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Acta Obstétrica e Ginecológica Portuguesa

Print version ISSN 1646-5830

Acta Obstet Ginecol Port vol.15 no.4 Algés Dec. 2021  Epub Dec 31, 2021

 

Editorial

Morbilidade Materna Grave. Uma questão para refletir!

Severe Maternal Morbidity. An issue to think about

José Alberto Moutinho1  2 

1. Professor auxiliar da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Portugal.

2. Assistente graduado do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira. Portugal.


A mortalidade materna (MM) tem sido considerada um indicador de qualidade do sistema de saúde de um país. Em Portugal, especialmente desde a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 1979 (Lei n.o 56/79, de 15 de Setembro), que a saúde materna e assistência obstétrica está contemplada de forma gratuita para todas as grávidas residentes em Portugal, há pelo menos 3 meses. Como consequência das medidas então tomadas, em 1992 conseguiu-se, pela primeira vez, atingir uma taxa de MM inferior a 10 por 100.000 grávidas (9,6 por cem mil) (1. Contudo a partir de 2017, a taxa de MM voltou a aumentar e, aparentemente, de forma continuada (2017: 12,8; 2018: 17,2; 2019: 10,4) (1. Resta-nos aguardar a divulgação das taxas de mortalidade materna nos anos da pandemia por COVID-19. Muito se tem discutido sobre as causas deste aumento da MM (grávidas mais idosas, mais obesas e com mais patologias médicas, estilos de vida pouco saudáveis, etc), mas, independentemente das causas que se lhe queira atribuir, não podemos desresponsabilizar a progressiva degradação do SNS que temos vindo a assistir. Embora nem todas as mortes maternas possam ser prevenidas, a evidência científica tem mostrado que entre 30-60% dos casos podem ser evitados2), (3), (4.

A MM é apenas a face visível, talvez a ponta do icebergue, da morbilidade materna grave (MMG), ou quase-morte materna (na literatura inglesa: maternal near miss), que é hoje apontada como um dos indicadores de qualidade da prática obstétrica. A MMG para além do risco que representa para a morte materna, tem repercussões físicas e psicológicas significativas para as mulheres que as vivenciaram, muitas delas irreversíveis, tal como a histerectomia.

Apenas em 2004 foi publicada a primeira revisão sistemática sobre MMG5, sob os auspícios da Organização Mundial de Saúde (OMS), o que demonstra que só recentemente este tema começou a despertar o interesse das organizações de saúde. Em 2011, a OMS, com vista à melhoria dos cuidados de saúde, passou a recomendar que todos os casos de MMG fossem submetidos a auditoria clínica6. Desde então, foram propostos vários sistemas de seleção dos casos de MMG a auditar, sendo de destacar pela sua simplicidade e reprodutividade, o proposto em 2016 pelo The American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) e pela Society for Maternal-Fetal Medicine (SMFM) (7, baseado em pelo menos um dos seguintes dois critérios: 1) transfusão de 4 ou mais unidades sanguíneas; 2) Internamento em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI).

A Dr.ª Margarida Pires Cordoeiro, do Centro Hospitalar Tondela Viseu, EPE e a Dr.ª Ana Patrícia Vicente do Hospital de Cascais Dr. José de Almeida, são as autoras de 2 artigos publicados neste número da Acta Obstétrica Ginecológica Portuguesa, sobre o internamento de grávidas em UCI, que pelos critérios da ACOG/SMFM, as classificam em MMG8), (9. Os artigos são semelhantes em termos de resultados, salientando-se que a doença hipertensiva na gravidez e os quadros hemorrágicos foram as principais causas de admissão na UCI, situações clínicas para as quais têm sido descritas mais intervenções preventivas. Estes artigos convidam-nos à reflexão sobre a prática obstétrica que exercemos, mas mais do que isso, sobre a indispensável necessidade da análise atenta e imparcial dos registos clínicos de todas as mulheres que sofreram de MMG, através de auditorias internas ou externas, no sentido de se identificarem deficiências e implementarem as devidas correções e melhorias. Os critérios de seleção dos casos que foi proposta pela ACOG/SMFM poderá ser uma boa base trabalho facilmente aplicável à realidade portuguesa.

A análise individual de cada caso de MMG, será a melhor forma, senão a única, de reduzir a MMG e melhorar a taxa de MM nacional.

Referências bibliográficas

1. Pordata. Taxa de mortalidade Materna (atualizada em 22/06/2021). Disponível em: https://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+mortalidade+materna-619Links ]

2. Berg CJ, Harper MA, Atkinson SM, et al. Preventibility of pregnancy-related deaths: results of a state-wide review. Obstet Gynecol. 2005;106:1228-1234 [ Links ]

3. Kilpatrick SJ. Next steps to reduce maternal morbility in USA. Women Health (Lond). 2015;11:193-199 [ Links ]

4. Main EK, Cape V, Abreo A, et al. Reduction of severe maternal morbility from hemorrhage using a state perinatal quality collaborative. Am J Obstet Gynecol. 2017;216:298.e1-298.e11.doi: 10.1016/j.ajog.2017.01.017.Epub 2017Jan 30. [ Links ]

5. Minkauskiene M, Nadisauskiene R, Padaiga Z, et al. Systematic review on the incidence and prevalence of severe maternal morbidity. Mediciana Kaunas. 2004; 40:299-309 [ Links ]

6. Evaluating the quality of care for severe pregnancy complications. The WHO near-miss approach for maternal health. Geneva: World Health Organization;2011 [ Links ]

7. Obstetric Care Consensus Nº 5 summary: severe maternal morbidity: screening and review. Obstetric Gynecol. 2016;128:670-671 [ Links ]

8. Cordoeiro MP, Vieira-Coimbra M, Santos J, Fernandes M, Nogueira-Martins N; Nogueira-Martins F. Obstetric Admissions to intensive care unit in a tertiary referral Hospital. Acta Obstet Gynecol Port 2021 [ Links ]

9. Vicente AP, González M, Vicente I, Gomes AS, Ramos A, Nunes F. Obstetric Intensive Care Admissions: 10-Year Review in a Portuguese Tertiary Care Centre. Acta Obstet Gynecol Port 2021 [ Links ]

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