SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número18In memoriam, Humberto Baquero Moreno (1935-2015) índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Med_on  no.18 Lisboa dez. 2015

 

EDITORIAL

Editorial

José Mattoso*

 

* Universidade Nova de Lisboa, IEM – FCSH/NOVA, 1069-061, Lisboa, Portugal. E-mail: iem.geral@fcsh.unl.pt

 

A revista Medievalista OnLine, fundada em 2005 para dar cumprimento a um projecto vivamente acalentado pelo saudoso Prof. Luís Krus, conta já com dezoito números e dez anos de existência, muitas dezenas de artigos originais, algumas recensões críticas (não tantas quanto seria de desejar), muitas informações variadas de carácter historiográfico, textos de homenagem a reputados medievalistas portugueses e estrangeiros (alguns necrológios), notícias de colóquios e encontros científicos, etc., etc.. Ao lado de textos de historiadores com nome feito nos meios académicos nacionais e internacionais, aparecem também artigos e contribuições de jovens investigadores que ousam abrir o conhecimento da História explorando temas novos ou revisitando problemas antigos.

Esta variedade deve-se em grande parte ao cumprimento de um objectivo muito caro ao seu fundador, profundamente convencido de que um dos melhores caminhos para aprofundar o estudo da História Medieval consistia em dar prioridade a temas e questões interdisciplinares. Este caminho pode-se considerar, até certo ponto, como resultado do alargamento, do aprofundamento e da interligação de investigações esboçadas em Portugal ainda antes da década de 60 do século XX, por especialistas da História literária medieval, da Filologia medieval, da Crítica textual, da Arte medieval, etc.. Estas áreas têm-se renovado entre nós desde os anos 80 do século passado, com a contribuição de estudos cada vez mais especializados, como a liturgia medieval, a religiosidade, a proto-ciência (astronomia, astrologia, magia, numerologia, etc.), a música sagrada e profana, a arqueologia, as técnicas artesanais, a islamologia, a história militar, etc., etc. Por outro lado, as questões tradicionais foram também renovadas graças ao concurso das ciências sociais, em primeiro lugar, da antropologia (disciplina que sugeriu interrogações muito abrangentes a Marc Bloch, Duby, Jacques Le Goff, Philippe Ariès ou Jean-Claude Schmitt), e que muitas vezes assumiu premissas marxistas e estruturalistas. Estes contactos, como não podia deixar de ser, exigiam o conhecimento de outras ciências sociais, isto é, a economia, a demografia e a sociologia.

Actualmente a pluridisciplinaridade que se impõe nos estudos medievais continua a alastrar, não tanto graças às vastas interrogações das Humanidades, como até ao fim do milénio, mas em virtude da curiosidade suscitada pelos dados e fenómenos micro, muitas vezes insignificantes em si mesmos, mas que requerem a acumulação de um grande número de observações. Este tipo de recolha de dados, praticada desde há mais tempo pela Arqueologia, inspirou as bases de dados de todo o género, desde as prosopográficas às das variações dos preços, desde a informação geográfica à fotografia aérea, desde as análises linguísticas às aplicações laboratoriais da física, da química ou da biologia.

Há dez anos, quando apareceu o primeiro número da Medievalista, ainda este tipo de métodos e pesquisas era raro entre nós. Mas a concepção interdisciplinar proposta e estimulada por Luís Krus não tinha fronteiras. Queria abrir os estudos medievais a todo o saber e a todos os métodos susceptíveis de alargar o conhecimento da civilização europeia na época da sua formação. Queria transmitir a sua insaciável curiosidade a jovens investigadores entusiasmados pela descoberta de uma época cujos segredos parece não terem fim.

Ao proceder a um breve balanço do que a Medievalista tem realizado nestes dez anos, para nos orientarmos face ao futuro, verificamos que o saldo positivo das suas contribuições é já considerável. Parece-nos que a revista tem continuado a dar corpo às ideias, intenções e originalidade que o seu fundador queria imprimir-lhe, embora não tenha tido tempo de as explorar em todas as direcções. Sem formalismo nem rigidez, contando mais com o entusiasmo dos que a têm procurado do que com classificações oficiais, tem conquistado um lugar próprio no ranking de publicações congéneres. Tem podido fazê-lo, como elemento indispensável das actividades do Instituto de Estudos Medievais (IEM) da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e graças ao apoio financeiro prestado pela FCT. O valor dos resultados obtidos acaba de ser reconhecido pela FCT, ao atribuir ao IEM a classificação de « Muito Bom ». Embora a dotação esperada nos pareça demasiado exígua para as nossas ambições, vemos assim sancionada a orientação que seguimos.

O lugar alcançado só se poderá manter sistematizando os nossos programas, renovando as nossas perspectivas, aprofundando as nossas investigações e alargando o círculo dos nossos contactos. Passando o testemunho a um novo Director, esperamos que ele e a sua equipa continuem a dar vida ao projecto que Luís Krus concebeu mas do qual só pôde lançar as primeiras sementes.

Recordemos que a revista foi fundada em 2005, tendo como primeiro director o Prof. Luís Krus, mas logo após a sua morte assumiu a direcção o Prof. Bernardo Vasconcelos e Sousa até 2008. No ano seguinte o seu cargo foi-me entregue nominalmente, mas a linha editorial manteve-se graças ao Prof. Bernardo de Vasconcelos e Sousa, que continuou a assegurar o seu cumprimento com o título de subdirector. Hoje, passados sete anos, já não se justifica esta solução formal, destinada apenas a sancionar simbolicamente uma certa orientação historiográfica que o legado de Luis Krus e as investigações em curso dos membros do IEM implicavam. O lugar do Instituto está actualmente bem definido, graças a um conjunto de projectos, colóquios, actividades docentes e toda a espécie de iniciativas inovadoras no contexto português. A Medievalista insere-se perfeitamente neste âmbito e constitui um complemento fundamental da actividade do IEM. Tal como a própria direcção do Instituto, tem de renovar os seus quadros, de definir as tarefas e responsabilidades dos seus membros, de procurar novos contactos, de fazer novas experiências. Terminado o ciclo dos seus primeiros dez anos de vida, é bom renovar os quadros directivos e assim abrir o caminho à novidade e à diversidade, sempre fecundas e vivificantes.

Pela minha parte, só posso agradecer a empenhada e incansável colaboração que os meus colegas sempre me ofereceram e que definiu a especial imagem de marca da nossa revista. Quero apenas mencionar o nome que resume todas as ajudas que recebi, e que por isso não posso deixar de referir: o Prof. Bernardo de Vasconcelos e Sousa. Remeto-me ao silêncio, com toda a confiança na equipa que em 2015 assume a tarefa de completar, aperfeiçoar e renovar o que com a maior satisfação lhe entrego, convicto de que fica em boas mãos.

 

São Pedro do Estoril, 26 de Maio de 2015.

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

Referência electrónica:

MATTOSO, José – “Editorial”. Medievalista [Em linha]. Nº 18 (Julho – Dezembro 2015). [Consultado dd.mm.aa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA18/. ISSN 1646-740X.         [ Links ]

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons