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Angiologia e Cirurgia Vascular

Print version ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.14 no.1 Lisboa Mar. 2018

 

ARTIGO DE REVISÃO

Tratamento endovascular de lesões femoro-poplíteas calcificadas

Endovascular treatment of calcified femoropopliteal lesions

Marina Dias-Neto1,2, José Fernando Ramos1, José Fernando Teixeira1

 

1 Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de São João Porto, Porto

2Centro de Investigação Cardiovascular, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Porto

 

Autor para correspondência

 

RESUMO

A calcificação vascular é um achado frequente na doença arterial periférica e traz desafios adicionais ao tratamento endovascular, quer na recanalização, quer na durabilidade das intervenções.

A falta de estandardização na classificação da calcificação das artérias periféricas tem levado a uma caracterização insu­ficiente do desempenho dos dispositivos endovasculares no subgrupo de lesões calcificadas do setor femoro-poplíteo.

O objetivo desta revisão é fazer um levantamento da evidência disponível quanto às atuais opções no tratamento endo­vascular de lesões muito calcificadas do sector femoro-poplíteo.

Palavras-chave: Doença arterial periférica, tratamento endovascular, calcificação.

 

ABSTRACT

Vascular calcification is a frequent finding in peripheral arterial disease and remains an additional challenge to endovas­cular treatment in both recanalization and durability of interventions.

The lack of standardization in the classification of peripheral artery calcification has led to a defective characterization of the performance of endovascular devices in the subgroup of calcified lesions of the femoropopliteal sector.

The objective of this review is to make a survey of the available evidence regarding the current options in the endovascu­lar treatment of highly calcified lesions of the femoropopliteal sector.

Keywords: Peripheral arterial disease, endovascular treatment, calcification.

 

TRATAMENTO

INTRODUÇÃO

A calcificação vascular é um achado frequente na doença arterial periférica e representa um desafio para o trata­mento endovascular.(1) A extensão da calcificação contri­bui para uma elevada taxa de falência técnica durante a recanalização percutânea de oclusões femoro-poplíteas crónicas. (2)(3) A exuberância da calcificação pode compro­meter a penetração intraluminal dos fios-guia e de cate­teres tornando a cateterização subintimal a única opção. Por outro lado, a calcificação da camada média pode tornar quase impossível a reentrada no lúmen do vaso, requeren­do um ponto de reentrada mais distal e menos calcificado. Finalmente, a calcificação constitui ainda um preditor de falência dos próprios dispositivos de reentrada.(1)

Para além da recanalização, os resultados do tratamento endovascular são também frequentemente afetados pelo grau de calcificação. Em doentes com calcificação bilateral, em comparação com calcificação unilateral ou ausência de calcificação, as taxas de permeabilidade primária são signi­ficativamente mais baixas, quer após angioplastia, quer após colocação de stent, seja ele bare metal stent (BMS) ou drug-eluting stent (DES).(4) Finalmente, um maior volume total de placa calcificada foi encontrado em doentes que desenvolveram reestenose (> 50%) após angioplastia e/ou stenting, em comparação com aqueles que não tiveram reestenose.(5)

O bypass cirúrgico continua a ser uma alternativa muito aceitável, mesmo que a calcificação medial extensa também possa exigir um local de anastomose distal, menos calcificado. No entanto, vários problemas podem limitar o seu uso, como a falta de adequado conduto autólogo ou a gravidade das comorbilidades, sempre que conferirem um risco operatório significativo.

O objetivo desta revisão é fazer um levantamento das atuais opções no tratamento endovascular de lesões muito calcificadas do sector femoro-poplíteo.

 

MÉTODOS

A pesquisa de artigos a incluir neste trabalho foi realizada com recurso à base de dados MEDLINE acessível através da Pubmed (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/). Foram utilizados os seguintes termos de pesquisa: calcification, TASC D, superficial femoral artery, peripheral artery disea­se, critical limb ischemia, revascularization, endovascular, angioplasty, plain balloon, drug-elutiong balloon, bare metal stent, nitinol stent, drug-eluting stent, Viabahn, Supera e aterectomy. Para cada um dos tópicos da discus­são foi realizada uma pesquisa com os termos mais adequa­dos ao subtema tratar. Foram incluídas as referências mais recentes e as que se referiam a estudos com o maior núme­ro de participantes, procurando reconhecer e salientar as principais questões e dificuldades da prática clínica diária relacionadas com a calcificação vascular periférica.

 

DISCUSSÃO

Classificação da calcificação nas artérias periféricas

Uma limitação ao estudo das estratégias endovascula­res em doentes com lesões muito calcificadas é o fato de não haver um score de calcificação uniforme e universal­mente aceite para as artérias periféricas. A TASC II parece reconhecer a importância da calcificação na classificação das lesões femoro-poplíteas. Uma oclusão ≤5cm é clas­sificada como TASC A, no entanto, se apresentar calcifi­cação exuberante a sua classificação passa para TASC B(6). Contrariamente às artérias coronárias, onde a presença de calcificação exuberante segundo critérios angiográficos foi significativamente associado ao desfecho clínico após intervenção coronária percutânea(7), um score equivalente ainda não foi criado para a doença vascular periférica. Os critérios de inclusão e/ou exclusão dos estudos clínicos de dispositivos endovasculares têm classificado o grau de calcificação com base na incidência angiográfica ântero­-posterior ou em duas incidências ortogonais ou com base na proporção de calcificação circunferencial da parede. Rocha-Singh JR propôs o PACSS (Proposed Peripheral Arte­rial Calcium Scoring System)(8) que se baseia na imagem de fluoroscopia e na respetiva subtração (DAS, digital angio­grafic subtraction) na incidência ântero-posterior (Figura 1). Fanelli F(9) utilizou imagens de angiotomografia compu­torizada, no plano axial, para quantificar a distribuição circunferencial do cálcio na parede vascular. As imagens do plano axial bidimensional permitem a visualização dos diferentes componentes da parede arterial, tais como cálcio, trombo e fluxo sanguíneo. Os graus foram medidos pela avaliação da presença de cálcio em um ou mais dos quatro setores de 90°: grau 1 (0-90°), grau 2 (0-180°), grau 3 (0-270°) ou grau 4 (0-360º). Cada um destes graus pode ser ainda complementado com dados relativos à extensão da calcificação: a) <3cm ou b) >3cm.

 

 

Finalmente, as classificações propostas carecem de discri­minação quando se trata de doentes com lesões extensas e severamente calcificadas. Em muitos estudos rando­mizados para aprovação de dispositivos ou estratégias endovasculares, a presença de calcificação circunferen­cial densa com mais do que 5cm contínuos de comprimen­to antes da injeção do contraste constitui um critério de exclusão. A exclusão destes doentes visa evitar complica­ções como disseções, perfurações e embolização distal(8), mas cria simultaneamente uma ausência de evidência sobre o resultado das técnicas endovasculares neste grupo de doentes.

A angioplastia simples ou com drug-coated balloons (DCB) é uma boa opção em lesões calcificadas?

A angioplastia de lesões severamente calcificadas é limita­da pelo recolhimento elástico e por resultados limitados a curto e a longo prazo.(10)

Especificamente na angioplastia com DCB, o estudo DEBEL­LUM revelou que as taxas de permeabilidade ao 1º ano caíram rapidamente de 90% para 50% quando a lesão tratada apresentava uma placa com calcificação em muitos quadrantes.(11)(12) Vários estudos sugerem que a tecnologia de DCB não é capaz de endereçar a calcificação, resultando num menor efeito em doentes com elevado grau de calci­ficação.(9)(13)

Por conseguinte, existem três cenários potenciais que podem afetar negativamente o efeito do fármaco bioló­gico em lesões gravemente calcificadas: (1) as placas calcificadas na íntima podem impedir que as partículas do fármaco formem reservatórios de fármaco com concen­tração suficiente ou podem promover uma maior lavagem do fármaco, (2) a calcificação circunferencial da parede do vaso pode afetar negativamente a penetração de drogas na adventícia e (3) a calcificação circunferencial com escle­rose medial de Mönckeberg pode interferir e/ou evitar a remodelagem arterial.(9)

Qual o stent mais adequado para lesões calcificadas?

As limitações dos stents de nitinol atualmente disponíveis são bem conhecidas, no entanto poucos estudos espe­cificam a sua performance em função dos graus de calci­ficação das lesões tratadas. Uma meta-análise recente mostrou que o comprimento da lesão e o índice tornozelo­-braço eram preditores independentes de permeabilidade primária e de necessidade de revascularização da lesão-al­vo 12 meses após a implantação do stent de nitinol.(14) A par do comprimento da lesão, o número de stents utilizados também parece afetar a ocorrência de fraturas, o que, por sua vez, pode afetar as taxas de reestenose e de trombose. (15) Numa série de casos tratados por oclusão femoro-poplítea onde foi necessária a utilização de sistema de reentrada com implantação adicional de BMS, a taxa de estenose resi­dual ≥ 30% ocorreu numa percentagem elevada de casos (43%). As altas forças de compressão aplicadas contra os stents de nitinol por lesões femoro-poplíteas rígidas resultaram numa expansão incompleta e/ou excêntrica do stent num elevado número de casos; os doentes que ficaram com estenose residual >30% apresentaram uma permeabilidade significativamente inferior aos 12 meses, em comparação com os doentes que ficaram com este­nose residual <30%1. Por fim, em análise multivariada, o grau de calcificação foi negativamente associado com a permeabilidade primária após o tratamento endovascular da artéria femoral superficial, incluindo angioplastia e/ou stenting, no entanto a análise dos subgrupos de tratamen­to não foi realizada neste trabalho. (4)(5)

O stent Supera® (Abbott Vascular®) apresenta um exclusi­vo design de fios de nitinol entrelaçados, proporcionando uma força de resistência à compressão quatro vezes maior e potencial para uma expansão superior do stent em lesões severamente calcificadas, sendo a estenose residual prati­camente não observada.(16-18) Num registo observacional, este stent resultou numa maior preservação do lúmen do vaso, particularmente em lesões severamente calcificadas, em comparação com os tradicionais de stent nitinol.(19)

No entanto, especialmente em lesões gravemente calcifi­cadas, a implantação de um stent Supera® pode ser difícil devido ao recolhimento elástico da placa ou à abertura incompleta do balão de pré-dilatação. Nestes casos, o stent corre o risco de alongar, resultando numa força de resistência à compressão insuficiente e consequente menor permeabilidade.(17) Estão publicados estudos obser­vacionais uni e multicêntricos sobre o uso de stent Supera® “no mundo real” (Tabela 1). A taxa de permeabilidade primária após implantação do stent Supera® foi de 87.1-93.1 aos 6 meses, 78.9-94.1% aos 12 meses e 72.8-76.1 aos 2 years. (17-21) Nos mesmos estudos, a taxa e permeabilidade secun­dária foi de 99% aos 6 meses, 86.2-98.1% aos 12 meses, 91.9-92.0% aos 2 anos, 78.8-79.5 aos 3 anos e 77.5% aos 5 anos.

 

 

O efeito dos DES especificamente em lesões calcificadas permanece incompletamente esclarecido. A maior parte dos estudos disponíveis não apresenta resultados quanto à permeabilidade primária ou de revascularização de lesão­-alvo em função do grau de calcificação das lesões femoro­-poplíteas. (22-24) No estudo MAGESTIC25, a permeabilidade primária aos 2 anos após DES foi de 83,5% (intervalo de confiança a 95%: 73,6-93,3%) para a coorte total de 57 doentes e de 85,5% (intervalo de confiança a 95%: 73,8-97,3%) para doentes como calcificação severa (n = 37). Salienta-se, contudo, que 90% dos doentes eram TACS A e B e que a calcificação foi considerada severa mediante a presença de radio-opacidades estendendo apenas mais de 1cm em ambos os lados da parede arterial antes da injeção de contraste.

Haverá vantagem no bypass endovascular?

As lesões femoro-poplíteas do tipo TASC D incluem oclu­são total da artéria femoral comum ou da artéria femoral superficial (20 cm ou oclusão total da artéria poplítea e vasos de trifurcação proximal). A principal desvantagem do tratamento endovascular de lesões femoro-poplíteas complexas é a falência a longo prazo devido a reestenose. (6) Os stents cobertos têm sido sugeridos como capazes de impedir ou limitar o crescimento de mioíntima ao longo do segmento tratado.(26) Apesar da escassez de trabalhos com análise de subgrupos mediante diferentes graus de calci­ficação, vários estudos reportaram os resultados desta estratégia nas lesões TASC C e D do sector femoro-po­plíteo.(27-30) A permeabilidade primaria após implantação de Viabahn® (GORE) variou de 72.2-74.8% aos 12 meses, 63.1%-69.4% aos 2 anos, 24.4%-51.8% aos 3 anos e 47.6% aos 5 anos. Nos mesmos estudos, a permeabilida­de secundária foi de 86.2%-94.9% aos 12 meses, 78.8-79.5% aos 3 anos e 77.5 aos 5 anos (Tabela 2).

 

 

A principal vantagem da utilização de stents cobertos em lesões calcificada poderá residir na possibilidade de se proceder a uma pós-dilatação mais agressiva através da utilização de balões de maior diâmetro ou de balões de alta pressão sem risco de perfuração ou de embolização distal, resultando numa otimização do diâmetro final da artéria tratada. Esta estratégia de “pave and crack” seguida de colocação de stent Supera® tem sido cumulativamente apresentada como uma estratégia de recurso em casos altamente selecionados de calcificação exuberante. Por fim, é possível que o sucesso desta estratégia possa ser limitado por potenciais desvantagens do bypass endovas­cular como a oclusão de colaterais e o eventual maior risco de trombose aguda dependente do run-off.

A aterectomia direcional (DA) é o futuro?

O objetivo do estudo de Cioppa A(31) foi demonstrar seguran­ça e eficácia de uma abordagem endovascular combinada utilizando DA e DCB para o tratamento de lesões severa­mente calcificadas no setor femoro-poplíteo. Nesta coorte foram incluídos 30 doentes que apresentavam claudicação limitante das atividades de vida diária (n=18) ou isquemia crítica (n=12). A implantação de stent foi permitida apenas no caso de dissecções limitantes de fluxo ou resultado subóp­timo (estenose residual> 50%) por estimativa visual e foi necessário em apenas dois casos (6,5%). Aos 12 meses de seguimento, o ecodoppler de controlo demonstrou reeste­nose significativa a requer reintervenção em 3 casos (TLR = 10%); a taxa de permeabilidade secundária aos 12 meses foi de 100%. O propósito do estudo DEFINITIVE Ca++32 subse­quente foi avaliar a segurança e eficácia da DA com proteção embólica distal no tratamento de lesões femoro-poplíteas com calcificação moderada a severa. Foi incluído um total de 133 indivíduos com 168 lesões moderada a gravemente calcificadas. Aproximadamente um terço (31,6%) da popu­lação apresentava claudicação moderada, 52,6% apresen­tava claudicação severa e 15,8% apresentava dor isqué­mica em repouso. O comprimento médio da lesão foi de 39.06±27,0 mm, 17,9% das lesões eram oclusões e 81,0% eram severamente calcificadas. O sucesso técnico primário foi alcançado em 88,6% (117/132) de doentes. Os 15 casos de falência foram devidos a: não obtenção de estenose residual ≤50%, efeitos adversos major (morte, enfarte, disseção tipo C, perfuração, pseudoaneurisma, trombose, embolização distal clinicamente significativa) em 9 casos, mau funcionamento do dispositivo que condicionou que o procedimento fosse abortado num caso e incapacidade de inicializar o filtro utilizado com sucesso em 4 casos.

Notavelmente, a duração do procedimento (72 minutos) para tratar comprimentos de lesões relativamente curtas e o aumento dos custos de dispositivos associados ao uso obrigatório de um dispositivo de proteção distal, realçam os desafios do tratamento de artérias periféricas severamen­te calcificadas.

O estudo DEFINITIVE AR33, prospetivo e randomizado pare­ce ter reproduzido esses resultados com taxas de permeabi­lidade de 1 ano em lesões mais longas (> 10 cm) de 96,8% por ecodoppler e 90,9% por angiografia para DA seguida de DCB (DAART). As taxas de permeabilidade em lesões gravemen­te calcificadas também parecem ter melhorado com DAART versus DCB. No entanto foi notória a diminuição franca da permeabilidade aos 12 meses no subgrupo de doentes com calcificação severa que foi de 70.4% por ecodoppler e de 58.3% por angiografia (vs 62.5% por ecodoppler e 42.9% por angiografia no grupo DCB) (dados ainda não publicados sobre a forma de artigo).

Num recente estudo randomizado que incluiu 155 doentes 34 submetidos a tratamento de lesões de novo da arté­ria femoral superficial, a angioplastia com DCB e stent foi superior à angioplastia com balão simples e stent e à DA com proteção distal e stent de resgate, quer quanto à rees­tenose aos 6 meses, quer quanto à necessidade de revas­cularização da lesão alvo aos 24 meses. As lesões tratadas, comparáveis em todos os grupos, tinham um comprimento médio de 65,9 ± 46,8 mm, 56% eram oclusões e 17-33% por grupo apresentavam calcificação classificada como severa. Na angiografia aos 6 meses, a percentagem de estenose foi significativamente menor em doentes tratados com DCB e stent (34 ± 31%) em comparação com angioplastia simples e stent (56 ± 29%, p=0,009) ou DA (55 ± 29%, p=0,007). Da mesma forma, a reestenose binária foi significativamente menor após o tratamento com DCB e stent em comparação com angioplastia simples e stent ou DA. O seguimento clíni­co aos 24 meses revelou menor risco de revascularização da lesão alvo após angioplastia de DCB e stent em comparação com angioplastia simples e stent ou DA. Não foram encontra­das diferença em termos de trombose da lesão-alvo nem de mortalidade entre os grupos e nenhum doente foi submeti­do a amputação. Não foi realizada análise de subgrupos em função da calcificação das lesões.

De uma forma geral a DA ou DAART parece merecer uma utilização judiciosa em lesões curtas, estenóticas, mas será menos aconselhável em lesões com calcificação severa, se há uma disseção ou em caso de recanalização subintimal ou após utilização de um dispositivo de reentrada.

 

CONCLUSÃO

A falta de estandardização na classificação da calcificação das artérias periféricas tem levado a uma caracterização insufi­ciente do desempenho dos dispositivos endovasculares no subgrupo de lesões calcificadas do setor femoro-poplíteo. Os DCB parecem ter uma atuação inferior em lesões calcificadas em comparação com lesões não-calcificadas, embora perma­neça por esclarecer qual o mecanismo que contribui para este facto. Por outro lado, na ausência de estudos comparativos, o stent ideal para uma lesão calcificada provavelmente vai depender da localização da lesão. As lesões calcificadas na artéria poplítea poderão ter beneficio adicional do stent Supera® em comparação com outros stents face ao seu design especificamente concebido para resistir às forças compressivas que são características desta região de flexão. A principal vantagem dos stents cobertos prende-se com um eventual maior ganho luminal durante a preparação da lesão­ -alvo sem risco acrescido de perfuração ou outras complica­ções. Apesar de apelativa a estratégia de remoção da placa de aterosclerose, a DA é uma estratégia trabalhosa e demorada e provavelmente mais adequada a lesões curtas, podendo não constituir uma verdadeira alternativa em lesões exten­sas características dos graus C e D da classificação TASC. Por fim, impõe-se salientar que as atuais opções de tratamento não se esgotam totalmente nos dispositivos apresentados, sendo previsível que num futuro próximo conheçamos a rele­vância dos diferentes tipos de aterectomia (direcional, rota­cional, orbital ou laser) ou do balão de litotrícia no tratamento de lesões calcificadas do sector femoro-poplíteo.

 

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*Autor para correspondência

Correio eletrónico: marina_f_neto@hotmail.com (M.Neto).

 

Recebido a 12 de junho de 2017

Aceite a 07 de maio de 2018

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