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Laboreal

versión On-line ISSN 1646-5237

Laboreal vol.19 no.1 Porto jun. 2023  Epub 01-Jul-2023

https://doi.org/10.4000/laboreal.20236 

Editorial

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1 Professeure-Chercheure Indépendante en Anthropotechnologie - Membre associée au Laboratoire LaReSS - Haute École de Travail Social de Lausanne. Rue du Château 10 - 2000 Neuchâtel - Suisse. carole.baudin.n@gmail.com

1 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto; Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto. lcunha@fpce.up.pt


São cada vez mais disseminados os discursos em torno da designada “twin transition”, acalentando a expectativa de que a transição digital e a transição ecológica possam fazer-se em paralelo e potenciem ganhos conjuntos. Não obstante, colocar o trabalho no centro da análise destes processos de transição instiga-nos a análises focadas no que nos revelam das realidades concretas de trabalho, e dos constrangimentos que se impõem a um futuro que se mantém perspetivado.

Este número da Laboreal convida então os.as leitores.as a uma reflexão sobre o potencial da análise da atividade quando ela é atravessada por tais desafios, num dossier temático intitulado “A atividade de trabalho no cerne dos novos desafios sociotécnicos da natureza e do ambiente”.

Cinco artigos integram este dossier.

Fabienne Goutille, Marion Albert, Julie Fredj, Johanna Pannetier, Alain Garrigou, Adelaide Nascimento e Caroline Jolly analisam a forma como as transições tecnológica e ecológica se conjugam na introdução de tecnologias de precisão na agricultura. Com base em três estudos de caso (o caso de uma sementeira, de uma ordenha e da pulverização de pesticidas), os autores mostram como, pese embora as novas ferramentas de agricultura de precisão possam ser atrativas pelos argumentos económicos e ecológicos que apresentam, também constrangem e redefinem as atividades e temporalidades agrícolas, exigindo novas competências e estratégias, e alheando ao mesmo tempo os saberes empíricos da terra. Estas novas configurações exigem então o desenvolvimento de análises da atividade a diferentes escalas, para acompanhar os agricultores nas escolhas que têm de fazer e para repensar a conceção e o desenvolvimento destas novas tecnologias.

Sandrine Caroly e Rafaël Weissbrodt convidam-nos a refletir sobre as dimensões que levantam as novas formas de risco e de vulnerabilidade potenciadas pelas alterações climáticas nos ambientes de montanha. Em particular, o estudo de dois projetos, um sobre a atividade das mulheres guias de alta montanha, o outro sobre a gestão dos riscos ligados ao permafrost na zona inter-regional dos Alpes, conduz os autores a enfatizar a importância de integrar nas análises as dimensões societais da atividade, mas também a recorrer a modelos provenientes das ciências políticas, para melhor sistematizar as ações públicas e as questões territoriais em jogo na gestão destas novas situações de riscos climáticos.

Willy Buchmann et Valérie Zara-Meylan discutem no seu artigo as relações entre trabalho e desafios ambientais, a partir de duas pesquisas, uma no sector da horticultura e a outra na manutenção de espaços verdes, realçando o papel da experiência como recurso para antecipar, em cenários de transição, configurações da atividade receadas, pelos seus riscos, ou para pensar o trabalho futuro.

No artigo de Simone Oliveira e Sérgio Portella, os cenários de mudança climática e o aumento do número de eventos críticos servem de referência à discussão das catástrofes como processos reveladores das vulnerabilidades dos territórios, de que é exemplo a que teve lugar, em 2011, nas cidades serranas do Rio de Janeiro. O artigo revela como o recurso à cartografia, à memória comunitária e a indicadores de vulnerabilidades socioambientais contribuíram para a criação de condições favoráveis ao encontro de diferentes saberes e à identificação de alternativas.

O ponto de partida do artigo de Adelaide Nascimento, Isabelle Probst, Marianne Lacomblez, José Jackson Marçal, Alain Garrigou, e de Roberto Novaes é inédito na Laboreal: sustenta-se num documentário-intervenção onde são descritas e comentadas as atividades das pescadoras nos manguezais do Nordeste do Brasil, explorando questões que desafiam a ergonomia contemporânea e convocam a categoria de análise da interseccionalidade, a noção de nocividade ampliada, a tradição de formação freireana, e a abordagem do território como moldado na atividade de trabalho.

Na secção Varia, o resumo de tese de Marion Gaboriou convoca-nos para um outro cenário de transição, marcante na história pessoal e profissional, ditado pelo reconhecimento, frequentemente muito difícil, de “inaptidão para o trabalho”. Em teoria, o reconhecimento de inaptidão visa proteger os.as trabalhadores.as cuja saúde está fragilizada pelos riscos inerentes ao seu posto de trabalho, tido como não adaptável, dando-lhes o direito a uma reconversão ou mesmo a uma reforma antecipada. Não obstante, na prática, a inaptidão é objeto de usos diferenciados e os fins para que é perspetivada variam consideravelmente de um contexto sócio histórico; de uma organização; ou de um sector de atividade, para outro.

Este número integra também um artigo “de resposta a…”, da autoria de Raoni Rocha, ao artigo de Lima, Ribeiro, La Guardia e Nagem (2020). O debate aqui aberto tem como enfoque a importância da associação de espaços de reflexão e de discussão à análise do trabalho - tida não só como desejável, mas como necessária nas intervenções ergonómicas; e como consequência da evolução da própria disciplina. Realça-se aqui também, com este contributo de Raoni Rocha, a oportunidade de reflexão e de discussão instigada em espaço próprio da Laboreal, entre diferentes autores.

Relativamente à secção “O trabalho e suas histórias”, este número conta com oTexto histórico de André-Georges Haudricourt sobre “A origem das Técnicas”, editado em 1965 na revista “Le courrier rationaliste” - cuja publicação foi autorizada pela “Union Rationaliste”, o que muito agradecemos. Haudricourt considera a técnica como a atividade mais racional do ser humano, sempre socialmente aprendida e transmitida. As invenções técnicas não podem ser, por isso, interpretadas como o resultado de inspirações individuais, mas sim como a combinação de elementos pré-existentes, de técnicas já conhecidas. A originalidade das técnicas advém, então, das novas combinações que são produzidas e da sua aderência às circunstâncias e aos locais em que são implementadas.

O comentário ao texto histórico, por Bernard Prot, remete para algumas controvérsias atuais para que o texto evoca. Mas, realça também como esta abordagem vê na tecnologia uma história das relações dos humanos com o seu ambiente e entre si: uma história intrigante e inacabada.

Esta reflexão acaba por se prolongar na nossa rubrica Datário, com um contributo de Carole Baudin, homenageando a assinatura da Convenção de Minamata sobre o uso de mercúrio. Uma homenagem como a Laboreal as procura privilegiar, com uma ancoragem na complexidade das situações reais de trabalho, graças ao relato de uma investigação-intervenção desenvolvida no Perú, à luz do referencial teórico-metodológico da antropotecnologia. Uma homenagem que, na verdade, interpela as medidas legais/convencionais insuficientemente atentas ao que delas se fará na prática.

Agradecemos a todos.as os.as que colaboraram neste número, considerando os.as autores.as já referidos.as; as tradutoras, Agustina Blanco, Fernanda Romero, Flora Vezza, Gabriela Cuenca, Raquel Araújo e Sophie Dubois; e todos.as os.as peritos.as que avaliaram as propostas dos artigos que recebemos para este número, Anísio Araújo, Anne Grunstein, Bernardo Suprani, Christelle Casse, Isabelle Probst, Joël Lebeaume, Laura Centemeri, Laurence Thiry, Livia Scheller, Marianne De Troyer, Michelle Aslanides, Milton Athayde, Muriel Prévot-Carpentier, Nelcy Arevalo Pinilla, Nicolas Canales-Bravo, Rogério Leitão, Thaís Máximo, Valérie Pueyo e Véronique Poète.

Desejamos a todos.as o prazer da descoberta deste número,

Em nome do Comité Editorial da Laboreal.

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