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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.10 Lisboa dez. 2011  Epub 31-Dez-2011

https://doi.org/10.4000/medievalista.236 

Editorial

Editorial revista Medievalista número 10

José Mattoso1 

1Director da Medievalista


Sem plano preestabelecido, ao sabor da colaboração que nos vai sendo proposta, mas com o cuidado de exigir rigor e originalidade na apresentação dos artigos que nos são enviados, a Medievalista on-line continua a apresentar-se como lugar de acolhimento de investigações de dimensão reduzida, mas alcance e significado efectivo no conjunto da medievalística portuguesa.

Talvez seja significativo que as áreas mais frequentadas pelos nossos colaboradores tenham sido, até aqui, a História da Arte e a Literatura. Na primeira, a dificuldade de informação documental directa obriga a complexas investigações destinadas a conjugar dados empíricos dispersos e tirar partido de recursos comparativos para obter esclarecimentos acerca das condições de produção de edifícios, pinturas, iluminuras, esculturas, etc., as quais outrora só se consideravam do ponto de vista estilístico. Em números anteriores apresentaram-se estudos em temas tão variados como a arquitectura das bibliotecas catedralícias, o fabrico das cores das iluminuras, o sentido ideológico das representações iconográficas, os modelos antigos da escultura românica ou a arquitectura da charola românica do Convento de Cristo em Tomar. Neste número apresentamos um estudo sobre os restos de duas capelas góticas do século XV do quase desaparecido convento de S. Francisco em Tavira. A pretexto da história da arquitectura, o Autor procede a uma minuciosa investigação documental para conseguir identificar os instituidores das duas capelas e das respectivas famílias. Além de recorrer a um conjunto complexo de documentos escritos, recorre também à heráldica para descobrir a quem pertenciam os escudos heráldicos esculpidos nessas mesmas capelas. A solução que apresenta parece altamente provável.

Dois outros artigos deste número situam-se na área da história literária, que também tem sido visitada nesta revista com alguma frequência. Exploram, como outros artigos já aqui publicados, temas relacionados com a interpretação de símbolos, um género que se presta a artigos relativamente curtos e com objectos claramente definidos. Tendo em números anteriores oferecido aos leitores estudos sobre a «Dama do pé de cabra», o simbolismo animal ou a figura de Merlin, aborda-se agora o simbolismo das cores no José de Arimateia e o sangue numa canção de gesta tardia muito pouco conhecida, La bataille Loquifer. Se as cores parecem ter, naquele romance, uma simbologia relativamente simples, não acontece de modo algum o mesmo no que diz respeito ao sangue, cujo significado se revela extremamente complexo, ambíguo e paradoxal. Carlos Carreto, autor do artigo sobre o sangue, oferece-nos no seu texto uma magistral interpretação de um elemento fundamental do imaginário arcaico, com profundas raízes no pensamento e nas crenças da sociedade europeia. O tratamento do tema na referida canção permite pôr em relevo e descobrir as alusões e as variantes de um símbolo polissémico extremamente significativo.

Os dois outros artigos publicados neste número inserem-se numa corrente de investigação mais tradicional. Cada um deles incide sobre um só documento. O de Saul António Gomes tem a originalidade de se debruçar sobre um tipo de fonte histórica muito raro entre nós antes da segunda metade do século XIV: a contabilidade do mosteiro canonical de S. Jorge de Coimbra para os anos de 1257-1259. Como se sabe, este género de fontes tem a maior importância para estudos de história económica. Infelizmente os arquivos portugueses guardam muito poucos textos deste género, o que impede investigações de dados seriais. De qualquer maneira a raridade não impede que sejam tiradas algumas conclusões de carácter objectivo. O Autor tem o cuidado de enquadrar rigorosamente o documento na história institucional do mosteiro de S. Jorge e sobretudo de estudar a sua relação com o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.

Neste número publicamos ainda um artigo de Abel Estefânio sobre do chamado “Pacto Sucessório”. Acerca deste texto remetemos para a nota do Director que o precede.

Não podemos terminar esta apresentação do número 10 da Medievalista sem fazer uma breve referência à publicação recente de uma colectânea de artigos do Prof. Luís Krus, fundador do Instituto de Estudos Medievais e desta mesma Revista. Intitulada A construção do passado medieval. Textos inéditos e publicados, reproduz a colectânea Passado, memória e poder na sociedade medieval portuguesa, publicada em 1994, e acrescenta-lhe alguns textos inéditos, uma lista bibliográfica de todos os seus escritos, incluindo artigos de dicionários, e ainda um lista das teses de mestrado e de doutoramento que orientou. Esta obra constitui o primeiro volume da colecção editorial do IEM, sendo também o primeiro volume da série «Estudos», acerca da qual se publica também a sua apresentação por Maria de Lurdes Rosa. O lançamento da obra constitui ao mesmo tempo uma homenagem ao saudoso fundador do IEM e um gesto simbolicamente programático.

Na mesma sessão da colectânea com os estudos de Luís Krus, apresentaram-se ainda os dois primeiros volumes da série «Documentos»: O Diplomatário da Sé de Viseu (1078-1278), da autoria de Leontina Ventura e de João da Cunha Matos, o qual transcreve os documentos da Sé de Viseu que se conservam na Torre do Tombo; e a Imagem do Mundo, de Gossouin der Metz (1245), apresentada, editada e traduzida do original francês por Margarida dos Santos Alpalhão. Esta última obra transcreve um manuscrito procedente de Santa Cruz de Coimbra, provavelmente adquirido em época tardia, mas cuja origem se desconhece. Trata-se de uma enciclopédia em verso cujo texto foi publicado, a partir de manuscritos franceses, por Carl Fant, em 1886. Margarida Alpalhão publica o texto francês do manuscrito crúzio e uma tradução em português, mas não assinala as variantes face à edição de Fant.

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