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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.33 Lisboa jan. 2023  Epub 31-Jan-2023

https://doi.org/10.4000/medievalista.6310 

Recensões

Recensão / Review: Blood, land and power: the rise and fall of the Spanish nobility and lineages in the early modern period

1. Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas; Instituto de Estudos Medievais, 1070-312 Lisboa, Portugal; miguelaguiar@fcsh.unl.pt

Pérez García, Manuel. -, Blood, land and power: the rise and fall of the Spanish nobility and lineages in the early modern period. ., Cardiff: :, University of Wales Press, ,, 2021. (, 352 pp.p. ).


O livro aqui em análise apresenta-se como um trabalho projetado numa cronologia alargada, permitindo um enfoque nas evoluções e permanências das estruturas sociais do reino de Múrcia, da conquista cristã até ao século XIX. Do ponto de vista metodológico, trata-se de um estudo centrado em duas famílias (Riquelme e Fontes y Paz), declarando-se a pretensão de, através de uma abordagem similar à “micro-histórica” e com uma base local, entroncar as principais observações, hipóteses e conclusões discernidas a partir destes casos nas grandes problemáticas e estruturas sociais da história hispânica, desde a Idade Média até ao fim do Antigo Regime. A “família” é a âncora principal do trabalho, encarando-a como uma estrutura de base ao funcionamento da sociedade, nela se incrustando um conjunto mais vasto de relações para além das componentes que, segundo as conceções contemporâneas, classificaríamos como “privadas”. Neste sentido, o trabalho enquadra-se sobretudo na prática historiográfica dos modernistas, e talvez em especial dos modernistas espanhóis, que têm produzido um conjunto substancial de estudos abarcando esta partição cronológica (grosso modo, entre os séculos XV e XVIII)1. Neles, também, a noção de “família” - ancorada na literatura que, neste período, começa a corporizar esta noção de forma mais concreta2 - adquire um lugar central, um pouco em contraste, por exemplo, com a generalidade dos medievalistas, os quais, talvez pelo léxico empregue na documentação e pela sensação de maior distanciamento em relação à sociedade que trabalham, têm adotado preferentemente outra terminologia - parentesco, num sentido mais geral de sistema de relacionamento socialmente construído3, e, para o caso aristocrático, “linhagem”, pese embora todas as problemáticas conceptuais e de definição que também se colocam a este conceito4.

Em sentido complementar à centralidade do conceito de “família” neste contexto, o autor atribui ao indivíduo o papel de “main protagonist of this social tapestry” (p. 1). A complementaridade entre estas duas perspetivas justifica-se tendo presente que as principais etapas da vida das pessoas se entroncavam necessariamente em estruturas familiares mais ou menos bem definidas; consequentemente, essas etapas desempenhavam também um papel relevante na organização social, muito para lá da esfera dita “privada”.

O livro é composto por quatro capítulos. Antes disso, a introdução fornece o enquadramento global da obra, precisando a metodologia e explicitando conceitos. Neste ponto, adquire particular relevância a imprescindível determinação do conceito de “família” tendo em conta as imagens que esta convoca para um leitor contemporâneo, assim como o conceito de “reprodução social”, aqui concebido fundamentalmente numa perspetiva de manutenção, por parte das famílias dominantes e recorrendo a um conjunto vasto de estratégias, de uma posição social proeminente. Parece-nos em todo o caso que esta conceção de “reprodução social” poderá estar excessivamente centrada nos interesses específicos dos grupos em análise, e não tão integrada nas estruturas sociais em que estes se moveram. Por outras palavras, parece haver uma equivalência conceptual entre ascensão social e reprodução: se a historiografia se centrou muito nos mecanismos de ascensão, importaria assim observar outras dinâmicas que permitiam a manutenção do status e do poder. Todavia, e como acima sublinhámos, estas dinâmicas não se desligavam de um conjunto mais lato de processos; melhor dizendo, a reprodução do poder aristocrático encaixa necessariamente na estrutura de poderes locais e de outra escala, sendo uma dinâmica que se consubstancia para além dos grupos familiares que circunstancialmente ocupavam estas posições. Assim, mais do que um conjunto de estratégias empregues por agentes sociais concretos para sobreviver e prosperar dentro do sistema de poderes, a “reprodução social” poderá também ser entendida como a reprodução do próprio sistema - com as suas dinâmicas evolutivas -, dentro do qual se encaixam os poderes aristocráticos5. Em suma, para além das estratégias concretas e específicas encetadas pelos atores sociais, a “dança” de famílias em posições dominantes - mais ou menos frequente consoante os contextos - não altera a dinâmica de fundo, que é o da existência e papel central do poder aristocrático, independentemente da sua configuração ou auto e hétero representação (“nobres”, “fidalgos”, “burgueses”, “oligarcas”, etc).

Nesta introdução, seria também bem acolhida uma caracterização da paisagem documental para a investigação deste espaço e das unidades sociais consideradas no livro, assim como uma caraterização global das fontes utilizadas. Cremos que tal operação permitiria (em antecâmara a referências fornecidas ao longo da obra) situar melhor as “forças” e “fraquezas” da amostra documental possível de construir, em que medida esta condiciona a análise, e até providenciar informações que permitiam situar de forma mais segura comparações com estudos centrados noutros casos e regiões.

O primeiro capítulo, intitulado “Linhagem, glória e honra no final da Idade Média”, procede à descrição da evolução das famílias em análise, configurando um caso típico de outsiders guerreiros que se instalaram após a conquista do território, beneficiando dos repartimentos levados a cabo pelos monarcas castelhanos. O autor considera os séculos XIII-XIV como o período decisivo para a estruturação destes grupos em linhagens, num processo relacionado com a senhorialização do território e a difusão da vinculação, descritos como dois fenómenos concomitantes para a organização linhagística da aristocracia e para alicerçar o seu domínio social ao longo do período moderno. Do período Trastâmara em diante, este domínio social seria consolidado pelo controlo dos cargos concelhios e pelo estabelecimento de relações com a corte régia. Neste ponto, o estudo é igualmente tributário da fecunda historiografia espanhola em torno das “oligarquias urbanas”.

O segundo capítulo, dedicado ao tema da honra e da pureza de sangue, descreve de que forma, entre os séculos XVI e XVIII, as querelas em torno da pureza de sangue se tornaram numa arma de arremesso nas disputas entre as fações aristocráticas. Tornou-se, como sabemos, uma questão fundamental na medida em que a pureza de sangue abria caminho a “honras” (ordens militares, Inquisição, cargos eclesiásticos, confrarias) fundamentais para a consolidação de posições sociais, sendo também, segundo o autor, um meio de conter a ascensão de uma elite composta por cristãos-novos, e de sedimentar uma determinada forma de estratificação social - no caso, e para efeitos práticos, uma associação entre “nobreza” e “pureza de sangue”. Uma das materializações destas estratégias passou pela progressiva difusão das cláusulas que, nas instituições de morgados, excluem da sucessão os elementos que contraíssem matrimónio com cristãos-novos ou com outros indivíduos de ascendência tida como “nefasta”.

O terceiro capítulo dedica-se ao estudo das redes de poder, corporizando uma das ferramentas metodológicas enunciadas pelo autor na introdução. Para a constituição dessas redes são consideradas as relações de parentesco consanguíneo e por aliança, assim como um conjunto de laços institucionais e sociais mais alargado. O autor começa por abordar a questão do parentesco entre 1500 e 1800, dando especial ênfase à problemática matrimonial. Nela deteta a prevalência de estratégias de homo e hipergamia como forma de reprodução e ascensão social, funcionando simultaneamente como uma via de delimitação do grupo dominante no quadro de uma sociedade que se representava, cada vez mais, como um corpo estratificado. Identificam-se e descrevem-se práticas como casamentos na afinidade, avaliando igualmente o impacto e função social de casamentos próximos ou distantes na esfera da consanguinidade6. De uma forma geral, atribui-se a estas dinâmicas de aliança um papel importante como forma de contrabalançar uma lógica de dispersão do património através das partilhas tendencialmente equitativas, ainda que este sistema fosse progressivamente compensado pela ascensão e difusão da prática vincular. A importância da transmissão dos morgados na determinação destas estratégias seria exacerbada ao longo dos séculos XVII e XVIII e, segundo o autor, tal dinâmica conduziria à própria falência do modelo na viragem para o século XIX. Finalmente, o autor procede à análise de redes sociais das linhagens, combinando vários tipos de relações que organizam o tecido social: consanguinidade, afinidade, clientelismo, amizade, parentesco batismal, todas elas, aliás, ancoradas nos principais espaços sociais e de poder.

O capítulo 4 dedica-se à análise do papel dos morgadios na estruturação destes grupos. Considera-se que se trata da fórmula que, dentro do quadro jurídico de matriz castelhana, permitia a transmissão mais regulada do património, operando simultaneamente uma materialização da linhagem como uma estrutura material, simbólica e de poder projetada na perpetuidade. Entre vários aspetos, analisa-se a importância da figura do “parente maior” na organização destes grupos; os conflitos judiciais pela posse de morgadios, geralmente associados à sucessão feminina; a forma como a solução serviu para consolidar as terras e senhorios adquiridos também depois da conquista de Granada; as estratégias matrimoniais como forma de agregar vínculos e Casas. Tendo em conta a análise projetada na longa duração, o autor considera que o favorecimento do primogénito, sob a disciplina veiculada pelo prolongamento da Casa acabou por, involuntariamente, conduzir ao próprio esgotamento do sistema. Se este subsistiu durante séculos sob tensão permanente devido às contradições que lhe eram inerentes (e expressas, por exemplo, na dinâmica de favorecimento explícito de um herdeiro sobre os demais membros da parentela), a observação da sua evolução no longo curso expõe as causas estruturais que fissuraram o seu funcionamento, a começar pelos constrangimentos biológicos propulsionados pelas estratégias de elevada restrição matrimonial. Em última análise, revela-se uma dinâmica de progressivo enfraquecimento que ficou, de resto, claramente exposto com as transformações que conduziram ao fim do Antigo Regime em Espanha.

A obra aqui em análise apresenta alguns aspetos importantes para a reflexão dos medievalistas. Desde logo, a abordagem no longo curso esbate as fronteiras da divisão do trabalho académico, permitindo a observação de dinâmicas de permanência e de transformação. Esta perspetiva permite situar a vigência e a evolução de certas estruturas, ou mesmo de conceitos e representações sociais, que apesar de se apresentarem como transversais no tempo, não assumem, contudo, o mesmo valor ou significado em todas as épocas. Neste domínio citarei, por exemplo, os casos da “linhagem” ou da “casa”, conceitos de uso recorrente mas nem sempre determinado, e que têm uma evolução social ainda em grande medida por historicizar7. Dir-se-ia ainda que esta observação adquire particular importância para os historiadores que trabalham sobre os grupos dominantes, sobretudo se se tiver presente que as estruturas que configuraram o poder destes grupos nos séculos XVII e XVIII moldaram em grande medida o acesso à informação para investigar a sua organização em séculos anteriores8. Neste aspeto, como se sabe, adquire particular relevância o sistema vincular e a relação determinante que este teve com as sucessivas reorganizações dos arquivos de família e de casas senhoriais9.

A obra aqui em apreciação constitui, portanto, um estudo de caso interessante. Apresenta dados relevantes e suscita reflexões estimulantes, demonstrando ainda a pertinência de elaborar quadros de trabalho historiográfico que não fiquem reféns de fronteiras em larga medida artificiais (determinadas em contextos históricos específicos) e, em suma, pouco correspondentes ao funcionamento e evolução das sociedades que se pretende investigar.

Referências bibliográficas

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1Citemos, a título de exemplo, os trabalhos de Juan Hernández Franco e da escola de Múrcia (por exemplo, HERNÁNDEZ FRANCO, Juan; PEÑAFIEL RAMÓN, Antonio - “Parentesco, linaje y mayorazgo en una ciudad mediterránea: Murcia (siglos XV-XVIII)”. Hispania [Em linha] 58/198 (1998), pp. 157-183. [Consultado a 1 Novembro 2022]. Disponível em https://hispania.revistas.csic.es/index.php/hispania/article/view/662. DOI: https://doi.org/10.3989/hispania.1998.v58.i198.662). Em Portugal, autores como J. Damião Rodrigues também têm seguido este enfoque na longa duração, e baseando-se sobretudo numa perspetiva de observação de estruturas evolutivas, mas ainda assim bastante resistentes às mudanças, como as do Antigo Regime. A esta prática não serão alheios, por um lado, os próprios processos sociais inquiridos, relacionados com dinâmicas de colonização e de imposição de um novo sistema social, e, por outro, a própria paisagem documental disponível (RODRIGUES, José Damião - “A Casa como modelo organizacional das nobrezas de São Miguel (Açores) no século XVIII”. História: Questões & Debates 36 (2002), pp. 11-28). Também os trabalhos centrados em casas nobres - em especial quando apoiados em documentação de “arquivos de família” - permitem realizar investigações na longa duração, ainda que condicionadas por estas estruturas e pela maneira como estas foram moldando a documentação hoje disponível.

2Em Portugal, este assunto foi nomeadamente abordado por HESPANHA, António Manuel - “Carne de uma só carne: para uma compreensão dos fundamentos histórico-antropológicos da família na época moderna”. Análise Social XXVIII/123-124 (1993), pp. 951-973.

3Neste sentido, veja-se sobretudo GUERREAU-JALABERT, Anita - “La parenté dans l’Europe médiévale et moderne: à propôs d’une synthèse recénte”. L’Homme 29/110 (1989), pp. 63-93. Para o enquadramento do espaço castelhano, o livro de Isabel Beceiro Pita e de Ricardo Cordoba de la Llave continua a ser muito relevante: BECEIRO PITA, Isabel; CORDOBA DE LA LLAVE, Ricardo - Parentesco, poder y mentalidade. La nobleza castellana (siglos XII-XV). Madrid: CSIC, 1990.

4MORSEL, Joseph - “Le médiéviste, le lignage et l’effet de réel. La construction du Geschlecht par l’archive en Haute-Allemagne à partir de la fin du Moyen Âge”. Revue de Synthèse 125 (2004), pp. 83-110.

5Sobre este assunto, vejam-se as observações de MORSEL, Joseph - Noblesse, parenté et reproduction sociale à la fin du Moyen Âge. Paris: Picard, 2017.

6Neste ponto, assumem particular relevo o trabalho de historiadores com uma importante formação de base antropológica, como é o caso de Anita Guerreau-Jalabert (já citada nesta recensão), e de Gérard Delille; deste autor, veja-se por exemplo, dentro da óptica do trabalho exposto no livro aqui em análise: DÉLILLE, Gérard - “Parenté et alliance en Europe occidentale. Un essai d’interprétation générale”. L’Homme 193 (2010), pp. 75-135.

7No caso da historiografia portuguesa, o conceito de «casa» adquire relevância sobretudo para os estudos centrados no século XVI em diante. De resto, para Mafalda Soares da Cunha e para Nuno Gonçalo Monteiro, a “casa” tornou-se na configuração institucional decisiva para a organização do poder aristocrático no período Moderno, enquadrando a reprodução social do grupo: CUNHA, Mafalda Soares da; MONTEIRO, Nuno Gonçalo - “Aristocracia, Poder e Família em Portugal, Séculos XV-XVIII”. In CUNHA, Mafalda Soares da; HÉRNANDEZ FRANCO, Juan (org.) - Sociedade, Família e Poder na Península Ibérica: elementos para uma História Comparada / Sociedad, Familia y Poder en la Península Ibérica: elementos para una Historia Comparada. Lisboa: Colibri/ CIDEHUS - Universidade de Évora e Universidad de Murcia, 2010, pp. 47-75. Para o período medieval - e em particular no que concerne às investigações que têm como seu terminus o século XIV - Bernardo Vasconcelos e Sousa rejeitou a pertinência do conceito, demonstrando que ele não se ajusta às práticas sociais observadas: SOUSA, Bernardo Vasconcelos e - “Afirmação Social e Liderança Nobiliárquica em Portugal (Séculos XIII-XV)”. Studia Zamorensia XII (2013), pp. 41-55.

8Joseph Morsel tem sido insistido particularmente neste ponto: MORSEL, Joseph - “Production d’archives, ou archives de la reproduction? La question des archives au miroir de la continuité seigneuriale”. Les archives familiales dans l’Occident médiéval et moderne: Trésor, arsenal, mémorial [Em linha]. Madrid: Casa de Velázquez, 2021 [Consultado a 1 Novembro 2022]. Disponível em http://books.openedition.org/cvz/25790.

9ROSA, Maria de Lurdes - “Problemáticas históricas e arquivísticas actuais para o estudo dos arquivos de família portugueses (Épocas Medieval e Moderna)”. Revista de História da Sociedade e da Cultura 9 (2009), pp. 31-33.

Recebido: 06 de Novembro de 2022; Aceito: 06 de Novembro de 2022

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