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Observatorio (OBS*)

On-line version ISSN 1646-5954

OBS* vol.15 no.1 Lisboa Mar. 2021  Epub July 26, 2022

https://doi.org/10.15847/obsobs15120211683 

Artigos Originais

Suicídio nos media: Perceção dos estudantes de jornalismo sobre as regras para uma cobertura responsável do suicídio

Suicide in the media: Journalism students' perception of the rules for responsible suicide coverage

1Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal


Resumo

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem vindo a alertar que os profissionais dos media assumem uma grande responsabilidade quando noticiam suicídios e dezenas de estudos internacionais têm apontado para consequências nos comportamentos suicidários da população na sequência da cobertura noticiosa do suicídio. Pela primeira vez no ano 2000, a OMS divulgou um conjunto de diretrizes para a cobertura mediática do suicídio, tendo vindo a atualizar aquelas orientações. Contudo, o tema do suicídio e as diretrizes internacionais para uma cobertura responsável do tema parecem não constar dos programas de formação dos jornalistas. O presente estudo exploratório teve o objetivo de averiguar a perceção dos estudantes de jornalismo em Portugal, a frequentar as instituições de ensino de Lisboa, relativamente às notícias sobre suicídio, aferir se conhecem as regras para uma cobertura responsável do tema e verificar se existem diferenças entre os alunos do 1º e 3º anos, estes últimos finalistas e prestes a entrar no mercado de trabalho. Foram validados 248 questionários, 157 do 1º ano e 91 do 3º ano. A maioria dos estudantes de jornalismo sondados manifestou desconhecimento das melhores práticas de elaboração de notícias responsáveis sobre suicídio, demonstrando também pouca sensibilidade relativamente às questões que o tema coloca. Neste sentido, será importante consciencializar as instituições de ensino para a necessidade de abordar o assunto e ensinar as diretrizes a seguir aos futuros jornalistas e profissionais dos media.

Palavras chave: Suicídio; jornalismo; formação; prevenção

Abstract

The World Health Organization (WHO) has warned that media professionals have great responsibility when reporting suicides and dozens of international studies have pointed to consequences on the population's suicidal behavior following news coverage of suicide. For the first time in the year 2000, WHO issued a set of guidelines for media coverage of suicide and has been updating those guidelines. However, the subject of suicide and international guidelines for responsible coverage of the subject seem not to be included in journalist training programs. The aim of the present exploratory study was to investigate the perceptions of journalism students in Portugal, who attend the educational institutions of Lisbon, in relation to the news about suicide, to verify if they know the rules for responsible coverage and to verify if there are differences between the students of the 1st and 3rd years, these last finalists and about to enter in the job market. In total, 248 questionnaires were validated, 157 from the 1st year and 91 from the 3rd year. Most of the probed journalism students were unaware of the best practices for preparing responsible suicide news, as well as showing little sensitivity to the issues raised by the subject. In this sense, it would be important to make educational institutions aware of the need to approach the subject and teach the guidelines to be followed by future journalists and media professionals.

Keywords: Suicide; journalism; training; prevention

Introdução

Há décadas que se debate a questão sobre se os relatos de suicídios nos media podem conduzir a suicídios por imitação (Phillips, 1974; Bollen e Phillips, 1982; Stack, 2000; Gould, 2001; Pirkis e Blood, 2010). Existem evidências de que notícias de suicídios podem influenciar atos suicidas por imitação em certas circunstâncias, mas também é reconhecido que os media podem ajudar na prevenção do suicídio (Etzersdorfer e Sonneck, 1998; OMS, 2008; Niederkrotenthaler et al., 2010). Há uma vasta literatura sobre a cobertura de suicídios nos media, qual o impacto no comportamento suicidário das populações de vários países, com base na análise de estudos de caso, nomeadamente, suicídios de figuras públicas, como, por exemplo, da atriz norte- americana Marylin Monroe (Stack, 2003), do vocalista dos Nirvana Kurt Cobain (Jobes et al., 1996), do guarda-redes alemão Robert Enke (Ladwig et al., 2012; Hegerl et al., 2013), do ator norte-americano Robin Williams (Fink et al., 2018), do famoso repórter no Québec Gaëtan Girouard (Tousignant et al., 2005) e do cantor e ator pop de Hong Kong Leslie Cheung (Yip et al., 2006).

“Foram conduzidas mais de 100 investigações sobre suicídios por imitação [‘copycat’], isto é, suicídios que parecem estar diretamente relacionados com notícias [‘reports’] dos media sobre um ou mais suicídios”, afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS) (2017, p.3)1, que adianta que revisões sistemáticas destes estudos têm chegado consistentemente à mesma conclusão: “a cobertura mediática de suicídios pode levar a comportamentos suicidas subsequentes e adicionais” (idem).

A OMS indica que os estudos também concluem que o comportamento suicida por imitação é mais provável em algumas circunstâncias, particularmente, em casos de cobertura repetida, histórias com maior impacto e quando a pessoa descrita na história é uma celebridade e tida em alta consideração pelo leitor ou espectador. Além disso, subgrupos específicos da população, como jovens, pessoas que sofrem de doenças mentais, pessoas com histórico de comportamento suicida ou pessoas enlutadas pelo suicídio, são particularmente vulneráveis a desenvolver comportamentos suicidas por imitação. “O risco é mais acentuado quando as características da pessoa que morreu por suicídio e as do leitor ou espectador são semelhantes de alguma forma, ou quando o leitor ou espectador se identifica com a pessoa em destaque” (OMS, 2017, p.3).

A OMS refere ainda que “o conteúdo das histórias [difundidas nos media] também desempenha um papel importante”, frisando que histórias que confirmam ou repetem mitos sobre suicídio ou que incluem uma descrição detalhada de um método específico de suicídio são mais propensas a resultar em suicídios por imitação. Contudo, a OMS indica que as notícias escritas de acordo com as diretrizes para os media “mostram um forte potencial para ajudar a prevenir o suicídio e geralmente não desencadeiam mais suicídios” (idem). No ano 2000, a OMS2 lançou, pela primeira vez, um guia para os profissionais dos media sobre a cobertura suicídios, preparado no âmbito do SUPRE (Suicide Prevention Program), iniciativa mundial da OMS para a prevenção do suicídio, lançada em 1999. Uns anos depois, em 2008, a OMS3 divulgou uma atualização do guia, onde pediu aos profissionais dos media para educarem o público sobre o suicídio nas notícias sobre o tema, acrescentando algumas orientações. Mais recentemente, em 2017, a OMS indica, na nova atualização, que “os fatores que contribuem para o suicídio e para a sua prevenção são complexos e não totalmente compreendidos, mas há evidências crescentes de que os media podem desempenhar um papel significativo, tanto no reforço quanto no enfraquecimento dos esforços de prevenção do suicídio” (p.1). E a OMS prossegue que “os relatos dos media sobre suicídio podem minimizar o risco de suicídios por imitação ou aumentar o risco”, acrescentando que também “podem fornecer informações educativas úteis sobre suicídio ou espalhar informações erradas” (idem).

Em Portugal, o Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (PNPS, 2013)4, indica que, no âmbito da prevenção, “a sensibilização e formação de todos para as vantagens da comunicação social e das redes sociais na promoção da saúde mental, é uma medida importante, pelo que ações de formação a jornalistas deverão ser implementadas regularmente” (p.59).

No âmbito do meu trabalho de Doutoramento intitulado ‘Suicídio nos media e comportamento suicidário em Portugal - contribuição para uma cobertura responsável’, quis aferir a perceção dos estudantes de jornalismo em relação ao suicídio e verificar qual a sua sensibilidade em relação ao tema e se conhecem ou não as regras para uma cobertura noticiosa responsável do suicídio. O objetivo foi também verificar se existem diferenças relativamente a estes temas entre os alunos do primeiro ano e os alunos do terceiro ano, estes últimos finalistas das licenciaturas.

Revisão de literatura

Suicídio e media: riscos e potencialidades

A OMS apresenta o suicídio como “um grande problema de saúde pública, com consequências sociais, emocionais e económicas de longo alcance” (OMS, 2017, p.1). “Existem aproximadamente 800.000 suicídios por ano em todo o mundo e estima-se que pelo menos seis pessoas sejam diretamente afetadas por cada morte suicida” (idem). Em Portugal morreram 1.061 pessoas por suicídio em 2017, um aumento de 8% face ao ano anterior (INE, 2019)5.

Existe uma forte relação entre o suicídio e a saúde mental. Trabalhos com base em autópsias psicológicas sugerem que 90% dos suicídios estão associados a uma doença mental diagnosticável (Silveira e Fonte, 2014), e nos estudos epidemiológicos a depressão surge associada a entre 45% e 80% dos suicídios (Santos, M.J., 2014). Quase um quinto da população portuguesa sofre de doenças mentais e Portugal é o quinto país da União Europeia com maior incidência destas perturbações (OCDE, 2018)6.

Há mais de dois séculos que se questiona se os relatos de suicídios nos media podem conduzir a suicídios por imitação. Existem evidências de que as notícias de suicídios podem influenciar atos de imitação em determinadas circunstâncias, mas também é reconhecido que os media desempenham um papel importante na consciencialização do suicídio enquanto problema de saúde pública, podendo ajudar na sua prevenção (OMS, 2000, 2008 e 2017).

Como Fink, Santaella-Tenorio e Keyes (2018) atestaram, não é possível determinar com certeza que um aumento de suicídios seja atribuído às notícias sobre um determinado suicídio, mas as notícias sobre essa morte podem dar o estímulo necessário para que indivíduos em risco mudem da ideação suicida para a tentativa de suicídio, podendo os media influenciar positiva ou negativamente os suicídios por imitação.

“Clínicos e investigadores reconhecem que não é a cobertura noticiosa de suicídios per se, mas certos tipos de cobertura noticiosa, que aumentam os comportamentos suicidas em populações vulneráveis. Por outro lado, certos tipos de cobertura podem ajudar a evitar a imitação de comportamentos suicidas”, afirma a OMS, acrescentando que “a cobertura repetida e contínua do suicídio tende a induzir e promover preocupações suicidas, sobretudo entre adolescentes e jovens adultos” (2000, p.6).

Para Niederkrotenthaler et al. (2014), os media desempenham um papel importante no combate ao estigma em torno da doença mental e ideação suicida, que reduz a probabilidade de procurar ajuda. Carmichael e Whitley (2018) também consideram que poucas questões de saúde pública foram resolvidas com o silêncio e que, “pelo contrário, o envolvimento positivo dos media em questões de saúde pode aumentar a consciencialização, catalisar a mudança de políticas e até mesmo afetar comportamentos individuais de saúde (e de procura de ajuda)” (p.7). Os autores dão o exemplo do consumo de cigarros e da condução sob efeito de álcool, que baixaram nas últimas décadas após o envolvimento dos media na educação, consciencialização e prevenção.

Também Roque (2014) considera que os media podem ajudar na prevenção do suicídio, promovendo a educação pública: “o relato responsável de um suicídio pode constituir uma oportunidade de educar o público acerca deste comportamento, evitando a sua dramatização e normalização” (p.511). A mesma posição foi defendida por Gould em 2001: “Não estamos a dizer para não noticiar o suicídio. Queremos notícias responsáveis” (p.223). De acordo com a autora, responsável por vários estudos sobre o tema, as notícias sobre suicídio, em si, não são o problema, e a forma como o suicídio é relatado é que constitui uma preocupação. Por isso, as notícias sobre suicídios tanto podem alimentar o problema, como contribuir para que pessoas vulneráveis procurem ajuda.

Em Portugal, o PNPS (2013) também alerta que “a diminuição do estigma na área da suicidologia pode beneficiar da sua integração em processos mais amplos de combate ao estigma da doença mental”, e aponta que os media “podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento de estratégias formativas e de divulgação do conhecimento” (p.32).

Segundo Norris et al. (2006)7, evidências de uma revisão abrangente e sistemática de pesquisas internacionais sugerem que os profissionais dos media à escala global têm “uma responsabilidade onerosa quando noticiam o suicídio”. Neste sentido, “abordagens responsáveis para apresentar comportamentos suicidas nos media podem salvar vidas” (idem), o que levanta a questão sobre o que são “relatos responsáveis” e quem os define, se familiares de suicidas, suicidologistas, a polícia, os políticos, os reguladores dos media e analistas ou os próprios profissionais dos media.

A OMS (2017) indica que, “por um lado, indivíduos vulneráveis correm o risco de ter comportamentos de imitação após relatos dos media sobre suicídio, especialmente se a cobertura for extensa, proeminente, sensacionalista, descreva explicitamente o método de suicídio e tolere ou repita mitos amplamente difundidos sobre suicídio” (p. 1). Por outro lado, “uma cobertura responsável pode ajudar a educar o público sobre o suicídio e a sua prevenção, pode incentivar as pessoas em risco de suicídio a agir de modo alternativo e pode inspirar um diálogo mais aberto e esperançoso em geral” sobre o tema (idem). E a OMS indica ainda que “as histórias que relatam a procura de ajuda (gestão positiva) em circunstâncias adversas podem fortalecer fatores de proteção ou obstáculos ao suicídio e, assim, contribuir para a sua prevenção” (2017, p.1).

A origem da associação entre media e suicídio

Nas últimas décadas, dezenas de estudos internacionais têm revelado efeitos de imitação decorrentes da cobertura de suicídios nos media noticiosos. O chamado efeito Werther é o termo utilizado para referir o aumento do número de suicídios depois da divulgação nos media de uma história de suicídio, e foi criado por Phillips em 1974, a partir do romance de Goethe “The Sorrows of Young Werther” (1774). O livro conta a trágica história do jovem Werther, que, devido a um amor impossível, pôs fim à própria vida com um tiro na cabeça. Várias fontes históricas descrevem casos de jovens que se suicidaram pelos mesmos motivos, recorrendo ao mesmo método e com o livro de Goethe por perto (Niederkrotenthaler & Sonneck, 2007).

Foi Phillips (1974) quem fez o primeiro estudo moderno sobre a relação entre notícias de suicídios nos media e a casuística de suicídios entre a população, através da análise das primeiras páginas dos principais jornais norte-americanos e britânicos. O autor concluiu que as taxas de suicídio nos EUA e Reino Unido aumentaram nos meses em que foi divulgada uma história de suicídio na primeira página e, quanto maior a divulgação, maior o aumento do número de suicídios, mesmo após correções de tendências sazonais e temporais.

Bollen e Phillips (1982) comprovaram o aumento de suicídios apenas depois da divulgação da história de suicídio, através de uma análise do número de suicídios semanais em vez de mensais. Segundo Stack (2000), que reviu 293 conclusões de 42 estudos publicados entre 1974 e 1996, o efeito de imitação é maior nas notícias de suicídios em jornais do que na televisão e quando as notícias são divulgadas em mais de um meio de comunicação social. Através da revisão de 42 estudos sobre o tema, Gould (2001) também concluiu que a extensa cobertura jornalística do suicídio está associada a um aumento significativo na taxa de suicídio, e que a magnitude do aumento é proporcional à quantidade, duração e proeminência da cobertura.

Na mesma linha, Pirkis e Blood (2010)8 concluíram que as notícias de suicídios podem influenciar atos de imitação em determinadas circunstâncias, alertando que as suas descobertas deveriam ser interpretadas como uma indicação de que a apresentação do suicídio pelos media deve ser feita de forma responsável e equilibrada em relação ao direito de saber do público, com o objetivo de reduzir potenciais danos confirmados pelas evidências, visto que “é reconhecido que os media têm um papel a desempenhar na consciencialização do suicídio enquanto problema de saúde pública” (p.33).

Sisask e Varnik (2012), que fizeram a revisão de 56 estudos, chamaram a atenção para a existência de um número muito superior de investigações sobre como uma cobertura irresponsável dos media pode provocar comportamentos suicidas, o efeito Wether, face ao número de estudos sobre o efeito protetor que os media também podem ter, através de mudanças na qualidade e conteúdo das histórias de suicídio, o chamado efeito Papageno (p.131). Neste sentido, os autores argumentaram que se a teoria da imitação dos media supõe que a modelagem (no sentido de seguir um exemplo), funciona de uma maneira negativa, induzindo suicídios por imitação, também pode funcionar enquanto modelo positivo, no sentido da prevenção.

Introduzido por Niederkrotenthaler et al. (2010), o conceito de efeito Papageno foi inspirado num personagem da opera de Mozart “A Flauta Mágica”, na qual o protagonista tem ideação suicida por recear perder a sua amada, mas abstém-se de cometer suicídio porque três outros personagens o chamam à atenção para estratégias alternativas de enfrentar a situação e Papageno continua a viver. Os autores analisaram as taxas de suicídio e 500 artigos de imprensa relacionados com suicídio, publicados em Áustria no primeiro semestre de 2005, e, com base nos resultados, estabeleceram uma associação entre a apresentação de uma ideação suicida individual (não acompanhada de tentativa de suicídio ou suicídio consumado) e uma diminuição nas taxas de suicídio.

Segundo Niederkrotenthaler et al., os artigos que se focam na ideação suicida individual podem aumentar a identificação de um indivíduo em risco com o indivíduo noticiado, dando destaque ao resultado noticiado como "continuar a viver", e a publicação de artigos sobre indivíduos que se abstiveram de concretizar planos suicidas, adotando, em alternativa, mecanismos positivos de reação em circunstâncias adversas (momentos críticos da sua vida) podem ser eficazes na prevenção do suicídio.

Phillips, em 1974, dizia que, quanto mais notoriedade fosse dada aos suicídios de primeira página, mais os suicídios aumentariam na área em que ocorria a divulgação, e as previsões inversas também deviam ser válidas, ou seja, quanto mais notoriedade fosse dada a uma alternativa ao suicídio, mais a taxa de suicídio deveria diminuir.

Um estudo também muito referido é o de Etzersdorfer e Sonneck (1998), que revelou uma redução superior a 80% no número de suicídios no metro de Viena, da primeira para a segunda metade de 1987, depois de uma campanha de divulgação de diretrizes para a cobertura de suicídios junto dos media. O objetivo da campanha foi contrariar o acentuado aumento nas taxas de suicídio, registado após a implementação do sistema de metro em Viena naquele ano, e o facto de os eventos suicidas no metro serem noticiados de forma “muito dramática” (p.68).

Publicar ou não publicar?

Segundo Norris et al. (2006), publicar ou não publicar histórias de suicídio é um dilema difícil associado às questões sobre se as notícias de suicídios encorajam comportamentos de imitação ou se existe um dever público para divulgar notícias sobre o tema. Os autores concluem que os media à escala global estão claramente divididos e indicam que “os tabus que rodeiam o suicídio na maioria das culturas estão refletidos no facto de se evitar quase por completo o tema da cobertura dos suicídios nos muitos códigos de conduta do mundo do jornalismo” (p.4). Entre os 188 códigos compilados e analisados pela MediaWise Trust - instituição de caridade e ética nos media com sede no Reino Unido - apenas treze faziam menção ao suicídio. Em Portugal, uma pesquisa na Internet por livros, códigos ou manuais de ética ou de estilo dos órgãos de comunicação social portugueses mostra que existem poucas menções ao suicídio (aliás, poucos os disponibilizam na Internet). O Livro de Estilo da Agência Lusa (2018)9 é perentório ao indicar que “a Lusa não publicita suicídios a menos que o acontecimento tenha relevo público” (p.19). Também o Livro de Estilo do Público (2005)10 indica que “o PÚBLICO não noticia suicídios ou tentativas de suicídio, exceto quando estes envolvem figuras públicas e seja relevante destacar a causa da morte ou ilustram situações em que o recurso ao suicídio é um reflexo de um problema social, comportamental ou de grupo que, em si mesmo, merece tratamento noticioso e reflexão jornalística” (p.28). O Guia Ético e Editorial da RTP (n/d)11 refere que “qualquer proposta para transmitir cenas de enforcamento, suicídio, tentativa de suicídio ou automutilação deve ser encaminhada para o coordenador do programa ou para os Diretores de Informação da televisão, da rádio ou seus legítimos substitutos” (p.36). O Código Deontológico do Sindicato dos Jornalistas (2017)12 não faz referência ao suicídio, mas indica, no ponto 10, que “o jornalista deve respeitar a privacidade dos cidadãos exceto quando estiver em causa o interesse público ou a conduta do indivíduo contradiga, manifestamente, valores e princípios que publicamente defende”.

Saraiva (2010) defende que “seria determinante uma regulação sobre a comunicação social em relação ao “como dar as notícias de suicídio”, de modo a não potenciar o fenómeno da imitação”, e critica “a exploração pelo lado sensacionalista dos casos de suicídio, em vez da menção aos mecanismos de ajuda, psicológica, psiquiátrica ou social para um qualquer indivíduo desesperançado ou desesperado”, exploração que considera ser muito frequente em Portugal (p.196). O autor, psiquiatra e professor de psiquiatria, aponta o dedo às notícias de primeira página nos jornais e nas revistas, com fotos explícitas, criticando também os canais de televisão que, de igual modo, “não se coíbem de falar do assunto com imagens inadequadas em termos de prevenção do suicídio”. Saraiva refere que o caso do guarda-redes alemão Robert Enke, em 2010, é um bom exemplo do que não deve ser feito, e adianta que “os suicídios da cantora Cândida Branca-Flor e do jornalista Miguel Ganhão Pereira revelaram a mesma insensatez da parte de alguns órgãos da comunicação social” (idem).

Neste sentido, o PNPS (2013) indica que os media “podem ajudar ou dificultar na prevenção do suicídio, consoante promovam a educação pública ou aumentem a visibilidade do suicídio apresentando-o como uma solução para os problemas da vida”, alertando que “podem ter um efeito devastador na propagação de comportamentos autolesivos e atos suicidas através do denominado efeito Werther” (p.58).

Metodologia

Perante a responsabilidade que os profissionais dos media assumem quando trabalham o tema do suicídio, como demonstram pesquisas internacionais, e tendo em conta que os estudantes de jornalismo serão os profissionais dos media do futuro, o presente estudo exploratório visou avaliar a perceção dos estudantes de jornalismo em relação ao tema, aferir a sua sensibilidade e se conhecem ou não as regras para uma cobertura noticiosa responsável do suicídio. O objetivo foi também verificar se existem diferenças relativamente a estes temas entre os alunos do primeiro ano e os alunos do terceiro ano, finalistas das respetivas licenciaturas.

Para o efeito foi criado um questionário a distribuir pelos alunos de jornalismo do 1º e 3º anos das instituições de ensino de jornalismo de Lisboa, constituído por duas notícias, uma sobre um suicídio em Beja, com o título «Beja: Homem de 34 anos coloca termo à vida nos “Moinhos de Santa Iria”», de 3 de setembro de 2016 (disponível em http://www.lidadornoticias.pt/ultima-hora-beja-jovem-de-34-anos-coloca-termo-a-vida-nos-moinhos-de-santa-iria/), e outra notícia sobre um homicídio na mesma cidade. A cada notícia seguia-se um conjunto de perguntas em número semelhante, havendo uma pergunta final que as colocava em confronto: “Qual das notícias achas mais importante? Porquê?”

As duas notícias foram encontradas na Internet. A notícia do suicídio foi publicada pelo Lidador Notícias, cujo estatuto refere que se trata de um web site de informação geral, direcionado principalmente para o distrito de Beja.

A notícia do homicídio apresentada no questionário, com o título «Marceneiro morto à facada em Beja», baseou-se numa notícia do Correio da Manhã de 10 de março de 2004 (disponível em https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/morto-a-facada), na qual foram feitas algumas adaptações, nomeadamente, no local do homicídio, que passou a Beja em vez de Lagos para que as duas notícias contassem acontecimentos ocorridos no mesmo local. Já a notícia do suicídio foi apenas alvo de uma redução do número de parágrafos para ficar com uma dimensão semelhante à do homicídio.

O objetivo da apresentação das duas notícias foi assegurar que as respostas não fossem óbvias, garantir a sua validação e evitar resultados tendenciosos. A opção de distribuir o questionário presencialmente e em formato papel destinou-se a assegurar a participação dos alunos, situação impossível de garantir em questionários online.

Foram contactados os professores responsáveis pelos respetivos cursos na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA-FCSH), na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) e na Universidade Católica Portuguesa (UCP), solicitando a colaboração para este estudo exploratório. Foram pedidos entre 20 a 30 minutos de uma aula com elevada afluência e representatividade dos alunos do 1º e 3º anos para a apresentação e preenchimento do questionário. Na Universidade Católica existe a Licenciatura em Comunicação Social e Cultural, na ESCS existe a Licenciatura em Jornalismo e na FCSH e no ISCSP existe a Licenciatura em Ciências da Comunicação. Com exceção do ISCSP, todas as instituições de ensino se mostraram disponíveis para encontrar a melhor hora para o preenchimento dos questionários pelos alunos, salvaguardando o funcionamento das aulas e o cumprimento dos objetivos curriculares. Os questionários foram distribuídos entre 9 de novembro e 10 de dezembro de 2018.

Análise e discussão de resultados

Método do suicídio

No final da análise dos questionários recolhidos, foram validados 248, 157 de estudantes do 1º ano e 91 do 3º ano. A maioria dos alunos do 1º ano (59%) respondeu que é importante indicar na notícia a forma como o homem se suicidou, face aos 35% de alunos de 3º ano que deram a mesma resposta, indo mais ao encontro da recomendação da OMS de que as notícias sobre suicídios não devem indicar o método de suicídio. “A descrição detalhada e/ou a discussão do método [de suicídio] devem ser evitadas porque aumentam a probabilidade de uma pessoa vulnerável imitar o ato” (OMS, 2017, p. 6).

A notícia em análise indicava logo no primeiro parágrafo que o método de suicídio foi a precipitação de um local elevado. Segundo Santos, J.C. (2014), “a precipitação no vazio, mais vulgarmente conhecida por queda de local elevado, é um método de suicídio relativamente incomum, ainda que as estatísticas não reflitam a sua verdadeira dimensão” (p.154). De acordo com o autor, na maioria destes casos, os suicidas precipitam- se do alto de prédios ou apartamentos, mas “as medidas preventivas têm incidido no reduzido número de locais que adquiriram alguma notoriedade pública, através das notícias difundidas pelos órgãos de comunicação social, como lugares escolhidos para a consumação de suicídios (por exemplo, pontes, viadutos, edifícios públicos), os ditos hotspots” (idem).

A OMS indica também que é necessária prudência quando o método do suicídio noticiado é raro ou novo. “Apesar de o uso de um método incomum poder fazer parecer com que a morte seja mais digna de ser noticiada, indicar o método pode levar outras pessoas a usarem esse método” (OMS, 2017, p.6).

Gráfico 1: Respostas dos estudantes de jornalismo a 10 perguntas do questionário  

Local do suicídio

A maioria dos alunos inquiridos, quer do 1º ano (72%), quer do 3º ano (63%) concordou com a indicação no título do local do suicídio («Beja: Homem de 34 anos coloca termo à vida nos “Moinhos de Santa Iria”»), manifestando desconhecer a diretriz que recomenda que as notícias sobre suicídios não refiram o local do sucedido. A percentagem de respostas positivas desceu quando se perguntou se consideravam importante indicar o local exato do suicídio, referido no primeiro parágrafo da notícia (“Rua da Lavoura, junto à Estação do Caminho-de-Ferro, em Beja”). Ainda assim, 55% dos alunos do 1º ano e 33% dos alunos do 3º ano consideraram importante a indicação do local exato do suicídio, distanciando-se da recomendação da OMS a este propósito.

A maioria dos alunos do 1º ano (81%) e do 3º ano (70%) consideraram importante indicar na notícia que se tratava do segundo suicídio em que foram utilizadas as antigas instalações dos “Moinhos de Santa Iria”, não indo ao encontro da orientação de que não deve fazer-se referência à utilização recorrente de um local para suicídios. No entanto, 73% dos alunos do 1º ano e 84% dos alunos do 3º ano não concordaram com o uso da expressão “local de suicídios” no último parágrafo da notícia.

“Não dar detalhes sobre o local” de um suicídio é um das recomendações da OMS, que explica que, “por vezes, uma localização pode desenvolver uma reputação de “local de suicídios” - por exemplo, uma ponte, um prédio alto, um penhasco ou uma estação ferroviária ou travessia onde ocorreram atos suicidas” e a entidade prossegue que “os profissionais dos media devem ter um cuidado especial para não promover este tipo de localizações como locais de suicídio” (OMS, 2017, p.6).

Familiares

Mais de 80% dos alunos do 1º ano (83%) e do 3º ano (86%) responderam que, se estivessem no lugar do jornalista que escreveu a notícia, não teriam falado com familiares do homem que se suicidou, nem colocado citações na notícia que demonstrassem o “enorme choque” com a sua morte, indo ao encontro da diretriz da OMS, que indica que “é preciso prudência ao envolver familiares, amigos e outras pessoas” enlutadas pelo suicídio, uma vez que “correm um maior risco de suicídio ou comportamento autolesivo enquanto lidam com a sua dor” (OMS, 2017, p.5). Nesse sentido, “o respeito pela sua privacidade deve prevalecer à elaboração de uma história dramática” (idem).

Segundo Torres (2006), “os media [itálico do autor] têm uma posição complicada no que toca à relação com os familiares, dada a emotividade da situação, exigindo privacidade, e dada a incapacidade deles em lidarem não só com a situação da perda, como com a novidade, para muitos, do contacto com as câmaras e gravadores” (p.146). Scalon e McCullum (1999) dizem mesmo que “uma das coisas mais difíceis que um repórter tem de fazer ao cobrir um desastre é entrevistar as famílias das vítimas” (p. 57), e acrescentam que “em nenhum outro momento, o direito de saber do público parece entrar em conflito direto com o direito das pessoas à privacidade” (idem).

Torres frisa que, por um lado, a sociedade quer conhecer os familiares para conhecer e identificar-se com as vítimas através deles, mas, por outro lado, a fragilidade emocional em que se encontram “torna tema de debate a sua privacidade e a necessidade de a preservar” (p.147). Contudo, Scalon e McCullum referem que, “apesar de alguns esforços para controlar o comportamento dos media serem justificáveis, muito do seu comportamento é aceitável para aqueles que são mais afetados, apesar de não ser claro porquê” (p.55). A este propósito, Franck Ochberg, (1996) psiquiatra pioneiro no estudo de vítimas de violência, indica, num manual para jornalistas, que quando os entrevistados choram durante as entrevistas, não estão necessariamente relutantes em continuar e podem ter dificuldades em comunicar, mas frequentemente querem contar as suas histórias, contribuindo para a catarse da dor.

Citar despedidas

A maioria dos alunos do 1º ano (63%) e do 3º ano (53%) concordou que a notícia tenha citado o que o suicida escreveu na sua página de Facebook pouco antes do suicídio, indo contra a recomendação da OMS que indica que “cartas de suicídio, mensagens de texto de despedida, publicações nas redes sociais e emails do indivíduo que morreu não devem ser publicados” (OMS, 2017, p.7).

Expressões

Questionados sobre como avaliam a palavra “tragédia” utilizada para descrever o suicídio do homem de 34 anos, 70% dos alunos do 1º ano e 49% dos alunos do 3º ano consideraram-na adequada (Gráfico 2), contrariando a indicação da OMS de que as notícias de suicídio não devem apresentar o sucedido de forma sensacionalista nem o dramatizar. Segundo Torres (2006), a linguagem comum, e, por conseguinte, a do jornalismo, “adotou o conceito de tragédia para se referir a acontecimentos violentos e quase sempre com mortes violentas, inesperadas e inocentes ou injustas” (p.30).

Gráfico 2: Respostas dos estudantes de jornalismo às questões sobre o uso da palavra “tragédia” e da expressão “saltou para a morte”  

Contudo, a maioria dos alunos do 1º ano (68%) e do 3º ano (73%) considerou inapropriada a expressão “saltou para a morte” usada na notícia (Gráfico 2). “Não usar linguagem que sensacionaliza ou normaliza o suicídio ou o apresenta como uma solução construtiva para os problemas”, é precisamente uma das recomendações da OMS (2017, p.6). Ao invés, a OMS diz que os profissionais dos media podem ajudar a educar o público sobre a importância da prevenção do suicídio se difundirem a mensagem de que o suicídio é um problema de saúde pública e identificarem os fatores de risco (idem).

Informação em falta

Quer a maioria dos alunos do 1º ano (70%), quer do 3º ano (73%) considerou que não era importante acrescentar qualquer informação na notícia (Gráfico 1), mostrando-se desconhecedores da recomendação da OMS no sentido de serem apresentados contactos de ajuda e outras informações de apoio nas notícias sobre suicídios. Entre os que responderam que faltava informação, apenas sete estudantes do 1º e três do 3º ano indicaram que a notícia devia indicar contactos de apoio. Um aluno do 1º ano alertou para a “falta de informação importante” na notícia, nomeadamente o “número de telefone de uma linha de apoio, o desencorajamento do suicídio e a indicação de profissionais de saúde que podem ajudar” naquelas situações. “Dar informações explícitas sobre onde procurar ajuda” é a primeira recomendação da OMS na atualização, de 2017, do guia de prevenção do suicídio para os media, onde indica que as informações sobre recursos de apoio devem ser apresentadas no final de todas as notícias de suicídio e incluir, nomeadamente, centros de prevenção do suicídio, números de telefone de crise, contactos de outros profissionais de saúde e bem- estar e grupos de auto ajuda.

Imagem

Questionados sobre se concordam ou não com a fotografia (Figura 1) que acompanha a notícia (fotografia das torres com um círculo a assinalar o local de onde o homem de 34 anos se atirou), 69% dos alunos do 1º ano e 51% dos alunos do 3º ano manifestaram-se de acordo (Gráfico 1), contrariando a recomendação internacional de não mostrar o local exato de suicídios. Ainda assim, 18 alunos do 1º ano e 13 do 3º ano discordaram da fotografia utilizada, por poder induzir comportamentos de imitação no local ou “inspirar” outras pessoas a recorrer ao mesmo local para cometer suicídio. Dois alunos do 1º ano e oito do 3º ano criticaram o círculo a assinalar o local exato de onde o homem se lançou.

Figura 1: Fotografia que acompanha notícia sobre suicídio em Beja  

“Fotografias, vídeos ou links de media sociais da cena de um suicídio não devem ser usados, sobretudo se for feita referência a detalhes específicos sobre a localização ou o método” (OMS, 2017, p.7). A OMS argumenta que as imagens associadas a atos suicidas podem ser reativadas mais tarde por leitores vulneráveis, por exemplo, durante uma situação de crise pessoal, e podem desencadear comportamentos suicidas. Neste sentido, a entidade recomenda a coordenação entre o trabalho editorial de textos e imagens, uma vez que os responsáveis pelo texto nem sempre são responsáveis pelas imagens que acompanham as notícias sobre suicídios.

Linhas editoriais

Questionados sobre se publicariam a notícia sobre o suicídio em Beja caso fossem editores de um de três jornais distintos: Público, Correio da Manhã e Correio de Beja (jornal fictício, mas sem essa indicação no questionário), a maioria dos alunos (cerca de 80%), quer do 1º ano quer do 3º ano (Gráfico 3), respondeu que publicaria a notícia no Correio da Manhã por ir ao encontro do perfil editorial do jornal, “mais sensacionalista”, e também no Correio de Beja, por considerarem tratar-se de um jornal de cariz regional e fazer sentido a publicação de notícias locais.

Gráfico 3: Respostas dos estudantes de jornalismo à questão se publicariam a notícia sobre o suicídio em Beja em três jornais distintos  

Em sentido contrário, 83% dos alunos do 1º ano e 91% dos alunos do 3º ano não publicariam a notícia sobre o suicídio em Beja no Público, por considerarem não ir ao encontro da linha editorial do jornal, por este ser “mais sério” e de âmbito nacional, enquanto a notícia tem um “interesse apenas local (Beja)”. Alguns alunos (nove do 3º ano) referiram também o facto de não se deverem publicar notícias de suicídio para não “incentivar o suicídio”, “devido ao seu efeito mimético”. Uma aluna do 1º ano respondeu que publicaria antes no Público uma “reportagem sóbria sobre a problemática do suicídio e não um caso em particular”.

Foi feita a mesma pergunta relativamente à notícia sobre homicídio, mas tendo em conta o foco do presente estudo, referimos apenas as repostas relativas à notícia sobre o suicídio em Beja.

Importância dos temas

Finalmente, quando questionados sobre qual a notícia mais importante entre as duas apresentadas no questionário (suicídio ou homicídio, ambos em Beja), 55% dos alunos do 1º ano responderam a notícia do suicídio e também 55% dos alunos do 3º ano indicaram o homicídio (Gráfico 4), manifestando uma clara divisão de perspetivas.

Gráfico 4: Respostas dos estudantes de jornalismo à pergunta sobre qual das notícias do questionário consideraram mais importante  

Alguns alunos, quer do 1º ano (3), quer do 3º ano (13), referiram, para justificar a escolha da notícia de homicídio como ‘mais importante’, o facto de a notícia de suicídio “poder levar à repetição da situação”, “acabar por ser um ‘gatilho’” e puder ter um “efeito de contágio”, justificando assim a sua opção por exclusão de partes. Entre os que escolheram a notícia do suicídio como mais importante, vários (entre eles, 20 estudantes do 1º ano), justificaram com o facto de alertar para o suicídio como “um problema social” e “um problema de saúde pública”, indicando também a importância de alertar para as questões em torno da saúde mental. Seguem algumas razões apresentadas por alunos do 1º ano:

“[O suicídio] é uma temática ainda tabu que merece mais exposição por forma a desmistificar o assunto e prevenir, assim como aconselhar outros a procurarem ajuda”. “É importante falarmos de problemas psicológicos para evitar chegar ao suicídio”.

“… para que sejam tomadas medidas para auxiliar pessoas com tendências suicidas”.

“O suicídio é algo sobre o qual ainda há algumas reservas, por isso [a notícia] serve para alertar/prevenir a população em geral”.

“…alerta para um problema e permite a consciencialização do tema ‘suicídio’”.

Conclusões

A formação dos profissionais dos media sobre o suicídio e a saúde mental e a inclusão de orientações para uma cobertura responsável nos currículos escolares dos cursos de jornalismo são questões debatidas à escala internacional. Em Portugal, o PNPS (2013) considera que “a sensibilização e formação de todos para as vantagens da comunicação social e das redes sociais na promoção da saúde mental, é uma medida importante, pelo que ações de formação a jornalistas deverão ser implementadas regularmente” (p.59).

Segundo Roque (2014), “a abordagem mais apropriada da problemática entre comunicação social e suicídio pode residir na formação adequada durante os cursos para as diferentes carreiras nos media” (p.512), e a autora acrescenta que, “para aqueles profissionais já estabelecidos nas suas carreiras, deveriam ser incentivadas e estar facilmente acessíveis iniciativas similares de interação com profissionais de saúde mental e saúde pública” (idem). Também Brás, Cruz e Saraiva (2014) destacam a importância de incluir o tema do suicídio nos currículos escolares dos cursos de jornalismo e comunicação social, o que “representaria um investimento no jornalismo futuro, a longo prazo” (p. 480).

No mesmo sentido, Tully e Elsaka (2004)13, que estudaram a perceção dos profissionais dos media relativamente às diretrizes para a cobertura de suicídios desenvolvida pelo Ministério da Saúde na Nova Zelândia, em 1998 e 1999, consideram que deveria ser desenvolvido no país e disponibilizado gratuitamente um kit de formação nas escolas de jornalismo, tendo como modelo o recurso australiano ‘Response Ability’, que inclui um vídeo, CD’s, materiais impressos e um site, recursos desenvolvidos por profissionais da área da saúde mental e professores de jornalismo. Neste sentido, Norris et al. (2006) questionam: “Se os jornalistas não recebem formação específica no início das suas carreiras sobre como lidar com uma das mais perturbadoras tragédias humanas, como é que é suposto que desenvolvam técnicas ‘responsáveis’?”.

Como referiu Traquina (2002), no Seminário Internacional Media, Jornalismo e Democracia, “a qualidade do jornalismo está diretamente relacionada com a qualidade dos jornalistas” e é necessário os “profissionais reexaminarem as suas práticas, as suas rotinas, a sua cultura profissional” (p.123).

“Deve haver uma educação mais completa, imaginativa e exigente para os profissionais do campo jornalístico; uma educação que dê aos futuros jornalistas conhecimentos sobre a história da sua profissão, acerca dos enormes constrangimentos existentes na produção das notícias, sobre ética e as responsabilidades sociais terríveis” (idem).

Um estudo da MediaWise, com base em 129 questionários a jornalistas, mostrou que apenas 6% dos inquiridos receberam formação específica sobre o suicídio e comportamentos suicidas em algum momento da carreira. “Isto pode ser considerado alarmante face à diversidade de complexas decisões éticas que um jornalista pode ter de tomar quando faz a cobertura de mortes súbitas” (Jempson et al., 2007, p. 8)14. Contudo, 70% dos inquiridos respondeu ter experiência na cobertura de suicídios e comportamentos suicidas. Segundo Jempson et al., “é evidente que o assunto não foi considerado importante o suficiente para merecer referência específica durante a formação vocacional” (p. 10).

Os resultados do presente estudo exploratório junto de 248 estudantes de jornalismo a frequentar instituições de ensino em Lisboa revelam que os alunos, quer no início da sua formação universitária (1º ano), quer no final (3º ano), mostraram-se, na sua maioria, pouco conhecedores das orientações para uma cobertura responsável do suicídio e das melhores práticas de elaboração de notícias sobre o tema, manifestando também pouca perceção relativamente às questões que a cobertura de suicídios levanta.

Neste sentido, importa consciencializar as instituições de ensino para a importância de abordar, durante os cursos de formação, quer o suicídio em si, quer o tema mais amplo da saúde mental e das doenças mentais, muito associadas a comportamentos suicidários, e apresentar aos estudantes de jornalismo as diretrizes a seguir na elaboração de notícias sobre estes temas.

No âmbito da divulgação de um evento para “Dar Voz à Saúde Mental”, em outubro de 2019, questionava- se, no site da ESCS15, “que papel desempenham as instituições de ensino superior na promoção de uma melhor saúde mental?” e “como podemos reduzir o estigma que parece pairar sobre as doenças mentais, dificultando tanto a sua prevenção como o seu diagnóstico e tratamento?”.

Como indicam Jempson et al. (2007), com o objetivo de melhorar os trabalhos difundidos nos media sobre suicídio e comportamento suicida, “a cobertura de suicídios devia ser incluída na formação vocacional para profissionais dos media e devia proporcionar-se a oportunidade de frequentarem formações regulares de curta duração ao longo da carreira” (p.30). Além disso, os autores referem que as organizações de media deviam colaborar com os organismos de prevenção do suicídio e de saúde mental na definição do conteúdo dos cursos de formação sobre a cobertura de suicídio e saúde mental.

Anexo

Questionário

Lê com atenção as duas notícias e responde, por favor, às perguntas que se seguem:

Beja: Homem de 34 anos coloca termo à vida nos “Moinhos de Santa Iria”

Por razões ainda não explicadas um homem de 34 anos, natural de Albernôa e residente em Beja, colocou termo à vida, subindo ao alto dos Moinhos de Santa Iria, na Rua da Lavoura, junto à Estação do Caminho-de-Ferro, em Beja, de onde acabou por se lançar.

O caso aconteceu cerca das 12h45, quando as autoridades foram alertadas para uma tentativa de suicídio, que o jovem, L.P., 34 anos, acabou por concretizar na presença de PSP, Bombeiros e de um familiar.

Esse mesmo familiar ainda gritou para que o homem não cometesse o suicídio, mas, foi quando este começou a correr no teto da segunda base dos Silos (marcado por um círculo) e atirou-se “para o vazio”, vindo o corpo a cair no chão do largo dos “moinhos”, tento tido morte imediata.

No local compareceram diversos familiares da vítima, incluindo a mãe, que tiveram um enorme choque com a morte do filho. Às 22 horas de sexta-feira, na sua página de Facebook, L.P. escreveu: “na minha vida porque está por um fio de vida”. Uma hora depois voltou a escrever: “com isto digo tudo”, deixando antever uma tragédia, o que se veio a concretizar.

Este é o segundo caso de suicídio em que foram utilizadas as antigas instalações dos “Moinhos de Santa Maria”, tendo o anterior caso ocorrido em 8 de abril de 2015, quando um jovem de 26 anos saltou para a morte.

Os chamados “Moinhos de Santa Iria” são pertença da Câmara Municipal de Beja, estando abandonados há alguns anos. O local já serviu para guardar carros apreendidos à ordem de processos em tribunal, mas já foram pasto para a efetivação de exercícios de resgate por parte dos Bombeiros. Na Rua da Lavoura, junto à porta de acesso aos antigos moinhos, populares deixavam no ar a pergunta: “em vez de terem derrubado o depósito da água, não deveriam derrubar estas torres que se estão a tornar um local de suicídios?”.

1. Achas importante indicar na notícia a forma como o homem se suicidou?

Sim / Não

2. Concordas com a indicação no título do local do suicídio?

Sim / Não

3. Achas importante indicar qual foi o local exato do suicídio?

Sim / Não

4. Se fosses o jornalista que escreveu a notícia, terias falado com familiares do homem suicida e colocado

citações na notícia que demonstrassem o “enorme choque” com a sua morte?

Sim / Não

5. Concordas que a notícia cite o que o homem escreveu na sua página de Facebook pouco antes de se suicidar?

Sim / Não

6. Como avalias a palavra “tragédia” utilizada para descrever o suicídio do homem de 34 anos?

a) É adequada e chama a atenção do leitor

b) É indiferente

c) É inapropriada

7. Achas importante indicar na notícia que se trata do segundo caso de suicídio em que foram utilizadas as

antigas instalações dos “Moinhos de Santa Iria”?

Sim / Não

8. Achas importante indicar que o anterior caso de suicídio naquele local ocorreu em “8 de abril de 2015, quando um jovem de 26 anos saltou para a morte”?

Sim / Não

9. Como avalias a expressão “saltou para a morte”?

a) É adequada à situação e chama a atenção do leitor

b) É indiferente

c) É inapropriada

10. Concordas com o uso da expressão “local de suicídios” no último parágrafo da notícia?

Sim / Não

11. Era importante acrescentar alguma informação na notícia?

Sim / Não

Se sim, qual?

12. Concordas com a fotografia que acompanha a notícia?

Sim / Não

Porquê?

13. Imagina que és editor de um destes três jornais. Publicarias esta notícia?

a) Público

Publicava / Não publicava

Porquê?

b) Correio da Manhã

Publicava / Não publicava

Porquê?

c) Correio de Beja

Publicava Não publicava

Porquê?

Marceneiro morto à facada em Beja

Um clima familiar pouco pacífico, agravado por problemas de saúde e por um quadro social desolador, terão estado na origem da morte a golpes de faca, ao fim da manhã de ontem, de Joaquim Manuel Sousa Lopes, morador do Bairro dos Moinhos, em Beja, com a mulher a figurar como suspeita.

Agentes da Polícia Judiciária através da Diretoria-Sul estiveram no local a recolher elementos de prova e a ouvir a mulher, encaminhada depois para as instalações daquela força, enquanto os vizinhos comentavam as frequentes desavenças do casal, conhecido por essa sua faceta apesar de ali residir há pouco mais de dois meses.

Joaquim Lopes, de 34 anos, natural de Paços de Ferreira, era marceneiro de profissão, mas atualmente estava desempregado devido a doença prolongada, enquanto a mulher, de 32 anos, trabalha no café da Associação de Moradores do Bairro. A vítima “gostava de beber o seu copito”, segundo os vizinhos.

Tudo aponta para que uma discussão mais acalorada entre o casal tenha originado a tragédia, sendo a própria mulher a dar o alarme para que chamassem os bombeiros, pouco depois das 12h00. Quando estes chegaram ao local, Joaquim Lopes apresentava diversos cortes profundos provocados por uma faca mas ainda estava com vida, vindo a falecer no percurso até ao hospital de Lagos.

Um cunhado pensou, inicialmente, “que o Quim tivesse morrido devido à sua doença”: “Só mais tarde fiquei a saber que algo de estranho se passara, quando a Polícia impediu a entrada em casa”, disse.

1. Achas importante indicar na notícia a forma como o homem foi morto?

Sim / Não

2. Como avalias a expressão “morto à facada” usada no título?

a) É adequada à situação e chama a atenção do leitor

b) É indiferente

c) É inapropriada

3. Concordas que se tenha indicado o nome da vítima de homicídio na notícia?

Sim / Não

4. Achas importante dizer o local exato onde o homem foi morto?

Sim / Não

5. Concordas com o uso da expressão “morte a golpes de faca” no primeiro parágrafo?

Sim / Não

6. Concordas que o jornalista tenha falado com vizinhos do homem assassinado e tenha indicado na

notícia “as frequentes desavenças do casal”?

Sim / Não

7. Achas importante a notícia indicar que o homem assassinado estava desempregado devido a doença prolongada?

Sim / Não

8. Achas importante a citação que refere que a vítima “gostava de beber o seu copito”?

Sim / Não

9. Concordas que a notícia indique que “tudo aponta para que uma discussão mais acalorada entre o casal tenha originado a tragédia”?

Sim / Não

10. Como avalias a palavra “tragédia” utilizada para descrever o assassinato do homem em Beja?

a) É adequada à situação e chama a atenção do leitor

b) É indiferente

c) É inapropriada

11. Era importante acrescentar alguma informação na notícia?

Sim / Não

Se sim, qual?

12. Concordas com a fotografia que acompanha a notícia?

Sim / Não

Porquê?

13. Imagina que és editor de um destes três jornais. Publicarias esta notícia?

a) Público

Publicava / Não publicava

Porquê?

b) Correio da Manhã

Publicava / Não publicava

Porquê?

c) Correio de Beja

Publicava / Não publicava

Porquê?

14. Qual das duas notícias achas mais importante?

Notícia sobre o homicídio em Beja

Notícia sobre o suicídio em Beja Porquê?

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1OMS. (2017). Preventing suicide: a resource for media professionals - update 2017. https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/resource_booklet_2017/en/

2OMS. (2000). Preventing suicide: a resource for media professionals. https://www.who.int/mental_health/media/en/426.pdf

3OMS. (2008). Preventing suicide: a resource for media professionals. http://www.who.int/iris/handle/10665/43954

4Plano Nacional de Prevenção do Suicídio (2013). https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/plano-nacional-de- prevencao-do-suicido-20132017-pdf.aspx

5Instituto Nacional de Estatística - INE (2019). Causas de Morte 2017. https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=358633033&PUBLICACO EStema=55538&PUBLICACOESmodo=2

6Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico - OCDE (2018). "Promoting mental health in Europe: Why and how?", in Health at a Glance: Europe 2018: State of Health in the EU Cycle. Paris: OECD Publishing.

7Norris, B., Jempson, M., Bygrave, L. & Thorsen, E. (2006). Reporting suicide worldwide: media responsabilities. http://www.mediawise.org.uk/wp-content/uploads/2011/03/Covering-Suicide-Worldwide-Updated-06.pdf

8Pirkis, J. & Blood, W. (2010). Suicide and the news and information media: A critical review. Mindframe (Pub.). https://mindframemedia.imgix.net/assets/src/uploads/Pirkis-and-Blood-2010-Suicide-and-the-news-and-information- media.pdf

9Lusa (2018) Livro de Estilo. https://www.lusa.pt/Files/lusamaterial/PDFs/LivroEstilo.pdf

10Público (2005) Livro de estilo. Lisboa: Público Comunicação Social S.A.

11RTP (n/d) Guia Ético e Editorial da RTP. http://cdn- images.rtp.pt/mcm/pdf/e72/e72f275f3d2a2a813d953aa6abdd2da41.pdf

12Código Deontológico dos Jornalistas (2017). https://jornalistas.eu/novo-codigo-deontologico/

13Tully, J. & Elsaka, N. (2004). Suicide and the Media: The reporting and portrayal of suicide in the media. A Resource. School of Political Science and Communication, Universidade de Canterbury. https://www.health.govt.nz/system/files/documents/publications/suicideandthemedia-astudyofthemediaresponse.pdf

14Jempson, M., Cookson, R., Williams, T., Thorsen, E., Khan, A. & Thevanayagam, P. (2007). Sensitive Coverage Saves Lives: Improving media portrayal of suicidal behaviour. Londres: National Institute for Mental Health. http://eprints.bournemouth.ac.uk/13502/

15Escola Superior de Comunicação Social (2019). Conversas ao fim da tarde: Dar Voz à Saúde Mental. https://www.escs.ipl.pt/agenda-e-eventos/conversas-ao-fim-da-tarde-darvozasaudemental

Recebido: 17 de Fevereiro de 2020; Aceito: 01 de Outubro de 2020

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