A revista Medievalista e os membros do IEM manifestam o seu pesar pelo falecimento da Professora ^{Jacqueline Hamesse}, no passado dia 3 de fevereiro, um acontecimento que veio empobrecer definitivamente os Estudos Medievais.

Eminente especialista da Filosofia medieval, estudou Filologia clássica na Université Catholique de Louvain, na qual se doutorou em 1970 com uma tese em Filosofia e Letras intitulada «Les auctoritates Aristotelis. Histoire de la tradition imprimée, édition, identification des citations, concordances», premiada pela Academia Real da Bélgica. Professora convidada em várias universidades italianas (Università degli Studi di Cassino, Università degli Studi di Macerata, Pontificio Ateneo Antonianum) e tendo desenvolvido várias estadas de investigação no Canadá e em Israel, foi no Institut Supérieur de Philosophie, da referida Université Catholique de Louvain, que desenvolveu uma extensa atividade letiva nas áreas da Paleografia, Lexicografia, Codicologia e Filosofia antiga e medieval, tendo dele saído como Professora Emérita. Entre 1984 e 1993, foi igualmente presidente do Institut d’Études Médiévales dessa mesma universidade.

Exímia conhecedora dos textos filosóficos medievais, o seu domínio excecional da Paleografia, da Codicologia e da Lexicografia, para além da sua sensibilidade para a importância da Informática, permitiu-lhe apresentar múltiplas pistas de investigação sobre os florilégios medievais e instrumentos de trabalho universitários (collationes, reportationes), nos quais a atenção dada à sua materialidade, terminologia e lexicografia resultou em avanços significativos sobre o conhecimento dos métodos de ensino e da contextualização da vivência intelectual no meio universitário medieval.

Decorrente do reconhecimento internacional de uma atividade científica ímpar, plasmada, por exemplo, na direção editorial da revista Bulletin de Philosophie Médiévale e da prestigiada coleção Textes et études du moyen âge, Jacqueline Hamesse colaborou cientificamente com importantes instituições de cultura europeias, como a Biblioteca Apostólica Vaticana. Recebeu, em 1999, em virtude do seu trabalho em torno da filosofia medieval, o grau honoris causa pela Universidade do Porto.

A sua dedicação ao ensino e à investigação valeu-lhe a nomeação para diversos comités de grémios académicos, de entre os quais se destacam a International Medieval Sermon Studies Society, a Association for Literary and Linguistic Computing, a Internationales Mittellateinerkomitee, a Medieval Academy of America ou a Société Internationale pour l’Étude de la Philosophie Médiévale, entre outras. Foi, igualmente, membro da Commission du Pontificio Ateneo Antonianum e representante belga do Comité International du vocabulaire des institutions et de la communication intellectuelle au moyen âge (CIVICIMA), um cargo que acumulou com a direção da Academia Belgica (Centro per la Storia, le Arti e le Scienze), sedeada em Roma.

Defensora acérrima dos Estudos Medievais a nível internacional - o que lhe permitiu desenvolver inúmeros contatos com vários centros de investigação europeus e americanos, assim como com as respetivas equipas de direção -, o seu nome ficará sempre ligado, conjuntamente com o de Leonard Boyle, à criação da FIDEM (Federação Internacional de Institutos de Estudos Medievais), da qual foi secretária-geral e depois presidente honorária até à sua morte.