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Laboreal

On-line version ISSN 1646-5237

Laboreal vol.17 no.1 Porto June 2021  Epub July 01, 2021

https://doi.org/10.4000/laboreal.17568 

Editorial

Editorial

Editorial

Editorial

Editorial

Ana Cláudia Silva-Roosli1 
http://orcid.org/0000-0003-3795-9357

Cirlene Christo2 
http://orcid.org/0000-0001-8148-9730

1 Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina, Rua José Garcia Domingues, n. 50 casa 4. Vale dos Tucanos, Londrina-PR. CEP: 86.046.560 anaclaudia79@uel.br

2 Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ, Av. Pasteur, 250 Urca, 22290-902, Rio de Janeiro - RJ, Brasil cirlenechr@gmail.com


É com satisfação que apresentamos este novo número da revista Laboreal.

Em sua composição, temos o Dossiê “Trabalhar hoje: mudanças, permanências, estratégias, reinvenções”, cujos artigos se debruçam na apreensão das dinâmicas presentes nos mundos do trabalho. Entre seus propósitos, esteve o olhar atento a reconfigurações decorrentes de mudanças recentes nos mundos do trabalho.

Sublinhamos tal aspecto na produção dos próprios artigos que compõem o Dossiê. Em virtude do prolongamento da pandemia de COVID-19, os(as) autores(as), também eles(as), reconfiguraram suas estratégias para maior e melhor aproximação do trabalho real. Tarefa surpreendente, visto que o tempo do processamento do conhecimento de forma colaborativa com trabalhadores e trabalhadoras deu-se também no curso dos acontecimentos, apesar das limitações impostas pela exigência de distanciamento físico. Neste Dossiê, impossível ignorar a indicação de Souza e Athayde (2021) no que diz respeito à implicação, impulsora do enfrentamento do inusitado para manter o debate vivo, em movimento, neste tempo de dificuldades.

As discussões expressam apropriações da démarche ergológica através de metodologias diversificadas, incluindo o uso de tecnologias de informação e comunicação, engajadas na construção de um processo de aprendizagem dos debates de normas e das escolhas presentes nas renormatizações. Orientados por uma preocupação tática com as reservas de alternativas, os artigos constituem um verdadeiro convite à reflexão dos usos possíveis de nossos patrimônios teóricos e metodológicos, mediante as experimentações na incursão nos modos de viver e trabalhar ora analisados.

No entanto, se a crise gerada pela pandemia de COVID-19 colaborou para maior visibilidade a muitas atividades historicamente invisibilizadas, isto não pode ser plenamente celebrado. Os artigos não deixam de indicar a transitoriedade ou mesmo a superficialidade de algumas formas de reconhecimento do trabalho, demonstrando que há um longo percurso para extrapolar constatações e concretizar ações mais consistentes para a superação de desigualdades. Se esta dificuldade está presente na abordagem de marcadores com relativo patrimônio consolidado, como por exemplo nas relações de gênero, presume-se as dificuldades inerentes a marcadores à espera de desenvolvimento, como a transversalidade das questões raciais.

Na modalidade “Varia” esse número traz uma contribuição ao também atual debate sobre segurança pública, marcado no Brasil como um sério problema dado os altos índices de violência policial, conforme situação crítica recente vivenciada pelos moradores da favela do Jacarezinho na cidade do Rio de Janeiro. O artigo, escrito por Araújo, traz resultados de pesquisa realizada em uma cidade de Minas Gerais, estado localizado na região sudeste do Brasil, com o propósito de compreender os processos de decisão, percepção e julgamento de policiais militares em contexto de atuação. O foco da análise foi uma operação policial, conhecida como blitz, especificamente a de um tipo que é dirigida à seleção de indivíduos com comportamentos suspeitos, na qual, segundo o autor, o poder discricionário de polícia se faz presente de forma mais relevante.

Sabe-se que analisar dinâmicas presentes nos mundos do trabalho e suas relações com a saúde dos trabalhadores implica em enfrentar o desafio da complexidade de tais relações, o que, por razões ético-políticas e científicas, exige um esforço de construção de abordagens interdisciplinares e multiprofissionais dos fenômenos, assim como a consideração dos diferentes contextos socioeconômicos, políticos e culturais em que eles se dão. Gilles Amado, por meio de uma resenha do livro Subjetividade e trabalho: entre mal-estar e bem-estar, publicado em francês, espanhol e português no ano passado pela editora L’Harmattan, nos apresenta um leque de estudos que vêm sendo desenvolvidos por pesquisadores de diferentes países e referenciais teóricos que participaram de um simpósio em Cuba no ano de 2018. Aliás, este simpósio já originou o Dossiê "Subjetividade e trabalho" da revista Laboreal, publicado em dezembro de 2019 (https://journals.openedition.org/laboreal/15294).

Os esforços em direção à compreensão da complexidade dos fenômenos tornam-se ainda mais necessários com as repercussões da crise sanitária associada ao Coronavírus. Desde o início de 2020, dentre outras dimensões, essa crise tem questionado opções já estabelecidas em matéria de organização da vida no trabalho, assim como relações entre o trabalho e outras atividades humanas. Neste contexto de incertezas, argumenta-se que o recurso à história é uma via privilegiada para melhor compreender o que nos acontece e que, por vezes, nos escapa.

Nessa direção, renova-se a intenção de criação, em 2009, da rubrica Textos históricos: oferecer um material de reflexão sobre como mobilizar o método histórico para esclarecer o desenvolvimento de uma psicologia do trabalho que se insere no projeto editorial da revista. O texto de Régis Ouvrier-Bonnaz, ao evidenciar as contribuições de Lucien Febvre, integra-se aos vinte e três comentários de textos históricos publicados durante doze anos da Laboreal, evidenciando seus ensinamentos, assim como conceitos, métodos e instrumentos por ele mobilizados. No texto apresentado - intitulado “Psicologia e história” e publicado em 1938 - Febvre questiona como os psicólogos poderiam encontrar nos dados que a história lhes fornece o suficiente para enriquecer pura e simplesmente uma experiência adquirida no contato com seus contemporâneos. Seu convite à travessia das fronteiras entre as disciplinas oferece ao leitor dessa rubrica uma nova perspectiva com uma finalidade mais epistemológica.

E a história se faz a cada dia. Assim, com vistas a contribuir para a reflexão e a ação sobre o lugar do trabalho na história dessa pandemia e, especialmente no contexto brasileiro, sua relação com as ações de saúde pública na perspectiva de saúde como um direito, na rubrica datário, Sandra Caponi, Ana Cláudia Silva-Roosli e Élida Hennington abordam o tema a partir de datas emblemáticas. Dentre elas, o fatídico mês de março de 2021 em que o Brasil alcançou a marca de 300 mil vítimas da COVID-19; o dia 11 de março de 2020, data em que a pandemia foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde; e o dia 28 de abril, dia mundial em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho.

Desejamos uma ótima leitura a todos!

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