Uma das vantagens da revista GOT é a diversidade temática e metodológica dos artigos que são publicados em cada número semestral.

Os oito artigos que constituem este número provêm fundamentalmente do Brasil, embora de estados diferentes, e abordam temáticas relacionadas com a dinâmica urbana, os impactos ambientais de ações urbana, a conservação do geopatrimónio, o espaço agrário e a formação de professores.

Três dos artigos publicados neste número focam-se sobre o espaço urbano brasileiro, mas com objetos distintos e casos de estudo em estados diferentes. Atualmente, cerca de 85% da população brasileira vive em áreas urbanas. O ritmo e a escala de crescimento da urbanização colocam desafios vários como pressão sobre o solo e os recursos naturais, habitação, sistema de transportes, serviços básicos e empregos (www.worldbank.org/en/topic/urbandevelopment/overview).

O artigo de Pereira, Itamar & Stephan aborda a expansão do espaço urbano de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais (Brasil) concluindo que o desenvolvimento desta cidade média tem sido marcado pela sua consolidação como polo de serviços e de comércio de impacto regional, com forte influência dos setores do mercado imobiliário e da construção civil.

Já a investigação realizada por Nascimento, Freitas & Nascimento critica as narrativas institucionais, técnicas e académicas dos processos vigentes de tomada de decisão em que assenta a produção de cidade. Propõem uma alternativa que se aproxima ao conceito de lugar, valorizando as narrativas dos próprios habitantes que são os construtores do espaço urbano.

Uma outra perspetiva de análise das dinâmicas urbanas é proposta pelo trabalho de Inojosa. Este autor discute como os sistemas de informação geográfica mudaram a forma de organizar

as informações do território e são fundamentais no desenvolvimento de cadastro geométrico. Tendo como caso de estudo a cidade de João Pessoa, capital da Paraíba (Brasil), o autor apresenta uma estrutura para desenvolvimento de um modelo OMT-G - Object Modeling Technique for Geographic Applications e discute as suas vantagens e potencialidades, nomeadamente na identificação e a diferenciação funcional de parcelas cadastrais.

Dois outros artigos focam-se no impacto sobre o ambiente e os ecossistemas de ações humanas relacionadas com a implantação de rodovias e de construção de empreendimentos para a produção de energia hidroelétrica. As infraestruturas rodoviárias têm sido fundamentais para o desenvolvimento económico do Brasil, mas a sua construção tem colocado vários problemas e desafios nomeadamente ambientais. Ribeiro, Vanzela, Tagliaferro & Mansano abordam os impactos ambientais causados pela construção da BR- 242/TO no sudeste do Estado do Tocantins que com uma extensão de 262 km interliga os estados da Bahia, Tocantins e Mato Grosso (Brasil). Depois de identificarem problemas existentes, os autores demonstram que as ações de mitigação para a preservação do meio ambiente tomadas antes, durante e depois da obra, diminuíram os impactos ambientais e beneficiaram as comunidades na envolvente da rodovia.

Amorim, Passos & Amorim analisaram as transformações no uso do solo na raia divisória São Paulo/Paraná/Mato Grosso do Sul depois da formação dos lagos para a geração de energia de empreendimentos hidroelétricos. A sua investigação tem como objetivo verificar como as transformações na paisagem interferiram na cobertura vegetal e nas temperaturas superficiais. Os resultados mostraram um aumento das áreas com temperaturas mais elevadas e que a variabilidade espacial das temperaturas superficiais na área de estudo não depende apenas das transformações na paisagem.

O bioma Pampa é compartilhado pelo Brasil, Uruguai e Argentina cujos diferentes contextos legislativos têm levado à degradação da paisagem. A investigação realizada por Peixoto focaliza-se no Pampa brasileiro que está restrito ao Rio Grande do Sul e é o bioma com o mais baixo grau de proteção dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e o mais impactado, principalmente por atividades agro-silvo-pastoris. Contém, um valioso geopatrimónio cuja integridade ambiental e as medidas alternativas de conservação são discutidas no artigo de Peixoto. O autor advoga a necessidade de ser criado um marco legal da geodiversidade para ordenar o uso de forma sustentável.

Garcia & Flores focam-se na análise dos fatores geofísicos e determinismo económico na origem da agroexportação na América Latina. Identificam correlações entre a divisão internacional do trabalho, poder e configuração do espaço agrário. Introduzem o conceito de exotização da agricultura intertropical em que identificam duas aceções interdependentes.

Finalmente, no artigo de Martinha é feita uma análise dos planos de estudo do mestrado em ensino do 1.º ciclo e de Português e História e Geografia de Portugal no 2.º ciclo do ensino básico das diferentes instituições de ensino superior portuguesas que o lecionam. O objetivo é compreender a presença da Geografia e da Didática da Geografia nestes planos de formação de professores e a abordagem específica que fazem. A autora considera ser necessário aumentar um pouco o número de créditos dedicados à Geografia e à Didática através da oferta de unidades curriculares de Geografia nestes cursos de formação de professores.

Desde já se convida os leitores da GOT a submeterem textos científicos inéditos para o próximo número da GOT que será publicado em 30 de junho de 2023. Neste ano, no 2º trimestre de 2023 sairá um número especial da GOT dedicado ao 4º Encontro Internacional do CEGOT que decorreu no Porto, no passado mês de outubro.