EDITORIAL

Retrospectiva e realidade do impacto do COVID-19 na Região Autónoma da Madeira e serviço de cirurgia vascular

Reality of the impact of COVID-19 in the Autonomous Region of Madeira and vascular surgery department

José França¹

¹ Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Hospital Dr. Nelio Mendonça; Região Autónoma da Madeira

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Em Março de 2020 tudo mudou!

Num cenário global que parecia ficção, a vida “normal” que tínhamos tornou-se volátil e inesperada e a realidade mudou completamente.

Foi tudo muito rápido e por parte dos responsáveis foi necessário lucidez e adaptação, para que por um lado fossemos capazes de tratar os potenciais doentes infetados e por outro pudéssemos dar resposta às outras patologias , nomeadamente na nossa especialidade.

A actuação dos Serviços da Região Autónoma da Madeira foi de imediato com o encerramento das fronteiras aéreas e marítimas. Realidade nunca vista, com a ausência de turistas!!!

Foi conseguido estabilizado o número de casos na Região como consta dos dados da DGS. No nosso caso foi relativamente mais fácil , atendendo à situação geográfica. Poucos doentes internados em Unidade de Cuidados Intensivos, e até à data sem casos de mortalidade directa à COVID 19.

No caso dos profissionais de saúde poucos foram os infetados e , no Serviço de Cirurgia Vascular nenhum diagnosticado.

Infelizmente o “custo” a pagar foi a interrupção de praticamente toda a actividade assistencial não urgente nomeadamente, consultas, técnicas /procedimentos e cirurgias.

 

 

 

No laboratório de hemodinâmica só em Junho foi possível efetuar exames angiograficos de urgência ,porque os ventiladores estavam reservados para eventuais situações emergentes assim como o bloco operatório.

O Serviço foi reduzido ao mínimo , com o internamento de apenas doentes urgentes e inadiáveis

 

 

Houve a descompensação de alguns doentes principalmente na patologia isquémica , o que implicou o aumento significativo da taxa de amputações. O motivo foi a contingência imposta pelo Serviço Regional de Saúde, mas também porque os doentes evitaram qualquer contacto físico com os serviços hospitalares e de saúde primários.

No período de emergência tivemos as teleconsultas mas não foi o desejável principalmente em áreas mais técnicas.

No início de Maio as rotinas começaram a normalizar.

A partir de Junho, com todos os cuidados inerentes à situação, retomamos praticamente a nossa actividade.

Infelizmente há que tentar a recuperação de todo o atraso, até porque nesta época coincidem com reduções devido aos períodos de férias.

Há que reorganizar, principalmente na recuperação das listas de espera que já eram longas.

Tentarei no meu Serviço que todos os doentes em lista de espera com isquemias em estádios mais avançados , patologia aneurismatica com risco de potencial rotura e patologia cérebro vascular sejam tratados nos “timings” desejados, independentemente da evolução da pandemia .

Claro está, que apesar das previsões não conseguimos fazer futurologia.

Apesar de uma aprendizagem recente, e pensando numa 2ª vaga de infecção, não podemos voltar atrás, sob pena de uma pandemia de outras patologias crónicas , além da económica e social que já é real.

 

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José França

Diretor do Serviço de Cirurgia Vascular. Hospital Dr. Nelio Mendonça

Correio eletrónico: jmtfrança@gmail.com (J. França).