O Registo Nacional de Procedimentos Vasculares (RNPV) foi desenvolvido pela SPACV e implementado em dezembro de 2019. Deste modo, é efetuada a colheita e compilação consecutivas de dados clínicos relativos a doentes submetidos a procedimentos do foro da Angiologia e Cirurgia Vascular em território nacional, no contexto do Serviço Nacional de Saúde e de Medicina Privada.

Os registos clínicos assumem particular importância na promoção da qualidade e segurança dos serviços de saúde prestados. Cada Centro tem a possibilidade de avaliar o seu desempenho em diversos indicadores e compará-lo com a média nacional. Permite-nos ainda participar em projetos científicos internacionais, contribuindo para a visibilidade de Portugal.

Os registos do módulo Aneurismas da Aorta Abdominal têm decorrido com muito sucesso, fruto do empenho de todos os Centros que nele participam. À data, já ultrapassamos os mil registos.

Acreditamos ser momento de expansão, pelo que a Comissão Científica dos RNPV se dedicou nos últimos meses à criação do módulo Doença Carotídea, o qual se encontra em implementação.

De acordo com as linhas orientadoras European Society for Vascular Surgery (ESVS) 2023 clinical practice guidelines on the management of atherosclerotic carotid and vertebral artery disease¹, a endarterectomia carotídea mantém-se como a alternativa cirúrgica de 1ª linha. No entanto, em muitos países estas recomendações não são acompanhadas na real world practice, com um incremento sucessivo de intervenções carotídeas por stenting (transfemoral e transcarotídeo).

Importa também salientar que o risco combinado de AVC/morte pós procedimento considerado aceitável tem sido alvo de debate. Por um lado, há quem defenda que os limiares aceitáveis para intervenção devem acompanhar a redução de risco de eventos peri-procedimento observada em RCTs. Por outro lado, surge o receio de que impor limiares demasiado estritos possa levar o cirurgião a optar por intervir mais tarde em doentes sintomáticos ou a selecionar casos clínicos com maior probabilidade de sucesso (particularmente em países em que o cirurgião ou o centro são avaliados de acordo com os seus resultados). A ESO guidelines², publicadas em 2021, sugeriu a alteração dos limiares aceitáveis de eventos peri-procedimento (30-dias) para eventos intra-hospitalares, com limiares inferiores aos até então definidos. Mas esta alteração teve como principal objetivo tornar o registo de eventos mais exequível de uma perspetiva prática, e não necessariamente reduzir os limiares para eventos a 30-dias.

Cientes de opiniões díspares entre diferentes guidelines, entre diferentes especialidades diretamente envolvidas no tratamento da doença carotídea, do impacto do resultado do tratamento efetuado na qualidade de vida do doente e na disparidade de realidades entre os hospitais do nosso país impera a necessidade de ter um registo do mundo real, dos doentes tratados em Portugal, por cirurgiões vasculares, a doença carotídea assintomática e sintomática.

Com o RNPV de Doença Carotídea procuramos caracterizar a nossa população de doentes submetidos a tratamento de estenose carotídea em Portugal, objetivar as técnicas utilizadas, obter um registo da qualidade e segurança dos procedimentos executados, com especial destaque para as complicações pós-operatórias, em doentes assintomáticos e sintomáticos.

As variáveis selecionadas para o RNPV de Doença Carotídea foram definidas em cooperação com os nossos parceiros internacionais, nomeadamente com a VASCUNET/ICVR Collaboration, de forma a possibilitar a integração de dados nacionais em futuros projetos científicos internacionais. O tratamento de dados será realizado em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública.

Deixamos uma palavra final de agradecimento aos nossos Investigadores, sem o vosso contínuo empenho não seria possível termos uma plataforma tão fidedigna da realidade portuguesa.

Clara Nogueira

Secretária-geral SPACV