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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia

versão impressa ISSN 1646-2122

Rev. Port. Ortop. Traum. vol.20 no.3 Lisboa set. 2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Exérese de osteocondroma. Cirurgia sempre fácil ou sempre difícil?

 

Vânia OliveiraI; Luís CostaI; Daniel FreitasI; Ricardo AidoI; Pedro CardosoII, I

I. Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar Universidade do Porto. Porto. Portugal.
II. Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Centro Hospitalar do Porto. Hospital de Santo António. Porto. Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO

Objectivo: o osteocondroma é um tumor benigno cujo crescimento é interrompido com o encerramento das fises. O diagnóstico é imagiológico e são considerados “usualy leave me alone lesions”.

Os autores apresentam 10 osteocondromas que, pelo tamanho e localização, constituíram desafios cirúrgicos.

Material e Métodos: de janeiro 2005 a Dezembro 2011, dez osteocondromas foram propostos para cirurgia devido à localização e dimensão.

Foram registados os seguintes parâmetros: indicação cirúrgica, volume de massa, localização, dificuldade técnica, resultado anatomo-patológico, complicações e recidiva.

Resultados: em todos os casos a localização e o tamanho indicaram a exérese cirúrgica e constituíram cirurgia de dificuldade acrescida pela abordagem cirúrgica e necessidade de preservação das estruturas neurovasculares.

O tempo médio de follow up foi de 3,3 anos. Não ocorreram complicações ou recidivas.

Conclusão: na prática clínica as exéreses de osteocondromas consideradas fáceis são as que não têm indicação cirúrgica e, por isso, que deveriam ser “leave me alone lesions”. Os casos apresentados permitem verificar que os osteocondromas com indicação cirúrgica, quer pela localização, extensão ou conflito com estruturas neurovasculares adjacentes, são sempre de difícil execução técnica.

Palavras chave: Tumor benigno, osteocondroma, exérese cirúrgica, leave me alone lesions.

 

ABSTRACT

Aim: Osteochondroma is a benign tumor whose growth stops with physis closure. The imaging study is diagnostic and osteochondromas are considered "usualy leave me alone lesions”.

Authors present 10 osteochondromas, all of them presenting surgical challenges due to their location.

Patients and Methods: From January 2005 to December 2011 ten osteochondromas were selected to surgical treatment for their size and related symptoms.

The following parameters were evaluated: indication for surgery, volume, anatomical location, technical difficulty, pathologic outcome, complications and recurrence rate.

Results: In all cases the location and size indicated surgical excision and the need to preserve adjacent structures and neurovascular bundles increased surgical difficulty.

The average follow-up was 3.3 years. There were no complications or recurrences.

Conclusion: In clinical practice osteochondromas excision considered surgically easy and technically low demanding have no indication for surgical treatment and, therefore, should be leave-me-alone-lesions. The presented cases show that osteochondroma anatomical location, extent or adjacent structures conflict indicate surgical treatment and these are always technically high demanding and difficult.

Key words: Benign tumor, osteochondroma, surgical excision, leave me alone lesions.

 

INTRODUÇÃO

O osteocondroma é um tumor benigno que provavelmente resulta de um desvio da cartilagem epifisária que hernia através de um defeito do periósseo e cresce com uma direção de cerca de 90° em relação à direção do crescimento normal. Pode aparecer entre os 17 meses e os 16 anos de idade e o encerramento das fises interrompe o crescimento.

Após a exérese cirúrgica não é habitual registar-se recidiva do osteocondroma. No entanto, estas podem ocorrer (2%?) presumivelmente por exérese incompleta do revestimento cartilagíneo ou do periósseo que o recobre. Quando solitário o risco de malignização é 1 a 2%, no entanto, como esta é uma lesão maioritariamente assintomática, esta percentagem pode ser  consideravelmente menor. Na osteocondromatose a  percentagem varia de 5 a 25%.

O primeiro sinal é a presença de uma tumefacção com longo tempo de evolução.  Ocasionalmente há dor. Esta pode ser por conflito com um feixe neurovascular, fractura do pedículo, enfarte ósseo, inflamação da bolsa que o recobre ou degenerescência sarcomatosa. O diagnóstico é imagiológico e são considerados "usualy leave me alone lesions".

Os autores apresentam 10 osteocondromas operados na Unidade de Neoplasias Musculoesqueléticas que, pela  sua localização, constituíram desafios cirúrgicos e reforçam a convicção de que sempre que a exérese cirúrgica é necessária revela-se tecnicamente exigente e complicada.

 

MATERIAL E MÉTODOS

De Janeiro 2005 a Dezembro 2011 foram operados 10 osteocondromas que cirurgicamente constituíram desafios técnicos. Não foram incluídos casos de osteocondromatose.

Verificaram-se 8 doentes do sexo masculino e 2 feminino, com a média de idade de 26,7 anos (6-53 anos).

Foram registados os seguintes parâmetros: indicação cirúrgica, volume de massa, localização, dificuldade técnica, resultado anatomo-patológico, complicações e recidiva.

Da análise do Quadro I verifica-se que 4 osteocondromas se localizavam no cavado poplíteo (tíbia e/ou perónio), 3 na face interna do fémur proximal, 1 na omoplata e 2 no úmero proximal. Uma das lesões localizada no úmero proximal apresentava 3 proeminências: medial, postero-interno superior e postero-lateral inferior.

 

 

 

RESULTADOS

A éxerese cirúrgica das lesões no cavado poplíteo foram tecnicamente exigentes pelo tamanho e pela necessidade de preservação das estruturas neurovasculares (Figura 1). Num doente com volumoso osteocondroma da tíbia envolvendo o perónio proximal foi necessário fazer osteotomia distal ao colo do perónio e exérese segmentar de cerca 7cm da diáfise proximal do perónio (Figura 2).

 

 

Figura 2

 

No fémur proximal, em 2 doentes verificou-se bursite extensa e, num dos casos, a extensão posterior constituiu o principal desafio pela proximidade do nervo ciático (Figura 3).

 

Figura 3

 

Na omoplata a extensão anterior a partir da espinha elevou a dificuldade cirúrgica.

No úmero proximal, no osteocondroma com 3 proeminências volumosas a principal dificuldade foi a escolha da abordagem (posterior) para a exérese total a um só tempo e a presença do nervo circunflexo. No outro osteocondroma do úmero proximal não a exérese completa foi possível em 2 tempos cirúrgicos (Figura 4).

 

 

Em todos os casos esteve presente o risco de fragilização cortical com potencial risco de fractura (superior nos ossos de carga).

O tempo médio de follow up foi 3,3 anos e o volume de massa foi = 21cm3 com média de 124cm3 (21-541,6).

Em todos os doentes a exérese cirúrgica foi completa, não houve lesões de estruturas nobres e o resultado radiológico foi excelente. Os resultados anatomo-patológicos não revelaram malignização. Não se verificou nenhuma limitação funcional ou recidiva.

 

DISCUSSÃO

Classicamente o osteocondroma é considerado uma "usually leave me alone lesion" mas, devido à dor ou dismorfia, é necessário fazer a exérese cirúrgica. 

Em todos os casos avaliados a localização e o volume de massa indicaram a exérese cirúrgica e constituíram cirurgia de dificuldade acrescida pela abordagem e necessidade de preservação das estruturas neurovasculares adjacentes.

A exérese cirúrgica do osteocondroma é considerada uma cirurgia de baixo grau de dificuldade. Na prática clínica as exéreses consideradas fáceis são as que não têm indicação cirúrgica e, por isso, que deveriam ser "leave me alone lesions". Os casos apresentados permitem induzir que quando os osteocondromas têm indicação cirúrgica, pela localização, volume de massa e conflito com estruturas neurovasculares adjacentes, esta é sempre de difícil execução técnica.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Conflito de interesse:

Nada a declarar.

 

Endereço para correspondência

Vânia Oliveira
Centro Hospitalar do Porto
Hospital Santo António
Largo Prof. Abel Salazar
4099 001 Porto
Portugal
vaniacoliveira@gmail.com

 

Data de Submissão: 2012-02-03

Data de Revisão: 2012-05-03

Data de Aceitação: 2012-05-03

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