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Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.3 no.5 Lisboa jun. 2012

 

RISCO

Enquadramento: Risco

Context: Risk

 

Luís Jorge Gonçalves*

*Conselho Editorial; Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Portugal.

Endereço para correspondência

 

 

A palavra Risco é um substantivo masculino que pode definir, na língua portuguesa, probabilidade de perigo ou o traço sobre uma superfície. Há aqui um jogo de palavras onde Risco nos conduz por onde um Risco se liga a uma probabilidades e por outro onde Risco nos leva para o traço, porque somente há risco depois do traço.

Onde pode estar o traço, o Risco, sobre uma superfície? O homem sapiens foi a primeira espécie viva dotada de imaginação, ou seja, capaz de criar um universo para além do real. As necessidades de sobrevivência diária passavam também criar histórias e trazer novas visões da realidade vivida. A materialização foi o Risco, nos corpos, nas pequenas placas de pedra, de osso, de madeira, nas superfícies parietais das grutas, dos vales dos rios. Foram riscos pintados, gravados, talvez, tatuados, por todos os cantos do planeta onde o homem chegou, desde há cerca de trinta mil anos. O Risco revelou uma explosão de criatividade e de capacidade inventiva, no entanto, as narrativas por detrás do Risco escapam-nos…

Quando o Homem se tornou agricultor o seu Risco passou também para a terra, a mãe-terra. Era um Risco que rasgava as terras, onde nos sulcos se deitavam as sementes para as plantas receberem água e crescerem. O Risco passou também a marcar o solo onde se ergueram as construções humanas, as cabanas, os limites das aldeias, os monumentos construídos para a eternidade. Temos ainda o Risco na superfície das paredes criadas nas construções humanas que se transformam em pintura, em relevo no palácio, no túmulo. Também o Risco chegou á superfície de cerâmica, de papiro, de papel, de pergaminho…O Risco nas superfícies é um monumento á imaginação humana.

No conjunto de textos desta secção o Risco está na superfície porque em "El arte y las moscas", de Ignacio Barcia Rodríguez, se reflecte, como a partir de uns Riscos num artefacto lítico, com quatrocentos anos, se pode discutir sobre a emergência da obra de arte, num homo anterior ao sapiens. Em "Aprehender el lugar: los Túneles de Nacy Holt", Paula Santiago Martín de Madrid propõe-nos uma viagem pela artista plástica Nacy Holt, com as suas instalações que traçam um Risco na paisagem, remetendo-nos para o momento em que o homem começou a rasgar a mãe-terra, para dela tirar as suas plantas ou renascer da eternidade. Em "O mundo bate do outro lado", de Beatriz Furtado, há uma proposta da obra de Ticiano Monteiro, em que, nos seus vídeos capta espaços que transporta para paisagens exteriores naturais e históricas, onde há um Risco da intimidade na geografia colectiva. Trata-se de um mundo virtual, um Risco virtual, sinal dos nossos tempos. Em "Pinturas quentes; Imagens geladas. Sobre a Pintura de Simeón Saiz Ruiz", Carlos Correia revela-nos o trabalho do pintor espanhol, em que as imagens geladas de uma realidade violenta, através de um trabalho pixelizado, são transformadas em Riscos quentes que não nos deixam indiferentes pela dureza de uma existência. Finalmente, em "Cuestiones sobre la alteridad en el trabajo de Xavier Ristol", de Joaquim Cantalozella Planas, leva-nos a um universo traçado por um Risco na obra de Xavier Ristol onde há, por um lado, uma exploração autobiográfica e etnográfica, procurando valores éticos no campo da arte.

O Risco acompanha a humanidade. O Risco é a marca que a humanidade vai legando…

 

 

Endereço para correspondência

Correio eletrónico: luisjrg@gmail.com (Luís Jorge Gonçalves).

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