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Motricidade

Print version ISSN 1646-107XOn-line version ISSN 2182-2972

Motri. vol.18 no.4 Ribeira de Pena Dec. 2022  Epub Dec 31, 2022

https://doi.org/10.6063/motricidade.24663 

ARTIGO ORIGINAL

A crise do basquetebol brasileiro (1989-2008): uma análise do discurso de presidentes da confederação e treinadores da seleção nacional

The Brazilian basketball crisis (1989-2008): an analysis of the interviews of the confederation presidents and national team coaches

1Universidade Estadual de Campinas – Campinas (SP), Brasil.

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre (RS), Brasil.


RESUMO

Este trabalho tem como objetivo construir um panorama da organização do basquete brasileiro entre 1989 e 2008, a fim de compreender os elementos que influenciaram a crise da modalidade culminando na perda de público, patrocinadores e no fraco desempenho das seleções nacionais. Esse panorama foi construído por meio da Análise Crítica do discurso da cobertura dos presidentes da Confederação Brasileira de Basquete e dos técnicos da Seleção Brasileira adulta (feminina e masculina), publicada nos jornais do período. É possível concluir que a crise da modalidade é resultado da incapacidade de se definir um projeto de longo prazo e das disputas políticas envolvendo a gestão dos campeonatos nacionais.

PALAVRAS-CHAVE: basquetebol; Brasil; análise crítica do discurso; história do esporte; gestão esportiva

ABSTRACT

This work aims to build a panorama of the organization of Brazilian basketball between 1989 and 2008 in order to understand the elements that influenced the crisis of the sport culminating in the loss of the public, sponsors and the poor results of the national teams. This overview was constructed through the Critical Discourse Analysis of the coverage of the presidents of the Brazilian Basketball Confederation and of the coaches of the Brazilian adult team (women’s and men’s), published in the newspapers of the period. It is possible to conclude that the transformations in Brazilian sport allied with internal management problems contribute to the poor results of the national team and the disorganization of the national championship.

KEYWORDS: basketball; Brazil; critical discourse analysis; sports history; sport management

INTRODUÇÃO

O basquetebol é uma modalidade esportiva que foi introduzida no Brasil no final do século XIX, se tornando muito popular e possuindo hoje mais de 34 milhões de fãs no país. O esporte avultou-se no Brasil entre os anos de 1940 e 1960, período no qual a seleção masculina de basquetebol ganhou três medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de 1948, 1960 e 1964, além de duas Copas do Mundo (1953 e 1959). Décadas depois, a seleção masculina, novamente, teve destaque ao conquistar em 1987 a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos realizados em Indianápolis, nos Estados Unidos, ao vencer a seleção norte-americana na partida final. Tal feito histórico foi comemorado pelo basquetebol brasileiro, pois a partida assinalou a primeira derrota da seleção masculina de basquetebol dos Estados Unidos em casa, assim como a primeira derrota em uma final. A seleção feminina teve uma trajetória similar, mas em um período posterior, atingindo o ápice na década 90 vencendo a Copa do Mundo de Basquetebol em 1994 e conquistou uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1996 e o bronze em 2000.

A despeito das conquistas históricas, o basquetebol brasileiro passou por uma série de problemas nas décadas de 1990 e 2000, perdendo atletas, patrocinadores e público. O enfraquecimento da prática do basquetebol era observado desde o âmbito do esporte juvenil até o adulto. Diniz (2000) relata uma queda acentuada na quantidade de equipes sub-16 jogando competições oficiais no interior do estado de São Paulo, tradicional reduto do basquetebol brasileiro, entre os anos de 1994 e 1998. A pesquisa de Beneli (2007) mostrou que em São Paulo, após um pico de 311 equipes juvenis jogando competições oficiais em 2000, sucedeu o declínio no ano de 2006, quando reduziu para 252 equipes.

A situação caótica do basquetebol no Brasil acabou por refletir no desempenho das seleções adultas. A equipe masculina de basquetebol não se classificou para os Jogos Olímpicos de 2000, 2004 e 2008. A seleção feminina conseguiu se manter competitiva por mais tempo, ainda vivendo do talento de um restrito grupo de atletas, chegando ao fim nas Olímpiadas de 2008 quando venceu apenas um jogo, cenário que se repetiu em nos jogos olímpicos de 2010.

Justamente no ano da realização dos Jogos Olímpicos no Brasil, a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) foi suspensa pela Federação internacional de Basquetebol (FIBA) devido a uma série de infrações, que vão desde a má gestão financeira até o não envio de seleções juvenis para competições internacionais. Devido a sanção imposta pela FIBA, a CBB sofreu uma intervenção, a qual repercutiu, por exemplo, na suspensão da participação das seleções nacionais em competições internacionais de basquetebol até o ano de 2017, retornando somente no ano seguinte. Em meio à crise financeira e política no basquetebol brasileiro, cujos indícios estavam mais aparentes nos anos 2000, notou-se um movimento de reação e renovação das ações conduzidas por entidades esportivas ligadas ao basquetebol no país.

O estabelecimento da Liga Nacional de Basquete (LNB), em 2008, uma entidade independente administrada pelos clubes responsáveis pelo campeonato nacional masculino da modalidade, marcou uma ruptura não apenas no cenário do basquetebol, mas do esporte brasileiro acenando para novas possibilidades de organização de eventos esportivos. No mesmo ano, o campeonato nacional, denominado Novo Basquete Brasil (NBB), teve sua primeira edição. De tal modo, a CBB perdeu o controle do campeonato de basquetebol mais importante e popular, que a partir de então passou a ser administrado integralmente pelos clubes.

O objetivo desta pesquisa é determinar os principais elementos que contribuíram para a crise do basquetebol brasileiro no período. Como método de pesquisa analisamos as entrevistas, em dois periódicos da época, dadas pelos presidentes da confederação e treinadores das seleções masculina e fermina adultas utilizando a Análise Critica do Discurso.

O recorte temporal inicial contempla o período de crise da modalidade esportiva assinalado pela eleição de Brito Cunha, primeiro candidato da oposição a se eleger presidente da CBB e primeiro ex-treinador a assumir o cargo em 1989 em um ambiente de otimismo com as possibilidades da modalidade. Logo, o período final da pesquisa é o ano de 2008, quando estava na presidência da CBB Gerasime Nicolas Bozikis e foi criada a LNB. Nesse ano ocorreu a contratação do primeiro treinador estrangeiro para a seleção brasileira masculina de basquetebol, que ficou de fora de três jogos Olímpicos em sequência, e no caso do feminino ocorreu à campanha ruim nas Olímpiadas de Pequim.

A produção jornalística é um processo nesse sentido ao se comunicar com a imprensa o treinador ou presidente busca impor sua visão dos fatos da mesma maneira que o jornalista interpreta essas informações ao produzir a reportagem, nessa produção ele é influenciado pela linha editorial, pela própria visão de mundo, patrocinadores entre outros. Essa produção jornalistas acaba também por influenciar a atitude dos sujeitos que influencia a própria produção jornalística (Shin et al., 2020). A Análise Crítica do Discurso (ACD) permite interpretar esses conflitos e a partir deles entender como se deu as principais transformações dentro do basquetebol brasileiro no período.

A ACD foi desenvolvida por Norman Fairclough (1995) e se diferencia por realizar uma abordagem interdisciplinar do discurso. Enquanto a análise do discurso tradicional foca no texto, a ACD avança a discussão focando em como questões sociais impactam na construção do discurso e como a análise desse discurso pode trazer informações importantes sobre a sociedade. A ACD é uma metodologia consagrada dentro do campo dos estudos do esporte, se mostrando uma ferramenta muito versátil sendo usada para analisar os mais variados aspectos da prática esportiva (Bimper & Harrison, 2017; Kim, 2018; Yoon & Wilson, 2016), como questões organizacionais (Rossi et al., 2009), raciais (Lavelle, 2010) e de gênero (Kavoura, 2018). No presente estudo utilizamos a ACD para compreender como a mídia retratou a crise do basquetebol e a partir da cobertura dos presidentes e dos treinadores delimitar os principais elementos que levaram a perda de popularidade da modalidade.

Reconhecemos que a utilização de análise do discurso para se estudar a história do esporte não é o método mais usual, porém no caso brasileiro essa é uma ferramenta bastante interessante. As instituições esportivas brasileiras são historicamente descuidadas com o seu acervo histórico o que faz com que, mesmo em eventos recentes o material de pesquisa seja escasso. A imprensa, então, em muitos casos se constitui como a única fonte possível de informação. Assim essa pesquisa além de discutir a crise do basquetebol também pretende se apresentar como um método de pesquisa que possa ser utilizado quando o assunto possua poucas fontes históricas (Hollanda & Melo, 2012).

MÉTODOS

O procedimento metodológico utilizado no estudo foi a Análise Crítica do Discurso (ACD). A ACD é uma ferramenta importante para estudar a relação entre mídia e esporte, pois permite uma análise sistemática do texto criando temas de maneira indutiva e delimitando as relações de poder que permeiam o texto e influenciam a sociedade (Hovden & Lippe, 2019). Nesse sentido a ACD Trata de compreender como as mudanças na sociedade se revelam como transformações no discurso; ao mesmo tempo, é possível observar as transformações discursivas como uma indicação de mudanças mais amplas na sociedade (Chiapello & Fairclough, 2002; Chouliaraki & Fairclough, 1999).

A ACD possui uma dupla função de teoria e método auxiliando na coleta de informação e na sua interpretação (Hovden & Lippe, 2019). Nesse sentido é preciso destacar que a linguagem não é neutra, assim como a produção jornalista. Ela não é uma representação fiel da realidade, mas a interpretação do profissional de imprensa de uma determinada situação sendo que no texto estão contidos os conflitos e disputas em torno daquele determinado assunto (Shin et al., 2020). Fairclough (1995) considera que através da análise dos conflitos presentes dentro do texto podemos entender melhor como esses conflitos se apresentam na sociedade.

Nesse sentido este trabalho pretende entender os principais conflitos que levaram à crise do basquetebol brasileiro a partir da cobertura dos presidentes da confederação e dos treinadores das seleções masculinas e feminais adultas. A escolha pelos presidentes e treinadores se deu pelo fato de serem as figuras mais influentes dentro do esporte e terem a cobertura mais ampla da imprensa. A partir da ACD é possível entender como se desenvolveram os principais conflitos no período e como a crise do basquetebol se desenvolveu.

A pesquisa coletou todas as reportagens que citavam os treinadores das seleções brasileiras masculinas e femininas e os presidentes da confederação no período entre 1 de janeiro de 1989 e 31 de dezembro de 2008 publicadas nos jornais A Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. A escolha dos dois veículos se deu pela circulação e localização. No período pesquisado os dois jornais eram os de maior circulação no país, além disso, ambos estão sediados na cidade de São Paulo, capital do estado que concentra o maior número de clubes, atletas e torcedores. Assim consideramos que esses dois veículos tem um interesse maior na modalidade. As matérias foram coletadas no arquivo online dos jornais (https://acervo.estadao.com.br/, https://acervo.folha.com.br/index.do). No total, foram analisados 1052 artigos, os quais tiveram como sujeitos os seguintes personagens do período histórico do basquetebol brasileiro (Anexo 1).

Importante destacar que a ACD é um método eminentemente qualitativo, nesse sentido, dentro do arcabouço teórico proposto não realizamos uma análise estatística das reportagens (Gutierrez et al., 2021). Na ACD os temas são definidos de maneira indutiva, ou seja a partir da análise textual das reportagens (Kim, 2018). A ACD seleciona o tema central de cada texto, ao mesmo tempo em que foca nas nuances e nos conflitos internos presentes dentro dele (Fairclough, 2003; Hovden & Lippe, 2019). Assim, primeiro os autores do texto realizaram uma leitura superficial dos artigos, focando no título e no primeiro parágrafo, selecionando os artigos mais significantes para a pergunta de pesquisa esses artigos foram então lidos de maneira aprofundada, determinando os principais conflitos e disputas do período.

RESULTADOS

A partir da análise quantitativa do volume de reportagens (ver Anexo 1) podemos notar que o Estado de S.Paulo possui mais que o dobro de reportagens da Folha de S. Paulo. O diferencial se deve principalmente a uma maior cobertura do dia a dia das seleções nacionais, resultados escalações, convocações, lesões e etc. A Folha de S. Paulo teve uma cobertura mais distante do dia a dia das seleções, mesmo que noticiando os principais acontecimentos esportivos, preferindo focar nas questões políticas e administrativas da confederação.

A diferença entre as duas linhas editorias pode ser notada na cobertura dos presidentes. Mesmo produzindo no geral mais reportagens o Estado de S. Paulo produziu o mesmo número de reportagens com Brito Cunha (33 cada um) e menos sobre Bozikis (60 contra 138 da Folha de S. Paulo). Bozikis presidiu a confederação durante o período mais crítico da modalidade, tomando decisões controversas e se envolvendo em diversos conflitos, o que explica a maior cobertura da Folha de S. Paulo.

O foco do Estado de São Paulo esteve nas seleções nacionais, como evidenciado na quantidade de reportagens dedicadas aos treinadores. Dentro dessa linha o jornal ia frequentemente além dos aspectos técnicos da modalidade, usando os treinadores para discutir a qualidade geral do esporte no Brasil, a organização do campeonato nacional, entre outros temas. A Folha de São Paulo teve uma abordagem diferente, com menos destaque para as seleções e focando principalmente nos aspectos técnicos e gerenciais, geralmente a partir de falas dos presidentes.

O foco na seleção nacional por parte do Estado de S. Paulo pode ser notado na cobertura de Brito Cunha, com o jornal reproduzindo comentários do presidente sobre o desempenho da seleção nacional. Em alguns casos, após um jogo importante, reproduzindo as considerações do treinador e do presidente como iguais. Por outro lado, no caso da Folha de São Paulo, a cobertura dos presidentes foi, em geral, restrita a aspectos gerenciais.

Como estratégia de pesquisa qualitativa, neste estudo analisamos cada um dos sujeitos individualmente iniciando primeiro com os dois presidentes criando um quadro geral e depois analisando a participação de cada um dos treinadores nas seleções. Porém consideramos que apresentar os dados dessa maneira tornaria a análise confusa, e em alguns casos repetitivas, por isso optamos por apresentar os dados de maneira cronológica.

Brito Cunha foi o primeiro ex-treinador a assumir a CBB (treinou a seleção masculina em 1984, nas Olimpíadas de Los Angeles), bem como o primeiro candidato da oposição a assumir o cargo. Ele esteve à frente da organização por dois mandatos (1989-1992 e 1993-1997). Brito Cunha desde o início era descrito como uma figura polêmica (O Estado de S. Paulo, 1989, p. 21). Ele fez jus às expectativas frequentemente tomando decisões unilateralmente e utilizando a imprensa para criticar seus adversários. Nos primeiros contatos com a imprensa expôs os seus objetivos: a profissionalização do esporte, a criação de um campeonato nacional masculino lucrativo e a busca de novos patrocinadores.

A profissionalização era o discurso da época, Brito Cunha falava da profissionalização definitiva do basquetebol, da criação de um departamento de marketing e da utilização de auditorias externas, um conjunto de objetivos que definiu como o fim da “era romântica” (O Estado de S. Paulo, 1990, p. 19). Essa promessa, no entanto, sua gestão não foi capaz de cumprir, fato reconhecido por Brito Cunha quando declarou, em 1996, que o basquete no Brasil ainda era “de fato profissional, mas de judice amador” (A Folha de S. Paulo, 1996, p. 12).

Apesar desses comentários, na maior parte das suas interações com a imprensa ele preferiu abordar o desempenho das seleções adultas, agindo frequentemente mais como treinador do que como gestor. Durante os oito anos de mandato, quatro treinadores comandaram a seleção masculina, Hélio Rubens, José Medalha, Ênio Vecchi e Ary Vidal, sempre sujeitos ao olhar vigilante do presidente. Brito Cunha defendia que o Brasil tinha uma equipe talentosa, mas que não conseguia bons resultados devido a decisões erradas da comissão técnica. A seleção feminina também contou com quatro treinadores: Antonio Carlos Vendramini, Maria Helena Cardoso, Miguel Ângelo da Luz e Antonio Carlos Barbosa.

Brito Cunha iniciou seu mandato contratando novos treinadores para as duas seleções, Hélio Rubens para a seleção masculina e Antonio Carlos Vendramini para feminina. Vendramini comandou por menos de um ano, demitido sem explicação do presidente, atitude que gerou certo desconforto entre os atletas, e em seu lugar foi contratada Maria Helena Cardoso. Cardoso treinou a equipe por dois anos e foi demitida em uma grande reestruturação proposta por Brito Cunha.

A equipe masculina, aos olhos do presidente, teve um desempenho abaixo do esperado no período; Hélio Rubens foi demitido após a 5ª colocação no Mundial de 1990 e José Medalha após a 5ª colocação nas Olimpíadas de 1992. Brito Cunha decidiu, então, iniciar um processo de modernização e renovação dos plantéis. Ele foi à imprensa e anunciou que a confederação estava unificando o estilo de jogo das seleções, criando o estilo CBB, sem maiores explicações, que seria implantado nas seleções juvenis e adultas. Para concretizar esta visão foram contratados Enio Vecchi, para a seleção masculina, e Miguel Ângelo da Luz, para a feminina. Os treinadores tinham uma formação semelhante: treinaram as seleções de juniores e tinham pouca ou nenhuma experiência nas competições adultas. Brito Cunha afirmou que os jovens treinadores estavam mais bem preparados para unificar as equipes com um conhecimento profundo dos jovens jogadores. A imprensa, entretanto, viu os novos treinadores como fantoches do presidente.

Este projeto durou pouco. Enio Vecchi foi demitido após um desastroso 11º lugar no Mundial. O país corria o risco de não se classificar para os Jogos Olímpicos, torneio mais importante para os patrocinadores. Para chegar à qualificação, Brito Cunha foi obrigado a contratar um antigo desafeto, Ary Vidal, que veio com a garantia de que o presidente não interferiria em suas decisões. Na equipe feminina, a situação era diferente; com uma geração muito talentosa em mãos, da Luz conseguiu vencer a Copa do Mundo de 1994 e a medalha de prata nas Olimpíadas de 1996, mas renunciou por desentendimentos com os atletas e a confederação.

Brito Cunha, quando abordou questões administrativas em suas entrevistas, apresentou principalmente questões financeiras da modalidade, focando na busca por patrocinadores e a construção de um campeonato brasileiro masculino viável e competitivo (Nunes, 1990, p. 45). Apesar de não discutir esses assuntos, o presidente costumava se mostra satisfeito com o sucesso nessas áreas. Um aspecto significativo é que essas alegações não foram contestadas pelos dois veículos, que optaram apenas por divulgar os comentários do presidente sem maiores investigações.

Um dos objetivos de sua administração era criar um campeonato nacional masculino estável e lucrativo. Essa meta foi atingida, na opinião do presidente, no campeonato nacional de 1995, com 12 times jogando 22 partidas por temporada (em casa e fora), sempre às sextas e domingos “Em 1994 deixei a organização do campeonato com os clubes e foi um fracasso… este ano temos uma proposta de marketing da qual não vou abdicar” (O Estado de S. Paulo, 1995, p. 30). A busca por patrocinadores também foi um sucesso. Em 1995, a confederação contratou a Sportlink, importante empresa de marketing, que conseguiu diversos patrocinadores, entre eles o patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, um banco público e um dos cinco maiores do país.

O estilo de gestão centralizado do presidente, no entanto gerou conflitos e, depois de se reeleger facilmente em 1992, a oposição formou uma coalizão poderosa para a eleição de 1997, uma aliança entre as confederações de São Paulo e do Rio de Janeiro e as representantes do basquetebol feminino. O novo campeonato nacional brasileiro, com 12 seleções, desagradava essas federações que queriam ter uma participação maior. A decisão de Brito Cunha de fazer as classificatórias para o campeonato nacional fora das competições estaduais também desagradou aos dirigentes, que achavam que isso fragilizava as competições regionais (O Estado de S. Paulo, 1997, p. 28). Tradicionalmente, no esporte brasileiro, o campeonato estadual funcionava como classificatório para o campeonato nacional, com cada estado recebendo vagas de acordo com seu tamanho e poder político.

O apoio do basquetebol feminino foi um fator político importante. Os bons resultados em competições internacionais conferiram uma força inédita a esse segmento, que foi responsável pela maior parte dos patrocínios e tempo de televisão do basquetebol brasileiro no período. O Brasil tinha algumas das melhores jogadoras do mundo, mas o esporte ainda não era nacional, com o estado de São Paulo concentrando a maioria dos times profissionais. Nacionalmente, a única competição era a Taça Brasil, considerada pouco atrativa e de baixa qualidade técnica. Com a popularidade em alta, o basquetebol feminino passou a exigir uma competição nacional no mesmo modelo do masculino, mas Brito Cunha afirmou que não havia viabilidade financeira para uma competição desse porte.

A oposição lançou a candidatura de Gerasime Nicolas Bozikis popularmente conhecido como “O Grego”, presidente da Federação do Rio de Janeiro. A presidência da CBB é escolhida pelo voto das federações estaduais, 26 na época, com maioria simples necessária para a vitória. A oposição rapidamente afirmou que tinha votos suficientes para vencer Brito Cunha e todos os indícios apontavam para uma vitória fácil.

Brito Cunha e seus aliados, diante da derrota certa, traçaram uma estratégia para vencer a eleição. Primeiro, eles transferiram a reunião para a cidade de São Luís, no estado do Maranhão, a mais de 3 mil quilômetros da sede da confederação no Rio de Janeiro. O resultado oficial foi de 15 a 11 para Bozikis. Porém o lado perdedor apresentou liminar na Justiça municipal para invalidar os votos de quatro federações pró Bozikis, o que empataria a eleição e daria a vitória a Brito Cunha porque, de acordo com o estatuto, a idade do candidato era o primeiro critério de desempate (A Folha de S. Paulo, 1997, p. 14). A justiça, entretanto, rejeitou as reivindicações cinco dias depois e Bozikis tornou-se oficialmente vitorioso (Felippe, 1997, p. 26). Uma vez no comando, a nova gestão deveria agradar seus principais colaboradores. O campeonato masculino foi ampliado, os campeonatos estaduais se tornaram classificatórios e foi criado um campeonato brasileiro feminino.

No geral, a relação de Bozikis com a imprensa foi bastante diferente da de Brito Cunha. Ele raramente falava sobre aspectos técnicos da seleção nacional ou planos de longo prazo. Suas interações se concentraram em problemas imediatos, principalmente a falta de financiamento e a crescente agitação política dentro da modalidade. O primeiro problema enfrentado pelo presidente foi uma disputa judicial com a Sportlink. A empresa cobrava uma comissão de 20% sobre o valor líquido dos patrocínios da Caixa Econômica Federal e da Globosat (empresa de tv a cabo). A confederação rompeu unilateralmente esse acordo, para contratar outra empresa, a Brunoro Sports, o que resultou em uma longa batalha judicial (Aguiar, 1997, p. 36). A ligação deste episódio com os problemas financeiros da confederação não esteve presente nos meios de comunicação, mas em 2001 a Caixa decidiu não renovar o patrocínio, optando por investir na Confederação de Atletismo, e Bozikis atribuiu isso a uma decisão interna do banco.

A organização de um campeonato brasileiro de basquete feminino foi uma tarefa mais complicada do que inicialmente se esperava. A primeira edição, disputada em 1998, teve oito times, quatro de São Paulo e quatro de outros estados. Devido à baixa qualidade técnica fora do estado, três times jogaram com atletas emprestadas de times de São Paulo. A nova competição foi desastrosa, o cronograma ampliado entrou em conflito com a seleção nacional, que tinha menos tempo para treinar e recebia atletas desgastadas devido a maratona de jogos. A falta de viabilidade financeira e as várias tentativas de remodelação do calendário contribuíram para o êxodo de atletas para a Europa e EUA. Doze anos após a conquista da prata olímpica, o basquetebol feminino se encontrava em decadência, vivendo uma crise econômica e técnica, conforme afirmou o então técnico nacional Paulo Bassul: “Há dez anos tínhamos todos os atletas brasileiros e alguns estrangeiros de grande qualidade no campeonato nacional. O êxodo é econômico se tivéssemos investimento eles retornariam” (Felippe, 2008, p. 187).

A situação do campeonato masculino era semelhante. A organização não conseguiu criar um campeonato brasileiro estável, entrando em conflito com os principais clubes. A situação se agravou a ponto de o campeonato de 2006 terminar sem vencedor. A série final, entre Franca e Flamengo, foi cancelada após Brasília entrar com processo na justiça civil alegando o uso de jogadores irregulares pelos adversários e reivindicando um lugar nas finais (O Estado de S. Paulo, 2006, p. 87). A confederação não foi capaz de resolver essa disputa e o campeonato terminou sem campeão, o que contribuiu para afastar torcedores e patrocinadores.

A situação da seleção nacional também era difícil. Bozikis, ao se eleger, demitiu Ary Vidal, treinador bastante popular que havia conquistado bons resultados em competições internacionais, mas era considerado um aliado da administração Brito Cunha. A CBB decidiu, então, iniciar um projeto de longo prazo e contratou Hélio Rubens. A ideia era manter o novo treinador até 2004, cobrindo dois ciclos olímpicos, Sydney e Atenas. À semelhança de Ênio Vecchi, na antiga administração, o objetivo era renovar a equipe e criar um estilo unificado do adulto ao juvenil. Esse projeto, porém, não foi concluído. Hélio Rubens não conseguiu qualificar a equipe para as Olimpíadas de 2000, sendo demitido em seguida, substituído por Aloísio Ferreira, que vinha com a tarefa de formar uma nova geração e classificar o time para os jogos de Atenas, em 2004. A seleção acabou por não se classificar novamente, e o treinador, contudo, foi mantido no cargo. A partir de 2004 houve uma mudança no perfil da cobertura da seleção brasileira, adotando uma postura mais otimista. No Estado de S. Paulo essa postura foi mais evidente. Apesar dos problemas internos, o Brasil tinha um grupo de jogadores talentosos na NBA, e ”O consenso é que esta é a geração mais talentosa desde Oscar e Marcel” (Fernandez, 2007, p. 85). A cobertura, então, focou na dificuldade de se ter todos os atletas saudáveis e à disposição da seleção nacional. A Folha de S. Paulo adotou um tom mais cauteloso, passou a destacar a atuação dos atletas no exterior, embora tenha continuado a discutir os diversos problemas do basquetebol nacional.

O Brasil conseguiu ter todas as suas estrelas no torneio FIBA Américas 2007, mas não conseguiu chegar à final. Correndo o risco de perder a terceira Olimpíada seguida, a confederação contratou um técnico estrangeiro, o espanhol Moncho Monsalve. Porém, a seleção foi desprezada pelos jogadores internacionais, para consternação do presidente, que declarou ao Estado de São Paulo, em 2008: “Não tenho dúvidas de que todos sabem da importância de se jogar pela seleção. Nenhum jogador saiu do clube para ganhar dinheiro na Europa ou nos Estados Unidos. Todos eles só recebem atenção por causa da seleção nacional” (Romanelli, 2008b, p. 202). Sem as principais estrelas, a equipe não conseguiu se classificar para os terceiros Jogos Olímpicos consecutivos, expondo a terrível situação do esporte, como apresentada pelo Estado de São Paulo, em 2008: “Era uma vez um basquete campeão” (Romanelli, 2008a, p. 106).

O time feminino teve uma trajetória semelhante, porém posterior ao masculino. O grupo talentoso de jogadoras, atuando em sua maioria no exterior, continuou tendo bons resultados nas competições internacionais. Bozikis manteve o técnico Antonio Carlos Barbosa até 2007, quando ocorreu uma transição pacífica com seu auxiliar Paulo Bassul, que assumiu o cargo. A crise só foi notada pelos jornais em 2008, quando a equipe não conseguiu se classificar para a segunda fase das Olimpíadas de Pequim, deixando claro que não seria possível manter a qualidade técnica do time.

Diante da situação caótica do basquetebol nacional, os clubes começaram a se organizar fora da CBB. A primeira vez que os meios de comunicação discutiram essas iniciativas foi em março de 2005, com o lançamento da Nossa Liga Basquete (NLB), uma associação de 30 clubes organizada por Oscar, maior estrela do basquete brasileiro, que propôs um campeonato nacional fora da confederação. O principal objetivo da oposição era ter mais controle sobre o dinheiro do patrocínio. É importante destacar que, embora essa disputa política tenha sido determinante para a organização do basquetebol nacional, ela foi discutida de maneira diferente pelos dois veículos. Enquanto o Estado de São Paulo continuou focando na seleção nacional, a Folha de São Paulo optou por cobrir extensamente a batalha jurídica que se desenvolvia.

A NLB enfrentou uma resposta irada de Bozikis, que afirmou que “É ruim para o basquete; essa possibilidade não existe em minha mente, enquanto eu estiver no comando, isso não acontecerá” (Rangel, 2005, p. D4). Mesmo assim, a NLB conseguiu organizar um campeonato em 2006. No entanto, a liga durou pouco. Desentendimentos internos e a ameaça da CBB de excluir os times de todas as competições da CBB, incluindo os torneios juvenis, desmantelaram a NLB. Alguns dos clubes rebeldes, na mesma temporada, tentaram disputar o campeonato nacional da confederação, o que foi negado pela CBB. As equipes então acionaram a justiça civil, ganhando o direito de participar da competição. Quando o veredicto foi dado, o campeonato já havia começado, com os clubes rebeldes entrando no decorrer da competição e jogando menos partidas. Isso contribuiu para o ambiente já confuso que resultou no campeonato nacional de 2006 terminar sem campeão.

O fim da NLB não contribuiu para pacificar a situação e em 2008 a Federação Paulista de Basquetebol (FPB), que se aliou aos rebeldes, ajudou a organizar mais um campeonato rival, a Supercopa. Disputado apenas por times do estado, que não disputavam o campeonato nacional, resultou em um torneio sem alguns dos times mais populares e tradicionais do país. A situação só se normalizou no final de 2008, com a criação da LNB, presidida por Kouros Monadjemi, presidente do Minas Tênis Clube e amigo pessoal de Bozikis. Essa liga foi aceita pela confederação, com a primeira temporada da nova competição nomeada Novo Basquete Brasil sendo disputada no ano seguinte. O motivo do sucesso dessa liga e do fracasso das demais foi atribuído a disputas internas, mas segundo a Folha de São Paulo, o principal motivo é que as lutas políticas estavam dando mau exemplo para as demais confederações, que temiam que alguns de seus membros seguissem o exemplo do basquetebol (Leister Filho, 2008, p. D4).

DISCUSSÃO

A cobertura de ambos os meios de comunicação foi semelhante em conteúdo e na linha editorial. Os jornais relataram questões semelhantes, o que significa que não havia conflitos considerados fundamentais em um veículo e não no outro. A abordagem também foi semelhante com o tom otimista do início do período gradualmente sendo substituído por previsões mais pessimistas. No entanto, algumas diferenças existem e são importantes para serem discutidas.

O sucesso de uma modalidade esportiva está relacionado a uma série de fatores internos e externos, englobando os mais diversos aspectos da prática esportiva como a estrutura organizacional, a formação de treinadores, a diversidade genética da população, entre outros (De Bosscher et al., 2016). Nos últimos anos uma série de trabalhos tem discutido a estrutura esportiva nacional e de modalidades específicas, buscando entender os fatores que levam determinados países a terem mais sucesso que outros. Nesse sentido existe um debate entre os que entendem que existe um modelo fixo, que pode ser aplicado em todas as situações, e os que veem a influência de fatores culturais, que inviabilizam a criação de um modelo unificado (Sotiriadou et al., 2014). No caso brasileiro é possível destacar a complexidade das estruturas esportivas envolvendo governo federal, estados, municípios, federações e confederação com o esporte sendo praticado em clubes, escolas, organizações não governamentais e associações de bairro (Meira et al., 2012).

Apesar das diferentes análises, é possível destacar a importância de dois elementos para o sucesso das modalidades esportivas: o financiamento e a estrutura de políticas para o esporte (De Bosscher et al., 2016; Meira et al., 2012; Sotiriadou et al., 2014). A maior parte dos trabalhos discutindo essa temática aborda os casos de sucesso, buscando entender os elementos que melhor contribuem para a o sucesso de determinadas modalidades. Este artigo, contudo, realiza o caminho inverso, apontando os elementos que contribuíram para a crise de uma modalidade, com piora no desempenho das seleções nacionais, a desorganização das competições nacionais e a alienação do púbico.

Assim, analisando as entrevistas, é possível destacar o predomínio de questões de curto prazo, focadas principalmente no desempenho das seleções nacionais. Nesse ambiente, as derrotas são uma consequência das péssimas condições do esporte como um todo e as vitórias garantem a estabilidade no longo prazo. Isso pode ser exemplificado pela reportagem publicada pelo Estado de São Paulo em 16 de junho de 1994, quatro dias após a seleção feminina vencer a Copa do Mundo: “O título mundial já está mudando o esporte no Brasil” (O Estado de S. Paulo, 1994, p. 43). Durante todo o período pesquisado, existe uma urgência em melhorar o resultado das seleções nacionais, sempre considerados abaixo do potencial do país. Importante destacar que as seleções masculinas e femininas possuem uma trajetória semelhante, mas uma linha do tempo diferente. No caso do masculino, já no início do período pesquisado existe uma preocupação com o desempenho da equipe, que atinge o ápice em 2008 com a equipe fora da terceira olimpíada seguida. Enquanto o masculino enfrentava problemas, o feminino tinha um desempenho excepcional, vencendo o campeonato mundial em 1994, a prata olímpica em 1996 e o bronze em 2000, o que deu origem a uma série de projetos ambiciosos para a modalidade. Apenas a partir de 2004 a discussão em torno da renovação e da falta de qualidade da nova geração surgiu na imprensa.

A questão que se coloca não é a ausência de projetos de longo prazo, mas a incapacidade de cumpri-los, devido principalmente a disputas políticas e questões de curto prazo. No caso das seleções nacionais, principalmente a masculina, a confederação anunciou diversas vezes a reestruturação das categorias de base e o início de uma renovação visando melhorar o desempenho do time no longo prazo. A necessidade, porém, de se classificar para a próxima competição acabava por interromper esses projetos, com o foco retornando ao curto prazo.

A CBB era a principal responsável pela gestão das seleções nacionais. Embora as derrotas tivessem um impacto em todo o basquetebol, diminuindo os patrocínios e o interesse pela modalidade, o desempenho da seleção nacional não era o principal foco das disputas políticas. Durante todo o período, a gestão das competições nacionais foi o principal foco de tensão. O campeonato nacional masculino era a mais importante competição de clubes do país sendo a principal fonte de renda para os clubes. A CBB era a responsável pela gestão da competição negociando patrocínios, cotas de televisão, formato, arbitragem, entre outros. As decisões administrativas tinham de levar em conta também os interesses de federações e clubes, que buscavam impor sua agenda dentro da confederação.

A necessidade de acomodar os interesses, muitas vezes conflitantes, dos diversos envolvidos era constante fonte de tensão que acabava por prejudicar o campeonato. As disputas políticas, que em 2006 fizeram a competição terminar sem um vencedor, afastaram público e patrocinadores resultando em um torneio desinteressante e deficitário. A situação culminaria em 2008 com a criação da LNB que retirou da CBB a gestão do campeonato nacional masculino.

O campeonato nacional feminino também foi fonte de conflito. No início do período pesquisado a competição nacional feminina, chamada de Taça Brasil, era um campeonato de curta duração e baixo nível técnico. A principal competição era o campeonato paulista, que mobilizava as principais equipes do país, contando inclusive com atletas internacionais. Os títulos internacionais deram uma importância política sem precedentes para o basquetebol feminino, que passou a pressionar pela criação de um campeonato nacional nos moldes do masculino. A aliança entre as federações do Rio de Janeiro, São Paulo e as lideranças do basquetebol feminino foi a principal responsável pela derrota do então presidente Brito Cunha e a vitória de Bozikis. O campeonato nacional feminino foi criado em 1998, porém a viabilidade econômica da competição foi superestimada, sendo deficitária desde o início. A principal consequência daquele movimento foi à desorganização das equipes, enfraquecendo as competições regionais e finalmente prejudicando o desempenho da seleção nacional. A instabilidade das competições nacionais aliadas ao desempenho ruim da seleção contribuíram para a queda de arrecadação de clubes, federações e confederações o que por sua vez contribuiu para a instabilidade política e a constante busca por novos projetos, que acabavam não se concretizando.

A principal limitação do artigo está relacionado à utilização de fontes secundarias, jornalísticas no caso. Sendo influenciada pela posição política e linha editorial dos veículos transmitindo uma visão que pode não ser exata, mesmo que a ACD leve isso em conta na análise. Para um melhor entendimento do basquetebol no período é importante à realização, no futuro, de pesquisas utilizando fontes primárias, documentos da época, e também com a realização de entrevistas com os principais envolvidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo discutiu as transformações do basquetebol brasileiro entre 1989 e 2008 com foco na gestão da confederação e no desempenho das seleções adultas buscando entender os elementos que levaram a crise da modalidade. Analisando a cobertura dos presidentes de confederações e treinadores das equipes adultas em dois jornais do período, utilizando a Análise Crítica do Discurso.

A cobertura começa em tom positivo, com Brito Cunha buscando modernizar a modalidade em um momento que basquetebol tinha várias possibilidades. A CBB, entretanto, não foi capaz de implementar esses projetos. Apesar da retórica, o foco da confederação no período foi nos resultados de curto prazo das equipes adultas, principalmente a masculina. O fraco desempenho das seleções nacionais resultou em constantes trocas de treinador que aumentaram a instabilidade e prejudicaram os resultados.

Institucionalmente, a situação foi semelhante. As disputas políticas contribuíram para a instabilidade da modalidade como um todo, refletindo principalmente nas competições nacionais. A confederação não foi capaz de encontrar novos patrocinadores e criar um campeonato nacional viável e interessante, que resultou em constante conflito com os clubes masculinos, resultando na criação da LNB em 2008, que tirou da CBB o controle do campeonato nacional masculino da modalidade. No caso do feminino a confederação não foi capaz de viabilizar um campeonato nacional, prejudicando clubes e a própria seleção.

Podemos destacar a partir da analise dos dados que o esporte brasileiro passou por grandes transformações no período, principalmente relacionadas com a modernização da gestão esportiva e novas fontes de financiamento. A crise do basquetebol brasileiro no período investigado está relacionada então com a incapacidade da confederação de se adaptar a esse novo cenário, internamente as disputas políticas e o planejamento mal executado, com a incapacidade de se estabelecer objetivos de longo prazo, desorganizaram a modalidade levando à perda de receitas e praticantes. Externamente as seleções nacionais deixaram de ser competitivas, resultado do mal planejamento e mudanças na forma de jogo, contribuindo para afastar mais o público agravando os problemas internos.

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Financiamento: nada a declarar.

Anexo 1.

Presidentes da CBB e treinadores das seleções brasileiras de basquetebol foco das matérias dos jornais analisados 

Sujeito Folha de São Paulo (n= 357) Estado de São Paulo (n= 807) Total (n= 1.164) Cargo
Brito Cunha 33 33 66 Presidente
Bozikis 138 60 198 Presidente
Hélio Rubens 18 40 58 Treinador Masculino
José Medalha 14 24 38 Treinador Masculino
Ênio Vecchi 3 35 38 Treinador Masculino
Ary Vidal 14 73 87 Treinador Masculino
Hélio Rubens 23 250 273 Treinador Masculino
Aloísio Ferreira 9 75 84 Treinador Masculino
Moncho 24 14 38 Treinador Masculino
Vendramini 3 4 7 Treinador Feminino
Maria Helena Cardoso 9 40 49 Treinador Feminino
Miguel Ângelo da Luz 9 48 57 Treinador Feminino
Antônio Carlos Barbosa 19 92 111 Treinador Feminino
Paulo Bassul 41 19 60 Treinador Feminino

Recebido: 24 de Maio de 2021; Aceito: 10 de Fevereiro de 2022

*Autor correspondente: Alameda Alemanha, 170, Granja Vianna – CEP: 06355-465 – Carapicuiba (SP), Brasil. E-mail: diegomonteirogutierrez@gmail.com

Conflito de interesses: nada a declarar.

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