É com natural emoção que dou público testemunho do profundo respeito, admiração e afecto, que o Sr. Professor Dr. António Augusto Faria Gomes (Figura 1) incutiu em todos os que o acompanharam, ao longo da vida.
Como seu amigo sinto-me privilegiado por, ao longo de quase cinco décadas, ter usufruído dos seus ensinamentos, num convívio humanamente rico e academicamente inspirador. Ao recordar esses belos momentos, sinto na pele as palavras de Eça, no maravilhoso texto das notas contemporâneas, sobre Anthero de Quental “sentei-me num degrau quasi aos pés de Anthero, que improvisava, a escutar num enlevo, como um discípulo. E para sempre assim me conservei na vida”.
Em primeiro lugar era um Amigo, depois um professor e um mestre que soube construir com sabedoria, amor e verdade, o caminho para a realização dos sonhos, enfrentando as inevitáveis agruras da vida.
Nos vários cargos que exerceu deixou sempre um cunho marcante de incontestável competência. Foi assim o seu desempenho na vida e também na sua nobre missão de Professor da Universidade de Coimbra e de co-fundador da Licenciatura em Medicina Dentária da mesma Universidade. O mestre, cuja maneira de estar era ser ele próprio, com a sua modéstia, a sua solidariedade e a dedicação, perfeccionismo, bom senso e tolerância. Uma postura serena, a voz tranquila e presença gentil e afável.
O olhar inteligente e perspicaz refletindo profundos afetos, é assim que o irei sempre recordar. Era um homem muito culto, de grande honestidade, conservador nos valores e nos princípios, que sempre lutou pelos seus ideais de verdade, racionalidade e excelência intelectual, saudavelmente determinado por méritos, somente ao alcance de escasso número de seres humanos.
As atenções que me dedicou e o incentivo que sempre me soube transmitir ficarão gravados na minha memória, com um sentimento de profunda gratidão.
Na universidade, como na vida, há mesmo pessoas insubstituíveis. São raras, é verdade, mas há. O Professor Faria Gomes era uma dessas pessoas. Pela inteligência. Pelo afecto. Pela palavra amiga. Pela dedicação. Pela capacidade de aproximar, de mobilizar, de despertar o melhor que existe em cada um de nós e nas instituições.
A sua presença é grande, é plena de passado e de futuro. A Universidade deve-lhe muito. No ensino e na ciência. Portugal também. Sabemos bem que pessoas desta envergadura não nascem todos os dias.
Conheci o Professor Faria Gomes em Coimbra, em fevereiro de 1973. Fazia parte do meu Júri de exame à Ordem dos Médicos, especialidade de Estomatologia.