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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.29 Lisboa jan. 2021

 

EDITORIAL

Editorial


 

Abre esta Medievalista com mais uma nota de pesar, motivada pelo desaparecimento de Peter Linehan a 9 de Julho de 2020. A homenagem a este medievalista era obrigatória e por várias razões. Desde logo, porque ele era membro do Conselho Editorial da revista e acompanhou a evolução desta durante a última década. Depois, porque manteve uma longa relação com o país e com os investigadores portugueses, iniciada em 1968, há mais de cinquenta anos, quando participou no Congresso Luso-Espanhol de Estudos Medievais. Mas, sobretudo, porque ele foi um investigador muito estimulante, com uma obra que renovou a análise dos modos de apropriação do passado pelo presente dos cronistas e dos historiadores e que abriu, de resto, novos horizontes para a historiografia espanhola e portuguesa. Dos seus muitos trabalhos e dos seus méritos, falam neste número quatro investigadores portugueses que com ele privaram mais de perto e que dele oferecem quatro retratos distintos, mas complementares. Talvez porque esta multiplicação dos olhares e das perspectivas, como recordava o próprio homenageado, seja a melhor forma de captar uma personagem e uma obra igualmente complexas.

O corpo deste número volta a estar formado por um dossier temático, coordenado desta vez por dois membros da revista, Adelaide Miranda e Pedro Chambel, e dedicado ao estudo do Bestiário Medieval. Sem retomar a apresentação que dele é feita pelos dois coordenadores, nem a continuidade com iniciativas anteriores que aí ficou recordada, importa notar a diversidade dos contributos reunidos, que não se limita à análise dos Bestiários, mas que considera outras fontes e outros suportes, desde as representações literárias e textuais à iconografia dos animais presentes em objectos materiais. Alguns dos textos são de autores consagrados, como o balanço feito por Rémy Cordonnier - em destaque - sobre os bestiários do século XII, a par do artigo de Ilya Dines sobre a produção deste tipo de fontes, ou da reflexão de Xosé Mariño Ferro sobre o papel dos animais na representação do sagrado, que se observa em contextos diversos e em vários universos culturais. Muito outros, porém, são pertença de investigadores mais jovens, oriundos de diversos países e doutras historiografias, ainda que com destaque para o Brasil. Uma multiplicidade de proveniências que atesta a projecção e o reconhecimento que a Medievalista vai ganhando noutras latitudes e que é difícil não se registar aqui com a demora e o apreço devidos.

Tal aposta na diversidade de origens, de temas e de perspectivas, também se observa nas secções fixas da revista. Duas das recensões, as de António Rei e de Gonzalo Castro Moreno, dão a conhecer obras colectivas que analisam aspectos contrastantes do mundo islâmico peninsular, das manifestações artísticas às materialidades do trabalho e da economia. As outras duas, de Adelaide Milán da Costa e de José Carlos Quaresma, apresentam igualmente duas obras colectivas, que lidaram com aspectos concretos da sociedade cristã, seja o problema da desigualdade social nas sociedades fragmentárias da Alta Idade Média, seja o papel que a escrita e o notariado assumiram nas cidades dos reinos de Castela e de Portugal. Nas teses apresentadas, predominam outra vez as que foram defendidas em Espanha. Através delas, divulgam-se investigações originais, desde a de Janaína Marques sobre a construção da identidade social do jogral, à de Paula Cardoso sobre a relação das dominicanas portuguesas com a produção de manuscritos iluminados, à de María Novoa Fernández sobre a formação em terras galegas da iconografia da Adoração de Jesus pelos Reis Magos, ou à de David Gallego Valle sobre os castelos do Campo de Montiel, uma zona de fronteira entre as terras da Mancha e da Andaluzia. Por último, as notícias da Varia dão testemunho detalhado de iniciativas e de congressos promovidos por diversas entidades, todos adaptados aos tempos presentes de pandemia e de isolamento. O facto é significativo e deve ser sublinhado, por atestar não só a resiliência e a criatividade dos estudos medievais, nas suas mais diversas áreas disciplinares, mas igualmente a possibilidade de converter as actuais dificuldades em oportunidade de maior partilha e debate dos saberes.

Este número 29 da Medievalista vem a público num momento difícil e complexo para o país e para o mundo. Os efeitos cruzados da pandemia e do isolamento, da redução da actividade económica e do aumento do desemprego, criaram circunstâncias conhecidas de todos e que são muito complicadas para a vida em sociedade. As consequências desta situação eram inevitáveis, também, para a comunidade científica, na diminuição da actividade e da procura, quiçá na restrição do emprego e no adiamento dos projectos e do financiamento. Mas se esta contracção era socialmente admissível, apesar dos custos associados, ela não pode pôr em causa o investimento em ciência, nem os estímulos ao emprego científico. Nos últimos tempos, a comunidade científica tem-se mobilizado na crítica e na contestação das políticas da FCT, quer quanto à composição dos júris que esta nomeia, quer, sobretudo, no que respeita à diminuição drástica do investimento em projectos de investigação. Atenta a estes problemas, a Medievalista está disponível para abrir as suas páginas para que tudo isto seja amplamente discutido e para que se encontrem as respostas mais justas e mais adequadas.

A Medievalista

 

Como citar este artigo | How to quote this article:
Redacção – “Editorial”. Medievalista 29 (Janeiro – Junho 2021), pp. 7-9. Disponível em https://medievalista.iem.fcsh.unl.pt.

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