes, as pessoas, como eu falo, me viram e viram outros atletas ali na pista competindo e, mesmo na TV, ganhando medalhas de ouro, mas não sabem de onde nós viemos, não sabem o que nós passamos para chegar onde nós chegamos. (Atleta 1 - NEHME, 2016).

E também no segmento do documento oral advindo do Atleta 4, para natação:

Então, depois de 2004 realmente o esporte começou a ter visibilidade, e com essa visibilidade também não foi só o reconhecimento do público, da sociedade brasileira, surgiu reconhecimento dos governantes, principalmente do governo federal. E alí, logo em seguida em 2005 o governo federal instituiu uma bolsa atleta que começou a beneficiar quatro níveis de atletas, que é o estudantil, nacional, internacional, olímpico e paralímpico. E depois dali começamos a ter todos os níveis começaram a ser beneficiados e começou a ter uma dedicação dos atletas exclusivamente pro esporte. (Atleta 4 - NEHME, 2016).

Outra representação social se relaciona ao reconhecimento da mídia que, por sua vez, garante maior visibilidade às pessoas com deficiência, sobretudo aos atletas (Atletas 4, 5, 8, 9 e 12) (n= 5; 41,7%). Isto posto, a representação social acerca do reconhecimento social assume um relevante e expressivo espaço nos documentos orais analisados. Em outras palavras, de forma pontual, o reconhecimento da sociedade, das pessoas com deficiência para com aos atletas com deficiência e da mídia. É interessante atentar, aqui, nos documentos orais analisados, o foco da representação social deixa de ser a pessoa com deficiência e passa a ser o atleta, conforme observado nos documentos orais dos Atletas 4, 8, 9 e 12.

[..] Nos Jogos Parapan-Americanos, não era só a natação que estava lotada, todas as modalidades paralímpicas tinham muita gente acompanhando, e na natação, o complexo aquático Maria Lenque, são 5 mil pessoas a capacidade, e todos os dias pela manhã e tarde estava lotada. E o público gritava por todos os atletas, e quando eu entrei também gritavam. E era algo que arrepiava, me motivava muito mais. E naquela oportunidade eu consegui 7 medalhas de ouro e 1 de prata, e o mais legal era ver crianças e adolescente até pessoas com mais idade indo não pra ver coitadinho, não pra ver deficientes mas pra poder ver atletas, pra poder ver não a deficiência, e sim a eficiência. Isso foi o que me motivou muito mais. (Atleta 4 - NEHME, 2016).

Mais além, esses documentos orais indicam que os atletas situam a si próprios como atletas de alto rendimento (Atletas 2, 3, 4, 6, 9 e 12) (n= 6; 50%), sobretudo porque participaram de eventos esportivos de elevada magnitude, como é o caso dos Jogos Paralímpicos - expoente máximo do esporte para pessoas com deficiência. Além disso, alguns atletas sentiram-se satisfeitos com o reconhecimento da mídia, da sociedade e dos seus pares com deficiência (Atletas 1, 2, 4, 5, 8, 9 e 12) (n= 7; 58,3%).

É a grande oportunidade né. Estamos falando do maior evento do mundo, o evento que é o sonho de todo atleta olímpico, paralímpico, um evento que acontece a cada quatro anos, um evento que dificilmente o indivíduo consegue participar de duas, três edições. É normalmente difícil. E eu costumo dizer que as emoções que vivi nas edições de Jogos Paralímpicos que eu participei, mudaram a minha vida. (Atleta 3 - NEHME, 2016).

No que compete ao reconhecimento esportivo, uma importante representação social identificada, foi de os atletas serem considerados como uma referência no campo esportivo (Atleta 9, 10 e 12) (n= 3; 25%).

Nossa, foi muito bom [risos]. Subir e na hora que eles deram aquelas flores, a medalha, assim, saber que tu estavas ali, entre as três do mundo, foi demais! Demais mesmo. E ali começou a minha história. Na verdade, foi onde as pessoas me viram. Onde eu comecei a ser referência. A garotinha de 14 anos (Refere-se aos Jogos Paralímpicos de Seoul) (Atleta 1 - NEHME, 2016).

E, paralelo a essa representação social, surge a preocupação com o aumento das exigências e cobranças sofridas pelos atletas paralímpicos. Essa representação social foi localizada nos documentos orais dos Atletas 1, 4, 9 e 11 (n= 4; 33,3%).

E eu sabia que, ser no Brasil, ia ser a terceira edição Parapan-Americana, o Brasil até então não tinha ganho essa edição, e nós sabíamos que éramos capazes, porque em 2007 já tinha evolução, investimento, e eu não era aquele cara de 2000, regresso, desconhecido, já era [...] conhecido, com responsabilidade, cobrança e pressão, tanto minha quanto do Brasil inteiro, no mais essa pressão e cobrança nunca me desmotivou, pelo contrário, eu olho pra você se tiver me incentivando, vamos lá, isso vai me motivar. Já pra outros atletas isso vai dar uma tremida, mas pra mim não, eu olho pra você me incentivando e é isso aí quero chegar. E eu sabia que isso ia acontecer, chegou Jogos Parapan-Americanos, e foi justamente isso que aconteceu (Atleta 4 - NEHME, 2016).

Convém sublinhar outra representação social a respeito do reconhecimento social e esportivo que é a satisfação pessoal e esportiva, bem como a percepção de competência corroborada pelos Atletas 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 12. Face aos expostos anteriormente, os documentos orais expressam que os atletas paralímpicos se sentem satisfeitos com suas realizações pessoais. A sua trajetória esportiva lhes garante o sentimento de realização não só pessoal, como também esportiva. A percepção de competência por seus feitos e conquistas tanto pessoais como profissionais se sobressaem nos documentos orais.

É uma emoção gigante, porque tu estás ali, toca o hino e aquela coisa toda, toca o hino brasileiro e tu estás recebendo a medalha em uma competição máxima, competição top, assim, é diferente, não tem... É um pouco indescritível, para cada um tem uma sensação, mas, é diferente. Tu recebes uma medalha no pódio e está tocando o hino, defendendo o país e representando milhares de atletas que estão querendo estar no teu lugar. Muitos atletas te respeitam depois por isso. É bem gostoso de ver. (Atleta 2 - NEHME, 2016).

Estou na história, isso ninguém tira mais. É satisfação pessoal. Tudo que eu fiz no judô, anos e anos treinando, lesões e lesões, deixei de estudar pra treinar porque não tinha muito recurso que tem hoje, então a gente lutava por amor. Não tinha nem plano de saúde a gente. Lembro que eu quebrava o joelho e ia pro hospital público e a gente tinha que enfrentar um leão por dia. (Atleta 6 - NEHME, 2016).

O sentimento nacionalista de representar o seu país em competições esportivas internacionais também merece destaque. De acordo com os documentos orais dos Atletas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10, a satisfação pautada, em parte, no desempenho, na conquista de medalhas e prêmios contribui para a construção da representação social do reconhecimento esportivo.

Em contraponto, as representações de satisfação esportiva foram discordantes entre os documentos orais. Para os Atletas 11 e 12, a insatisfação esportiva é mencionada e está vinculada a falta de reconhecimento esportivo e midiático, bem como do esquecimento mediante as próprias instituições esportivas.

DISCUSSÃO

A presente pesquisa se detem a olhar para o fenômeno do esporte paralímpico guiada pelos pressupostos teóricos da Teoria das Representações Sociais. A luz dessas ideias é imperativo destacar também o diferencial desta pesquisa por abranger atletas paralímpicos. Estes atores sociais ocupam papel de destaque nos esportes paralímpicos e, de tal modo, possibilitam compreender as representações sociais no cenário esportivo.

Essa pesquisa contribui, ainda, para as pessoas refletirem a respeito de como as representações sociais se formam, permite o indivíduo tornar familiar uma realidade social que lhe é estranha, justificar e compreender atitudes e condutas dos sujeitos. O conhecimento produzido pelas representações sociais (individuais e coletivas) possibilitam que ocorram transformações sociais, inclusive no campo esportivo. E, na medida em que as transformações na sociedade vão ocorrendo, as representações sociais vão sendo reconstruídas e ressignificadas. As representações sociais identificadas não revelam opiniões e sentimentos, mais além, designam um movimento social mais amplo, conforme expõe Lins et al. (2019).

Os documentos orais foram oriundos de atletas paralímpicos brasileiros (Figura 2). Esses atletas paralímpicos experienciaram os Jogos Paralímpicos em diferentes edições do evento, modalidades esportivas e deficiências distintas. E, por mais adversas as experiências vividas por cada um, inegavelmente acarretaram na construção de representações sociais sobre o esporte paralímpico brasileiro específicas e peculiares. Todavia, foi essencial caracterizar a participação dos 12 atletas em virtude de as representações sociais demandarem ser analisadas em contexto porque consistem em uma visão da realidade de grupo localizado e datado, conforme preconiza Moscovici (2015).

Os resultados mostraram que os atletas paralímpicos apresentaram tipos e graus de deficiência diferentes, bem como participaram de, no mínimo duas edições de Jogos Paralímpicos em anos diferentes e em modalidades distintas (Figura 1). A pesquisa de Lins et al. (2019) sugere que atletas com deficiência pertencentes a diferentes subgrupos de modalidades paralímpicas geram diferentes representações sociais para o mesmo objeto social. Para Moscovici (2015), a diversidade de representações sociais reflete a falta de homogeneidade dentro das sociedades modernas que geram representações sociais heterogêneas. No caso da presente pesquisa, acredita-se que o fato desses documentos orais, destes atletas paralímpicos, destas modalidades esportivas e por terem participado destas edições de Jogos Paralímpicos influenciam nos resultados obtidos no que tange aos temas da carreira e financiamento esportivo, bem como reconhecimento social e esportivo. Apesar disto, também se reconhece que os achados desse estudo representam tendências que poderiam ser localizadas em entrevistas com outros atletas paralímpicos de modalidades distintas.

A seguir, a discussão do presente artigo será apresentada de acordo com os dois temas centrais do estudo, quais foram: o financiamento esportivo e o reconhecimento social e esportivo.

Carreira profissional e financiamento esportivo

No que tange ao tema da carreira profissional e financiamento esportivo, constatou-se consenso na representação social de reconhecerem-se como “atleta(s)”, para todos os documentos orais, advindos de atletas paralímpicos com deficiência física e visual que competem as oito modalidades esportivas. Contudo, observa-se que a noção de “atleta” se manifestou de forma distinta nos documentos orais, em virtude de elementos monetários que implicam na representação social de ser um atleta profissional ou não-profissional. Neste tema, os documentos orais advindos de homens e mulheres, e também oriundos tanto de atletas com deficiência física quanto com deficiência visual praticantes de modalidades paralímpicas distintas apresentam concordância ao se referirem como “atletas” e ao atribuírem aos seus pares o mesmo reconhecimento. Esse achado se difere aos reportados na pesquisa de Lins et al. (2019) que, por sua vez, sugere que o tipo da deficiência e a modalidade paralímpica implicam em representação social diferente para o mesmo objeto social. Em acréscimo, além da noção de ser atletas também manifestam a representação social de que representaram o seu país em Jogos Paralímpicos, evento considerado por alguns como o segundo mais importante evento esportivo mundial (Mazo, Begossi, & Schmitt, 2018).

Os resultados da pesquisa mostraram que existem representações sociais que consideram atletas profissionais e também atletas não-profissionais, semelhante as discussões em torno do esporte paralímpico. Em complemento, a Lei nº. 9.615 de 1998, a Lei Pelé, menciona o esporte profissional e o não-profissional (Brasil, 1998). O esporte profissional é caracterizado pela “remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva”; enquanto, o esporte não-profissional consiste na “liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio” (Brasil, 1998). E, ainda, o esporte não-profissional amador pode ser “identificado pela liberdade de prática e pela inexistência de qualquer forma de remuneração ou de incentivos materiais para atletas de qualquer idade” (Brasil, 1998). Especificamente no esporte paralímpico, Howe (2008) aponta que o profissionalismo é novo e ainda está em processo de crescimento. Sousa, Corredeira e Pereira (2016) complementam que profissionalismo em torno do esporte paralímpico é uma realidade para vários países do mundo, embora não seja para todos os países.

Outra representação social observada foram as bolsas destinadas aos atletas. O Programa Bolsa-atleta, instituído pela Lei nº. 10.891/2004 é direcionado a atletas de alto rendimento (Brasil, 2004). As categorias do Programa Bolsa-atleta são: Estudantil, Esporte de Base, Nacional, Internacional, Olímpica/Paralímpica, Atleta Pódio (Marques et al., 2012). Desde a implementação deste programa os valores das bolsas variaram, de acordo com as categorias dos atletas (estudantil, base, nacional, internacional, olímpico e paralímpico, pódio). No ano de 2016, para os atletas paralímpico o valor do auxílio é de R$ 3.100,00. No caso de bolsa pódio, os valores podem chegar a R$ 15.000,00 reais (Brasil, 2004). Logo, as bolsas, sem dúvida, são representadas como um incentivo financeiro à prática esportiva, no entanto, estão sujeitas às modificações e cortes e, essa condição gera incerteza para os atletas. Ou, ainda, no caso de bolsa pódio, o atleta passa a recebê-la durante um ano após obter resultados de excelência esportiva nas competições e, caso a modalidade deixe de fazer parte do programa de Jogos Paralímpicos, o benefício é interrompido.

Para além das verbas repassadas aos atletas por meio de bolsas, também há repasses financeiros previstos em leis para o esporte brasileiro. Assim, a Lei nº. 10.264/2001, denominada de Lei Agnelo-Piva, mencionada pelo Atleta 4 (NEHME, 2016), previa a distribuição obrigatória por parte das Loterias Caixa de 2% de seu faturamento total com Loterias para o esporte brasileiro, sendo 85% deste valor para o esporte olímpico e 15% para o esporte paralímpico (Brasil, 2001; Cardoso, Haiachi, Reppold Filho, & Gaya, 2018; Marques et al., 2012). Posteriormente, a Lei no. 13.146/2015 ajustou os valores repassados para o esporte brasileiro, sendo 62,96% destinados ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e 37,04% ao Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) do total de recursos financeiros resultantes (Brasil, 2015).

Os depoimentos orais dos Atletas 1 e 8 mencionam as premiações nas competições durante um momento não-profissional no esporte paralímpico. Sobre isso, destaca-se que os valores das premiações esportivas, têm aumentado desde as primeiras participações do Brasil em Jogos Paralímpicos. Porém, a cada edição dos Jogos Paralímpico a premiação foi sendo maior (Atleta 1 - NEHME, 2016). O valor do prêmio depende do tipo de medalha conquistada (ouro, prata e bronze) e conforme a modalidade esportiva (individual ou coletiva). Na edição dos Jogos Paralímpicos de 2016, sediado no Rio de Janeiro, nos esportes individuais, os atletas podiam receber R$ 60 mil, R$ 30 mil e R$ 20 mil reais, respectivamente, para medalhas de ouro, prata e bronze. Nos esportes coletivos, os valores da medalha de ouro era R$ 30 mil, R$ 15 mil para prata e o bronze R$ 10 mil reais para cada atleta da equipe (Comitê Paralímpico Brasileiro, 2019).

De acordo com os resultados obtidos, alguns atletas vivenciaram o esporte paralímpico brasileiro em uma “transição de fase”, inicialmente atuavam no não-profissional e posteriormente atuaram no esporte profissional. Para reforçar esse achado, Marques et al. (2015) confirmam que há um aumento da profissionalização dos atletas e Sousa, Corredeira e Pereira (2016) salientam que o atleta paralímpico era amador, mas atualmente pode ser visto como atleta de alta competição. Então, o que se percebe são mudanças sociais e políticas, sobretudo garantidas por meio da legislação, que visam contribuir com o desenvolvimento e profissionalização dos esportes paralímpicos no Brasil. Com as mudanças na legislação, ocorrem maiores investimentos financeiros e, com isso, os atletas conseguem planejar sua carreira no esporte paralímpico e permanecer treinando e competindo no esporte.

Este processo ocorre por meio de modificações em torno das representações sociais acerca do esporte paralímpico brasileiro que atuam também no sentido de provocar transformações sociais (Votre et al., 1998). Aqui é válido ressaltar que mudanças políticas acabam sendo percebidas no cenário brasileiro ao longo de períodos históricos. Na década de 1990, ainda, as pessoas com deficiência eram socialmente marginalizadas no Brasil. No ano de 1995, a criação do CPB, com a finalidade de liderar as ações das confederações e associações nacionais, foi um marco importante no desenvolvimento do esporte paralímpico brasileiro (Cardoso et al., 2016). Além dessa importante função, em algumas modalidades paralímpicas3 (para atletismo, para halterofilismo, para natação) o CPB atua como uma confederação.

Faz-se necessário aludir que o para atletismo e a para natação contemplam as deficiências física, visual e intelectual. Assim, possuem muitas provas e, com isso, possibilitam uma maior chance de conquista de medalhas para o país (Mazo, Begossi, & Schmitt, 2018). De forma semelhante, ocorre o gerenciamento da modalidade de para tênis de mesa pelo CPB. Essas modalidades, atualmente, são geridas pelo CPB e, de fato, já atingiram um status de profissionalismo que possibilitam aos atletas se dedicarem exclusivamente ao esporte.

Em acréscimo, salienta-se que a seleção brasileira se concentra para treinar na cidade de São Paulo (Brasil) no Centro de Treinamento Paralímpico. Esse espaço é destinado para treinamentos, competições e intercâmbios de atletas e seleções em 15 modalidades paralímpicas (Bataglion & Mazo, 2019; Cardoso et al., 2018). O Brasil é um dos quatro países do mundo que possui um Centro de Treinamento Paralímpico de excelência, juntamente com China, Coréia do Sul e Ucrânia. Por outro lado, a existência de um Centro de Treinamento Paralímpico também pode ser entendida como uma forma de perpetuar a segregação entre pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência.

Como se pode perceber nos parágrafos anteriores, há atletas que foram contemplados com bolsas e há aqueles que possuíam vínculo empregatício. Outros vivenciaram uma transição de fase, inicialmente trabalhavam e treinavam simultaneamente e depois passaram a receber proventos para investirem na carreira esportiva. Neste caso, as representações sociais apresentaram diferenças interindividuais no que se refere ao profissionalismo e não-profissionalismo no esporte paralímpico, bem como existem representações sociais que são individuais e outras que são coletivas (Bacelar, 2004). Essa variação alude a uma característica marcante relacionada às representações sociais que é o seu caráter plural, por conseguinte, as representações sociais podem ser consensuais, mas também possuem fortes diferenças interindividuais conforme Abric (1994), Jodelet (2002), Votre et al. (1998) e Moscovici (2015). A pluralidade das representações sociais é possível porque cada indivíduo é repleto e subjetividades e de singularidades. E, ainda, na perspectiva estrutural as representações sociais podem apresentar núcleo periférico, quando não são consensuais entre os sujeitos do mesmo grupo social; ou núcleo central, quando são consensuais (Abric, 1994; Lins et al., 2019).

Além disso, é provável que essa inconsonância dê-se face aos atletas terem vivenciado o esporte paralímpico em diferentes momentos históricos e sociais. Então, com base nas experiências coletivas e nas condições particulares dos sujeitos, as pessoas constroem representações sobre si mesmas e sobre a realidade que os cerca de modo a articular valores, necessidades e desejos que nortearão sua ação no mundo. Logo, as representações sociais consistem em estruturas dinâmicas e, por isso, estão sujeitas a transformações e ressignificações ao longo do tempo (Abric, 1994; Spink, 1993).

É possível perceber que a representação social em torno do financiamento esportivo tem sofrido muitas modificações e construídos novos significados. E, o financiamento é um elemento que se relaciona diretamente com a evolução do esporte paralímpico no Brasil e com as políticas públicas nacionais. Cardoso et al. (2018) sugerem que possivelmente o apoio financeiro pode fazer a diferença no desenvolvimento de sua carreira esportiva. O suporte financeiro advindo de formas variadas (bolsas federais, estaduais e municipais, prêmios por conquistas, patrocínio privado) podem possibilitar condições para que o atleta se dedique exclusivamente ao esporte paralímpico e, com isso, possa melhorar seu desempenho em sua modalidade.

Para encerrar, é possível supor que, no Brasil, os investimentos financeiros são maiores à medida que o esporte paralímpico passa a se desenvolver de forma mais organizada. Além disso, deve-se considerar a obtenção de resultados e conquistas por parte da delegação brasileira no cenário esportivo internacional e o fato de haver mudanças na representação social em torno da pessoa/atleta com deficiência pela sociedade. Bailey (2008)4 citado por Marques, Gutierrez, Almeida e Menezes (2013) indica que o aumento do financiamento destinado ao esporte paralímpico é um elemento que possibilita a ascensão e reconhecimento social para o indivíduo com deficiência.

Reconhecimento social e esportivo

Quanto ao tema do reconhecimento social e esportivo, os documentos orais analisados indicaram que a sociedade, os seus pares com deficiência e a mídia os reconhece socialmente como atletas. Pode-se supor que as representações sociais construídas e partilhadas pelos atletas, disponibilizadas nos documentos orais, influenciam e são influenciados pelo contexto sociocultural que o rodeia. Para Retondar (2007), “o sujeito que elabora as representações sociais é sempre um sujeito psicológico, porém, influenciado e influenciador do contexto social e cultural que o cerca”.

Neste sentido, atribui-se à mídia papel essencial no processo de elaboração e ressignificação das representações sociais, uma vez que é composta por palavras, imagens que nutrem um fluxo de informações que circulam na sociedade e podem construir sentidos e significados (Jovchelovitch, 2000). Assim sendo, se as representações sociais são definidas por ideias, imagens, crenças e atitudes que estão relacionadas a um objeto, ela é a representação de um indivíduo, grupo ou classe em relação a outros sujeitos, levando-se em consideração a posição econômica e social que este sujeito ocupa na sociedade, conforme preconiza Jodelet (2002). E, assim, as representações sociais têm por finalidade simbolizar e interpretar a realidade de modo a substituir os sentidos atribuídos a uma dada realidade através de uma imagem ou objeto que os faça representar atribuindo-lhes uma dada significação (Retondar, 2007).

Nesta perspectiva, a mídia é um instrumento social capaz de divulgar novas concepções, formar conceitos, crenças, valores e atitudes porque contribuem para a formação de mentalidades e comportamentos sociais vigentes na sociedade (Cunha & Pinto, 2017; Dos Santos & Medeiros, 2009; Jovchelovitch, 2000). Para Jodelet (2002) a comunicação, entre grupos ou de massa, é uma condição para produzir representações sociais porque nesses canais de linguagem circulam informações socialmente partilhados e possibilita aos indivíduos significarem a realidade e suas relações. Moscovici (2015) adiciona que as formas de comunicação, cada vez mais atuais, são capazes de criar e fortalecer representações sociais.

Muitas vezes a sociedade valoriza a aparência dos sujeitos e desconsidera a essência da pessoa (Pereira, Osborne, Pereira, & Cabral, 2013). Salienta-se a maneira como a pessoa com deficiência é percebida na sociedade são influenciadas pelas representações sociais veiculadas na mídia (Jodelet, 2002; Poffo et al., 2017; Zhang & Haller, 2013). A pesquisa de Marques et al. (2013) refere que há duas formas principais da mídia no esporte paralímpico: uma que realça a superação da deficiência por parte dos atletas e outra que enfatiza o rendimento e os resultados esportivos. Pode-se supor que, nos meios de comunicação, a deficiência frequentemente é representada como a única característica da pessoa com incapacidades, enquanto outros aspetos individuais são negligenciados. Além disso, a mídia pode promover tanto imagens positivas quanto negativas acerca das pessoas com deficiência e, assim, pode produzir estereótipos e estigmas sobre as pessoas com deficiência (Cunha & Pinto, 2017; De Léséleuc, Pappous, & Marcellini, 2009).

Em conformidade com os documentos orais, o foco da representação social é o atleta do alto rendimento e não a pessoa com deficiência. Contudo, apesar dos Jogos Paralímpicos atingir elevada representatividade no campo esportivo, a mídia não oferece a mesma visibilidade aos atletas paralímpicos, quando comparados aos atletas olímpicos (Stones, Ahmed, & Weiler, 2014). No trecho extraído do documento oral do Atleta 4 (para natação) indica que o expectador frequenta a competição para ver o atleta competir ao invés de olhar para os “coitadinhos” que possuem algum tipo de deficiência (Atleta 4 - NEHME, 2016).

No que se refere às pesquisas, há estudos que abordam a relação da mídia com o esporte paralímpico. Entre esses estudos merecem destaque De Léséleuc, Pappous e Marcellini (2009) porque foca na cobertura midiática de mulheres com deficiência, Poffo et al. (2017) investigou estigmas na cobertura jornalística (Folha de São Paulo) dos Jogos Paralímpicos no Brasil e Mazo et al. (2018) analisou a cobertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 a partir do jornalismo impresso gaúcho. Cabe, ainda, ressaltar que muitas vezes a imprensa traz uma narrativa sobre uma realidade e geralmente privilegia os interesses da classe social dominante e, por isso, torna-se difícil construir representações sociais em prol dos grupos minoritários (Retondar, 2007; Votre et al., 1998). Mas é possível que os grupos sociais específicos e, quiçá minoritários, possam selecionar (re)significar valores representativos de consensualidade próprios, com objetivos práticos e com uma maior mobilidade social (Retondar, 2007).

No que concerne a representação social dos atletas se tornarem uma referência no campo esportivo, as autoras Brazuna e Mauerberg-deCastro (2001) destacam que os atletas paralímpicos se tornam exemplos a serem seguidos por seus pares com deficiência que ainda se encontram em diferentes estágios de sedentarismo, de reabilitação, ou de iniciação no esporte para pessoas com deficiência. E, juntamente com essa representação social, ser uma referência no campo esportivo ocasiona o aumento das exigências e cobranças sofridas pelos atletas paralímpicos. Bodas, Lázaro e Fernandes (2007) reconhecem que o esporte para pessoas com deficiência tem registado uma evolução acentuada no plano puramente esportivo que, por sua vez, desencadeia maiores exigências no plano da preparação dos atletas.

Salienta-se que as representações sociais identificadas neste estudo não podem ser generalizadas. As representações sociais não são as mesmas para todos, pois dependem do conhecimento de senso comum e do contexto sociocultural. Há diferentes tipos de deficiência, cada qual com suas particularidades. As experiências de vida dos indivíduos influenciam nas representações sociais, bem como também são influenciados pelas representações sociais. Outras limitações ocorreram por não contemplar atletas paralímpicos com deficiência intelectual e em razão dos documentos orais serem oriundos de atletas paralímpicos medalhistas podem ter influenciado nos resultados obtidos.

Sendo assim, sugere-se dar continuidade aos estudos que busquem compreender as representações sociais dos atletas com deficiência. Também se recomenda localizar documentos e fontes orais de atletas que participaram da primeira edição de Jogos Paralímpicos, em 1972, até a edição mais recente que seria em 2020. Sugerem-se pesquisas que incluam atletas paralímpicos com deficiência intelectual e outros personagens sociais como treinadores e gestores pertencentes ao universo paralímpico brasileiro. Pesquisas desenvolvidas a partir de fontes orais e imagéticas também auxiliarão a reunir conhecimentos sobre o esporte paralímpico no Brasil.

CONCLUSÕES

A fim de compreender as representações sociais de atletas com deficiência sobre o esporte paralímpico brasileiro, este estudo se detém a olhar de forma atenta para as representações sociais de atletas com deficiência física e visual disponíveis em documentos orais. Foram achadas pistas para entender o esporte paralímpico brasileiro que, sem dúvidas, tem se desenvolvido de forma expressiva no país, mas apresenta contradições a respeito do financiamento e reconhecimento social e esportivo dos atletas com deficiência.

Dentre os achados deste estudo, as principais representações sociais partilhadas pelos atletas e/ou particulares aos indivíduos; relacionaram-se com o financiamento esportivo e com o reconhecimento social e esportivo. Essas representações sociais abarcaram questões vinculadas ao profissionalismo ou amadorismo esportivo, a depender das formas de remuneração como bolsas, patrocínios e premiações. No reconhecimento social e esportivo, destacaram-se o reconhecimento que os atletas paralímpicos brasileiros recebem por parte da sociedade, da mídia e dos pares com deficiência parecem implicar no sentimento de (in)satisfação pessoal e/ou esportiva.

Especificamente, no âmbito das modalidades paralímpicas, parece existir aquelas que conferem maior visibilidade e reconhecimentos aos atletas paralímpicos brasileiros. Aquelas modalidades que possuem mais provas e classes, como é o caso de para atletismo e para natação, possibilitam a conquista de vitórias e medalhas. E essas conquistas geram maior interesse da mídia, do público, da sociedade e possibilitam a aquisição de bolsas e patrocínios. O sentimento de satisfação ou insatisfação possui relação com o quanto os atletas são reconhecidos socialmente ou até mesmo em seu grupo de pertença pelo papel que desempenham no esporte.

Já o incentivo financeiro por meio de bolsas (nacional, internacional, entre outras) conferem diferentes representações sociais. Além das bolsas, aqueles que possuem patrocinadores estão em posição de distinção e com condições mais favoráveis ao seu desenvolvimento no esporte. Além disso, aqueles que residem na mesma cidade em que treinam, também podem ter percepções diferentes daqueles que enfrentam o tempo e os custos de deslocamento até seu local de treino. Por exemplo, atletas que treinam no Centro de Treinamento Paralímpico, talvez, constroem representações sociais diferentes daqueles que residem em sua cidade natal e não dispõem da mesma estrutura e equipe profissional em seus treinos. Isto é comum mesmo para atletas de seleção das modalidades. Esses exemplos mencionados permitem indicar que as representações sociais evidenciadas têm relação com a realidade social de cada atleta e, como isto pode influenciar para as políticas e estratégias de órgãos e instituições do esporte.

Cabe salientar também que os resultados da pesquisa permitem entender as representações sociais advindas das percepções de 12 atletas paralímpicos. Nesta perspectiva, a maioria parecia não dispor de condições favoráveis como as que alguns atletas paralímpicos possuem hoje em dia. O esporte paralímpico no país passou por um amplo desenvolvimento e os participantes desta pesquisa contribuíram para tal, uma vez que representaram o país e conquistaram medalhas importantes, garantindo maiores investimentos para esta esfera esportiva como um todo. A conquista do Centro de Treinamento Paralímpico modificou, em certa medida, as condições de treino para alguns atletas paralímpicos. Mas, nos contextos locais - cidades, estados - a realidade social dos atletas paralímpicos provavelmente permanece influenciada pelas representações sociais evidenciadas neste estudo.

Para concluir, essa pesquisa poderá auxiliar gestores no desenvolvimento de políticas que visem a promoção e o incentivo à prática esportiva para pessoas com deficiência. Espera-se que, assim, as políticas venham a ser ainda mais eficientes e coerentes com a realidade percebida pelos atletas paralímpicos. Com especial atenção, recomenda-se um olhar atento acerca de questões relativas a carreira profissional e financiamento esportivo, bem como acerca da profissionalização das modalidades paralímpicas, ao desempenho esportivo, ao reconhecimento social, midiático e esportivo, a (in)satisfação pessoal e esportiva.

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1 Participam de Jogos Paralímpicos atletas com deficiência física, visual ou intelectual A participação de atletas com deficiência intelectual ocorreu nas edições de Jogos Paralímpicos de 1996, 2000, 2012 e 2016.

2 O “Observatório do Esporte Paralímpico Brasileiro” trata-se de uma plataforma virtual que disponibiliza acervo público de informações sobre o esporte paralímpico, o qual é composto por documentários, reportagens, imagens e entrevistas com atletas, dirigentes esportivos e treinadores de esportes paralímpicos brasileiros. O conteúdo pode ser acessado na íntegra no seguinte sítio eletrônico: https://www.ufrgs.br/nehmeparalimpico.

3 A esgrima em cadeira de rodas e o tiro esportivo não estão mais sob administração do CPB. Atualmente é administrada pela Confederação Brasileira de Esgrima e Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, respectivamente.

4 Fonte original: Bailey, S. (2008). Athlete first: a history of the paralympic movement. West Sussex: John Wiley & Sons.

Financiamento: nada a declarar.

Recebido: 21 de Agosto de 2020; Aceito: 04 de Março de 2021

*Autor correspondente: Rua Osni João Vieira, 620, Campinas - CEP: 88.101-270 - São José (SC), Brasil. E-mail: beatriz_bds@hotmail.com

Conflito de interesses: nada a declarar.

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