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Laboreal

versión On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.17 no.2 Porto dic. 2021  Epub 03-Dic-2021

https://doi.org/10.4000/laboreal.18054 

Textos Históricos

Tempos de trabalho atípicos e temporalidades humanas: a necessidade de uma abordagem interdisciplinar em ergonomia

Horarios atípicos de trabajo y temporalidades humanas : la necesidad de un enfoque interdisciplinario en ergonomía

Temps de travail atypiques et temporalités humaines: de l’exigence d’une approche interdisciplinaire en ergonomie

Atypical working times and human temporalities: the requirement for an interdisciplinary approach in ergonomics

Sophie Prunier-Poulmaire1 
http://orcid.org/0000-0002-4594-4481

Béatrice Barthe2 

Tradução:

Marta Santos

Augusto Rogério Leitão

1 Université Paris Nanterre, 200, avenue de la République, 92000 Nanterre sophie.poulmaire@parisnanterre.fr

2 Université de Toulouse ; Laboratoire LPS-DT, 5, allée A. Machado, 31058 Toulouse beatrice.barthe@univ-tlse2.fr


Resumo

O texto de Charles Gadbois, publicado há 30 anos, propõe, numa abordagem prospetiva, eixos de trabalho para desenvolver a investigação em ergonomia sobre os horários atípicos de trabalho. Partindo da constatação de que havia uma falta de conhecimento sobre as questões levantadas por estes horários em rápida expansão, Charles Gadbois defendeu na altura a importância de convocar e articular várias disciplinas para lidar com este problema complexo, bem como a necessidade de conceber novos modelos integrando o da atividade. Desde então, o desenvolvimento da ergonomia como ciência interdisciplinar e a prossecução dos trabalhos sobre os tempos de trabalho atípicos levaram-nos, na linha do que defendeu, a propor uma abordagem sistémica e multifatorial para a investigação e ação sobre os tempos de trabalho. Uma abordagem original que identifica um conjunto de dimensões atravessadas pela questão dos tempos atípicos, em que a atividade de trabalho e a atividade de conciliação contribuem para manter o equilíbrio.

Palavras-chave: horários atípicos; ergonomia; investigação; interdisciplinaridade; tempos de trabalho

Resumen

El texto de Charles Gadbois, publicado hace 30 años, propone, desde un enfoque prospectivo, líneas de trabajo para desarrollar la investigación en ergonomía sobre horarios atípicos de trabajo. Partiendo de la constatación que existe un desconocimiento sobre los problemas que plantea la rápida expansión de estos horarios, Charles Gadbois defendió la importancia de reunir y articular varias disciplinas para tratar esta problemática compleja, así como la necesidad de diseñar nuevos modelos que integren el de la actividad. Desde entonces, el desarrollo de la ergonomía como ciencia interdisciplinaria y la continuación de estudios sobre los horarios atípicos de trabajo nos han llevado, en línea con lo que este autor preconizaba, a proponer un enfoque sistémico y multifactorial de la investigación y la acción sobre los horarios de trabajo. Un enfoque original que identifica un conjunto de dimensiones atravesadas por la cuestión de los horarios atípicos de trabajo, en el que la actividad laboral y la actividad de conciliación contribuyen a mantener el equilibrio.

Palabras clave: horarios atípicos; ergonomía; investigación; interdisciplinariedad; tiempo

Résumé

Le texte de Charles Gadbois, publié il y a 30 ans, propose dans une démarche prospective, des axes de travail pour développer la recherche en ergonomie sur les horaires atypiques. Partant du constat d’un manque de connaissances sur les questions soulevées par ces horaires en pleine expansion, Charles Gadbois défendait à l’époque l’importance de convoquer et d’articuler plusieurs disciplines pour traiter de cette problématique complexe ainsi que la nécessité de concevoir de nouveaux modèles intégrant celui de l’activité. Depuis, le développement de l’ergonomie comme science interdisciplinaire et la poursuite des travaux sur les temps de travail atypiques, nous amène, dans la juste lignée de ce qu’il prônait, à proposer une approche systémique et multifactorielle pour la recherche et l’action sur les temps de travail. Une approche originale qui identifie un ensemble de dimensions traversées par la question des temps atypiques dont l’activité de travail et l’activité de conciliation participent à maintenir l’équilibre.

Mots clés: horaires atypiques; ergonomie; recherche; interdisciplinarité; temps de travail

Abstract

The article by Charles Gadbois, published 30 years ago, proposes, in a forward-looking approach, lines of work to develop research in ergonomics on atypical working times. Based on the premise that there was a lack of knowledge on the issues raised by these rapidly expanding schedules, Charles Gadbois defended the importance of calling on and articulating several disciplines to deal with this complex problem as well as the need to design new models integrating the real activity. Since then, the development of ergonomics as an interdisciplinary science and the pursuit of work on atypical working time has led us to propose a systemic and multifactorial approach for research and action on working time. An original approach that identifies a set of dimensions crossed by the issue of atypical working time, in which work activity and conciliation activity contribute to maintaining balance.

Keywords: atypical working hours; ergonomics; research; interdisciplinarity; working time

1. Uma abordagem prospetiva à escala da vida

O texto de Charles Gadbois é um documento publicado há cerca de 30 anos nas Atas do colóquio "Recherches pour l’ergonomie”, realizado em 1993 na Universidade de Toulouse Jean Jaurès (Recherches pour l’ergonomie, 1993). Estas primeiras jornadas consagradas à investigação na disciplina foram concebidas por Yvon Quéinnec, um colega e amigo de Charles Gadbois. Yvon Quéinnec quis organizar em Toulouse o equivalente às primeiras Journées de la Pratique de l’Ergonomie, iniciadas nesse mesmo ano em Bordéus, por François Daniellou e pelo Laboratoire d’Ergonomie des Systèmes Complexes do Institut National Polytechnique. A segunda e última edição das jornadas de Toulouse teve lugar cinco anos mais tarde, em 1998, e foi intitulada "Recherche et ergonomie" (Recherche et ergonomie, 1998). Esta mudança de preposição (pour/et - para/e) não é obviamente insignificante na forma de pensar o lugar e o papel da ergonomia na produção do conhecimento científico. Afinal, estas jornadas de investigação para/e/em ergonomia não perduraram, talvez refletindo a dificuldade da comunidade em chegar, nesse momento, a um consenso para reconhecer a ergonomia como uma disciplina científica por direito próprio.

No entanto, neste pequeno texto de Charles Gadbois, que se manteve confidencial, trata-se, de facto, de uma questão de investigação em ergonomia. Eminente especialista em relação a tempos de trabalho, horários alternados de trabalho, trabalho noturno e trabalho por turnos, dedicou a sua carreira a compreender melhor os efeitos destes horários de trabalho não normativos e atípicos, que definiu como "horários que impõem um quadro temporal para o trabalho discordante em relação ao regime de vida ordinária do ser humano" Gadbois, 1993, p. 183, tradução livre). A sua intervenção nestas jornadas consagradas à investigação em ergonomia é a oportunidade para ele, não de fazer um balanço do estado do conhecimento científico sobre o trabalho em horários atípicos, mas de propor, numa abordagem prospetiva, eixos de reflexão para desenvolver a investigação sobre este tema complexo e já então em rápida expansão.

Partindo da constatação de que existe uma falta de conhecimentos sobre as numerosas questões levantadas pelos horários atípicos de trabalho, Charles Gadbois defende neste texto a importância de (1) convocar e articular várias disciplinas para lidar com esta problemática e (2) conceber novos modelos integrando o modelo ergonómico de atividade, que ele próprio adaptou com Yvon Quéinnec em trabalhos realizados sobre os horários em 3x8h na indústria (Gadbois & Quéinnec, 1984). Neste texto, refere-se à associação internacional "Working Time Society", que existe desde 1957 e que se intitulava originalmente "Night and Shiftwork" - e que subsiste ainda hoje como uma rede de cientistas e atores essencial nesta matéria. Mas lamenta que o conjunto de pesquisas sobre o trabalho noturno e por turnos realizado no âmbito desta reconhecida rede internacional (principalmente em biologia, psicologia e sociologia) se limite a abordagens monodisciplinares e, portanto, necessariamente simplificadoras.

Charles Gadbois lamenta também o facto de tal compartimentação existir nos trabalhos de psicologia social e de sociologia, particularmente nas modelizações propostas relativamente à vida do trabalho e à vida fora do trabalho, assunto no qual rapidamente se tornou um dos principais especialistas franceses. A este respeito, menciona a contribuição frutuosa do modelo do "Sistema de atividades" de (Curie e Hajjar (1987) e a necessidade de criar as condições que favoreceriam o desenvolvimento desta perspetiva teórica. Abrindo assim o caminho, ele conseguiu, ao longo da sua carreira, conciliar, sem as distorcer e sobretudo enriquecendo-as, as abordagens da psicologia social, da psicologia do trabalho e da ergonomia. Propôs-se também considerar questões relativas aos quadros temporais do ponto de vista diacrónico, ou seja, à escala da vida, no seguimento dos trabalhos iniciados por Antoine Laville e Serge Volkoff sobre o tema do envelhecimento e das condições de trabalho (C Volkoff, Laville, & Maillard, 1992) ().

2. Charles Gadbois, um precursor

Charles Gadbois nasceu em 1937. Após uma formação em psicologia, entrou para o Centre national de la recherche scientifique (CNRS) em outubro de 1968, onde acabou por se tornar Diretor de Investigação. Ao longo dos anos, colaborou com Jacques Leplat, Antoine Laville, Annie Weill-Fassina e Alain Kerguelen enquanto trabalhava no Laboratoire d’Ergonomie Physiologique et Cognitive da École Pratique des Hautes Etudes. Em 2007 foi distinguido pela Société d’Ergonomie de Langue Française (SELF), tornando-se seu membro honorário, como forma de atestar e reconhecer o seu envolvimento na evolução e desenvolvimento da disciplina. Ao longo da sua carreira trabalhou para o reconhecimento da singularidade das condições de trabalho no sector hospitalar : da especificidade dos constrangimentos que aí se manifestam até à força dos desafios que aí emergem. O seu trabalho deixou a sua marca na comunidade, tanto pela sua contribuição em termos de conhecimentos sobre o trabalho hospitalar propriamente dito, como sobre o trabalho por turnos e noturno. Acabou por impor uma forma de abordar minuciosamente as problemáticas deste sector de atividade, de fazer emergir as características comuns úteis à partilha de conhecimentos no seio da comunidade científica internacional, ao mesmo tempo que procurava permanentemente favorecer a evolução de situações concretas. Demonstrou sempre a preocupação em manter uma forte ligação com as questões suscitadas pela realidade empírica, enquanto elaborava uma problemática teórica visando o avanço dos conhecimentos fundamentais. Vale também a pena sublinhar a natureza inovadora das ideias de Charles Gadbois : a sua conceção do trabalho hospitalar, os constrangimentos que aí são associados e os desafios societais a que se refere, são hoje cruelmente reavivados pela pandemia mundial de Covid-19. Antes do tempo, soube homenagear a natureza excecional do empenho do pessoal hospitalar, alertar para os desvios em curso e os riscos que correríamos se não lhes déssemos mais atenção.

Para além deste sector, os seus conhecimentos científicos sobre o trabalho em horários atípicos foram-se consolidando e as suas abordagens metodológicas enriquecidas através dos muitos outros sectores profissionais que atravessou. Segundo ele, os imperativos económicos e os relacionados com os requisitos técnicos dos sistemas sociotécnicos foram fatores que promoveram a disseminação e o desenvolvimento dos horários de trabalho atípicos.

Esta constatação feita nos anos 90, ainda hoje é válida, embora se deva acrescentar que a globalização tem tido um efeito multiplicador, dando origem a um mundo em constante movimento, o das 24h/24h, 7 em 7 dias por semana. O tempo de trabalho parece hoje, talvez mais do que nunca, condicionado, moldado mesmo, por estes imperativos incontornáveis.

Após a data de publicação deste artigo de Charles Gadbois, os condicionalismos industriais foram invadindo gradualmente o sector terciário : assistimos, entre outros, a uma extensão das exigências temporais e dos horários de trabalho atípicos do sector industrial ao sector dos serviços, serviços que não os intrinsecamente sujeitos a este tipo de organização (tais como hospitais, defesa, justiça, polícia, serviço prisional, etc.) (Prunier-Poulmaire & Gaudart, 2018). Assim, o tempo de trabalho atípico parece, mais do que anteriormente, andar a par com uma densificação do trabalho. As novas formas de organização parecem reunir diferentes temporalidades que colidem umas com as outras, resultando numa acumulação de exigências profissionais que acabam por afetar, em última análise, a saúde e a vida pessoal dos trabalhadores.

O panorama dos tempos de trabalho atípicos é também o resultado de alterações na legislação, que passou gradualmente da norma geral para as especificidades das negociações locais. Assim, a partir dos anos 80, assistimos ao que Thoemmes (2000) chama o "fim do tempo de trabalho" com o desaparecimento de um quadro único de tempo de trabalho para todos. A produção do direito passa a ser deslocada do Estado para as empresas através de negociações coletivas. Já não é a melhoria das condições de trabalho dos trabalhadores que guia as escolhas feitas em termos de tempo de trabalho, mas sim a adaptação às variações do mercado. Esta nova gestão do tempo é acompanhada por uma grande diversificação dos tempos negociados com uma explosão de tempos de trabalho individuais e singulares, compostos por horários e durações de trabalho atípicas.

Apesar de Charles Gadbois ter sido um precursor neste campo, o sector hospitalar sempre foi objeto de particular atenção na comunidade de investigação científica, em ergonomia como em outras disciplinas. Desde 2020, a pandemia apenas aumentou a exigência de trabalhos sobre o sector hospitalar e exacerbou a urgência de analisar as condições de trabalho do pessoal de saúde, particularmente as questões de tempo que estruturam a sua vida profissional e moldam a vida pessoal. Além disso, o teletrabalho, que foi brutalmente generalizado durante a crise sanitária de 2020, fez com que o tempo e o espaço se sobrepusessem numa única questão : o local de trabalho foi convocado para a casa dos trabalhadores e o tempo profissional resvalou, muito mais do que antes, para a temporalidade familiar, relançando assim a necessidade de investigação detalhada que esclareça as fronteiras entre a vida no trabalho e a vida fora do trabalho. Por último, este desastre sanitário mundial pôs em evidência numerosas profissões, qualificadas nesta ocasião como vitais, para as quais o trabalho em contínuo persiste e aumenta ao longo do tempo, impondo a todos um horizonte temporal profissional que entra em conflito com os ritmos biológicos e sociais comuns dos seres humanos. É aqui que têm origem os problemas de saúde e as dificuldades familiares e sociais.

No entanto, é evidente que 30 anos mais tarde, o que Charles Gadbois já lamentava, nomeadamente a falta de conhecimento sobre as questões levantadas pelo trabalho em horários atípicos, continua a ser relevante. É por isso apropriado perguntar porque é que o impulso dado na altura não permitiu o desenvolvimento de trabalhos neste campo específico, apesar de ter continuado a cristalizar, ao longo dos anos e em todo o mundo, fortes questões económicas, sociais, societais e políticas. A dificuldade reside sem dúvida no facto de o tempo de trabalho, o único fator comum a todas as situações profissionais, permanecer um tema de investigação complexo devido à sua constante evolução. A racionalização económica do tempo de trabalho, a sua desregulamentação progressiva e a multiplicação dos sectores profissionais envolvidos tornaram-no num objeto de estudo em movimento. Numa década, assistimos assim a uma multiplicação de formas de horários de trabalho por turnos e ao aparecimento de uma miríade de horários cada vez mais atípicos, tornando a sua análise complexa.

Além disso, como em todo o mundo, a situação sociofamiliar dos franceses mudou consideravelmente nos últimos anos. As características da população, e em particular o estatuto familiar, foram objeto de uma análise cuidadosa porque modulam os efeitos dos horários de trabalho por turnos na saúde e na célula sociofamiliar. Mas atualmente, a multiplicidade de configurações familiares (divórcio, recasamento, células monoparentais, etc.) complexifica consideravelmente estas análises. Assim, ao mesmo tempo que os horários diurnos e regulares estavam a dar lugar a horários atípicos, a família tradicional transformava-se. Estes dois fenómenos não só se combinaram, como os seus efeitos também foram potenciados. Assim, a regulação dos constrangimentos dos horários de trabalho atípicos pelos trabalhadores tornou-se mais aleatória e custosa. Apesar desta complexidade, a investigação deve continuar a esclarecer as mudanças organizacionais temporais, a fim de preservar a saúde e a vida fora do trabalho dos trabalhadores. Isto requer, tal como Charles Gadbois muito desejou, que a investigação científica, embora enraizada em diferentes campos disciplinares, produza conhecimentos que acabem por convergir e se articularem. Esta abordagem interdisciplinar é fundamentalmente a da ergonomia.

3. Uma abordagem dos tempos de trabalho necessariamente interdisciplinar

De facto, a ergonomia é uma ciência interdisciplinar que gera um ponto de vista específico e novo sobre o trabalho e, mais precisamente, sobre a atividade dos homens e mulheres no trabalho, os seus determinantes e as suas consequências. É isto que Charles Gadbois defende neste texto e em toda a sua produção científica, e o que ele defendeu através da sua prática como investigador, próximo das situações de trabalho.

Os horários de trabalho por turnos e noturnos enquanto objetos de investigação questionam muitas disciplinas científicas, cada uma das quais fornece respostas particulares e específicas (Costa, Barthe, & Prunier-Poulmaire, 2013). Estes conhecimentos provenientes, por exemplo, da demografia, epidemiologia, cronobiologia, cronopsicologia, fisiologia, medicina do trabalho, neurobiologia, psicologia, sociologia, história - e mesmo geografia - esclarecem cada uma das facetas deste objeto de investigação.

Pensar a interdisciplinaridade significa integrar estas diferentes abordagens a fim de produzir novos conhecimentos, novos quadros de análise teóricos e metodológicos, que são mais relevantes e vão bem mais longe do que a acumulação de conhecimentos disciplinares, graças à articulação e ao confronto de vários tipos de conhecimentos. A interdisciplinaridade também permite chegar a ações coerentes e eficazes para lidar com a questão da organização e conceção dos horários atípicos (Barthe, 2016).

Esta exigência de interdisciplinaridade está consubstanciada na abordagem da Agence Nationale de Sécurité Sanitaire, de l’Alimentation, de l’Environnement et du Travail (ANSES), cujas missões abrangem a avaliação dos riscos no domínio da alimentação, do ambiente e do trabalho, com vista a informar as autoridades públicas em relação às suas políticas de saúde. De 2012 a 2016, participámos com dezoito peritos internacionais (cronobiólogos, epidemiologistas, neurobiólogos, médicos, oncologistas, médicos do trabalho e ergonomistas) numa experiência coletiva sobre os riscos sanitários relacionados com o trabalho em horários atípicos, nomeadamente os da noite. O relatório foi tornado público a 22 de junho de 2016 (ANSES, 2016), (). Dada a necessidade de avaliar os efeitos dos horários atípicos em toda a sua diversidade, continuamos a nossa participação na ANSES, tendo sido nomeadas relatoras em 2019 e 2020 para avaliar a necessidade de constituir uma nova peritagem coletiva sobre os horários atípicos que não o trabalho noturno e os seus efeitos.

De acordo com a abordagem prospetiva de Charles Gadbois, temos apoiado e continuaremos a apoiar, no contexto da nossa participação na ANSES, a necessidade de adotar uma abordagem sistémica e multifatorial aos efeitos desses tempos de trabalho (Barthe, 2016; ANSES, 2016). De facto, os efeitos sanitários dos horários atípicos, e em particular o trabalho noturno, apenas fazem sentido porque os indivíduos estão sujeitos a estes horários particulares e porque estes indivíduos trabalham durante estes horários. E o estudo unicamente dos ritmos biológicos ou dos ritmos sociais e familiares não pode explicar a discordância temporal em que os trabalhadores em horários atípicos são envolvidos. A simples análise das exigências de trabalho e das possibilidades de regulação no trabalho não nos permite compreender o equilíbrio encontrado por estes trabalhadores nestas situações de horários de trabalho desfasados. Do mesmo modo, ter em conta os acordos com o cônjuge, as disposições relativas à guarda de crianças e outras regulações sociofamiliares por si só não permite uma compreensão completa dos efeitos em termos de saúde.

A generalização das conclusões das investigações sobre o trabalho por turnos requer uma atenção particular, devido ao carácter multidimensional das situações de trabalho por turnos. As dificuldades encontradas a este respeito são evidenciadas demonstrando como as repercussões do trabalho por turnos se diferenciam em função de diferentes eixos : estrutura dos horários de trabalho, cuja caracterização envolve uma série de parâmetros, diversidade de tarefas e variabilidade das suas exigências ao longo do dia, pluralidade de ritmos circadianos, diversidade da estrutura temporal da vida fora do trabalho, multiplicidade dos níveis e dos domínios de impacto do trabalho por turnos sobre o indivíduo, intervenção de variáveis moderadoras. Esta análise conduz a sugestões sobre os recursos próprios para assegurar uma avaliação mais precisa do escopo de validade das investigações sobre trabalho por turnos, tanto em termos de conceção das pesquisas como da utilização dos resultados para aplicação”. (Gadbois, 1990, p. 345, tradução livre).

Assim, os modelos enumerados por Charles Gadbois no seu texto - o modelo de atividade (Leplat, 2000), o modelo das repercussões dos horários de trabalho noturno na atividade (Gadbois & Quéinnec, 1984), e o modelo do sistema de atividades (Curie & Hajjar, 1987) - identificam, a vários níveis e escalas diversas, o acoplamento ou a interdependência entre as dimensões "indivíduo - trabalho - família", que são as dimensões mínimas a ter em conta logo que o interesse passe pela problemática dos horários de trabalho.

Propomo-nos adotar uma abordagem sistémica e multifatorial para a investigação e ação em ergonomia sobre os tempos de trabalho. Uma abordagem que identifica um conjunto de dimensões atravessadas pela questão dos horários atípicos, cuja atividade de trabalho e atividade de conciliação contribuem para manter o equilíbrio (ANSES, 2016),; Barthe, 2016). Estas dimensões são as identificadas por Quéinnec, Teiger, e de Terssac no seu livro "Repères pour négocier le travail posté" (1992, 2008), designadamente os horários de trabalho, a saúde, a vida social e familiar, o salário e as características do trabalho. São complementadas por outras dimensões que se relacionam tanto com (1) as características do indivíduo : relógio biológico, idade, cronótipo, sexo, resistência ao défice de sono, vida social e familiar, habitação e transporte e (2) as características do trabalho : sistema horário, salário e prémios, conteúdo do trabalho, fatores de penosidade e possibilidades de regulação.

Figura 1: Abordagem multifactorial e sistémica dos efeitos dos horários de trabalho (Barthe, 2016; ANSES, 2016),

Como as consequências do trabalho noturno e do trabalho por turnos sobre a saúde dos trabalhadores a eles submetidos não são unívocas e sistemáticas, estas dimensões irão modular, ou seja, reduzir ou ampliar os efeitos do trabalho noturno e do trabalho por turnos sobre a saúde dos trabalhadores.

Note-se que homens e mulheres que trabalham nestes horários particulares não "suportam" as contradições temporais em que os horários atípicos os colocam de forma passiva. Procuram reconciliar, harmonizar os seus horários de trabalho com os constrangimentos e recursos de outras dimensões. Para gerir este equilíbrio entre estas dimensões identificadas, os trabalhadores implementam ativamente, quando existe espaço de manobra, tanto no trabalho como fora dele, processos de regulação destinados a minimizar os efeitos dos horários atípicos (Barthe, 2015).

O que acrescenta complexidade e interesse na análise dos impactos da perturbação dos ritmos fisiológicos e sociológicos causada pelo trabalho por turnos e noturno. Interesse sublinhado por Charles Gadbois desde os seus primeiros trabalhos no sector hospitalar Gadbois, 1980).

Esta abordagem sistémica dos tempos de trabalho implica intervir em diversas alavancas de ações, combinando-as da melhor forma possível para aumentar a sua eficácia (Barthe, 2015; Toupin, Barthe, & Prunier Poulmaire, 2014).

De entre essas alavancas, podemos mencionar :

a modificação do sistema horário de modo a minimizar a perturbação circadiana e a perturbação do sono, promove a recuperação do défice de sono do trabalhador e permite-lhe conciliar melhor a sua vida pessoal e profissional ;

as ações de apoio da atividade de trabalho e de conciliação trabalho - fora do trabalho identificadas ;

as ações sobre as condições e o conteúdo do trabalho, a fim de não amplificar os efeitos do trabalho noturno e por turnos sobre os trabalhadores, de facilitar a gestão da vida pessoal e familiar ;

a ação sobre os percursos profissionais e a gestão dos recursos humanos, a fim de controlar a duração da exposição dos trabalhadores.

4. O futuro : o tempo em perspetiva

Embora os trabalhos de Charles Gadbois tenham sido claramente fundadores nesta matéria, convém agora prossegui-los através dum prisma semelhante, mas necessariamente enriquecido. Os modelos de trabalho 3x8, 4x6 ou o trabalho noturno, que persistem nas empresas, já não são os únicos que precisam de ser objeto de atenção. Hoje em dia, os modelos de horários atípicos desenvolvem-se mais rapidamente do que a identificação dos seus efeitos pela investigação científica. De facto, ao contrário de há 30 anos atrás, trabalhar em horários atípicos convoca uma miríade de realidades profissionais : trabalhar muito cedo de manhã e/ou pela noite dentro, trabalhar todo o fim-de-semana, fazer longas jornadas de trabalho com uma pausa de mais de 3 horas ou sem interrupção, trabalhar toda a noite, aos sábados, em certos domingos, trabalhar a tempo parcial, trabalhar apenas quando chamado, etc. Alguns trabalhadores acumulam várias destas realidades na organização temporal do seu trabalho. E estas formas de horários dizem respeito a uma proporção cada vez maior de trabalhadores : os dados nacionais e internacionais sobre este assunto falam por si. Para além destes constrangimentos horários, estes trabalhadores vivem condições de trabalho em geral desfavoráveis para a sua saúde, e estas têm sido claramente identificadas pelos inquéritos nacionais e internacionais : pressões temporais, penosidades físicas, falta de autonomia, etc. Também aqui existe uma grande diversidade de configurações possíveis, dependendo da situação.

Assim, embora os conhecimentos até agora estabelecidos sobre o que poderíamos chamar "horários atípicos tradicionais" - estes horários que eram maioritários na época do texto de Charles Gadbois - pareçam estar estabilizados, o contexto atual exige, contudo, que se analise os efeitos das novas modalidades de horários atípicos. Trata-se mesmo de uma urgência porque estes horários estão a desenvolver-se, a instalar-se rapidamente nas empresas sem que existam conhecimentos científicos sólidos sobre os quais se possa fundamentar o acompanhamento das mudanças em marcha ou sugerir os compromissos o menos desfavoráveis possíveis, a fim de preservar a saúde e respeitar o frágil equilíbrio dos tempos de vida.

O tempo de trabalho define, pois, os contornos da vida fora do trabalho. Mas também acaba por "estabelecer o ritmo" para toda a sociedade. Com efeito, durante a última década, assistimos a uma multiplicação dos ritmos de vida, muitas vezes mesmo no seio do casal, da família e, de uma forma mais ampla, da cidade. As questões ultrapassam as fronteiras da empresa, as portas da fábrica e do escritório : afetam os ritmos de vida da sociedade, isto é, o modelo dominante evocado por Charles Gadbois nos seus trabalhos. É, portanto, necessário estar vigilante.

Se as investigações ainda são insuficientes, então será aconselhável no futuro, tal como Charles Gadbois nos convidou a fazer, forjar ligações com outros campos disciplinares. Temos de criar as condições suscetíveis de favorecer o desenvolvimento desta perspetiva teórica para além das interações entre biólogos, psicólogos e sociólogos. Isto é ainda mais relevante se considerarmos que existe uma influência recíproca dos tempos da vida e que, como sugerido por Curie e Hajjar (1987), os diferentes meios e tempos de socialização dos indivíduos formam um sistema composto por quatro domínios (profissional, familiar, pessoal e social) que são simultaneamente autónomos e interdependentes. A abordagem sistémica e multifatorial apresentada neste texto convida assim à integração de conhecimentos de outros campos disciplinares : a cronobiologia, a fisiologia e as ciências do sono a fim de as incluir numa perspetiva predominantemente individual de atividade ; para além dos conhecimentos em psicologia social e sociologia, preconizados por Charles Gadbois numa perspetiva sociofamiliar da atividade, os conhecimentos em geografia urbana que analisam os ritmos da vida noturna e os tempos das cidades ; e conhecimentos noutras disciplinas tais como direito do trabalho, a demografia do trabalho, a economia ou a epidemiologia.

Estamos, portanto, confrontados com novos desafios : as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), a inteligência artificial (IA), a robotização e a evolução irreversível das profissões que irão alterar ainda mais a situação. A fábrica 4.0 fará recuar as temporalidades noturnas em favor de um controlo remoto que não requer presença de modo permanente ? Quem terá de adaptar o seu ritmo ao outro : o homem ou os robôs ? Podemos imaginar ou esperar que tudo isto seja acompanhado por uma atenuação dos constrangimentos, de uma redução do tempo de trabalho noturno, por exemplo... mas nada é menos certo. E basicamente não há razão para pensar que as novas formas de horários atípicos irão diminuir. No entanto, não sabemos quase nada sobre os seus efeitos e as suas consequências sanitárias, sociofamiliares e societais : não dispomos de pesquisas internacionais suficientes sobre estes pontos para responder às demandas sociais cada vez mais prementes e para permitir a organização de horários de trabalho que não prejudiquem a saúde ou o equilíbrio dos tempos de vida daqueles que a eles estão sujeitos. Contudo, acreditamos que seria útil, como fez Charles Gadbois, esclarecer as decisões das empresas e dos políticos, a fim de acompanhar a expansão destas modalidades temporais sem grandes riscos.

Temos de garantir que não sejam os mais vulneráveis, aqueles com baixos níveis de qualificação, aqueles com as condições de trabalho mais adversas, os horários de trabalho mais difíceis, que continuem a ser "os primeiros desta sujeição". Temos de tentar lutar contra uma sociedade a duas velocidades onde os ritmos sejam tais que os tempos comuns se tornem difíceis.

Neste texto, Charles Gadbois convida-nos também a considerar os problemas ligados aos quadros temporais de um ponto de vista diacrónico, à escala da vida individual. Assim, sugere que os horários atípicos acarretam certos tipos de regulações no âmbito da vida pessoal e profissional dos trabalhadores que exigem políticas de gestão coerentes e atempadas. Denuncia ainda esta "erosão seletiva que afeta a população de trabalhadores por turnos", lamentando que esta linha de análise não tenha sido mais explorada para além do trabalho de Laville e Volkoff. É igualmente a este respeito que, com o necessário recuo, a obra de Charles Gadbois é seminal. Visionário, considerou que o tempo de trabalho exige ser pensado e deve ser apreendido à escala da vida (Barthe, Garrigou, Gaudart, & Prunier-Poulmaire, 2020), e também à escala da carreira (Prunier-Poulmaire, 2018 ; Toupin, Barthe, & Prunier-Poulmaire, 2014), e que, neste sentido, os responsáveis da gestão dos recursos humanos têm um papel essencial que é ainda subestimado e pouco apetrechado. Os riscos são elevados porque poucos fatores da esfera profissional têm um impacto tão significativo como a definição do tempo de trabalho. A extensão dos horários atípicos é, portanto, fonte de grandes desafios para os poderes públicos. As questões de saúde pública, igualdade entre mulheres e homens, o desenvolvimento da política para a primeira infância, a questão do emprego e das condições de trabalho estão mais do que nunca em cima da mesa. O tempo de trabalho e as suas modalidades de organização permanecem, tal como acontecia quando Charles Gadbois escreveu este seu texto, uma questão societal primordial.

Referências bibliográficas

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Recebido: 26 de Julho de 2021; Aceito: 30 de Setembro de 2021

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