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Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.3 no.5 Lisboa jun. 2012

 

HABITAR

Enquadramento: Habitar

Context: Inhabiting

 

Maristela Salvatori*

*Conselho editorial; Universidade Federal de Rio Grande do Sul, Instituto das Artes, Porto Alegre, Brasil.

Endereço para correspondência

 

 

São infinitas as possibilidades e desdobramentos da criação artística. Se, por vezes, é manifestada em obras, conceitos, transgressões, sugere fantasias, novas percepções. É, sobretudo, a falta que move e fertiliza este universo.

Tal qual uma busca atávica de completude, as instigantes obras aqui apresentadas propõe-se a habitar. Habitar o corpo e suas impressões sensoriais, ocupar / habitar espaços circundantes ou circunscritos, extrapolar paredes, invadir colunas e pisos, habitar espaços expandidos como a cidade ou mesmo espaços / bairros, fictícios.

Nas recentes instalações da brasileira Lucia Fonseca, abordadas no texto de Cláudia França, Borracha, transparência e peso no espaço real: por um novo modo de habitar os desenhos de Lu?cia Fonseca, as formas obtidas em borracha negra ocupam/habitam o espaço, estendendo-se pelas paredes e pisos brancos da galeria, formando desenhos com força e tensão. Cláudia França utiliza o conceito ampliado de transparência a partir de Colin Rowe para tratar da resistência da matéria e da força gravitacional latente nestas formas de potência escultórica.

Daiana Schvartz, em Elke Hering: percurso de uma escultura em transformação, apresenta esculturas, dos anos 60 e 70, da brasileira Elke Hering. Suas obras habitam o espaço introduzindo materiais ainda pouco difundidos e trazendo, naquele momento, certa irreverência à construção tridimensional.

Os projetos intertextuais Galerista por um dia (2010) e Senhores Projetos no Bairro de Gonçalo M. Tavares (2009) são relatados por Joana Ganilho Maques no texto Novas formas de habitar o Bairro de Gonçalo M. Tavares: sobre os projetos Galerista por um dia e Senhores Projetos no Bairro de Gonçalo M. Tavares. Nestes projetos, o primeiro sob curadoria do próprio Gonçalo M. Tavares, artistas e estudantes de arquitetura foram convidados a propor modos de habitar os bairros imaginários do conhecido escritor.

Em "Qualquer semelhança com a realidade e? mera coincidência" Grupo Poro, Sandra Makowiecky analisa ações deste grupo brasileiro que, atuando desde 2002, perturba e/ou surpreende o olhar distraído, instiga à reflexão e convida a habitar / ver a cidade de formas inusitadas. Sugerindo ações de deriva o grupo também estimula a participação dos transeuntes, tornando-os coautores das ações propostas.

No artigo A relaça?o corpo/objeto e o discurso poe?tico das proposiço?es de Lygia Clark, Fernando A. Stratico aborda algumas de suas proposições a partir do conceito de hiperrealidade de Baudrillard. A partir deste período (anos 60 e 70), os trabalhos desta artista – seminal na arte brasileira – convidavam a habitar o corpo e/ou suas percepções sensoriais e dirigiam-se paulatinamente a experiências com fins terapêuticos.

A criação artística pode seduzir, envolver. Pode ser provocadora, errática e mesmo (por que não?) incômoda. Ponderando o sujeito de Lacan, marcado pelo sentimento de falta gerado pelas dicotomias resultantes do processo de desenvolvimento biossocial e em eterna e compulsiva busca de retorno à unicidade através da perseguição de objetos simbólicos que supostamente supririam sua perda original, impulsionado pelo desejo de amor e reconhecimento do outro, habitar poderia manifestar uma incessante busca. Descortinam-se aqui algumas leituras.

 

 

Endereço para correspondência

Correio eletrónico: maris@ufrgs.br(Maristela Salvatori).

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