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Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

versão impressa ISSN 1647-2160

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental  no.spe5 Porto ago. 2017

https://doi.org/10.19131/rpesm.0168 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO

 

 

Vítimas e agressores – manifestações de bullying em alunos do 6º ao 9º ano de escolaridade

 

Las víctimas y los agresores - manifestaciones de bullying en alumnos de 6º - 9 º año de escolaridad

 

Victims and aggressors - bullying manifestations in students from 6th to the 9th grade schooling

 

Daniel Silva*, Eliane Tavares**, Ernestina Silva***, João Duarte****, Lídia Cabral*****, & Conceição Martins******

*Doutor em Ciências da Educação; Professor Coordenador; Membro do CI&DETS, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior Saúde de Viseu. Rua da Peça, nº 64, Esculca 3500-423 Viseu, Portugal. E-mail dsilva.essv@gmail.comTelef 232419100

**Mestre em Educação para a Saúde, Professora do Ensino Fundamental, Escola de Ensino Fundamental Deputado José Medeiros, 5730-130 São Brás, Arapiraca, AL Brasil. E-mail elianetavares.biologia@hotmail.com. Telef (82)35303802

***Doutora em Bioética, Professora coordenadora; membro do CI&DETS, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior Saúde de Viseu. Rua da Peça, nº 64, Esculca 3500-423 Viseu, Portugal. E-mail ernestinabatoca@sapo.ptTelef 232419100

****Doutor em Saúde Mental, Professor Coordenador; Membro do CI&DETS, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior Saúde de Viseu. Rua do Pinhô Lote 11, Gumirães 3500-020 Viseu, Portugal. E-mail: jduarte@essv.ipv.ptTelef 232419100

*****Doutora em Ciências da Saúde, Professora coordenadora; Membro do CI&DETS, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior Saúde de Viseu. Rua das Terras Pretas, nº 2, Abraveses 3515-154, Viseu, Portugal, Mail: lcabral@essv.ipv.ptTelef 232419100

******Doutor em Ciências da Educação; Professor Coordenador; Membro do CI&DETS, Instituto Politécnico de Viseu, Escola Superior Saúde de Viseu. Portugal. E-mail mcamartinsp@gmail.comTelef 232419100

 

RESUMO

CONTEXTO: A violência escolar é uma realidade transversal em todos os países, pode assumir várias formas e algumas delas com algum perigo. Deve a escola estar atenta às situações de violência, procurando prevenir e intervir de forma atempada.

OBJETIVOS:Avaliar a existência e as formas de manifestação de bullying em alunos do 6° ao 9º ano de escolaridade e identificar variáveis que podem influenciar os comportamentos de bullying.

METODOLOGIA: Estudo transversal, exploratório-descritivo e correlacional, com uma abordagem quantitativa numa amostra de 156 alunos.

RESULTADOS: A maioria é do sexo feminino (60,9%) com média de idades de 12,87 anos. A relação com a família é boa (76,3%) e já reprovaram 36,5% dos alunos. Tiveram participação disciplinar 64,1% dos alunos, 10,9% tiveram suspensão de atividades escolares e 85,3% dos pais raramente vêm à escola. Todos os alunos já foram alguma vez vítimas e agressores de bullying. As meninas sofrem mais bullying direto e utilizam mais o indireto e a intimidação. Os que reprovaram têm valores mais elevados em todas as formas de bullying. Existe associação entre a participação disciplinar e o bullying direto.

CONCLUSÕES: Todos os alunos já foram vítimas de bullying e também já foram agressores. Os rapazes recorrem mais ao bullying direto e meninas ao indireto e intimidação. Os reprovados têm valores mais elevados de bullying. Os alunos com boa relação familiar têm menos comportamentos de bullying. É importante conhecer a realidade de cada escola quanto aos comportamentos de bullying e devem realizar-se programas de prevenção e intervenção precoce, em parceria com a família.

Palavras-Chave: Bullying; escola; vítimas; agressores

 

RESUMEN

CONTEXTO: La violencia escolar es una realidad transversal en todos los países, puede asumir varias formas y algunas de ellas con algún peligro. La escuela debe estar atenta a las situaciones de violencia, intentando prevenir e intervenir de forma oportuna.

OBJETIVOS: Evaluar la existencia y las formas de manifestación del bullying en alumnos de 6º - 9º año de escuela e identificar variables que pueden influenciar los comportamientos del bullying.

METODOLOGÍA: Estudio transversal, exploratorio-descriptivo y correlacional, con un abordaje cuantitativo en una muestra de 156 alumnos.

RESULTADOS: La mayoría es de sexo femenino (60,9%) con una media de edad de 12,87 años. La relación con la familia es buena (76,3%) y 36,5% de los alumnos ya reprobaron. Tuvieron participación disciplinar un 64,1% de los alumnos, 10,9% tuvieron suspensión de las actividades escolares y 85,3% de los padres raramente vienen a la escuela. Todos los alumnos ya han sido alguna vez víctimas y agresores de bullying. Las niñas sufren más bullying directo y utilizan más el indirecto y la intimidación. Los que reprobaron tienen valores más elevados en todas las formas de bullying. Existe asociación entre la participación disciplinar y el bullying directo.

CONCLUSIONES: Todos los alumnos ya fueron víctimas de bullying y también fueron agresores. Los chicos recurren más al bullying directo y las niñas al indirecto y la intimidación. Los reprobados tienen valores más elevados de bullying. Es importante conocer la realidad de cada escuela en cuanto a los comportamientos de bullying y deben realizarse programas de prevención e intervención precoz, en colaboración con la familia.

Descriptores: Bullying; escuela; víctimas; agresores

 

ABSTRACT

BACKGROUND: School violence is a transversal reality in all countries, which can take on many forms, some of which with certain danger. The school should be watchful to situations of violence, seeking to prevent and intervene in a timely manner.

AIMS: To evaluate the existence and forms of bullying manifestations in students from 6th to 9th grade schooling and to identify variables which may influence bullying behaviour.

METHODS: Transversal, exploratory-descriptive and correlational study with a quantitative approach in a sample of 156 students.

RESULTS: The majority are female (60.9%) with a mean age of 12.87 years. Relationship with the family is good (76.3%) and 36.5% of the students have already failed. 64.1% of the students had disciplinary participation, 10.9% were suspended from school activities and 85.3% of parents rarely come to school. All students have, at one time, been bully victims and bully abusers. Girls suffer direct bullying more and use indirect bullying and intimidation more. Those who have failed show higher values in all forms of bullying. There is a connection between disciplinary participation and direct bullying.

CONCLUSIONS: All students have already been bullied and have also been bullies. Boys resort more to direct bullying and girls to indirect bullying and intimidation. Students who have failed show higher levels of bullying. Students with good family relationships have fewer bullying behaviors. It is important to know the reality of each school regarding bullying behavior and carry out programmes of prevention and early intervention, in partnership with the family.

Keywords: Bullying; school; victims; aggressors.

 


 

Introdução

A escola é uma instituição que deve procurar promover a educação, desenvolvimento pessoal e interpessoal e o convívio social. O ambiente escolar é um local privilegiado para se debaterem ideias, integrar grupos, partilhar interesses e aprender a gerir conflitos. Cabe à escola desenvolver competências sociais, relacionais e emocionais nos seus estudantes de modo a torná-los responsáveis e envolvidos em atividades de cidadania. A escola atual está inserida numa sociedade onde é frequente a educação dos filhos passar em muitos casos a ser totalmente remetida para a escola.

A sociedade por vezes está marcada por diferenças sociais que se podem traduzir em situações de maior ou menor violência. A escola não fica alheia a este fenómeno e por vezes dentro da escola vivem-se situações de violência que perturbam o normal desenvolvimento das crianças e jovens. A violência pode assumir várias formas desde comportamentos menos ajustados, hiperatividade, indisciplina, até agressividade e comportamentos de bullying.

A violência escolar não é um problema novo mas nas últimas décadas o ensino massificado trouxe alterações na dinâmica escolar que influenciaram a convivência e o nível de tolerância e a mudança de alguns valores. O comportamento de violência escolar sempre existiu e no contexto escolar bullying significa comportamento agressivo de intimidação em que os mais fortes maltratam os mais frágeis, fazendo deles objetos de diversões e prazer e onde as brincadeiras disfarçam o propósito de maltratar.

Para haver bullying terá de haver premeditação ou intencionalidade, ser repetido ao longo do tempo como ato continuado ou persistente e com desequilíbrio de poder (Olweus, 2013). Normalmente é dirigida a um sujeito e não a um grupo e sem haver aparente provocação. O mesmo autor (Olweus, 1993, p.9) já o referia da seguinte forma: "A student is being bullied or victimized when he or she is exposed repeatedly and over time, to negative actions on the part of one or more students". O bullying é diferente de uma brincadeira inocente, sem intuito de ferir pois não se trata de um ato de violência pontual.

Segundo Olweus (1993) o bullying pode ser qualificado em bullying direto e bullying indireto. O primeiro compreende agressão de um aluno contra outro, contendo vocábulos, sinais, expressões faciais e contato físico bater, chutar, tirar pertences. O segundo pode acontecer por atitudes de indiferença e difamação por divulgação de fatos desagradáveis e depreciativos levando à descriminação e gerando a saída da vítima de seu grupo de pares.

A escola de hoje tornou-se um espaço onde por vezes acontecem episódios violentos e esta agressão está a generalizar-se não apenas contra os alunos, mas contra professores e funcionários (Grocholski, 2010, Silva, 2010). Os professores têm de estar atentos e falar sobre violência em sala de aula para que as crianças comuniquem as situações de bullying e compreendam que o bullying pode acontecer dentro e fora do ambiente escolar.

As consequências referentes ao bullying são variadas e não são somente as vítimas que sofrem as consequências. Os agressores e as testemunhas também podem sofrer consequências tanto no âmbito emocional quanto na aprendizagem.

Chalita (2008, p.86) afirma que os autores do bullying, normalmente "são alunos populares que necessitam de plateia para agir. Conhecidos como valentões, oprimem e ameaçam suas vítimas por motivos comuns, apenas para impor domínio". De acordo com Barros, Carvalho e Pereira (2009) os "bullies" têm dificuldade em respeitar a lei e dificuldade de inserção e de relacionamento afetivo e social, envolvendo-se mais tarde em problemas de conduta, droga, álcool e crimes.

Por outro lado Neto (2005) e Silva (2010) afirmam que as vítimas do bullying não sofrem apenas consequências na vida escolar, mas têm predisposição a contraírem alterações psicológicas relacionadas com a baixa auto-estima, de relacionamento social e familiar e tornarem-se pessoas inseguras.

A família deve estar atenta aos sinais que podem identificar situações de bullying com os seus filhos, quer enquanto vítimas (recusa em ir à escola, tristeza, diminuição do rendimento escolar, isolamento, sinais físicos de agressão, queixas de mal estar e alterações do sono), quer enquanto agressores (atitudes desafiadoras e agressivas, arrogante no falar e no vestir e demonstrar superioridade, trazer da escola objetos ou dinheiro).

 

Metodologia

Realizámos um estudo quantitativo, de caráter descritivo em alunos dos 6° ao 9º ano de uma escola de ensino fundamental, localizada em Alagoas, Brasil, com um total de 341 alunos. A amostra foi não probabilística, intencional por conveniência e constituída por 156 alunos sendo 44 alunos do 6º ano, 39 do 7º ano, 36 do 8º ano e 37 do 9º ano. Constituíram critérios de inclusão estar em sala de aula quando foi aplicado o questionário.

O instrumento teve como referência os questionários de Olweus (2007) e "My life in school checklist" de Arora & Thompson (1987). O nosso questionário recolheu informações sobre os alunos, a escola e o envolvimento dos alunos em diferentes comportamentos de bullying (agressor e vitima) e foi utilizado em Portugal por Sousa (2011). A escala com os dados relativos à prática de bullying é constituída por 22 itens direcionados para comportamentos enquanto vitima e os mesmos 22 itens direcionados para comportamento enquanto agressor e constituindo 3 fatores designados da seguinte forma. 1 - Bullying direto verbal e/ou fisico; 2 - Bullying indirecto ou relacional e 3 – Intimidação.

Para a colheita de dados em sala de aula solicitámos autorização à diretora da escola e a quem explicámos o contexto da investigação, o projeto em causa e os objetivos do estudo. Foi entregue um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) para cada aluno levar para os seus pais lerem e assinarem no caso de consentirem a participação de seus filhos. A recolha de dados foi efetuada por nós em sala de aula e os alunos foram convidados a participar de forma voluntária. A resposta foi anónima e autopreenchida e os questionários preenchidos foram colocados em envelope sem identificação. A escala de bullying apresentava cinco posições em que os valores mais elevados correspondiam a maior número de vezes que o comportamento de bullying aconteceu.

Utilizámos alguma estatística paramétrica e não paramétrica (Teste t de student, ANOVA, Teste de Kruskal-Wallis, Teste de U Mann-Whitney) e correlações de Pearson. Para a análise estatística utilizámos o nível de significância de 5% (p=0,05).

 

Resultados

Na amostra de 156 alunos o sexo feminino representa 60,9%, as idades situam-se entre os 11 e os 16 anos, com uma média de 12,87 anos e desvio padrão de 1,404.

A maioria (72,1%) vive com os pais ou avós e 27,6% vivem apenas com a mãe/madrasta ou com o pai/padrasto. A maioria refere ter uma boa relação com a família (76,3%).

No seu percurso escolar, dos 156 alunos, já reprovaram 57 (36,5%) e destes 57 alunos já reprovaram duas vezes 15 alunos (26,3%). No que se refere ao comportamento na escola 64,1% já tiveram participação disciplinar e 10,9% já foram suspensos alguma vez das atividades escolares. Sobre a vinda dos pais ou encarregados de educação à escola, 85,3% dos alunos responderam que isso ocorre raramente e 5,1% respondem que nunca vieram à escola. A maioria dos alunos gosta da turma e da escola e consideram-na segura.

A maioria dos alunos respondeu nunca ter magoado um colega com intenção de fazer mal (85,9%) e 14,1% já o fizeram com essa intenção. Referiram que já faltaram algumas vezes à escola por medo de lhe fazerem mal, 13,5% dos alunos.

Quanto ao tipo de agressões na prática de bullying verificamos que enquanto vítimas são mais referidas as seguintes: "Ameaçaram-me" (32,1%)"; "Bateram-me (deram-me um estalo ou murro) (27,6%)";"Espalharam falsos rumores sobre mim (26,9%)"; "Gozaram comigo" e "Obrigaram-me a fazer uma coisa que não queria fazer (25,6%"); "Obrigaram-me a dar dinheiro que eu tinha (24,4%)".

Enquanto agressores o tipo de agressões mais referidas foram as seguintes: "Metê-los em confusão (32,1%)"; "Esconder e danificar uma coisa dele/dela (27,6%)"; "Desprezá-lo completamente (26,9%)" e "Chamar de nomes feios (25,6%)".

Quanto às formas de bullying (direto verbal e/ou físico; indirecto ou relacional e Intimidação) verificámos que todos os alunos já sofreram e também já praticaram algumas dessas formas. Verificamos uma correlação negativa entre quem sofre intimidação e quem sofre bullying direto (r= -.141) e indirecto (r= -.073) ou seja quando aumenta a intimidação diminui o bullying direto e indirecto. Esta correlação negativa também acontece entre quem pratica intimidação e quem pratica o bullying direto (-.064) e indirecto (-.032).

Quanto ao género, não há diferenças estatísticas significativas nas formas de bullying contudo as meninas sofrem mais bullying direto e os rapazes sofrem mais bullying indireto e intimidação. Como agressores as meninas utilizam mais o bullying indireto e intimidação e os rapazes mais o bullying direto. No grupo etário, quer enquanto vítima quer enquanto agressor, não se verificaram diferenças estatísticas entre as idades dos alunos e as diversas formas de bullying (bullying direto (p=.707), indirecto (p=.293) e intimidação (p=.0861).

Não há diferenças significativas entre relação familiar e as formas de bullying mas os alunos com uma boa relação familiar apresentam valores mais elevados enquanto vítimas de bullying direto e indireto e menos elevados na forma de intimidação. Enquanto agressores os que têm boa relação familiar têm valores mais baixos em todas as formas de bullying.

No que respeita à relação entre as reprovações e os tipos de bullying, os que reprovaram apresentam valores mais elevados em todos os tipos de bullying enquanto vítimas. Relativamente ao sentimento/gosto dos alunos em relação à turma e à escola que frequentam e as formas de bullying, quer enquanto vítima quer enquanto agressor, verificamos que não há diferenças significativas.

 

Discussão

A maioria coabita com os pais e tem uma boa relação familiar. Contudo os pais raramente vão à escola o que pode demonstrar falta de envolvimento no acompanhamento da vida da escola e pode dificultar a criação de uma parceria no combate ao bullying. Chalita (2008) ressalva que é importante os pais preocuparem-se e participarem da vida social e escolar dos filhos. Por outro lado a família deve estar atenta aos sinais que podem identificar situações de bullying e proporcionar uma comunicação franca e fácil de forma a auxiliar na identificação das causas, caso a criança esteja a ser vítima ou agressora (Silva, 2011).

Os nossos resultados tendem para que os alunos com uma melhor relação familiar apresentem menores probabilidades de desencadear comportamentos de bullying. Grocholski (2010) reforça a ideia de que nos factores desencadeadores de violência, para além da pouca ou inexistente atração pela escola, está o mau relacionamento com a família e a desagregação familiar. Os modelos parentais influenciam o comportamento das crianças e, como diz Carvalhosa, Lima e Matos (2001), a falta de atenção e afeto e a falta de controlo de comportamento agressivo em casa ou falta de supervisão, são favorecedores de comportamentos agressivos e de bullying. Muitas vezes a falta de respeito para com a autoridade começa em casa com pais negligentes e permissivos e Lourenço, Pereira, Paiva, e Gebara (2009) acrescentam que os jovens que passam mais tempo sem a companhia de adultos e/ou com um pobre envolvimento afetivo com os pais, praticam mais o bullying com seus pares.

Nas variáveis escolares verificamos que 64,1% dos alunos tiveram participação disciplinar e 10,9% já foram suspensos alguma vez das atividades escolares. Cerca de um terço dos alunos já reprovaram. Consideramos estas taxas de reprovação elevadas e este fato pode levar a comportamentos desviantes, pois, como nos diz Pereira (2008), quanto mais reprovações uma criança tiver, mais probabilidade tem de ser agressivo.

Apesar da maioria gostar da turma e da escola, os que não gostam são mais agressores na forma de bullying direto e indireto. Follman (2012) refere que o gosto pela escola influencia a aprendizagem, desempenhos satisfatórios e os relacionamentos positivos e quando a criança não gosta da escola é mais fácil surgirem comportamentos geradores de violência. Foi referido por 13,5% dos alunos que já faltaram algumas vezes à escola por medo. Isto pode denotar a existência de bullying de forma a alguns alunos se sentirem inseguros.

Encontramos alguns resultados aparentemente contraditórios entre a participação disciplinar e a prática de bullying (agressor), pois pelo teste de Mann-Whitney as ordenações médias são mais elevadas nos praticantes de bullying que não tiveram participação disciplinar, o que nos leva a pensar em impunidade de alguns agressores ou estratégias que os próprios utilizam para enganar os professores ou ameaçar as vitimas para não os revelarem.

Pelo menos uma vez por semana os alunos (enquanto vítimas) referem que lhes bateram e deram pontapés. Quanto às atitudes como agressores, pelo menos uma vez por semana os alunos referem os seguintes tipos de agressão: "gozar com ele"; "não o escolher para fazer parte de minha equipe"; "danificar uma coisa dele" e "meter em confusão".

Encontramos diferenças nas formas de bullying entre o grupo de vítimas e de agressores: no bullying direto os valores são mais elevados enquanto vítimas o que poderá indicar que os agressores têm várias vítimas de bullying direto ou os agressores (ao contrário das vítimas) não entendem as suas atitudes como bullying direto.

Enquanto agressores as meninas utilizam mais o bullying indireto e intimidação e os rapazes utilizam mais o bullying direto quer seja de forma física ou de forma verbal. Os resultados do nosso estudo vão de encontro a outros citados por Martins (2005), Pereira (2008), Chalita (2008) e Grocholsky (2010) que referem que nas raparigas é mais frequente a difamação e a exclusão. Silva (2010) refere que os meninos usam mais a força física e com modos mais aparentes. Nas formas de bullying e a idade não verificámos diferenças estatísticas e poderá ficar a dever-se ao fato das idades serem muito próximas.

 

Conclusão

A raiz da violência na escola é um problema complexo em que intervêm múltiplas causas e este estudo veio evidenciar a importância dos contextos sociais do jovem nos comportamentos de bullying. A família, o envolvimento escolar, a relação com os professores e o estabelecimento de laços de amizade com os pares são variáveis que devem ser trabalhadas no sentido de prevenir situações de desenvolvimento de violência.

Neste estudo a relação com a família é boa contudo referem que raramente os pais vêm à escola. A maioria gosta da turma e da escola mas alguns alunos já faltaram à escola por medo. Enquanto vítimas referem as agressões diretas (verbais ou físicas) como mais frequentes e enquanto agressores referem o bullying indireto (verbal e ou físico). Enquanto agressores as meninas utilizam mais o bullying indireto e intimidação e os rapazes utilizam mais o bullying direto quer seja de forma física ou de forma verbal.

A escola deve preparar-se para enfrentar a complexidade dos problemas atuais e as relações interpessoais entre alunos, pais, professores e funcionários. A violência na escola não pode ser entendida como um facto banal, pois pode tornar-se cada vez mais frequente em todas as instituições escolares (Neto, 2005). Deve a escola procurar eliminar a violência e preocupar-se na prevenção do bullying e das formas de violência em geral.

 

Implicações para a Prática

Os comportamentos desajustados e indisciplinados e a violência são uma realidade nas nossas escolas e é preocupante pelas sequelas imediatas e futuras que pode provocar. Embora as variáveis familiares isoladamente não expliquem o fenómeno do bullying (Oliveira, Silva, Yoshinaga, e Silva, 2015), reportamos como sugestões dos nossos resultados o maior envolvimento da família com a escola e a necessidade de estar atenta a sinais que possam precocemente identificar nos seus filhos comportamentos de vítima de bullying ou de agressor.

As escolas devem elaborar procedimentos e normas (regulamentos) que previnam comportamentos agressivos (normas antibullying), definir as penalizações e torna-las claras para todos. Os alunos devem ser envolvidos também na criação dessas normas, serem atendidas as suas sugestões e serem estimulados a comunicar as situações de bullying. A criação de zonas seguras e haver pessoas chave de referência para situações de bullying a quem os alunos possam recorrer, pode ser facilitador da prevenção de situações de bullying. Poderão identificar-se os locais onde é mais provável que se dê o abuso e estabelecer uma vigilância discreta podendo mesmo recorrer-se a câmaras de videovigilância (Haber & Glatzer, 2009). Torna-se necessário que a família e a escola percebam que a ação de educar é uma responsabilidade de ambos.

 

Referências Bibliográficas

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