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Revista :Estúdio

Print version ISSN 1647-6158

Estúdio vol.7 no.16 Lisboa Dec. 2016

 

EDITORIAL

EDITORIAL

O Estúdio nas tuas mãos

A Estúdio in your hands

 

João Paulo Queiroz*

*Portugal, par académico interno e editor da Revista Estúdio.

AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA). Largo da Academia Nacional de Belas-Artes, 1249-058, Lisboa, Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

RESUMO:

Os 17 artigos selecionados pera este número 16 da Revista Estúdio estabelecem relações com o espaço urbano, recordando as aproximações críticas da etno-metodologia, de Georges Perec e da proposta da 'deriva' como pré-ocupação revolucionária do espaço modernista, de Guy Debord. Entre as pessoas e os objetos estão possibilidades, estilos de vida. Entre uns e outros há um consenso para fracturar, para questionar. Para interrogar os caminhos, é preciso conhecê-los, e para os conhecer é preciso desconhecê-los: depois vem a proposta, a inovação, a invenção. As matérias fazem-se de pensamento, sabem os artistas. É com estas matérias que ocupamos os nossos Estúdios.

Palavras-chave: Estúdio, etno-metodologia, deriva

 

ABSTRACT:

The 17 articles selected for this issue 16 of Revista Estúdio establish relations with the urban space, recalling the critical approach of ethno-methodology, by Georges Perec and also the proposal of 'drift' as a revolutionary pre-occupation of modernist space, by Guy Debord. Between the people and the objects there are possibilities of different lifestyles. Between one and the other, there is a consensus to be fractured, to be questioned. In order to examine paths one needs to know them; and in order to know them one needs to be ignorant of them. Then innovation and invention can occur. The artists know: materials are made of thought. With these materials we occupy our studios.

Keywords: Estúdio, ethno-methodology, drift.

 

A cidade marca-nos ou nós marcamos a cidade? Qual o enunciado, quem o enuncia? Os 17 artigos selecionados pera este número 16 da Revista Estúdio estabelecem relações com o espaço urbano, recordando as aproximações críticas da etno-metodologia (Perec, 1999) e da proposta da deriva como pré-ocupação revolucionária do espaço modernista (Debord, 1955; 1958; Jacques, 2003). As pessoas ligam-se no entrecruzar das ruas, caminhos, percursos, mudanças, deslocações. Entre as pessoas e os objetos estão possibilidades que, quando repetidas, se transformam em estilos de vida. Entre uns e outros o consenso, para fraturar, questionar. Para interrogar os caminhos, é preciso conhecê-los, e para os conhecer é preciso desconhecê-los: só depois vem a proposta, a inovação, a invenção. Inventa-se um Homem pelo seu caminho.

Os dédalos que se acompanham e parecem transgredir a materialidade são o tema do trabalho que sugeriu a nossa capa: os desenhos / escultura de Evandro Soares, trazidos ao Estúdio pelo artigo de Glayson de Sampaio (Goiás, Brasil). Em "A dimensão do desenho nas esculturas de Evandro Soares," entre o desenho e a sua tridimensionalidade, joga-se a cumplicidade do espectador e a dificuldade de este localizar o seu lugar, entre o pensamento e a coisa.

O artigo "As paisagens submersas de Emanuel Monteiro," de Marilice Corona (Rio Grande do Sul, Brasil), apresenta o desdobramento das páginas de diários, que se re-articulam e formam novas paisagens, exteriores e interiores.Maristela Salvatori (Rio Grande do Sul, Brasil), no texto "O múltiplo em publicações de artistas: Röhnelt, Cattani e Mutran," aborda as propostas na área do livro de artista destes três autores e obras respectivas: Galerias, de 2014, Sete dias, de 2000, e Raster, de 2013, cada um acrescentando uma abordagem e uma dimensionalidade novas ao género.

Em "Fioravante e o vazio: o desenho como estratégia de ausência," Eduardo Vieira da Cunha (Rio Grande do Sul, Brasil) apresenta os trabalhos a pastel negro de Fioravante, que tecem uma poética da ruína, do transiente, do gasto, espécies de caveiras contemporâneas que nos interrogam.

Simón Arrebola (Sevilha, Espanha), no artigo "Entre aquelarres y reordenaciones pictóricas: un acercamiento a la obra de José Carlos Naranjo," permite uma perspetiva sobre este autor espanhol que já foi capa da revista Estúdio 13: os seus flagrantes pelo flash eletrónico imobilizam seres que parece submersos, incómodos, em fuga, ao mesmo tempo que se desdobram referências da pintura e da fotografia adivinhando-se uma componente de sombra, que se reflete, como em alguns autorretratos de Lee Friedlander.

O artigo "Claudia Coca: el autorretrato de una sociedad," de Mihaela Radulescu de Barrio & Rosa Gonzales (Lima, Perú), debruça-se sobre Claudia Coca, que interroga a representação pop a partir de um ponto de vista mestiço: afinal as vanguardas conceptuais exigem um espectador sem misturas: é essa pressuposição histórica que transporta a hegemonia.

Marcos Rizolli (São Paulo, Brasil), em "A geometria de Rui Effe: um sensível conceito," aborda os mapas escavados de Effe (Portugal), em folhas, formas negativas que traçam ocupações e possibilidades, ou registos e recordações, num tecido antigo que se estuda.

O texto "Signos indiciales del cuerpo: huellas de vida en la producción de Alberto Greco," de Alejandra Maddonni (La Plata, Argentina), introduz a obra implicada e significativa do argentino Alberto Greco: uma silueta é uma abertura para fora, a fronteira da liberdade. Desde as suas silhuetas dos anos 60 até ao movimento siluetazo, onde os recortesdos desaparecidos ganham novo significado para a intervenção: a arte pode ser política, mesmo sem o querer.

Carlos Rojas & Paco Lara-Barranco (Sevilha, Espanha), no artigo "José Miguel Pereñíguez: la representación del ánima a través del dibujo," interroga a possibilidade de os referentes incluírem a reflexão, dependendo da sua mesma representação: a sua profundidade vem do referente, ou da sua representação?

O artigo "El universo fantasmagórico en la obra de Pekka Jylhä (1955- )," por Visitación Ortega (Granada, Espanha), interroga a representação da morte intermediada pelos seus animais veículo: o bode expiatório, ou o coelho que, pelo contrário, se reproduz à mesma cadência que a série de Fibonacci e parece-nos olhar do lado de lá do ciclo da vida, na obra do finlandês Jilhä.

Joaquín Escuder (Saragoça, Espanha), em "La germinación nocturna: sobre la pintura de Santi Queralt," estuda as formulações de tinta deste pintor de Barcelona, que se articulam em vistas, mapas, territórios: algo nos mostram, algo nos ocultam, na materialidade da tinta.

Em "Estruturas de luz: a fotografia artística de António Quaresma" Cícero de Brito Nogueira & Núbia de Andrade Viana, (Piauí, Brasil), apontam as diferentes tipologias de fotografias do brasileiro António Quaresma, autor que expande na cor uma plástica fotográfica festiva.

Neide Marcondes & Nara Martins (São Paulo, Brasil) no artigo "Sob o céu de Veneza: o português João Louro e o brasileiro André Komatsu," procuram estabelecer um diálogo entre estes artistas, descobrindo, na presença do corpo, ou na sua reclamação e vestígio, um campo de possibilidades para interrogar os poderes que podem fazer surgir ou fazer desaparecer.

O artigo "Arte contemporânea: proposições olfatórias e gustativas," de Lurdi Blauth & Fernanda de Christo (Rio Grande do Sul, Brasil), aborda a obra de Isabel Sommer e de Lucimar Bello, ambas presentes na X Bienal do Mercosul, de 2015 (Porto Alegre), e que exploram as dimensões das sensorialidades nas suas instalações.

Concepción Elorza Ibáñez & Zuhar Iruretagoiena (Bilbau, Espanha), em "Sobre El estado de la cuestión un ensayo performativo (2015) de Helena Cabello y Ana Carceller: una lectura procesual de sus elementos constitutivos," apresentam a instalação que a dupla de artistas apresentou na Bienal de Veneza de 2015, onde a obra dos surrealistas é revisitada, a par com a fragilidade da democracia no contexto contemporâneo.

Em "El vacío y la soledad del 'no lugar' en la obra de Ángeles Marco," Yolanda Ríos, (Vigo, Espanha), reflete sobre a obra da escultora desaparecida Ángeles Marco (1947-2008) cuja obra se debruça sobre os espaços de transição, os não lugares, as metáforas que nos mostram a realidade perdida.

Sandra Gonçalves (Rio Grande do Sul, Brasil), no artigo "Pele Preta: a poética da luz," debruça-se sobre a série de 23 imagens do ensaio fotográfico de Maureen Bisilliat, de 1960 (Inglaterra / Brasil): mulher, homem, criança. O tema da pele preta associada à transfiguração recorda-nos o anjo de Aleijadinho, ao mesmo tempo que opera a metamorfose dos corpos em madeira. A fotografia funde os corpos na matéria do pensamento e da vida.

As matérias fazem-se de pensamento, sabem os artistas. É com estas matérias que ocupamos os nossos Estúdios. Onde está este Estúdio? Nas tuas mãos.

 

Referências

Debord, Guy (1955) Introdução a uma crítica da geografia urbana [em linha, consult. 2016-02-18] Disponível em URL: http://www.oocities.org/autonomiabvr/urb.html        [ Links ]

Debord, Guy (1958) Teoria da deriva [em linha, consult. 2016-02-18] Disponível em URL: https://teoriadoespacourbano.files.wordpress.com/2013/03/guy-debord-teoria-da-deriva.pdf        [ Links ]

Jacques, Paola Berenstein (org.) (2003). Apologia da Deriva: Escritos Situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra. ISBN 9788587220608        [ Links ]

Perec, Georges (1999) Especies de espacios. Barcelona: Literatura y ciencia, S. L.         [ Links ]

 

Enviado a 20 de janeiro de 2016 e aprovado a 22 de janeiro de 2016

 

Endereço para correspondência

 

Correio eletrónico: joao.queiroz@fba.ul.pt(João Paulo Queiroz)

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