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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia

versão impressa ISSN 1646-2122

Rev. Port. Ortop. Traum. vol.24 no.2 Lisboa jun. 2016

 

CASO CLÍNICO

 

Trocleoplastia: A Propósito de Um Caso Clínico

 

Marta MaioI; Magda GomesI; Bruno BarbosaI; Carlos CercaI

I. Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO

Vários fatores anatómicos predispõem a luxações recorrentes da rótula, sendo a displasia da tróclea considerada o maior fator de risco da instabilidade patelofemural. Para o tratamento desta patologia a trocleoplastia está indicada em doentes com displasia troclear tipo B e D e episódios recorrentes de luxação da rótula.

Os autores descrevem um caso clínico de um paciente com gonalgia e episódios recorrentes de luxação da rótula à direita, clinicamente com instabilidade rotuliana na imagiologia com displasia da tróclea tipo B. Realizada trocleoplastia segundo a técnica de Dejour associada a reconstrução de ligamento patelofemural medial.

A trocleoplastia é uma técnica exigente e que geralmente se associa a outros procedimentos, como a reconstrução do ligamento patelofemural medial com bons resultados funcionais como no caso apresentado.

Palavras chave: displasia troclear, trocleoplastia, instabilidade patelofemural.

 

ABSTRACT

Recurrent patellar dislocations is often associated with preexisting anatomic factors. Trochlear dysplasia is known to be a major risk factor for patellofemoral instability. Indication for trochleoplasty is recurrent patellar dislocation with highgrade (type B and D) trochlear dysplasia.

The authors describe a case of a patient with right knee pain and recurrent episodes of patellar dislocation. Clinically patellofemoral instability, imaging of trochlear dysplasia type B. Patient was submitted to trochleoplasty according to Dejour technique associated with medial patellofemoral ligament reconstruction.

Trochleoplasty is technically demanding, usually combined with medial patellofemoral ligament reconstruction that was found to be very successful resulting in improvement in knee function like in this case.

Key words: trochlear dysplasia, trochleoplasty, patellofemoral instability.

 

INTRODUÇÃO

As luxações recorrentes da rótula ocorrem após um episódio inicial, mas a sua recorrência está associada a vários fatores anatómicos predisponentes: displasia troclear, rótula alta, anteversão do colo femural, ângulo Q e TA-GT aumentados e incompetência do ligamento patelofemural medial1,3,9.

Há referência a dor anterior e sensação de cedência do joelho. No exame objetivo estão presentes sinais de instabilidade, como teste de apreensão positivo. Os exames imagiológicos de rotina incluem a incidência axial da rótula a 45º, a incidência de perfil do joelho a 30º, tomografia computorizada e ressonância magnética2,4.

A displasia troclear é encontrada na maioria dos doentes com luxações recorrentes da rótula, sendo considerado o principal fator de risco1,4,5,7,8. Caracteriza-se pela presença do sinal do cruzamento na radiografia de perfil. Dejour classificou esta displasia em 4 tipos2,3,4.

A trocleoplastia é uma técnica cirúrgica utilizada em trócleas muito displásicas, com a qual se altera o formato da mesma sem lesar a cartilagem, proporcionando uma maior estabilidade à rótula e melhor congruência articular1,3,4,8.  As indicações cirúrgicas são limitadas a pacientes com luxações recorrentes da rótula com displasia troclear de alto grau, tipo B ou D. Está no entanto contraindicada em pacientes com artrose femuropatelar, grande desgaste da cartilagem troclear, esqueleto imaturo e sem episódios verdadeiros de luxação2,4,6,8,9.

A cirurgia consiste em remover parte de osso esponjoso subcondral criando um novo sulco troclear, diminuindo o seu angulo. Associado a este gesto, pode-se realizar a reconstrução do ligamento patelofemural medial, caso a situação clínica assim o justifique. Outros procedimentos poderão ser associados se estiverem presentes outros fatores anatómicos predisponentes2,3,4,5,6,7.

 

CASO CLÍNICO

Jovem de 16 anos, raça caucasiana, género masculino, que recorre ao serviço de urgência por luxação da rótula direita, sendo este o quarto episódio. O episódio inaugural surgiu após traumatismo direto em jogo de futebol. Clinicamente apresenta instabilidade rotuliana, com teste de apreensão positivo e translação de dois quadrantes da rótula. (Figura 1) O estudo imagiológico realizado foi o protocolado para esta patologia. Concluiu-se que o paciente apresentava uma displasia troclear tipo B, TA-GT de 17mm, sem lesões osteocondrais, meniscais e ligamentares (Figuras 2, 3 e 4).

 

 

 

 

 

Efetuou-se trocleoplastia, pelo método de Dejour associada a reconstrução do ligamento patelofemural com isquiotibial autólogo segundo técnica descrita por Donald Fithian2,3,4 (Figuras 5 e 6). Pós-operatório decorreu sem intercorrências. Iniciou programa de reabilitação funcional durante o internamento, deambulação sem carga durante 6 semanas. Na consulta do 1º mês apresenta mobilidade de 0-70º e atrofia do quadricípede, ao 3º mês pós-operatório ligeira atrofia, mobilidade de 0-90º, teste de apreensão negativo e deambulação sem apoio externo. Aos 6 meses já sem atrofia do quadricípede, mobilidade 0-110º. Sem referência a novos episódios de luxação de rótula ou instabilidade. (Figura 7)

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

A trocleoplastia é um procedimento cirúrgico realizado em doentes com tróclea displasica e vários episódios de luxação da rótula. O objetivo desta cirurgia é remodelar a tróclea, de forma a ficar mais congruente com a rótula mas sem danificar a cartilagem articular1,2,3,4,6. É uma técnica que se tornou mais popular nos últimos anos devido à importância da estabilidade da articulação patelofemural para o normal funcionamento do aparelho extensor4,6.

Na avaliação pré operatória é importante tanto a clínica como a imagiologia para a decisão da necessidade ou não de associação de outros procedimentos como a medialização da tuberosidade anterior da tíbia quando o TA-GT está elevado, ou distalização no caso de rótula alta2,3,4,9.

Em 2010, Dejour modificou a técnica da trocleoplastia realizada por afundamento do sulco da tróclea, combinando procedimentos realizados nos tecidos moles, como a reconstrução do ligamento patelofemural medial. Segundo este autor, o afundamento da tróclea, de forma isolada, aumenta a estabilidade em extensão completa, enquanto que a reconstrução do ligamento patelofemural medial aumenta a estabilidade em todo o arco de movimento1,2,3,5,9. Foi esta a opção por nós tomada no tratamento deste paciente.

 

CONCLUSÃO

Em conclusão, é um procedimento tecnicamente exigente, pelo que deverá ser efetuado por cirurgiões com experiencia em cirurgia do joelho, e respeitados os critérios de inclusão anteriormente descritos. Foi obtido um bom resultado clínico e imagiológico, embora seja necessário um maior tempo de follow-up.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Conflito de interesse:

Nada a declarar.

 

Endereço para correspondência

Marta Maio
Serviço de Ortopedia
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, EPE
Av. Noruega
Lordelo
5000-508 Vila Real
Telefone: 966921773
martadml.maio@gmail.com

 

Data de Submissão: 2015-09-11

Data de Revisão: 2016-06-04

Data de Aceitação: 2016-10-09

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