SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número29Teletriaje de enfermería en el ámbito de la salud mental y psiquiátrica en un servicio de salud privado portuguêsDistrés de los enfermeros relacionada con el Delirium índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Servicios Personalizados

Revista

Articulo

Indicadores

Links relacionados

  • No hay articulos similaresSimilares en SciELO

Compartir


Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental

versión impresa ISSN 1647-2160

Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental  no.29 Porto jun. 2023  Epub 30-Jun-2023

https://doi.org/10.19131/rpesm.361 

Artigos de Investigação

Saúde mental dos jovens do ensino secundário da ilha da madeira: fatores de vulnerabilidade e proteção

Mental health of the young people of the madeira island secondary school: vulnerability factos and protective

Salud mental de los jóvenes de la escuela secundaria de la isla de madeira: factores de vulnerabilidade y protección

1 Professor Coordenador, Escola Superior de Enfermagem do Porto, CINTESIS@RISE, Portugal.

2 Professora Coordenadora, Universidade da Madeira-ESS, CINTESIS@RISE, Portugal.

3 Professora Adjunta, Universidade da Madeira-ESS, CINTESIS@RISE, Portugal.


Resumo

Introdução:

Estudo centra-se no conhecimento da literacia e da saúde mental positiva, em jovens do ensino secundário.

Objetivos: Identificar os fatores de vulnerabilidade e proteção de jovens do ensino secundário na ilha da Madeira.

Metodologia:

Investigação quantitativa, descritiva. Estudo piloto realizado na ilha da Madeira, com estudantes do ensino secundário (n=1948), idades entre 15-18 anos, mediante consentimento informado dos participantes e encarregados de educação. Colheita dados: “Questionário de Literacia e Saúde Mental Positiva”, versão Estudantes do Ensino Secundário (QSM+VEESec) (Ribeiro, Sequeira, Ferreira, Carvalho e Pires, 2018). Aplicação online entre março/junho 2021.

Resultados:

Os resultados mostram relevância entre fatores de vulnerabilidade e proteção na saúde mental. Verificou-se que 9,9% dos estudantes referiu ter alguns problemas de saúde mental; 9,3% recorreu a algum serviço de saúde devido a problema saúde mental; 29,7% referiu ter tido ou ter algum acompanhamento psiquiátrico. Dos fatores vulnerabilidade salienta-se: 42,4% não está satisfeito com seu sono; 46,1% considera não dormir horas suficientes para suas necessidades; 4,5% e 4,8%, respetivamente toma medicação regular para dormir e para algum problema saúde mental; 48,6% não pratica exercício físico regular. Dos possíveis fatores protetores, verifica-se que apresentam fracos indicadores, nomeadamente: 78,2% não participa em atividades recreativas; 43,7% não está satisfeito com sua relação afetiva e consomem substâncias (bebidas alcoólicas: 26,4% e drogas mais de três vezes por semana 3,4%).

Conclusão:

Os jovens apresentam problemas de saúde mental: ansiedade, depressão, consumos álcool, substâncias ilícitas. Destaca-se a falta de interação social, a ausência de participação em atividades recreativas e insatisfação nos relacionamentos afetivos.

Palavras-Chave: Saúde Mental Positiva; Jovens; Ensino Secundário

Abstract

Introduction:

Study focuses on the knowledge of literacy and positive mental health, in secondary school youth.

Objectives:

Identify the vulnerabitity and protective and vulnerability of secondary school students on the Island of Madeira.

Methodology:

Quantitative, descriptive research. A pilot study conducted on the island of Madeira, with secondary school students (n=1948), aged between 15-18 years, with the informed consent of the participants and parents. Data collection: "Literacy and Positive Mental Health Questionnaire", version Secondary School Students (QSM+VEESec) (Ribeiro, Sequeira, Ferreira, Carvalho and Pires, 2018). Online application between March/June 2021.

Results:

The results show relevance between vulnerability and protective factors in mental health. It was found that 9.9% of the students reported having some mental health problems 9.3% resorted to some health service due to mental health problem; 9.3% resorted to some health service due to mental health problem; 29.7% reported having had or had some psychiatric follow-up. Of the vulnerability factors, the following stand out: 42.4% are not satisfied with their sleep; 46.1% consider not getting enough sleep for their needs; 4.5% and 4.8%, respectively, take regular medication for sleep and for some mental health problem; 48.6% do not practice regular physical exercise. Of the possible protective factors, it is verified that they present weak indicators, namely: 78.2% do not participate in recreational activities; 43.7% are not satisfied with their affective relationship and consume substances (alcoholic beverages: 26.4% and drugs more than three times a week 3.4%).

Conclusion:

Young people have mental health problems: anxiety and depression, alcohol consumption and illicit substances. The lack of social interaction, the absence of participation in recreational activities and dissatisfaction in affective relationships stand out.

Keywords: Positive Mental Health; Young; Secondary Education

Resumen

Introducción:

El estudio se centra en el conocimiento de la alfabetización y la salud mental positiva en jóvenes de secundaria.

Objetivos:

Identificar los factores de vulnerabilidad y protección de los estudiantes de secundaria en la Isla de Madeira.

Metodología:

Investigación cuantitativa y descriptiva. Estudio piloto realizado en la isla de Madeira, con estudiantes de secundaria (n=1948), con edades comprendidas entre 15-18 años, con el consentimiento informado de los participantes y padres. Recolección de datos: "Cuestionario de alfabetización y salud mental positiva", versión Estudiantes de secundaria (QSM + VEESec) (Ribeiro, Sequeira, Ferreira, Carvalho y Pires, 2018). Solicitud en línea entre marzo/junio de 2021.

Resultados:

Los resultados muestran relevancia entre la vulnerabilidad y los factores protectores en salud mental. Se encontró que 9,9% de los estudiantes refirieron tener algún problema de salud mental; 9,3% recurrieron a algún servicio de salud debido a problemas de salud mental; 29,7% refirieron haber tenido o tenido algún seguimiento psiquiátrico. De los factores de vulnerabilidad, se destacan: 42,4% no están satisfechos con su sueño; El 46,1% considera que no duerme lo suficiente para sus necesidades; 4,5% y 4,8%, respectivamente, toman medicamentos regulares para dormir y para algún problema de salud mental; El 48,6% no practica ejercicio físico regular. De los posibles factores protectores, se verifica que presentan indicadores débiles, a saber: 78,2% no participan en actividades recreativas; 43,7% no están satisfechos con su relación afectiva y consumen sustancias (bebidas alcohólicas: 26,4% y drogas más de tres veces a la semana 3,4%).

Conclusión:

Los jóvenes tienen problemas de salud mental: ansiedad y depresión, consumo de alcohol y sustancias ilícitas. Se destacan la falta de interacción social, la ausencia de participación en actividades recreativas y la insatisfacción en las relaciones afectivas.

Palabras Clave: Salud Mental Positiva; Joven; Enseñanza Secundaria

Introdução

A saúde mental (SM) dos jovens adolescentes é suscetível de ser influenciada positiva ou negativamente, por múltiplos fatores. Neste sentido, é importante desenvolver investigação relativamente aos fatores de vulnerabilidade e de proteção, inclusive nos estudantes do ensino secundário, para que possam beneficiar de intervenções ao nível da promoção da saúde mental que se têm vindo a mostrar eficientes, designadamente as que reforçam os recursos positivos dos estudantes e dos contextos académicos (World Health Organization [WHO], 2021), com benefício na vivência das transições múltiplas em que muitas vezes estes estudantes se encontram, influenciando as suas respostas humanas de bem-estar (Nogueira, 2017).

A vulnerabilidade resulta de um processo complexo, multidimensional e dinâmico, numa interação entre os atributos de natureza pessoal, condições sociais e ambientais (Spiers, 2000), que abrange o conceito mais estrito de vulnerabilidade mental. Do ponto de vista da saúde mental, o conceito de vulnerabilidade progrediu de uma visão epidemiológica inicial até uma conceção mais compreensiva que lhe adicionou a ideia de perceção e experiência individual e única de “sentir-se ou não vulnerável” (Spiers, 2000; Nogueira, 2017). Avaliar vulnerabilidade é crucial para identificar as caraterísticas e condições associadas a indivíduos mais suscetíveis, designadamente para conhecer as variáveis e condições que promovem ou reduzem os sentimentos de vulnerabilidade individual e dos grupos, constituindo um contributo para os profissionais de saúde na identificação de indivíduos vulneráveis e agir precocemente, conjuntamente com as instituições de ensino, no planeamento e implementação de programas de promoção da saúde e prevenção de sofrimento mental (Nogueira, 2017).

Estes pressupostos vão ao encontro do Plano de Ação de Saúde Mental da Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2013-2030, que tem como principal foco valorizar, promover e proteger a saúde mental. Este, assenta em quatro objetivos principais: fortalecer liderança e governança eficazes para a saúde mental; fornecer serviços de saúde mental comunitários abrangentes, integrados e responsivos; implementar estratégias de promoção e prevenção em saúde mental; e fortalecer os sistemas de informação, evidências e pesquisas em saúde mental (WHO, 2021).

Neste sentido, tem-se vindo a fomentar uma abordagem da SM centrada na adoção de medidas promotoras da Saúde Mental Positiva (SM+), como recurso decisivo para o incremento da saúde e bem-estar dos jovens, em detrimento das abordagens ancoradas em modelos centrados na doença (Sequeira et al., 2014; Leite, 2016).

O conceito de “Saúde Mental Positiva” emerge como parte integrante da saúde global do indivíduo (Lluch, 2008), cujo termo “positiva” compreende a “promoção de ações no sentido de reforçar e potenciar a saúde mental na sua generalidade” (Leite, 2016, p. 38), ou seja, ações com efeito positivo, de bem-estar e de benefício para a SM. Admite-se que a SM+ pode ser parte da resposta aos desafios da SM que enfrentamos na atualidade, por isso, a aposta na investigação nesta área tem vindo a intensificar-se. Esta pode ser a via de empoderamento dos jovens, tornando-os mais aptos a tomar decisões que promovam a sua SM, a lidar com situações de stress e frustrações, otimizando o seu desenvolvimento pessoal, sua identidade, funcionamento social e coletivo.

A literacia envolve o conhecimento de problemas de SM e a vinculação à ação pode beneficiar a SM dos jovens, sendo determinante para a sua capacitação, tomada de decisão informada e obtenção de ganhos em saúde (WHO, 2021). A evidência mostra que o défice de literacia em SM é um fator determinante para a ausência da saúde mental, em particular dos jovens que se encontram em fase de desenvolvimento e autoafirmação, o que tem vindo a constituir um grave problema de saúde pública a nível mundial, com especial relevo na Europa, nas últimas décadas, nomeadamente, associado ao aumento significativo das taxas de suicídio entre os adolescentes, jovens adultos e idosos (Direção Geral da Saúde, 2015). Promover a literacia em SM é fundamental para melhorar a promoção da mesma, adotar estilos de vida saudáveis, prevenir a doença e comportamentos de risco, procurar ajuda e empoderar para a gestão da doença e dos regimes terapêuticos (Angermeyer et al., 2013).

Destaca-se a importância de investigar sobre a saúde mental dos jovens do ensino secundário da ilha da Madeira, nomeadamente os fatores de vulnerabilidade e proteção, com o intuito da definição de potenciais estratégias de promoção de intervenções, designadamente, na promoção da saúde e prevenção da doença mental, junto das escolas e dos organismos do arquipélago e eventual implementação de programas de Saúde Mental Positiva e Primeira Ajuda em Saúde Mental.

O presente estudo integra o projeto “Literacia e Saúde Mental Positiva”, que se encontra a decorrer, cuja finalidade visa o conhecimento da literacia e saúde mental positiva em jovens do ensino secundário, no sentido de trazer benefícios para a prestação de cuidados através da promoção da saúde escolar na prevenção primária praticada de forma articulada entre os centros de saúde e as escolas do ensino secundário. Objetivo: identificar os fatores de vulnerabilidade e proteção de jovens do ensino secundário da ilha da Madeira.

Metodologia

Investigação descritiva de cariz quantitativo - estudo piloto realizado na ilha da Madeira, com estudantes do ensino secundário. A amostra (por conveniência), é constituída por 1948 estudantes do ensino secundário. A colheita de dados decorreu entre março e junho de 2021, em contexto escolar, com a colaboração dos estabelecimentos de ensino secundário, através de um instrumento criado para este efeito - "Questionário de Literacia e Saúde Mental Positiva, versão Estudantes do Ensino Secundário" (QSM+ VEESec) (Ribeiro, Sequeira, Ferreira, Carvalho e Pires, 2018), constituído por: Questionário de caraterização sociodemográfica, composto por 24 questões; Escala de vulnerabilidade psicológica (Nogueira, 2017) com seis itens (Likert com cinco opções); Questionário de saúde mental positiva (Sequeira et al., 2014), com 39 itens (Likert com quatro opções); Questionário de conhecimento de saúde mental (Chaves et al., 2019), com 16 itens (Likert com cinco opções) + quatro itens (atividades de promoção de saúde mental); Questionário “O que é importante para uma boa saúde mental?” (Chaves et al., 2019), com 10 itens (Likert com cinco opções + N/A).

No presente estudo, dá-se enfase aos dados preliminares obtidos, tendo em consideração que este sub-estudo, insere-se assim num projeto mais alargado ao nível da literacia e saúde mental positiva (tendo como alvo estudantes do ensino superior; professores; profissionais de saúde).

A aplicação foi feita online através do link: http://survey.esenf.pt/index.php/147643?lang=pt. Todos os instrumentos foram codificados. O estudo teve aprovação da Comissão de Ética da Escola Superior de Enfermagem do Porto - ESEP (8 de junho fluxo ADHOC_822/2020). Os estudantes participaram de forma voluntária, tendo assinado o consentimento informado. Assim como o consentimento informado foi dado também pelo respetivo encarregado de educação. Tivemos um estudante com idade igual a 18 anos que participou no estudo.

Resultados

Dos resultados obtidos verificou-se que 76,7% dos estudantes (n=1948), tinha idades entre 15 e 18 anos, 33,3% frequentava o 12.º ano e 31,3% o 10.º ano de escolaridade. Quanto à história de doença mental, 9,9% referiu ter algum problema de saúde mental, no entanto, é de salientar que 20,9% não respondeu a esta questão, o que corresponde a 407 jovens.

Dos estudantes inquiridos 9,3% (n=144) recorreu a algum serviço de saúde devido a problema de saúde mental e 29,7% referiu ter tido ou ter algum acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.

Na análise, salienta-se que 42,4% referiu não estar satisfeito com o seu sono e 46,1% (n=707) considerou não dormir as horas suficientes para as suas necessidades.

Quanto à toma de medicação, de forma regular para algum problema de saúde mental 4,8% (n=73) dos estudantes inquiridos adere ao regime medicamentoso, sendo os problemas mais mencionados: a ansiedade e a depressão (25,4%).

Em relação à prática de desporto ou exercício físico regular, verificou-se que 48,6% dos estudantes inquiridos não pratica.

Relativamente aos hábitos alimentares, 26,9% dos estudantes não considerou a sua alimentação saudável e 17,7% não ingere diariamente fruta ou legumes.

No que refere à interação social, 25,1% raramente está com amigos fora do contexto escolar, 78,2% não participa em atividades recreativas e 43,7% não está satisfeito com a sua relação afetiva/amorosa.

Em relação ao fator de vulnerabilidade consumo de substância lícitas, verificou-se que 26,4% (n=401) dos estudantes inquiridos consumia bebidas alcoólicas.

Quanto ao consumo de drogas, constatou-se que 3,4% (n=51) dos estudantes inquiridos consumia drogas, sendo 25,5% com uma regularidade superior a três vezes por semana.

Discussão

Os resultados obtidos neste estudo mostram relevância entre os fatores de vulnerabilidade e proteção na saúde mental dos jovens. Pela escassez de comparabilidade com outros estudos no âmbito do ensino secundário, a evidência utilizada refere-se também aos estudantes do ensino superior.

Na história de doença mental, 9,9% dos estudantes inquiridos relatam problemas de saúde mental o que atesta os resultados do estudo de Sequeira e colaboradores (2019), que embora, sejam em estudantes do ensino superior, na área de enfermagem, também exibiram problemas de saúde mental num percentual de 2,6%. Constatamos que os problemas de saúde mental mais frequentes nos estudantes, são ansiedade e depressão (25,4%). Em outros estudos, a ansiedade e a depressão, foram mencionadas com valores percentuais superiores, nomeadamente 66,1% (Sequeira, Carvalho, Borges e Sousa, 2013) e 65% (Sequeira et al., 2012) na ansiedade e com 61,4% (Sequeira et al., 2013) para a depressão.

No estudo realizado por Santos e colaboradores (2019), a ansiedade e stress, os sintomas físicos e psicológicos, as preocupações, os sintomas depressivos, a perceção de felicidade e de qualidade de vida são fatores importantes para compreensão e caraterização da saúde mental dos adolescentes.

Relativamente ao sono, os estudantes referem estar insatisfeitos com o seu padrão de sono (42,5 %), nível inferior ao dos jovens do ensino superior em 54,4% (Valentim et al., 2022) e em 60,7% revelado no estudo de Cunha (2020). Quanto às horas de sono suficientes para a satisfação das suas necessidades, 46,1% dos estudantes mencionaram não dormir as horas suficientes, também inferior ao estudo de Cunha (2020), que demostrou que 67,8% dos estudantes do ensino superior não dorme as horas suficientes para a satisfação das suas necessidades.

Em relação ao exercício físico, verificou-se que 48,6% não pratica exercício físico ou desporto de forma regular, que quando comparado com outros estudos, apresentam melhores resultados que 66,1% (Valentim et al., 2022), de 68,2% no estudo realizado por Sequeira e colaboradores (2013) e de 76,5% no estudo de Cunha (2020).

Verificam-se resultados semelhantes no que se refere aos hábitos alimentares, neste estudo com 26,9%, com os resultados de Cunha (2020) com 28,4% dos estudantes e dos 29,9% de Valentim e colaboradores (2022), dos jovens que não apresentam uma alimentação saudável.

A satisfação com as relações obteve nos estudantes em análise um percentual de 43,7% de insatisfação com as suas relações afetivas/amorosas, resultado idêntico ao verificado nas pesquisas de Sequeira e colaboradores (2012, 2019) e Nogueira e colaboradores (2022), em que, respetivamente, 56,4% e 40,9% a frequentar o ensino superior, refere dificuldades em estabelecer relações interpessoais satisfatórias.

O que contrasta com os resultados obtidos no estudo o bem-estar e a saúde mental dos adolescentes portugueses, realizado em 2019, cujos autores Santos e seus colaboradores (2019) referem que o desenvolvimento de competências socio emocionais e de relacionamento interpessoal são fatores ligados à proteção no âmbito da saúde mental e qualidade de vida dos adolescentes.

Outro dos fatores de vulnerabilidade, no que respeita ao consumo de bebidas alcoólicas, 26,4% dos estudantes refere hábitos de consumo, percentual inferior ao verificado em outras pesquisas com jovens, com 46,4% (Cunha, 2020) e de 49,7% (Valentim et al., 2022). O consumo de substâncias psicoativas ilícitas foi referido por 3,4% dos estudantes, percentual idêntico aos achados encontrados em outros estudos, especificamente de 3,9% (Valentim et al., 2022), 4,4% (Cunha, 2020) e de 4,6% (Sequeira et al., 2013).

Conclusão

Este estudo piloto, permitiu identificar alguns fatores de vulnerabilidade e proteção de jovens do ensino secundário da ilha da Madeira, associados à saúde mental. Os resultados indicam existência de problemas de saúde mental nos jovens, nomeadamente, ansiedade e depressão, consumos de álcool e de substâncias ilícitas. Como fatores de vulnerabilidade destaca-se a falta de interação social, a ausência de participação em atividades recreativas e desportivas e a insatisfação ao nível da relação afetiva/amorosa. O número de horas de sono suficientes para as suas necessidades, a prática de desporto ou exercício físico de forma regular e a alimentação saudável foram os fatores protetores mais relevantes.

Muitos dos resultados obtidos, que poderiam ser fatores de proteção, apresentam-se como fatores de vulnerabilidade, o que requer uma observação mais cuidada e atenta, pelo que necessitam de uma maior intervenção ao nível da promoção da saúde mental.

Uma das dificuldades, prendeu-se com as questões burocráticas e de acessibilidade à população para a obtenção dos dados, uma vez que se trata de adolescentes menores e ser imprescindível o consentimento dos pais.

Implicações para a Prática Clínica

Destaca-se a importância da definição de estratégias de promoção e prevenção da Saúde Mental, junto das escolas e dos organismos do arquipélago e eventual implementação de programas de Saúde Mental Positiva e Primeira Ajuda em Saúde Mental, de forma a poder ser um meio facilitador, para uma melhor comunicação e literacia em saúde mental.

Agradecimentos

Agradece-se a todas as instituições de ensino, desde as direções que prontamente aceitaram participar destacando-se o seu papel na autorização e agilização das questões burocráticas, uma vez que a colheita ocorreu em período pandémico e a toda a comunidade educativa nomeadamente todos os Professores, Estudantes e Encarregados de Educação.

Referências bibliográficas

Angermeyer, M. C., Matschinger, H. & Schomerus, G. (2013). Attitudes towards psychiatric treatment and people with mental illness: changes over two decades. British Journal of Psychiatry, 203(2), 146-151. doi:10.1192/bjp.bp.112.122978. [ Links ]

Chaves, C., Sequeira, C. e Duarte, J. (2019). Questionário de Conhecimento de Saúde Mental. Escola Superior de Enfermagem do Porto. [ Links ]

Cunha, M. I. (2020). Promoção da saúde dos estudantes do ensino superior: Saúde Mental Positiva e Literacia em Saúde Mental em análise [Dissertação de Mestrado]. Instituto Politécnico de Viana do castelo: Escola Superior de Saúde. [ Links ]

Direção Geral da Saúde. (2015). Plano Nacional de Saúde. Revisão e Extensão a 2020. Ministério da Saúde. [ Links ]

Leite, A. R. (2016). Conceção de um programa de Saúde Mental Positiva para docentes do ensino básico [Dissertação de Mestrado]. Escola Superior de Enfermagem do Porto. [ Links ]

Lluch, M. T. (2008). Concepto de salud mental positiva: Factores relacionados. In J. Fornes, y J. Gómez (coord.), Recursos y programas para la salud mental. Enfermería psicosocial II. Madrid: Fuden, Colección líneas de especialización en enfermeira, 37-69. [ Links ]

Nogueira, M. J. C. (2017). Saúde mental em estudantes do ensino superior: fatores protetores e fatores de vulnerabilidade [Tese de Doutoramento]. Universidade de Lisboa. [ Links ]

Nogueira, M. J., Seabra, P., Alves, P., Teixeira, D., Carvalho, J. C., & Sequeira, C. (2022). Predictors of positive mental health in higher education students. A cross‐sectional predictive study. Perspectives in Psychiatric Care, 1-8. https://doi.org/10.1111/ppc.13145 [ Links ]

Ribeiro, I., Sequeira, C., Ferreira, P., Carvalho, J. C., & Pires, R. (2018). Questionário de Literacia e Saúde Mental Positiva, versão Estudantes do Ensino Secundário (QSM+-VEESec). Escola Superior de Enfermagem do Porto. [ Links ]

Santos, T. G. S., Tomé, G., Gómez-Baya, D., Guedes, F. B., Cerqueira, A., Borges, A., & Matos, M. G. (2019). O bem-estar e a saúde mental dos adolescentes portugueses. Revista de Psicologia da Criança e do Adolescente, 10(1), 17-27. http://revistas-prod.lis.ulusiada.pt/index.php/rpca/article/view/2626. [ Links ]

Sequeira, C., Sá, L., Carvalho, J. C., Borges, E., & Sousa, C. (2012). Avaliação da saúde mental positiva em estudantes do ensino superior. Referência III Série, Suplemento, 150. [ Links ]

Sequeira, C., Carvalho, J. C., Borges, E., & Sousa, C. (2013). Vulnerabilidade mental em estudantes de enfermagem no ensino superior: estudo exploratório. Journal of Nursing and Health (JONAH), 3(2), 170-181. [ Links ]

Sequeira, C., Carvalho, J. C., Sampaio, F., Sá, L., Lluch-Canut, T., & Roldán-Merino, J. (2014). Avaliação das propriedades psicométricas do Questionário de Saúde Mental Positiva em estudantes portugueses do ensino superior. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, 11, 45-53. [ Links ]

Sequeira, C., Carvalho, J. C., Gonçalves, A., Nogueira, M. J., Lluch-Canut, T., & Roldán-Merino, J. (2019). Levels of positive mental health in Portuguese and Spanish nursing students. Journal of the American Psychiatric Nurses Association, 26(5), 483-492. [ Links ]

Spiers, J. (2000). New perspectives on vulnerability using emic and etic approaches. Journal of Advanced Nursing, 31(3), 715-721. [ Links ]

Valentim, O., Vilelas, J., Carvalho, J. C., Andrade, C. M. S. M., Tomás, C., Costa, P. S., & Sequeira, C. (2022). The relation between lifestyles and positive mental health in Portuguese higher education students. Glob Health Promot. 2022 Aug 24:17579759221112552. doi: https://doi.org/10.1177/17579759221112552. Epub ahead of print. PMID: 36000814. [ Links ]

World Health Organization. (2021). Comprehensive Mental Health Action Plan 2013-2030. Departament of Mental Health and Substance Abuse. WHO. [ Links ]

Recebido: 31 de Dezembro de 2022; Aceito: 10 de Abril de 2023

Autor de Correspondência: Isilda Ribeiro, E-mail: isilda.ribeiro@esenf.pt

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons