INTRODUÇÃO
O desenvolvimento e crescimento do turismo tem levado ao aumento da prática dos Desportos de Natureza (Cordell, Betz & Green, 2008; Cordell, Green & Betz, 2002; Lamprecht, Fischer & Stamm, 2014; Mata, Pereira & Carvalhinho, 2022), dotando as atividades associadas de marca registada de estilos de vida modernos e saudáveis em países desenvolvidos (Haegeli & Pröbstl-Haider, 2016). A elevada popularidade, bem como o aumento do número de praticantes e interessados nestas atividades pode ser explicada pelo contacto com a Natureza e as fortes emoções que daí advém, uma vez que este tipo de ambientes, carregados de incertezas e riscos, provocam altos níveis de adrenalina e uma vontade de superação nos diferentes meios, terra, ar e água (Boudreau, Mackenzie & Hodge, 2020; Eigenschenk et al., 2019; Gstaettner, Lee, & Rodger, 2018; Gundacker, Rolfe & Rodriguez, 2017; Kortenkamp, Moore, Sheridan & Ahrens, 2017; Mata & Carvalhinho, 2020; Mata, Pereira & Carvalhinho, 2022).
As atividades de Desportos de Natureza têm um conjunto particular de características e fontes de risco que são geralmente óbvias, dependendo as consequências destas atividades do autoconhecimento do praticante, das suas habilidades técnicas e das suas capacidades físicas e psicológicas, que devem ser usadas para mitigar o risco (Clinch & Filimonau, 2017; Haegeli & Pröbstl-Haider, 2016). Porém, o risco é conhecido pelo seu duplo significado: por um lado existe o risco de acidentes que são inerentes à variabilidade do meio e à confiabilidade humana, por outro o risco funciona como estímulo e fonte de emoções fortes para os indivíduos envolvidos ou atraídos pelos desportos de natureza (Mata & Carvalhinho, 2020; Mata et al., 2022). Segundo Haegeli e Pröbstl-Haider, (2016), os benefícios associados ao risco podem ser enormes ao nível pessoal e social.
Para que as atividades de Desporto de Natureza possam garantir uma experiência enriquecedora e de qualidade aos praticantes, torna-se necessário dotar os técnicos de Desporto de Natureza de instrumentos de avaliação a serem utilizados para preservar a segurança e viabilizar a gestão do risco (Martha, Sanchez & Gomà-i-Freixanet, 2009; Silva, 2016; Wang, Liu-Lastres, Ritchie & Pan, 2019).
Gestão do risco
O risco pode ser definido pela incerteza de uma atividade e a severidade das respetivas consequências (Aven, 2012; Aven & Vinnem, 2005). De acordo com a norma da International Organization for Standardization (ISO) 31000:2018 - Risk Management (ISO, 2018), o risco é o “efeito da incerteza sobre os objetivos”, consistindo o efeito em um desvio positivo ou negativo do que é esperado. A incerteza, no contexto da gestão e análise do risco, representa um estado de falta de informação que leva a uma compreensão inadequada ou conhecimento incompleto de probabilidade (frequência) e consequência (gravidade) de um evento (Webster, 2015). A ISO 31000:2018 ajuda as organizações a desenvolverem uma estratégia de gestão do risco para a identificação e mitigação eficaz dos riscos de uma atividade e assim potenciar a probabilidade da consecução dos seus objetivos e aumentar a proteção dos seus ativos. O seu objetivo abrangente é o desenvolvimento de uma cultura de gestão do risco, onde os colaboradores e as partes interessadas tomem consciência da importância da monitorização e gestão do risco.
Deste modo, as empresas e técnicos de desporto natureza devem seguir as recomendações das normas ISO 31000:2018, que inclui um processo de gestão do risco apoiada pela ISO/IEC 31010 (ISO, 2019) que fornece orientação sobre a seleção e aplicação de técnicas sistemáticas para o procedimento de avaliação de risco.
Avaliação do risco
A International Electrotechnical Commission (IEC) ISO/IEC 31010:2019 – Risk management – Risk assessment technique (ISO, 2019) funciona como um complemento à ISO 31000, apresentando orientações para a aplicação de técnicas e ferramentas de avaliação, tornando possível a tomada de decisão baseada em evidência e análise do risco.
Em particular, convém que aqueles que realizam processos de avaliações de risco tenham em conta: i) o contexto e os objetivos da organização; ii) a extensão e o tipo de riscos que são toleráveis e como tratar os riscos inaceitáveis; iii) como o processo de avaliação de risco se integra nos processos organizacionais; iv) os métodos e técnicas a serem utilizados no processo de avaliação de risco e a sua contribuição para o processo de gestão de risco; v) os recursos disponíveis para realizar o processo de avaliação de risco e vi) como o processo de avaliação de risco será reportado e analisado criticamente.
Ainda, segundo a ISO/IEC 31010:2019 os métodos utilizados na avaliação e análise de risco podem ser qualitativos, semi-quantitativos ou quantitativos. O grau de detalhe requerido dependerá da aplicação em particular, da disponibilidade de dados confiáveis e das necessidades para a tomada de decisão das organizações (Oehmen, Locatelli, Wied, & Willumsen, 2020; Purdy, 2010). Para as atividades ao ar livre, Desporto de Natureza, a análise qualitativa do risco é a mais utilizada (Štanfel & Tutić, 2018).
Checklist como técnica e ferramenta de análise do risco
As checklists de análise de risco normalmente são concebidas baseadas na experiência de fracassos e sucessos passados e, também, em tipologias e taxonomias de risco mais formais que podem ser desenvolvidas para categorizar ou classificar os riscos com base em atributos comuns (Cooper, Grey, Raymond & Walker, 2005). Estas checklists são usadas durante a avaliação de risco de várias formas em acordo com o propósito da análise, seja como auxiliar na compreensão do contexto, na identificação de perigos e riscos, ou no agrupamento dos mesmos. Elas também são utilizadas para uma gestão de risco eficiente, nomeadamente na classificação de controles e tratamentos, na definição de responsabilidades e na comunicação de riscos e perigos.
As classificações de risco isolam uma categoria específica de risco para uma análise mais detalhada ISO/IEC 31010:2019. Segundo Newton e Bristoll (2013), um instrumento com o formato de checklist pode ser utilizado para identificar perigos e riscos ou para avaliar a eficácia de controles, pode ser utilizado em qualquer estágio do ciclo de vida de um produto, processo ou sistema e pode também integrar outras técnicas do processo de avaliação de risco.
Para Popov, Lyon e Hollcroft (2016), as classificações e taxonomias de risco podem ser projetadas em checklists para serem aplicadas ao nível estratégico ou operacional. Quando bem concebidas, as checklists combinam uma ampla gama de conhecimento especializado num sistema de fácil utilização, auxiliando e assegurando que os problemas comuns não são esquecidos, sendo mesmo possível a sua utilização por não especialistas.
Matriz de risco como técnica e ferramenta de análise do risco
Ao longo dos anos, a matriz de risco tem sido usada como uma técnica simples de análise de risco, ajudando frequentemente a determinar o nível de risco e, assim, a tomar decisões sobre as prioridades de ação (Peace, 2017). Segundo a ISO/IEC 31010:2019, a matriz de risco ou probabilidade/consequência é utilizada para classificar os riscos e respetivos tratamentos com base no nível de risco, assim como auxiliar a sua compreensão e comunicação. O formato da matriz e as definições da mensuração do risco dependem do contexto em que a matriz é utilizada, sendo que a escala de probabilidade/consequência pode ter qualquer número de pontos, desde que consiga abranger a faixa a ser avaliada (ISO/IEC 31010:2019). Adicionalmente, de acordo com a sua localização na matriz, scores (probabilidade x consequência) mais baixos devem ser aceitáveis e, em sentido contrário, scores mais altos devem ser intoleráveis. Este tipo de matriz de risco é amplamente utilizada para determinar se um dado risco é, de uma forma geral, aceitável ou não aceitável, conforme a sua localização na matriz. Os níveis de risco atribuídos dependerão também da definição dos intervalos de variação para cada escala de probabilidade/consequência. Por seu lado, o nível de risco pode estar associado a regras decisórias, como o nível de atenção da gestão, ou a escala do tempo onde existe a necessidade de resposta rápida, ou a decisão de como tratar ou não tratar o risco (ISO, 2019).
Peace (2017) concluiu que utilizar uma ferramenta como a matriz de risco, traz inúmeros benefícios para a segurança e gestão do risco como um todo, salientando que uma matriz de risco bem organizada faz com que a equipa técnica consiga definir com facilidade qual deverá ser a prioridade das ações para minimizar os efeitos dos riscos. Por outro lado, também pode permitir uma maior concentração e utilização de recursos dirigidos aos riscos mais elevados e, assim, possibilitar uma estratégia mais direcionada.
Dado o exposto, e considerando que não se encontraram estudos internacionais ou nacionais portugueses que tenham recorrido a este tipo de instrumento com checklist e matriz de risco para avaliação do risco nas modalidades de Desporto de Natureza, torna-se importante e pertinente desenvolver tal instrumento. Assim sendo, este estudo tem como objetivo geral a construção e validação do instrumento de avaliação do risco no Desporto de Natureza – a checklist e matriz de avaliação do risco (CMAR) em desportos de montanha. Especificamente, pretende-se construir e validar um instrumento dirigido às modalidades de montanha como o pedestrianismo, canyoning e escalada, tendo em consideração a realidade portuguesa. Foram assim definidos 3 objetivos específicos:
MÉTODOS
Sendo o propósito do estudo construir e validar um instrumento de avaliação do risco em desportos de montanha, desenvolveu-se uma metodologia de três etapas: i. construção do instrumento, com base numa revisão literária e análise documental focadas no estado da arte e consulta de especialistas, ii. realização da validação do conteúdo, através da técnica Delphi e mediante o consenso entre especialistas (Scarparo et al., 2012; Rowe & Wright, (2011), e iii. realização da validação de construto, mediante a análise da estrutura fatorial do instrumento, efetuada com recurso à análise fatorial exploratória (AFE) (Alves et al., 2019; Almeida et al., 2019; Brandão, Monteiro, Pereira, Coelho, & Quaresma, 2018; Cid et al., 2022; Rodrigues, Cid, Faustino & Monteiro, 2021; Silvino, Trida, Castro & Neri, 2021; Vieira, Ohara & Domenico, 2016).
Participantes
Para a validação de conteúdo recorreu-se a uma amostra constituída por 10 especialistas, entre os 35 e 58 anos de idade (média= 42,30± 7,70) com uma média de 17,00± 6,8 anos de experiência, docentes do ensino superior da área do Desporto de Natureza, segurança e risco. Foram considerados os seguintes critérios de seleção: professores do ensino superior com intervenção nas modalidades pedestrianismo, canyoning e escalada; com mais de 10 anos de experiência no ensino superior em licenciaturas, pós-graduações ou mestrados no âmbito do Desporto de Natureza; e com investigação científica na área.
Para a validação do construto recorreu-se a uma amostra de 548 praticantes e técnicos de pedestrianismo (n= 182) com uma média de 38,20± 9,6 anos de idade e com 11,16± 3,87 anos de experiência, escalada (n= 183) com uma média de 34,51± 6,94 anos de idade e 10,11± 2,73 anos de experiência e canyoning (n= 183) com uma média de 34,68± 6,86 anos de idade e 10,86± 3,39 anos de experiência. Como critérios de inclusão estabeleceu-se o mínimo de 4 anos de experiência na modalidade.
Procedimentos
A recolha dos dados foi efetuada mediante consentimento informado dos técnicos e praticantes envolvidos. Todos os procedimentos adotados foram aprovados pela comissão de ética para a investigação científica nas áreas da saúde humana e do bem-estar da Universidade de Évora (documento nº 20063).
Processo de construção e desenvolvimento do CMAR
Os investigadores recorreram à revisão de literatura (Haegeli, Gunn & Haider, 2012; Mata et al., 2022; Salmon, Williamson, Lenné, Mitsopoulos-Rubens & Rudin-Brown, 2010; Salmon, Goode, Lenné, Finch, & Cassell, 2014) e à análise documental da norma ISO 31000/2018, que inclui um processo de avaliação do risco, mais concretamente apoiado pela ISO/IEC 31010 que fornece orientação sobre a seleção e aplicação de técnicas sistemáticas para o processo de avaliação de riscos (risk assessment). Tendo em conta o contexto das modalidades de Desporto de Natureza, selecionaram-se as técnicas checklist (Cooper et al., 2005; Dziadosz & Rejment, 2015; Vinnem et al., 2003) e matriz de risco (Aven & Vinnem, 2005; Chapman & Ward, 2003; Cox Jr., 2008; Haegeli et al., 2012) como estrutura e métodos de avaliação. Com a colaboração de dois especialistas elaborou-se a 1ª versão do instrumento CMAR.
Validação de conteúdo
A confiabilidade de consistência interna do CMAR foi determinada mediante a análise da homogeneidade das respostas de avaliadores distintos. Neste sentido, iniciou-se o processo de validação de conteúdo da primeira versão do CMAR utilizando a técnica Delphi (Scarparo et al., 2012; Rowe & Wright, 2011); procurando o consenso de opiniões entre um grupo de especialistas, com base em validações articuladas em rondas, sem que houvesse uma comunicação direta e onde os especialistas expressassem as suas opiniões de forma individual e independente, tendo apenas acesso às opiniões de outros especialistas à medida que o processo avançava (Amaya, Paixão, Sarquis & Cruz, 2016; Brandão et al., 2018; Vieira et al., 2016).
A comunicação entre investigadores e especialistas realizou-se através de email, com o envio do convite para participação e um link (Google Forms) com o consentimento informado e a identificação da equipa de investigação. Posteriormente, foi enviado o guião explicativo para a avaliação do instrumento. Todos os documentos e respostas dos especialistas foram armazenados no Google Docs® devidamente protegidos.
A primeira ronda da técnica Delphi decorreu de 21 de junho 2021 a 22 de julho 2021. Durante a 1ª ronda, os 10 especialistas avaliaram 51 itens do CMAR quanto à sua pertinência, clareza e objetividade, com recurso a uma escala do tipo likert, em que 1= discordo totalmente, 2= discordo, 3= concordo e 4= concordo totalmente (Amaya et al., 2016). Com o objetivo de melhorar o conteúdo do instrumento, colocou-se, no final de cada item, um campo para os especialistas contribuírem com comentários ou sugestões. Os dados recolhidos referentes a cada item do CMAR nesta primeira ronda foram analisados.
Validação do construto
No sentido de verificar a estrutura fatorial do instrumento, utilizou-se a análise fatorial exploratória para agrupar as variáveis (itens do CMAR) em fatores. Esta técnica permite a redução de dados, identificando as variáveis mais representativas ou criando um novo conjunto de variáveis, menor que o original (Hair, Black, Babin, Anderson & Tatham, 2019; Marôco, 2021).
Para a recolha de dados, e depois de obtido o consentimento dos participantes e explicados os objetivos e procedimentos de recolha, efetuou-se a entrega da 1ª versão do instrumento CMAR, sendo que o seu preenchimento teve em conta uma atividade com condições ótimas. O tempo médio de preenchimento dos participantes foi de aproximadamente 5 minutos.
Análise estatística
Para analisar a taxa de concordância entre especialistas avaliadores, recorreu-se ao Coeficiente de Correlação Intraclasse, selecionando-se o modelo de duas vias efeitos mistos, com o tipo média de k avaliadores com definição de consistência (Koo & Li, 2016) considerando os valores: 0,5= pobres, 0,5 a 0,75= moderados, 0,75 a 0,9= bons e valores maiores que 0,9= excelentes. Os comentários e sugestões dos especialistas foram considerados.
Com os dados recolhidos, realizou-se uma AFE que avaliou a matriz das correlações, conforme recomendado por alguns autores, como Cid et al. (2022), Hair, Black, Babin e Anderson (2014), Hair et al. (2019), Kline (2011), e Worthington e Whittaker (2006) e com a extração dos fatores pelo método das componentes principais, seguida de uma rotação Varimax. Os fatores comuns retidos foram aqueles que apresentaram um eigenvalue superior a 1, em consonância com o scree plot e a percentagem de variância retida. Este método seguiu as recomendações de Marôco (2021), pois, segundo o autor, a utilização de um único critério pode levar à retenção de mais/menos fatores que aqueles relevantes para descrever a estrutura latente.
Para avaliar o ajustamento do modelo AFE utilizou-se o teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO≥ ,08 p≤ ,01), combinado com o teste de Bartlett, para verificar a esfericidade e o grau de adequação do mesmo; pesos fatoriais a partir de 0,50 — critério recomendado (Marôco, 2021). Considerou-se uma razão mínima de 10:1, n= 548 (Hair et al., 2019). A qualidade do modelo de ajuste foi avaliada segundo os índices do erro quadrático de aproximação RMSEA (Marôco, 2021; Xia & Yang, 2019).
RESULTADOS
A 1ª versão da checklist do instrumento CMAR foi estruturada em 3 dimensões: i. dimensão humana (praticantes e técnicos), ii. dimensão de materiais e equipamentos, iii. dimensão meio ambiente. Cada dimensão comportou vários itens que correspondem a categorias — fatores de risco, num total de 51, conforme as Tabelas 1, 2 e 3.
Tabela 1 Dimensão humana: categorias — fatores de risco.
Categorias - Fatores de Risco | |||
---|---|---|---|
Humana | Técnicos | HT1 | Nível de experiência na modalidade |
HT2 | Competências de resgate e socorrismo | ||
HT3 | Nível de formação e qualificação | ||
HT4 | Idade | ||
HT5 | Informações dos procedimentos de segurança aos praticantes | ||
HT6 | Rácio técnico dos praticantes | ||
HT7 | Utilização de procedimentos de segurança | ||
HT8 | Capacidade de liderança e tomada de decisão | ||
HT9 | Competências de planeamento e gestão | ||
HT10 | Conhecimento dos locais de prática e dos seus perigos | ||
HT11 | Adoção de boas práticas | ||
HT12 | Competências de intervenção pedagógica e profissional | ||
HT13 | Condição física | ||
Praticantes | HP1 | Vestuário e calçado adequado | |
HP2 | Relacionamento interpessoal | ||
HP3 | Idade | ||
HP4 | Nível de experiência na modalidade | ||
HP5 | Conduta de procedimentos de segurança | ||
HP6 | Condição física | ||
HP7 | Condição psicológica (autoconfiança e autodeterminação) |
Tabela 2 Dimensão materiais e equipamentos: categorias — fatores de risco.
Categorias - Fatores de Risco | ||
---|---|---|
Materiais e Equipamentos | ME1 | Equipamento para comunicações (telemóvel, rádios, etc..) |
ME2 | Características adequadas do capacete | |
ME3 | Utilização de materiais e equipamentos certificados (homologados) | |
ME4 | Manutenção e preservação dos materiais e equipamentos | |
ME5 | Características dos materiais e equipamentos | |
ME6 | Manipulação dos materiais e equipamentos | |
ME7 | Adequação dos materiais e equipamentos ao nível dos praticantes | |
ME8 | Kit primeiros socorros | |
ME9 | Características adequadas do calçado | |
ME10 | Equipamento para salvamento e resgate | |
ME11 | Características adequadas do fato neopreme (apenas aplicado ao canyoning) | |
ME12 | Kit sobrevivência (apito, frontais, faca, alimentação, etc..) | |
ME13 | Equipamento de proteção individual e coletiva (EPI e EPC adequados) | |
ME14 | Estado de conservação dos equipamentos fixos existentes nas vias (apenas aplicado à escalada) | |
ME15 | Performance dos materiais e equipamentos | |
ME16 | Magnésio (apenas aplicado à Escalada) | |
ME17 | Protetor solar |
Tabela 3 Dimensão meio ambiente: categorias — fatores de risco.
Categorias - Fatores de Risco | ||
---|---|---|
Meio Ambiente | MA1 | Temperatura |
MA2 | Altitude | |
MA3 | Características do relevo | |
MA4 | Condições adversas extremas (vento, trovoada, neve, chuva e nevoeiro) | |
MA5 | Estado de conservação do meio ambiente | |
MA6 | Acesso a pontos de água potável | |
MA7 | Acesso a veículos de socorro ou outros | |
MA8 | Comunicações (rede telemóvel, rádios transmissores) | |
MA9 | Dificuldade do percurso | |
MA10 | Distância do percurso | |
MA11 | Duração do percurso | |
MA12 | Nível da água (apenas aplicado ao canyoning) | |
MA13 | Tipo e qualidade da rocha (apenas aplicado ao canyoning e escalada) | |
MA14 | Exposição solar (apenas aplicado à escalada) |
Concluído o processo de identificação do risco, existe a necessidade de compreendê-lo, analisando-o e classificando-o em função da sua probabilidade de ocorrência e da sua consequência. Para este efeito, nomeadamente para verificar o nível de risco de cada fator de risco, utilizou-se uma matriz de risco simples bidimensional (Figura 1). Esta matriz relaciona a severidade das consequências e a probabilidade de ocorrência de forma a estabelecer o nível de risco.
Através da classificação obtida pelo cruzamento da probabilidade e consequência (Figura 1) de cada fator de risco da checklist, será atribuído um nível de risco estratificado (baixo, moderado, elevado ou extremo) correspondendo cada um deles a uma cor (verde, amarelo, laranja, vermelho) (Figura 2). Em cada nível haverá uma recomendação com a respetiva ação/tratamento. Por exemplo, um fator de risco de uma atividade com uma probabilidade de 4 e uma consequência de 4, terá uma classificação de 16, que corresponde a um nível de risco extremo. No caso de não se conseguir corrigir o risco, o instrumento prevê como ação/tratamento o cancelamento da atividade.
No que refere ao estudo da validade de conteúdo do CMAR, os resultados obtidos pela análise do ICC dos dados recolhidos na 1ª ronda da técnica Delphi evidenciaram a confiabilidade e validade do instrumento, verificando-se na pertinência um valor de ICC de ,89 (bom), na clareza de ,85 (bom) e na objetividade de ,90 (excelente).
Tendo em conta os resultados satisfatórios obtidos, optou-se por não se realizar a 2ª ronda com a técnica Delphi, apesar de considerarmos os comentários para alteração da redação de 5 itens (ME1; ME5; ME13; MA12 e MA13).
No que respeita o estudo da validade de construto do CMAR analisada através da AFE, os resultados demonstraram um KMO de 0,816. No que refere à fatorabilidade da matriz de correlações, esta foi classificada como boa, segundo os critérios de classificação de Marôco (2021) para os eigenvalues (superiores a 1), scree plot e a percentagem de variância retida.
A qualidade de ajuste do modelo avaliada com os índices RMSEA, considerando os scores de cada sujeito em cada um dos fatores, retidos nas 4 dimensões, e que foram extraídos através do método de Bartlett são apresentados na Tabela 4. Nesta tabela mostram-se os pesos fatoriais e a comunalidade de cada item extraído e agrupado pelas 4 dimensões computadas pela AFE, bem como os eigenvalues, e a % de variância explicada por cada dimensão.
Tabela 4 AFE com extração dos fatores/dimensões pelas componentes principais e rotação varimax.
Fator/dimensão 1 | Fator/dimensão 2 | Fator/dimensão 3 | Fator/dimensão 4 | Comunalidades | |
---|---|---|---|---|---|
HT7 | 0,909 | 0,918 | |||
HT4 | 0,892 | 0,901 | |||
HT6 | 0,862 | 0,834 | |||
HT13 | 0,832 | 0,808 | |||
HT8 | 0,823 | 0,801 | |||
HP5 | 0,765 | 0,707 | |||
HT12 | 0,756 | 0,729 | |||
HT9 | 0,712 | 0,797 | |||
HP1 | 0,712 | 0,654 | |||
HT10 | 0,637 | 0,722 | |||
HP4 | 0,636 | 0,575 | |||
HT1 | 0,578 | 0,743 | |||
HT5 | 0,529 | 0,738 | |||
HT2 | 0,514 | 0,656 | |||
MA14 | 0,879 | 0,829 | |||
MA12 | 0,800 | 0,709 | |||
MA11 | 0,728 | 0,762 | |||
MA13 | 0,696 | 0,898 | |||
MA4 | 0,685 | 0,898 | |||
MA8 | 0,684 | 0,786 | |||
MA9 | 0,665 | 0,816 | |||
MA1 | 0,598 | 0,908 | |||
MA7 | 0,595 | 0,866 | |||
MA5 | 0,583 | 0,777 | |||
ME14 | 0,576 | 0,839 | |||
ME6 | 0,789 | 0,789 | |||
ME5 | 0,737 | 0,842 | |||
ME4 | 0,729 | 0,802 | |||
ME3 | 0,691 | 0,755 | |||
ME15 | 0,669 | 0,663 | |||
ME7 | 0,571 | 0,663 | |||
ME12 | 0,764 | 0,782 | |||
ME1 | 0,725 | 0,799 | |||
ME10 | 0,654 | 0,655 | |||
ME13 | 0,606 | 0,773 | |||
ME8 | 0,597 | 0,811 | |||
N° itens | 14 | 10 | 7 | 5 | |
Eigenvalue | 9,386 | 6,292 | 1,749 | 1,586 | |
% Variância | 20,7% | 16,53% | 10,65% | 8,50% |
Como referido anteriormente, mediante a análise efetuada, foram extraídos 4 fatores/dimensões de fatores de risco, com autovalores ≥ 1 que juntos justificam 56,4% da variância total dos resultados, considerando-se bastantes satisfatórios (Hair et al., 2019; Marôco, 2021). Por outro lado, foram eliminados 14 itens (HT4; HT11; HP2; HP3; HP6; HP7; ME2; ME9; ME11; ME16; ME17; MA2; MA3; MA6, MA10), com pesos factorias inferiores a ,50. Relativamente aos pesos fatoriais, determinados pelas 4 dimensões resultantes da AFE, os valores variaram entre ,51 e ,90, considerado como excelente por Kline (2011).
No que concerne aos resutados das comunalidades, todos os valores são elevados, demonstrando que as 4 dimensões retidas são apropriadas para descrever a estrutura correlacional latente entre as dimensões dos fatores de risco elencados, comprovados também pelo índice de qualidade de ajustamento, tal que RMSRA= ,001 (Marôco, 2021).
Em suma, e mediante a realização da AFE, verificou-se uma redução e alteração dimensional da estrutura inicial do instrumento CMAR. A dimensão, inicialmente descrita como materiais e equipamentos, era composta por 17 itens que, após AFE, resultou na sua divisão em 2 dimensões, sendo a versão final do construto composta pelas seguintes 4 dimensões:
I.. Dimensão 1: fatores de risco humanos, incluindo 14 itens retidos (Tabela 5);
I.. Foram eliminados 6 itens (HT3; HT11; HP2; HP3; HP6 e HP7) da versão inicial.
II.. Dimensão 2: fatores de risco ambientais, incluindo 10 itens retidos (Tabela 6).
II.. Foram eliminados 4 itens (MA2; MA3; MA6 e MA10) da versão inicial.
III.. Dimensão 3: fatores de risco materiais e equipamentos, incluindo 7 itens retidos (Tabela 7).
Tabela 5 Itens extraídos pela AFE e agrupados na dimensão 1.
Dimensão 1 – Fatores de Risco Humanos | |
---|---|
HT1 | Nível de experiência na modalidade |
HT2 | Competências de resgate e socorrismo |
HT4 | Idade |
HT5 | Informações dos procedimentos de segurança aos praticantes |
HT6 | Rácio técnico/praticantes |
HT7 | Utilização de procedimentos de segurança |
HT8 | Capacidade de liderança e tomada de decisão |
HT9 | Competências de planeamento e gestão |
HT10 | Conhecimento dos locais de prática e dos seus perigos |
HT12 | Competências de intervenção pedagógica e profissional |
HT13 | Condição física |
HP1 | Vestuário e calçado adequado |
HP4 | Nível de experiência na modalidade |
HP5 | Conduta de procedimentos de segurança |
Tabela 6 Itens extraídos pela AFE e agrupados na dimensão 2.
Dimensão 2 - Fatores de Risco Ambientais | |
---|---|
MA1 | Temperatura |
MA4 | Condições adversas extremas (vento, trovoada, neve, chuva e nevoeiro) |
MA5 | Estado de conservação do meio ambiente |
MA7 | Acesso a veículos de socorro ou outros |
MA8 | Comunicações (rede telemóvel, rádios transmissores) |
MA9 | Dificuldade do percurso |
MA11 | Duração do percurso |
MA12 | Nível da água (apenas aplicado ao canyoning) |
MA13 | Tipo e qualidade da rocha (apenas aplicado ao canyoning e à escalada) |
MA14 | Exposição solar (apenas aplicado à escalada) |
Tabela 7 Itens extraídos pela AFE e agrupados na dimensão 3.
Dimensão 3 - Fatores de Risco dos Materiais e Equipamentos | |
---|---|
ME3 | Utilização de materiais e equipamentos certificados (homologados) |
ME4 | Manutenção e preservação dos materiais e equipamentos |
ME5 | Características dos materiais e equipamentos |
ME6 | Manipulação dos materiais e equipamentos |
ME7 | Adequação dos materiais e equipamentos ao nível dos praticantes |
ME14 | Estado de conservação dos equipamentos fixos existentes nas vias (apenas aplicado à escalada) |
ME15 | Performance dos materiais e equipamentos |
Foram eliminados 10 itens (ME1; ME2; ME8 ME9; ME10; ME11; ME12; ME13; ME16 e ME17) da versão inicial.
Dimensão 4: fatores de risco de segurança e emergência, incluindo 5 itens extraídos (Tabela 8), configurando uma nova dimensão.
Tabela 8 Itens extraídos pela AFE e agrupados na dimensão 4.
Dimensão 4 - Fatores de Segurança e Emergência | |
---|---|
ME1 | Equipamento para comunicações (telemóvel, rádios, etc..) |
ME8 | Kit primeiros socorros |
ME10 | Equipamento para salvamento e resgate |
ME12 | Kit sobrevivência (apito, frontais, faca, alimentação, etc..) |
ME13 | Equipamento de proteção individual e coletiva (EPI e EPC adequados) |
DISCUSSÃO
O objetivo do presente estudo foi construir e validar um instrumento de avaliação do risco para o Desporto de Natureza em Portugal, nas modalidades de montanha como o pedestrianismo, o canyoning e a escalada — o CMAR.
Com base nos resultados da 1ª versão do CMAR, construída pelos investigadores tendo em conta a literatura, foram definidos 51 itens (fatores de risco), agrupados em 3 dimensões, sendo uma delas composta por 2 subdimensões.
Após conclusão da 1ª ronda com a técnica Delphi, o coeficiente de correlação intraclasses (ICC) aferiu a taxa de concordância entre especialistas nos itens relacionados com a pertinência, clareza e objetividade; nesta fase nenhum item foi eliminado. Os resultados obtidos evidenciam a confiabilidade e validade do instrumento, verificando-se valores de ICC de ,89 (bom) para a pertinência, de ,85 (bom) para a clareza e de ,90 (excelente) para a objetividade do instrumento (Koo & Li, 2016).
Ao aplicarmos a análise fatorial exploratória, verificou-se um ajustamento do CMAR devido à eliminação de 15 itens, por conterem pesos fatoriais abaixo de ,50 (Kline, 2011; Marôco, 2021). Por sua vez, os itens extraídos apresentaram uma consistência adequada, com variações entre ,51 e ,90, considerada como excelente por Hair et al. (2019) e Kline (2011), indicando assim validade do modelo fatorial onde todos os itens têm um peso fatorial no respetivo fator, explicando, portanto, a maioria da variância do fator latente (Hair et al., 2019).
Quanto aos fatores retidos foram aqueles que apresentaram eigenvalues superiores a 1, em consonância com o scree plot e com a percentagem de variância. Foram extraídos 36 fatores de risco estruturados em 4 dimensões, com autovalores ≥ 1 que, juntos, justificam 56,4% da variância total dos resultados, considerando-se bastantes satisfatórios (Hair et al., 2019; Marôco, 2021).
Para avaliar a validade da AFE, utilizou-se o método de análise do KMO, tendo-se observado um KMO de ,816 classificado como bom, segundo os critérios de classificação de Marôco (2021). Adicionalmente, todas as comunalidades são elevadas, estando entre ,575 e ,918, demonstrando que o modelo factorial com as 4 dimensões é apropriado para descrever a estrutura correlacional latente entre as dimensões dos fatores de risco elencados, comprovado também pelo índice de qualidade de ajustamento RMSR= ,001 (Marôco, 2021).
Mediante a AFE, verificou-se que o instrumento foi ajustado para um agrupamento nas seguintes 4 dimensões — humana, materiais e equipamentos, ambientais, e segurança e emergência — as quais também são sugeridas em estudos anteriores (Brandão et al., 2018; Haegeli et al., 2012; Mata et al., 2022; Salmon et al., 2010, 2014). Este ajustamento retirou alguns itens (ME1, ME8, ME10, ME12 e ME13) da dimensão materiais e equipamentos, criando mais um grupo de itens (Tabela 8), agora denominada de dimensão segurança e emergência. Este conjunto de itens agrupados nesta nova dimensão acaba por fazer sentido, tendo em conta a área de intervenção e a especificidade dos 5 itens extraídos que se referem a fatores de risco comumente designados como integrando a segurança e emergência (Tabela 4 e 8). Esta observação justifica também em parte a exclusão de 10 itens da dimensão materiais e equipamentos, pois para além dos itens retirados para a nova dimensão, foram eliminados 3 itens (ME2, ME9, ME11) referentes às caraterísticas do capacete, calçado e fato neopreme respetivamente, que na realidade é requacionado nos itens ME3 (Utilização de materiais e equipamentos certificados, homologados) e ME5 (Características dos materiais e equipamentos). Foram também eliminados os itens ME 16 (Magnésio) e ME17 (Protetor solar) e são equacionados no item ME13 (Equipamento de proteção individual e coletiva: EPI e EPC adequados).
Indo ao encontro do estudo de Peace (2017), o instrumento que resultou deste processo fornece aos técnicos, instrutores e monitores uma ferramenta de avaliação do risco nos desportos de montanha (pedestrianismo, canyoning e escalada), tornando-se num auxílio importante na tomada de decisão e priorização das ações, beneficiando a segurança e gestão do risco, suportado por uma base teórica e com enquadramento científico.
A versão final do CMAR, direcionado para os desportos de montanha (pedestrianismo, canyoning e escalada), foi validada com 36 itens (riscos), divididos em 4 dimensões (humanos, ambientais, materiais e equipamentos, e segurança e emergência), avaliados numa matriz de risco de 5x5 (probabilidade x consequência), obtendo-se um nível de risco estratificado que corresponde a uma recomendação, ação e tratamento. Desta forma, este estudo revela a pertinência da validação, uma vez que os resultados obtidos e as conclusões retiradas refletem uma forma mais assertiva da aplicação do instrumento, particularmente dirigidas para as diretrizes e orientações da ISO 31000:2018 e da ISO/IEC 31010:2019.
De salientar ainda que não foi encontrado qualquer instrumento que avaliasse o risco das atividades com duas técnicas, checklist e matriz de risco (ISO, 2019), em desportos de montanha. A validação do CMAR, constitui-se com uma ferramenta de análise do risco, para gestão do risco preenchendo deste modo uma lacuna no conhecimento, criando uma resposta à necessidade dos técnicos e praticantes que permitirão uma prática mais segura. Além do valor que o CMAR representa em si mesmo, este instrumento pode ser o ponto de partida para o desenvolvimento de outros instrumentos/técnicas de avaliação de risco, conforme recomendado por Mata e Carvalhinho (2020); Mata et al. (2022); e Silva (2016). Por outro lado, os dados deste estudo reforçam a consciência da necessidade de um melhor entendimento do desporto de montanha, bem como apontam algumas ideias a serem desenvolvidas e medidas a serem aplicadas, seja por instituições, clubes, treinadores, investigadores ou por atletas que desejam estar mais cientes dos riscos a que estão sujeitos. Ainda no seguimento dos estudos de Mata e Carvalhinho (2020) e Mata et al. (2022), estas ações conduzem a uma maior confiabilidade humana apoiada pelo instrumento CMAR, que em simultâneo estabelece uma maior consciência dos riscos inerentes aos desportos de montanha, sem condicionar os estímulos e emoções por eles provocados, assim como descrito por Haegeli e Pröbstl-Haider (2016), como fonte de vários benefícios ao nível pessoal e social.
Limitações e pesquisas futuras
Algumas limitações do presente estudo devem ser reconhecidas para interpretação dos resultados. Este foi o primeiro estudo a validar um instrumento de avaliação do risco para o contexto do desporto de natureza nas modalidades de montanha, sendo importante ressalvar que o instrumento foi desenvolvido e validado em português, para a realidade portuguesa, e, por isso, pode não ter enquadramento noutras regiões do mundo, sabendo-se que diferentes fatores de risco podem ser mais relevantes noutras latitudes do planeta (Bentley & Haslam, 2001; Bentley, Cater & Page, 2010; Brandão et al., 2018). Por conseguinte, fica em aberto a continuação da investigação para a adaptação e validação deste instrumento a outras realidades e modalidades. Para além disso, reconhecemos ainda como limitações deste estudo a inclusão de apenas 3 modalidades de montanha, sendo necessário ampliar para outras modalidades, assim como a falta de uma referência nesta área.
CONCLUSÕES
O instrumento CMAR desenvolvido para Portugal mostrou-se válido para avaliar o risco nos desportos de montanha (pedestrianismo, canyoning e escalada). A versão final do instrumento inclui 36 itens (fatores de risco) agrupados em 4 dimensões (humanos, ambientais, materiais e equipamentos, e segurança e emergência), a serem avaliados numa matriz de risco de 5x5 (probabilidade x consequência), que resulta num nível de risco estratificado correspondente a uma recomendação, ação e tratamento. O CMAR evidenciou valores bons de confiabilidade e valores bons a aceitáveis de validação de construto, viabilizando a sua utilização na análise e gestão de risco nas modalidades de pedestrianismo, canyoning e escalada.
Até ao momento, nos desportos de montanha, não foram encontrados quaisquer instrumentos que avaliassem o risco recorrendo a duas técnicas (checklist e matriz de risco). Por este motivo, este instrumento pode ser considerado uma mais-valia para o desenvolvimento desta área e até ser replicado, com os devidos ajustamentos, noutros países.
Deste modo, e tendo em consideração a participação crescente que se verifica nos Desportos de Natureza, em particular nos desportos de montanha, que por si só revelam um elevado número de incidentes, entendemos, portanto, a necessidade de reforçar esta área de estudo.
Este contributo será uma ferramenta de auxílio para os técnicos, instrutores e monitores aquando da preparação e desenvolvimento das atividades, na compreensão da tomada de decisões, na priorização das ações, assim como na gestão dos riscos inerentes a estas práticas desportivas. Com recurso ao CMAR, todos os envolvidos beneficiarão de uma maior segurança e comodidade durante a prática desportiva. Tendo presente os pressupostos anteriores, é nosso objetivo dotar os profissionais do Desporto de Natureza de ferramentas de análise e gestão do risco, bem como de um conhecimento mais amplo e sustentado.